segunda-feira, 3 de agosto de 2015

ORÁCULO DAS ALMAS DO PURGATÓRIO (I)

AS TRINTAS MISSAS DE SÃO GREGÓRIO

Num mosteiro de São Gregório, um monge cha­mado Justo, contrariando o voto de pobreza a que são obrigados os religiosos, se apoderou de três moe­das de ouro. Quando estava para morrer, arrependido, confessou a um seu irmão a falta cometida. Realmente, encontraram-se as três moedas entre os guardados do defunto monge.

Chegou o fato ao conhecimento de São Gregório. O santo, que zelava tanto a disciplina e tinha hor­ror à violação do voto de pobreza, proibiu qualquer visita ao enfermo. Este, sentindo-se abandonado, queixou-se. 'É o castigo da tua falta contra a pobre­za', disseram-lhe.

Morreu o Irmão Justo pouco depois e São Gregório não permitiu que fosse sepultado entre os seus irmãos. Mandou lançá-lo numa sepultura, fora do convento, e as três moedas de ouro foram enterradas com ele, enquanto a comunidade repetia as palavras de São Pedro a Simão de Samaria: 'Pereça contigo o teu dinheiro!' Isto produziu uma impressão profunda entre os monges, que dali por diante se despojaram de tudo e viveram na mais estrita pobreza.

Trinta dias depois, São Gregório, entretanto, compadecido da alma do pobre monge, mandou celebrar vários dias a Santa Missa por sua alma. Apareceu a alma de Justo no fim de trinta dias e disse: 'Até agora estava muito mal e sofria muito, mas ago­ra estou muito bem, fui admitido na companhia dos santos'. E desapareceu. Daí a origem de se mandar celebrar as Missas chamadas Gregorianas, em trinta dias seguidos; se­gundo a crença piedosa, elas libertam as almas por quem é oferecida.

AS SETE MISSAS DE SÃO NICOLAU DE TOLENTINO

São Nicolau de Tolentino é um dos santos mais prodigiosos da Igreja. A vida deste grande taumaturgo é um tecido de milagres e prodígios que rara­mente se encontram em outros santos da Igreja. O Papa Eugênio IV disse: 'Não houve santo desde o tempo dos Apóstolos que superasse a São Nicolau de Tolentino em número e grandeza de milagres'. Den­tre as obras de caridade do grande santo, a princi­pal era o socorro às santas almas do Purgatório. Fez- se o Protetor do Purgatório e Advogado das almas. 

É célebre o seguinte prodígio. Em um sábado, o santo se encontrava na ermida de Valvamanente, junto da cidade de Pézaro, onde havia sido enviado para pregar uma missão. Havia orado muito e feito muita penitência, maltratando o corpo inocente com duras disciplinas. Resolveu tomar uma hora de repouso sobre um leito duro. Mal havia começado a dormir, quando foi despertado por gemidos lancinantes e doloridos como nunca ouvira iguais. Uma voz gemia: 'Irmão meu, Nicolau, homem de Deus, olha-me por favor, não me conheces?' — 'Dize-me quem és', disse o santo, 'eu quero ajudar-te. Que posso fazer para te aliviar?'

E uma sombra pálida se movia no ar: 'Ah! Nicolau, eis aqui o teu caríssimo irmão Frei Peregrino de Osino. Há muito tempo que estou atormentado nas chamas do Purgatório onde me encontro pela misericórdia de Deus, devido aos teus grandes méritos, embora os meus pecados me tenham valido a condenação eterna. Se celebrares amanhã por mim o Santo Sacrifício da Missa, amanhã mesmo eu me livrarei'.

Cheio de amargura, o coração de Nicolau pare­cia estalar de dor. Viu que a obediência não lhe permitiria celebrar aquela Missa: 'Meu irmão, Jesus Cristo, por seu Preciosíssimo Sangue te seja propí­cio, mas não posso te atender; pois sou obrigado pela obediência a celebrar toda esta semana nas intenções da comunidade'. — 'Ó Venerável Padre, então, queira me acompa­nhar, já que os meus tormentos não te comovem para a Santa Missa. Verás os sofrimentos das multidões de pobres almas que imploram teu sufrágio'.

Em poucos instantes o santo se viu levado ao alto de uma montanha banhada de luz e cheia de beleza, mas aos pés deste monte, num imenso vale, um espetáculo triste encheu de horror ao santo. Multidões de almas se retorciam de dor num braseiro imenso e gemiam de cortar o coração. Ao perceberem o santo no alto da montanha, bradavam supli­cantes, estendendo os braços, e pedindo misericórdia e socorro. 'Padre Nicolau', disse Frei Peregrino, 'tem piedade destas pobres almas que imploram teu socorro. Se celebrares a Santa Missa por nós, quase todas sairemos libertadas de nossos dolorosos e horrí­veis tormentos'.

Nicolau não pode se conter. Como Moisés, pas­sou a noite com os braços estendidos em cruz, implorando misericórdia. Depois, foi ter com o Superior e contou a visão. Obteve licença para celebrar a San­ta Missa durante sete dias em seguida pelas almas do Purgatório. Frei Peregrino, durante a Missa do santo, apareceu-lhe resplandecente de glória cercado de uma multidão de almas libertadas do Purgatório que su­biam ao Céu. Desde então teve São Nicolau o títu­lo de Protetor das almas do Purgatório. Daí também a origem do piedoso costume de mandar celebrar sete Missas em sete dias consecutivos pelas almas dos de­funtos queridos, pais, parentes, amigos, etc.

O Papa Bento XV concedeu em 15 de Maio de 1920 o privilégio de que as Missas celebradas nas igrejas dos Padres Agostinianos durante estes dias, em su­frágio de algum defunto, sejam celebradas como as de altar privilegiado. Invoquemos a São Nicolau de Tolentino na nos­sa devoção às santas almas do Purgatório. É um rico protetor dos devotos das santas almas.

(Excertos da obra 'Tenhamos Compaixão das Pobres Almas!' de Monsenhor Ascânio Brandão, 1948)