Muitas almas, mesmo as mais piedosas, não compreendem os impulsos da alma interior, o seu  verdadeiro estado, o que legitima as suas ações. Devemos nos surpreender com isso? Não mesmo! Para julgá-la com justiça, seria preciso ter um conhecimento muito profundo  dos efeitos misteriosos do Amor divino ou padecer os males que a alma padece e isso é muito raro. E o que seria ideal, a união plena da  ciência especulativa e experimental, o conhecimento pessoal, é ainda mais raro. Um  São João da Cruz, por exemplo, não é dado ao mundo a cada geração de homens. Ainda que fosse, nem todas as almas feridas pelas provações do Amor divino poderiam se submeter  a ele como confessor. Elas teriam que conviver com o fato de serem mais ou  menos incompreendidas. 
Seria como fazer a seguinte pergunta à alma interior: 'o que o Bem-Amado tem a mais por você do que tem para os outros?' E a alma poderia então responder: 'Não sei como  você vê meu Bem-Amado, mas eu o vejo em beleza infinita. Ele possui todas  as riquezas, sabedoria, poder, bondade e mansidão. É manso, firme e poderoso. E, no entanto, é suave, mais suave que uma mãe e nada, nada mesmo, lhe nada. Quanto mais  o conheço, mais sou cativado pelo abismo infinito de suas perfeições. E tudo isso ele possui em paz, em harmonia, em perfeita ordem. Ele é muito simples, não apenas em suas  palavras e ações, mas em si mesmo. Não me canso de o contemplar e amar. Ele é a alegria dos meus olhos e do meu coração'.
(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte III - A União com Deus; tradução do autor do blog)

