sábado, 9 de janeiro de 2016

A LITURGIA DA SANTA MISSA (II)

2. A ESTRUTURA DA MISSA

O ritual da missa como conhecemos atualmente, em linhas gerais, já estava praticamente estabelecido no ano 150 da nossa era, compartimentada na Liturgia da Palavra* (leitura dos evangelhos e discurso ou sermão) e na Liturgia Eucarística, com a distribuição das espécies consagradas. A sua proposição completa, porém, demandaria ainda mais quatros séculos e meio, somente sendo concluída nos tempos do Papa Gregório Magno, falecido no ano 604.

* designada originalmente como 'missa dos catecúmenos' porque, nos primeiros tempos da Igreja, os potenciais conversos mas ainda não batizados (catecúmenos) só podiam assistir a esta parte da missa primitiva, não tendo acesso à parte principal em seguida, a chamada 'missa dos fieis' ou Liturgia Eucarística.

Neste período, foram acrescentados os chamados Ritos Iniciais, compreendendo o Introito ou Canto de Entrada, o Kyrie, o Glória e a Oração (Coleta), como etapa de abertura da Santa Missa. A procissão do Introito (caminhada do celebrante e dos auxiliares da sacristia - situada então próxima à porta da igreja - até o altar) constituía junto com as procissões do evangelho, do ofertório e da comunhão, as quatro procissões inseridas no ritual da Santa Missa desde tempos remotos. Os Ritos Finais compreendem os elementos de encerramento formal da celebração.

Todas as orações e cerimônias inseridas na celebração da Santa Missa estão contidas e detalhadas num livro chamado Missal Romano. É chamado Missal Romano porque descreve o rito eucarístico chamado rito latino, segundo a Igreja Romana e seguido por nós, distinto dos ritos adotados pela Igreja católica dos ritos orientais (ambrosiano,  melquita,  maronita, etc), e que nos foi legado por grandes santos da Igreja como Metódio, Patrício, Agostinho e Cirilo. No Missal latino, os textos das leituras são impressos em preto e as respectivas instruções em vermelho, chamadas rubricas (do latim ruber, que significa 'vermelho').

Com o Missal, temos não apenas uma referência para a celebração da Santa Missa, mas a instrução normativa da Santa Igreja para a sua efetiva e completa celebração, como instrumento de unidade e no rigor litúrgico exigido pela Santa Igreja. Por meio dele, é estabelecida a adequada ordenação do rito litúrgico da Missa, bem como sistematizadas as regras e os procedimentos para cada etapa ou parte de sua inteira celebração. Embora sejam previstas certas adaptações (cantos, leituras, etc), o próprio texto do missal ressalta enfaticamente que o sacerdote é 'servidor da sagrada liturgia' e, nesta condição, não pode, por conta própria, 'acrescentar, tirar ou mesmo mudar qualquer coisa na celebração da Missa' (Missal Romano, Capítulo I, 24).

A Missa vai começar. Dignidade, devoção e silêncio, ó cristão, porque vai começar o milagre, o grande milagre, o maior milagre que alguém pode conceber nesta terra: 'Existe uma hierarquia de valores. Só a missa é um milagre de primeira ordem, de primeira classe. É o único milagre. Nem a ressurreição de Lázaro, nem outros milagres podem lhe comparar. São milagres de segunda classe as conversões: a conversão de São Paulo ou a de Santo Agostinho ... Tais milagres não são nada, se comparados aos da missa. Apressamo-nos a ver os pequenos milagres, mas não nos ocupamos do único que há: a missa' ('A Missa não é apenas a Comunhão', do Pe. Mateo Crawley-Boevey).