quinta-feira, 30 de agosto de 2018

CATECISMO MAIOR DE PIO X (X)

Debate de Jesus no Templo

91. Tendo Jesus completado doze anos, seus pais o levaram a Jerusalém para as festas de Páscoa, que duravam sete dias. Terminadas as celebrações, José e Maria partiram para Nazaré, mas Jesus, sem que eles percebessem, permaneceu em Jerusalém. Depois de um dia de caminho procuraram-no em vão entre os parentes e conhecidos, regressando em seguida aflitos para Jerusalém. Encontrando-o ao terceiro dia no Templo, sentado entre os doutores ouvindo-os e interrogando-os, a Mãe docemente lhe perguntou por que havia feito se procurar assim. A resposta de Jesus foi a primeira declaração de sua divindade: 'E por que me procuráveis? Não sabíeis que preciso tratar das coisas de meu Pai?' Depois disso, voltou com eles para Nazaré. Deste ponto até a idade de trinta anos, nada de particular nos conta o Evangelho sobre Ele, resumindo toda a história desse tempo nestas palavras: 'Jesus vivia obediente a Maria e José, e crescia em idade, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens'. Pelo fato de Jesus ter passado em Nazaré o tempo de sua vida privada, foi chamado mais tarde: Jesus de Nazaré. 

Batismo de Jesus e seu jejum no deserto 

92. João, filho de Zacarias e Isabel, destinado por Deus, como se disse para ser o Precursor do Messias e preparar os judeus para que o recebessem, havia se retirado para o deserto para viver uma vida de penitente. Chegado o tempo de dar início à sua missão, vestido de peles de carneiro e um cinto de couro na cintura, chegou às margens do Jordão e começou a pregar e batizar. Sua voz era: 'Fazei penitência, pois o Reino dos céus está próximo'. Tendo chegado a idade de trinta anos, um dia Jesus se apresentou entre a multidão do povo, pois devia começar a manifestar-se ao mundo. João, que o reconheceu, quis primeiramente escusar-se, mas logo vencido pela ordem de Cristo, batizou-o. Tendo Jesus saído da água os céus se abriram, e o Espírito Santo em figura de pomba desceu sobre Ele, e uma voz se ouviu, dizendo: 'Este é meu filho muito amado'. Recebido o Batismo e guiado pelo Espírito Santo, Jesus foi para o deserto, onde passou quarenta dias e quarenta noites em vigílias, jejuns e orações. Foi quando quis ser tentado pelo demônio de várias maneiras, para nos ensinar a vencermos as tentações. 

Primeiros discípulos de Jesus e seu primeiro milagre 

93. Depois desta preparação, Jesus deu início à sua vida pública, voltou para as margens do Jordão, onde João continuava pregando. Este, ao vê-lo, exclamou: 'Eis aqui o Cordeiro de Deus, eis aquele que tira os pecados do mundo'. Por este e por outros testemunhos em favor de Jesus, repetidos no dia seguinte, dois discípulos de João resolveram seguir o divino Mestre, que os manteve com Ele naquele dia. Um deles, de nome André, encontrando-se com seu irmão chamado Simão, levou-o até Jesus, que olhando-o no rosto lhe disse: 'Tu és Simão, filho de João, de agora em diante te chamarás Pedro'. E estes foram os seus primeiros discípulos. 

94. Muitos outros, ou chamados por Ele, como Tiago, João, Felipe e Mateus, ou movidos por sua palavra, resolveram segui-lo. A princípio não eram contínuos em seu empreendimento mas, depois de ouvir seus argumentos, retornavam para suas famílias e tarefas, e somente algum tempo depois deixavam tudo para não abandoná-lo jamais. Com alguns deles foi uma vez convidado para um casamento em Caná da Galileia. Sua Mãe Maria também havia sido convidada. Esta foi a ocasião em que, por intercessão de sua Mãe Santíssima, transformou uma grande quantidade de água em requintado vinho. Este foi o primeiro milagre de Jesus pelo qual expressou a sua própria glória e confirmou na fé seus discípulos. 

Eleição dos doze Apóstolos 

95. Entre esses discípulos escolheu depois doze, chamados Apóstolos, para que estivessem sempre com Ele e para enviá-los a pregar, a saber: Simão, a quem ele havia dado o nome de Pedro e seu irmão André; Tiago e João, filhos de Zebedeu; Felipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o cananeu e Judas Iscariotes, aquele que o traiu. Para chefe dos Apóstolos escolheu Simão Pedro, que seria, naturalmente, seu Vigário na terra. 

Pregação de Jesus 

96. Acompanhado dos Apóstolos e, outras vezes, precedido por eles, percorreu por três anos toda a Judeia e Galileia, pregando seu Evangelho, e confirmando sua doutrina com um número infinito de milagres. Normalmente, no sábado entrava nas sinagogas e ensinava; mas, apresentando-se a oportunidade, não desdenhava dar seus ensinamentos em qualquer lugar. Lemos, com efeito, que as turbas o seguiam, e que Ele não só pregava nas casas e praças, mas também ao ar livre, nos montes e desertos, na orla do mar e até mesmo no mar, subindo na barca de Pedro. O célebre sermão das oito bem-aventuranças é chamado cabalmente sermão do monte, pelo lugar onde o pronunciou. Pregava mais pelo exemplo do que por palavras. Admirados de sua grande oração, os discípulos pediram-lhe um dia para que lhes ensinasse a orar, e Jesus lhes ensinou a sublime oração do Padre Nosso. 

97. Por várias razões, incluindo a capacidade para acomodar-se à maioria de seus ouvintes e a índole dos povos orientais, Jesus servia-se ordinariamente de parábolas ou ensinamentos semelhantes. São simples e sublimes as do filho pródigo, do samaritano, do bom pastor, dos dez talentos, das dez virgens, do homem rico, do administrador infiel, do servo que não perdoa, dos ramos da vinha, dos convidados às bodas, do grão de mostarda, do semeador, do fariseu e do publicano, dos trabalhadores, da cizânia e outras atualmente bem conhecidas dos bons cristãos que assistem a explicação do Evangelho que se faz nos domingos nas paróquias.

Efeitos admiráveis da palavra e do poder do Redentor 

98. Comumente, após seus discursos, enfermos de toda classe eram-lhe apresentados: mudos, surdos, aleijados, cegos, leprosos e Ele a todos lhes devolvia a saúde. Não apenas nas sinagogas Ele derramava suas graças e favores, mas onde quer que estivesse, apresentando-lhe a ocasião, socorria os desgraçados que, em grande número, levavam-lhe de toda a Palestina e aldeias da região, espalhando até a Síria a fama de seus milagres. Levavam-lhe especialmente possuídos pelo demônio, dos quais não havia poucos naquela época e Ele os livrava dos espíritos malignos, que saíam gritando: 'Tu és o Cristo, o Filho de Deus!'

99. Por duas vezes, com alguns poucos pães milagrosamente multiplicados, deixou fartas e saciadas as multidões que o seguiam pelo deserto; às portas da cidade de Naim, ressuscitou o filho de uma viúva que levavam para enterrar e, pouco antes de sua Paixão, ressuscitou Lázaro, que já cheirava mal na sepultura, pois estava morto há quatro dias. 

100. Infinito é o número de milagres, muitos deles famosíssimos, que operou nos três anos de sua pregação, para mostrar que falava como enviado de Deus, que era o Messias esperado pelos Patriarcas e profetizado pelos Profetas, que era o mesmo Filho de Deus. Tal se manifestou em sua transfiguração pelo resplendor de sua glória e pela voz do Pai que o proclamava seu Filho muito amado. Em vista de tais milagres, muitos se converteram e seguiram-no, muitos o saudaram e, alguma vez, pretenderam fazê-lo rei.
(Do Catecismo Maior de Pio X)