sábado, 9 de janeiro de 2021

DICIONÁRIO DA DOUTRINA CATÓLICA (XIX)

 

SACRAMENTAL

É uma coisa ou uma ação de que a Igreja costuma servir-se para obter efeitos, principalmente espirituais. As coisas são os objetos benzidos: a água benta, os escapulários, medalhas, Agnus Dei, velas ou ramos bentos, etc. As ações são as bênçãos que os Ministros Sagrados fazem sobre as pessoas ou sobre as coisas que consagram ao culto divino. Os Sacramentais foram instituídos pela Igreja; são úteis mas não necessários; podem obter a graça de Deus, mas só por virtude da oração da Igreja e da piedade de quem a reza. Os seus principais efeitos são: o perdão dos pecados veniais, a colação da graça atual, a preservação de males de ordem temporal, a separação de coisas e de pessoas do uso profano, o afastamento do demônio para que não nos moleste. O Apóstolo São Paulo ensina que 'toda a criatura é santificada pela palavra de Deus e pelas orações' (1Tm 4, 4-5) e é precisamente a oração que acompanha as bênçãos da Igreja que atrai sobre os Sacramentais a virtude que têm de produzir os seus efeitos de santificação.

SACRAMENTO

É um sinal sensível que, por instituição divina, tem a virtude de significar e produzir a graça. Quem recebe um Sacramento recebe a graça de Deus, que faz santo aquele que o recebe dignamente e produz nele o efeito próprio de cada sacramento. Foi esse o fim porque Jesus Cristo os instituiu. São sete: Batismo, Confirmação, Eucaristia, Penitência, Extrema-Unção [Unção dos Enfermos], Ordem e Matrimônio. Pelo Batismo, que apaga o pecado original, o homem nasce para a vida espiritual e sobrenatural; pela Confirmação, robustece e cresce na vida sobrenatural; pela Comunhão, alimenta a vida espiritual; pela Penitência, recebe o perdão dos pecados; pela Extrema-Unção, limpa os restos do pecado; pela Ordem, é confiado a alguns fieis o poder de reger e dirigir os outros na sociedade religiosa; o Matrimônio torna legítimos os atos da geração e santifica a propagação do gênero humano. Pelos sete sacramentos, Jesus Cristo providenciou acerca da vida sobrenatural do homem como ser individual e social.

SACRÁRIO

É o tabernáculo ou pequeno armário colocado sobre o altar para nele se conservar a Sagrada Eucaristia. Deve ser de metal ou de madeira dourada e forrado por dentro de seda branca; dispensa-se, porém, o forro de seda, se for dourado interiormente. Dentro do sacrário, está um pequeno vaso chamado cibório ou píxide, sobre um corporal, contendo a Sagrada Eucaristia e não pode estar mais nada. Deve estar sempre coberto com um pavilhão, que pode ser sempre de cor branca ou, mais preferível, da cor dos paramentos litúrgicos do dia. Diante do sacrário não se pode colocar a cruz, nem vasos de flores, nem quaisquer objetos. É também proibido sobrepor-lhe qualquer objeto (com exceção da cruz). Só pode haver um em cada igreja, e há de estar colocado de modo inamovível, no altar-mor ou principal, exceto nas igrejas em que haja colegiada ou nas sés episcopais, onde deve estar em altar lateral. Convém todavia que na igreja haja outro sacrário, que possa receber o Santíssimo em alguma circunstância inesperada. O sacrário deve ser benzido.

SACRIFÍCIO

É a oblação externa de uma coisa sensível com a sua destruição ou mudança, feita exclusivamente a Deus pelo legítimo Ministro, em reconhecimento do seu supremo domínio sobre todas as criaturas. Há também um sacrifício interior, invisível, o qual consiste na oferta que fazemos a Deus de nós mesmos, para vivermos unidos a Ele e fazermos a sua vontade. O único Sacrifício da Religião Cristã é a oblação do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, debaixo das espécies do pão e do vinho consagrados na Missa, Sacrifício que fica completo com a comunhão do sacerdote que, em nome de Jesus Cristo mesmo, o oferece. Pode entender-se por sacrifício qualquer ato em honra de Deus para o aplacar, assim como todos os obséquios feitos ao próximo enquanto se referem a Deus, e também qualquer mortificação. O homem precisa de fazer sacrifícios por causa da remissão dos pecados, da conservação da graça e da consecução da glória eterna.

SACRILÉGIO

É a profanação das coisas santas ou consagradas a Deus ou a violação ou mau trato de pessoas ou coisas sagradas, enquanto sagradas. É pessoal, real ou local, segundo é praticado em pessoa, em coisa ou em lugar consagrados a Deus. É pecado mortal porque constitui grave irreverência às pessoas, coisas ou lugares consagrados ao culto divino. Porém, para se julgar da gravidade do pecado é preciso atender ao grau de santidade da pessoa, da coisa ou do lugar violados, ao grau de irreverência e à intenção do agente.

SALMOS DE DAVI

São os salmos que compõem um livro da Sagrada Escritura, no Antigo Testamento. São 150, e chamam-se de Davi porque foi este Rei quem compôs a maior parte deles. Os Salmos são a forma antiquíssima de orar publicamente, usada no tempo da sinagoga. Estão cheios da moral mais pura, respiram o espírito de piedade, despertam todos os sentimentos dignos de um coração cristão. Os Salmos formam a oração oficial da Igreja na recitação do Ofício divino e em muitas orações litúrgicas.

SANTA SÉ OU SEDE APOSTÓLICA

Por esta designação, entende-se o Romano Pontífice, as Congregações Romanas, os Tribunais e Ofícios, pelos quais o Romano Pontífice costuma tratar os negócios da Igreja.

SECULARIZAÇÃO

É o indulto concedido pela Santa Sé aos religiosos de direito pontifício ou pelo Bispo aos de direito diocesano, o qual tem por efeito separar perpetuamente o religioso da Ordem ou da Congregação a que pertencia, voltando ao estado secular.

SIGILO SACRAMENTAL

É o absoluto segredo que o confessor guarda de tudo o que conhece por meio da confissão sacramental e de cuja revelação pode resultar gravame ao penitente. Assim determina o Código de Direito Canônico: o sigilo sacramental é inviolável; por isso acautele-se diligentemente o confessor, para que nem por palavra, nem por escrito, nem por sinal ou qualquer outro modo, nem por motivo nenhum denuncie o pecador. A mesma obrigação têm o intérprete e todos aqueles que de qualquer modo tiverem notícia da confissão. É inteiramente proibido ao confessor o uso da ciência adquirida pela confissão, com gravame do penitente, excluído mesmo o perigo de revelação. Nem pode o confessor ser testemunha, em tribunal, dos penitentes que confessa ou do que soube pela confissão sacramental.

SÍLABO

É a coleção de 80 proposições que contêm os principais erros modernos condenados pelo Papa Pio IX e publicado em 1864. São erros em defesa do panteísmo, do socialismo, do naturalismo, do comunismo, das sociedades secretas e erros contra os direitos da Igreja sobre a sociedade civil, sobre o casamento civil e vários outros. Condenados como estão pela suprema Autoridade da Igreja, nenhum católico os pode defender nem admitir.

SIMONIA

É a deliberada vontade de comprar ou vender alguma coisa espiritual (como a graça e os sacramentos,) ou coisa temporal anexa a coisa espiritual (como o cálice consagrado, por causa da consagração, um benefício eclesiástico, etc.). É pecado mortal, por falta de reverência para com as coisas divinas, tais como a consagração do cálice. Mas não há simonia quando se dá alguma coisa espiritual, segundo legítimo costume reconhecido pela Igreja. Como não há simonia comprando, por exemplo, um cálice consagrado pelo preço do cálice, sem aumento por causa da consagração. 

SÍNODO DIOCESANO

É a assembleia, presidida pelo bispo, na qual tomam parte os sacerdotes que a isso têm direito. Deve ser celebrado em cada diocese ao menos de dez em dez anos. No sínodo são tratados assuntos que dizem respeito às necessidades particulares ou à utilidade do clero e do povo dessa diocese. É convocado e presidido pelo bispo, que é o único legislador nos sínodos, tendo somente voto consultivo os sacerdotes convocados.

SINÓTICOS (Evangelhos)

Dá-se este nome à narração evangélica dos três primeiros Evangelistas porque, dispondo em três colunas os textos das partes comuns, obtém-se uma sinopse (vista de conjunto) concordante em muitos 
pontos.

SOBREPELIZ

É uma veste litúrgica de tecido branco que, entrando pela cabeça, desce dos ombros até aos joelhos, com mangas compridas e largas. É conveniente que seja de linho ou de cânhamo.

SUBDIACONATO

É a Ordem que confere o poder de preparar, nos vasos sagrados, a matéria do Sacrifício da Missa, de cantar a Epístola na Missa solene, de purificar os sanguíneos e os corporais e de oferecer o cálice com a patena ao Diácono nas Missas cantadas. O Subdiaconato só pode ser recebido depois do 3.° ano do curso teológico e com a idade de 21 anos completos.

SUFRÁGIO

É toda a obra feita com a intenção de prestar alívio às almas que sofrem no Purgatório. O Segundo Livro dos Macabeus (Mc 12, 43) ensina que é santo e salutar o pensamento de orar pelos defuntos, para que lhes sejam perdoados os pecados, isto é, para que sejam aliviados das penas que sofrem por causa dos seus pecados. As almas que estão no Purgatório permanecem em união de caridade com os que ficaram neste mundo; podemos por isso, e devemos, usar de caridade para com elas, pois lhes são proveitosas as nossas boas obras. As principais, que têm o nome de sufrágios, são: a Missa, a Sagrada Comunhão, a oração, os atos de piedade, os sacrifícios próprios, a esmola e as indulgências. Para que as orações e boas obras dos fiéis aproveitem às almas do Purgatório, é necessário que quem as faz esteja na graça de Deus e tenha intenção de aplicá-las a essas almas.

SUPERSTIÇÃO

Vulgarmente dá-se o nome de superstição a certas crenças ou preconceitos que não têm nenhum fundamento sério, como o número 13 à mesa, o azeite cair no chão e coisas semelhantes. A superstição é uma espécie de culto prestado, direta ou indiretamente, ao demônio, com o fim de obter por meio de certas práticas uma coisa que se deseja. Praticam a superstição os feiticeiros, os adivinhos, os mágicos e os que a eles recorrem. Detestem os fiéis todas e quaisquer práticas supersticiosas. Desprezem as cartas ou escritos em que se propõem certas orações de piedade para serem distribuídas a certo número de pessoas para se conseguir algum bem ou evitar algum mal. Detestem especialmente a consulta de espíritos e as sessões de espiritismo, quer nas mesmas intervenha médium, quer não. Incorrem em excomunhão, ipso facto [pelo próprio ato em si] os que tomarem parte ativa nas sessões de espiritismo ou as promoverem ou apenas assistirem a elas.

(Verbetes da obra 'Dicionário da Doutrina Católica', do Pe. José Lourenço, 1945)