quarta-feira, 2 de junho de 2021

VERSUS: TRANSUBSTANCIAÇÃO X CONSUBSTANCIAÇÃO

Pelo Cân. 1376, o Concílio de Trento resumiu o dogma da  presença de Cristo sob as espécies eucarísticas, declarando: 'Porque Cristo, nosso Redentor, disse que o que Ele oferecia sob a espécie do pão era verdadeiramente o seu corpo, sempre na Igreja se teve esta convicção que o sagrado Concílio de novo declara: pela consagração do pão e do vinho opera-se a conversão de toda a substância do pão na substância do corpo de Cristo nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância do seu sangue; a esta mudança, a Igreja católica chama, de modo conveniente e apropriado, de transubstanciação'.

Pelo dogma da transubstanciação, o pão muda torna-se a substância do Corpo de Cristo, mediante uma conversão real do pão ordinário (enquanto pão) para a extraordinária Presença de Cristo. Analogamente, a substância do sangue é convertida na substância do Sangue de Cristo. Tal como na eternidade de Deus, o corpo e o sangue estão unidos entre si e com a alma e a de divindade de Cristo, assim também o corpo, sangue, alma e divindade de Cristo estão presentes por inteiro em cada espécie eucarística e em todas as suas partes.


Contra o dogma da transubstanciação da Igreja, foram interpostas duas grandes heresias, a aniquilação e a consubstanciação. Na primeira, a substância do pão seria totalmente aniquilada para se impor a substância do Corpo de Cristo (similarmente, a substância do vinho seria aniquilada para se estabelecer a substância do Sangue de Cristo). No contexto dessa heresia, pão e vinho não mudam e nem são convertidos, mas simplesmente desaparecem enquanto substâncias originais.

Pela heresia da consubstanciação, as substâncias persistem em igualdade de condições: o pão continua pão e, ao mesmo tempo, seria o Corpo de Cristo; o vinho permanece vinho e, ao mesmo tempo, constituiria o Sangue de Cristo. Novamente, não haveria alteração ou conversão de substâncias, mas uma associação de duas espécies de substâncias distintas em uma única substância material.

Pela transubstanciação, mistério da graça divina, somos chamados a viver em plenitude uma vida cristã cotidiana: por fora, podemos até parecer pão ou vinho (como o sacramento eucarístico parece permanecer pão e vinho) mas já não somos pão e nem vinho dos homens, porque a graça infundida nos transformou em filhos de Deus.  Não há aniquilamento da nossa herança comum: somos pecadores e sensíveis às limitações da natureza humana. Não há consubstanciação possível, entretanto, entre o que somos pelo mundo e o que devemos ser como criaturas escolhidas pelo Pai: a herança eterna pressupõe uma mudança profunda de transformação interior e de conversão: 'eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim' (Gl 2, 20).