terça-feira, 5 de dezembro de 2017

BREVIÁRIO DA CONFIANÇA (I)


04 DE DEZEMBRO

AMÉM, AMÉM, AMÉM!

Veio a enfermidade e o apóstolo sequioso de almas, sonhando arrebatar e conquistar muitos corações para Jesus Cristo, se vê reduzido a uma inação forçada, preso entre as paredes de um quarto de enfermo, numa solidão, quase abandonado. Deus assim o quis! E quem pode saber os desígnios da Providência? O Pe. Perreyve, que havia experimentado essa provação difícil, escrevia a um amigo em idêntica situação: 'Meu caro, Deus neste momento te faz uma pergunta estranha, pergunta que Ele sempre repete às almas que O desejam servir multo:­ Meu filho, consentes em ser absolutamente nada? - Sim, Senhor.  Pois então, Pasce agnos meos... super multa te constituam... duc in altum.* Coragem, meu amigo, demos tudo o que Jesus pede. Esta é a condição para a fecundidade de nosso apostolado e da felicidade no Céu, amém! Soframos, amém. Trabalhemos, nada façamos, o silêncio, a palavra, a doença, a força, a glória, a vergonha, a vida, a morte! Amém, amém, amém. Nosso Senhor às vezes se contenta só com a generosidade do nosso coração e o sacrifício que fazemos. A cruz pesada que nos oferece vale mais aos Seus Olhos Divinos do que todos os prodígios do apostolado exterior. Sacrificai, pois, ó apóstolos enfermos, sacrificai generosamente a Nosso Senhor vossos planos e ideais. E' mais precioso e mais rico o apostolado do sofrimento. E, por vossa generosidade, quantas almas não salvará Nosso Senhor? Ó na eternidade, somente na eternidade, veremos quantas maravilhas operaram os apóstolos enfermos!

* Apascenta as minhas ovelhas...sobre muito te confiarei... Faze-te ao largo! (avança para as coisas do Alto)


05 DE DEZEMBRO

CRER SEM VER E COMPREENDER

Esmagada sob o peso das mais horrorosas tentações contra a fé, Soror Benigna, a confidente da Misericórdia Divina, ouviu a doce voz de Nosso Senhor: 'Coragem, minha esposa, coragem! Embora não O vejas, embora não O ouças, o teu Deus está sempre junto de ti. O sentimento, ainda que dê a certeza, diminui a fé. Retiro a consolação sensível à alma que quero exercitar perfeitamente na virtude da fé. E' preciso crer sem ver, crer sem compreender. Assim é que se sujeita a razão e se glorifica a Deus. Queres agradar a Deus? Não te meta a prescrutar os seus desígnios a teu respeito. Deixa que Ele te trate como melhor lhe apraz. Com um só ato da Sua Vontade, pode fazer, no espaço de um minuto, o que exigiria longos anos de trabalhos e esforços. Gostas muito de oração e isto é excelente: contudo, julgas talvez, que, rezando tanto tempo quanto desejas e costumas, satisfazes plenamente aos teus deveres? Vejo melhor e mais longe que tu, e assim é que, no fundo de teu coração, percebo um verme roedor. . . Por fora nada aparece, mas Eu descubro lá, bem no âmago, aquela complacência secreta, aquele orgulho refinado que se oculta sob as aparências da piedade e te leva a escolher certas práticas que, de ordinário, só servem para alimentar o teu amor próprio. Que faz então o Divino Esposo? Corta, retalha sem dó, sem compaixão, sem atender aos gemidos da pobre natureza ferida. Atiro para fora tudo que está gasto e corrompido para atalhar o mal e evitar maiores estragos e prejuízos'.

(Excertos da obra 'Breviário da Confiança', Mons. Ascânio Brandão, 1936)