sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

DO LIVRO DAS CINTILAÇÕES (VI)

Do Livro das Cintilações*- VI

XLI - A detração

175. Disse Agostinho: Não fales mal e não ouças falar mal de ninguém.

XLII - As vontades

176. Disse Agostinho: Tudo o que Deus quer de nós é uma vontade boa.

177. Disse Gregório: Aos olhos do Senhor, uma mão nunca está vazia de oferendas, se a arca do coração está repleta de boa vontade (Hom. Ev., 5, 3; PL 76, 1094).

XLIII - As vestes

178. Disse Gregório: Ninguém procura vestes caras senão por vanglória, isto é, para ostentar maior posição que os outros: ninguém se ocupa de vestir-se bem onde ninguém o possa ver (Hom. Ev., 40, 3; PL 76, 1305).

XLIV - A misericórdia

179. Disse Cipriano: Não pode merecer a misericórdia de Deus quem não for misericordioso. Nada obterá da divina bondade com suas súplicas quem não agir com humanidade ante as súplicas do pobre (De op. et eleem.; PL 4, 606).

XLV - A compaixão para com o próximo

180. Disse Gregório: Quem acolhe a dor do sofrimento de outro carrega a cruz em espírito (Hom. Ev., 37, 5; PL 76, 1277).

181. Disse Gregório: Não há outro meio de nos tornarmos membros de nosso Redentor senão unindo-nos a Deus e compartilhando a dor do próximo (Hom. Ev., 39, 9; PL 76, 1300).

XLVI - O orgulho

182. Disse o Senhor no Evangelho: Quem se eleva será humilhado (Lc 18,14).

XLVII - A vida do homem

183. Disse o Senhor no Evangelho: Não vos preocupeis sobre o que vestireis; vossa alma é mais do que o alimento (Mt 6,25).

XLVIII - Os presentes

184. Disse o Senhor: Os presentes cegam os olhos dos sábios e alteram as palavras dos justos (Dt 16, 19).

XLIX - As esmolas

185. Disse Gregório: Quando damos aos indigentes o que lhes é necessário estamos dando o que lhes é devido e não fazendo um ato de generosidade (Pastor. 3, 21; PL 77, 87).

L - A tribulação

186. Disse o Senhor: Eu, aos que amo, repreendo e corrijo (Apoc 3,19).

187. Disse Paulo Apóstolo: É por meio de muitas tribulações que devemos entrar no reino de Deus (At 14,22).

188. Disse Agostinho: Quem não merecer ser atribulado neste mundo será torturado no inferno.

189. Disse Jerônimo: A cólera terrível de Deus é a que não se encoleriza contra os pecadores. Médico, quando deixa de aplicar tratamento, é porque desesperou (Ep. 68, 1, 5; PL 22, 652).

LI - As primícias ou oferendas

190. Disse Salomão: Os sacrifícios dos ímpios são abomináveis para o Senhor; os dos justos, aplacam-no (Prov 15,8).

LII - A tristeza

191. Disse Isidoro: Queres estar sempre longe da tristeza? Viva bem. Para quem guarda a consciência, a tristeza não pesa. O bem viver traz sempre consigo a alegria; já a consciência culpada sempre sofre: a alma culpada sempre está insegura (Syn., 2, 61; PL 83, 859).

LIII - A beleza

192. Disse Basílio: Cristo se compraz com a beleza da alma, não com a do corpo. Ama tu também o que agrada a Deus.

LIV - As refeições

193. Disse Jerônimo: Se fores convidado a comer com um pecador, vai, para que possas dar a quem te convidou teus alimentos espirituais (In Mt. 9, 13; PL 26, 56).

194. Disse Gregório: Enquanto o corpo se distende no prazer das refeições, o coração se abandona a uma vã alegria: sempre a loquacidade se segue aos banquetes; com o estômago cheio, a língua fica sem freio (Moral. I, 8, 10; PL 75, 532).

LV - O riso e o pranto

195. Disse Agostinho: Mais vale a tristeza de quem sofre uma injustiça do que a alegria de quem a comete (En. in Ps. 56, 14; PL 36, 671).

196. Disse Jerônimo: Se a sorte te sorri, não te tornes arrogante; se te sobrevém a desgraça, não te deprimas.

LVI - O honrar os pais

197. Disse Jerônimo: Honra teu pai, desde que ele não te separe do verdadeiro Pai; reconhece o vínculo do sangue, na medida em que ele reconheça seu Criador (Ep. 54, 3; PL 22, 551).

LVII - Os filhos

198. Disse Paulo Apóstolo: Isto é justo: obedecei aos vossos pais no Senhor (Ef 6,1).

199. Disse Salomão: Quem poupa seu filho à vara, odeia-o; quem o ama, aplica-se a corrigi-lo (Prov 13,24).

LVIII - Os ricos e os pobres

200. Disse o Senhor no Evangelho: Ai de vós, ó ricos, porque já tivestes o vosso consolo (Lc 6,24).

201. Disse Isidoro: A posse de bens terrenos, se não é para refazer a vida dos miseráveis, é uma tentação. Os ganhos deste mundo causam tanto mais suplícios quanto maiores eles são (Sent., III, 60; PL 83, 733).

202. Disse Isidoro: Não por muito tempo podemos estar com nossas riquezas: ou nós as abandonamos, morrendo; ou, vivendo, elas nos abandonam (Sent., III, 60, 3; PL 83, 733).

LIX - A acepção de pessoas

203. Disse Jerônimo: Justo é o julgamento em que se consideram não as pessoas, mas os atos (In Mt. 16, 27; PL 26, 121).

204. Disse Isidoro: Ao julgar, não consideres a pessoa, mas a causa (Sent., III, 53, 1).

LX - O caminho

205. Disse o Senhor no Evangelho: Entrai pela porta estreita, porque largo e espaçoso é o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ele. Quão estreita é a porta que conduz à vida e quão poucos os que a encontram! (Mt 7,13-14)

206. Disse Paulo Apóstolo: Vede, irmãos, o modo como caminhais: não como tolos, mas como sábios (Ef 5,15).

207. Disse Gregório: Tolo é o viajante que, vendo no caminho uma pradaria agradável, esquece o caminho que empreendia (Hom. Ev., 14, 6; PL 76, 1130).

LXI - O senso

208. Disse Jesus, filho de Sirach: Honra e glória no falar do homem sensato; a língua do insensato é sua ruína (Eclo 5,15).

LXII - Os servos e os senhores

209. Disse Paulo Apóstolo: Senhores, dai aos vossos servos o que é justo e equitativo, sabendo que também vós tendes um Senhor no Céu (Col 4,1).

210. Disse Cipriano: Sê para o teu servo tal como desejas que o Senhor seja em relação a ti (Adm. ad fil. 49, 17-18; PL 103, 693).

LXIII - Os bons e os maus

211. Disse Paulo Apóstolo: Nós vos rogamos, irmãos, que vos afasteis de todo irmão que não anda pelo bom caminho (II Tess 3, 6).

212. Disse Isidoro: Assim como é de desejar que os bons tenham paz entre si assim também é que os maus se digladiem (Sent., III, 31, 2; PL 83, 703).

* (Liber Scintillarum, escrito por volta do ano 700, constitui uma coletânea de máximas e sentenças compiladas das Sagradas Escrituras ou proclamadas pelos Pais da Igreja, organizadas por um monge - que se autodenomina 'Defensor' - do Mosteiro de São Martinho de Ligugé; tradução de Jean Lauand)