terça-feira, 8 de abril de 2014

A FÉ EXPLICADA (XIII)

Podem existir várias religiões que sejam igualmente boas?

Não; porque não pode haver senão uma única religião verdadeira. Assim como não existe mais que um único Deus, não há mais que uma única forma verdadeira de honrá-lo; e esta religião obriga todos os homens a conhecê-la.

1. Uma religião, para ser boa, deve agradar a Deus. Mas como Deus é a verdade, uma falsa religião não poderia agradá-lo, Ele não poderia aprovar uma religião fundamentada na mentira e no erro.

2. Não pode existir mais que uma única verdadeira religião,  pois a religião é o conjunto de nossos deveres para com Deus; e estes deveres são os mesmos para todos os homens. E, de fato, esses deveres surgem a partir das relações entre a natureza de Deus e a natureza do homem. Mas como a natureza de Deus é uma só, e a natureza humana é a mesma em todos os homens, é evidente que os deveres têm de ser os mesmos para todos. Portanto, a verdadeira religião tem de ser única e não pode ser múltipla. As formas sensíveis de culto podem variar; a essência do culto, não.

3. Toda religião compreende três coisas: dogmas de fé, uma moral a ser praticada e um culto de adoração a Deus. Se duas religiões são igualmente verdadeiras, elas terão de ter os mesmos dogmas, a mesma moral, o mesmo culto e, então, não serão distintas.

Se são distintas, somente podem ser por ensinar doutrinas diferentes em relação a uma dessas matérias; neste caso, já não são igualmente verdadeiras. Por exemplo, pergunta-se 'Jesus Cristo é Deus?' 'Sim', diz um católico. 'Pode ser', diz um protestante racionalista. 'Não', contesta um judeu. 'É um profeta como Maomé', acrescenta um turco... Estes quatro homens não podem estar todos certos; obviamente, um único manifestou a verdade. Então, as religiões que admitem ainda que uma única verdade dogmática diferente, não podem ser igualmente verdadeiras.

O que dissemos do dogma, afirma-se também à moral: não existe mais que uma única moral, uma vez que esta deve estar firmada na mesma natureza de Deus e do homem, que não mudam. O mesmo deve ser dito do culto, ao menos em suas práticas fundamentais.

Quando os protestantes dizem: 'nós servimos o mesmo Deus que os católicos e logo, a nossa religião é tão boa quanto a deles', contestamos: 'certamente você adoram o mesmo Deus, uma vez que Ele é único, porém não O adoram da mesma forma que nós, não O adoram como Ele quer ser adorado. Eis aí a diferença ... Deus é o Senhor , e o homem deve submeter-se à Sua Vontade.

Aqueles que dizem que todas as religiões são boas, não vêem na religião mais que um tributo em homenagem a Deus, e pensam equivocadamente que qualquer tributo a Ele é valoroso. Esquecem que a religião encerra verdades para serem acreditadas, deveres a serem cumpridos e um culto a ser praticado. E, obviamente, não podem existir várias religiões com crenças contraditórias e práticas antagônicas, porque a verdade é uma só, e Deus não pode aprovar o erro.

Primeira Objeção: Todas as religiões são boas.

Acaso todas as moedas são iguais? Não se tem que distinguir entre as verdadeiras e as falsas? O mesmo se sucede com a religião. Como as moedas falsificadas pressupõem a moeda verdadeira, da qual não são mais do que imitações criminosas, da mesma forma, as falsas religiões pressupõem uma religião verdadeira.

Se todas as religiões são boas, então se pode ser católico em Roma, anglicano em Londres, protestante em Genebra e muçulmano em Constantinopla muçulmano, idólatra em Pequim e budista na Índia. Não é isso ridículo? Não se trata de afirmar que o sim ou o não são igualmente verdadeiras no mesmo caso? Dizer que todas as religiões são boas é um absurdo palpável, uma blasfêmia contra Deus, um erro fatal para o homem. 

1. Um absurdo. É verdade que, nas diferentes religiões, existem algumas verdades que são aceitas por todos, tais como: a existência de Deus, a espiritualidade da alma, vida após a morte, com as recompensas e as punições eternas. Mas elas se contradizem em outros pontos fundamentais. O católico, por exemplo, argumenta que a missão da Igreja é explicar a palavra de Deus contida na Bíblia, ao passo que o protestante afirma que todo cristão deve interpretar por si mesmo a palavra divina e forjar uma religião à sua própria maneira ...

Poderíamos citar indefinidamente as diferenças conflitantes entre as várias religiões. Mas é claro que duas coisas contraditórias não podem ser verdadeiras, porque a verdade é única, como Deus, e não pode se contradizer. Se a Igreja recebeu de Cristo a missão de explicar a Bíblia, não cabe à vontade de cada cristão interpretá-la à sua maneira ... É um absurdo dizer que o sim e o não podem ser igualmente certos sobre o mesmo ponto. Mas, como o que não é verdadeiro, não é bom, porque a mentira e o erro de nada valem, devemos concluir que não podendo ser verdadeiras todas as religiões, todas as religiões não podem ser igualmente boas. Se alguém chega a conhecer a religião católica, importa ser absolutamente necessário, sob pena de falta grave, abandonar a falsa religião e abraçar a verdadeira.

2. Uma blasfêmia contra Deus. Dizer que todas as religiões são boas, não se trata somente de contradizer o senso comum, mas blasfemar contra Deus. É tomar a Deus por um ser indiferente à verdade e ao erro. Supõe-se que Deus possa amar, com amor igual, ao cristão que adora o seu Filho Jesus Cristo e ao maometano, que O insulta; que deve amar igualmente o Papa, que condena a heresia , e a Lutero, Calvino e Henrique VIII, que se rebelaram contra a Igreja; que abençoe o católico que adora Jesus Cristo presente na Eucaristia, e sorria para o calvinista que zomba desse mistério ... Atribuir a Deus semelhante conduta é negar seus atributos divinos, isto é, é tratar a mentira como verdade, o mal como o bem, e aceitar, com a mesma complacência, o culto e o insulto ... Não é isto uma blasfêmia estúpida?

3. Um erro fatal para o homem. Para alcançar a felicidade eterna, o homem deve seguir o caminho até ela e somente a verdadeira religião é o caminho que conduz ao Céu. Não é uma grande desgraça errar o caminho? ... E se, ao menos, ao término da jornada, se pudesse refazer os passos! ... Mas se se erra pela própria culpa, ter-se-á perdido por toda a eternidade. A indiferença, de se proclamar que podem ser seguidas igualmente todas as religiões, pretende alijar o homem da religião verdadeira, do único meio de  alcançar sua meta. É, portanto, um erro fatal.

Segunda Objeção: Um homem honesto não deve mudar de religião e deve seguir a religião de seus pais. 

Cada um pode e deve seguir a religião de seus pais, se esta religião for verdadeira; mas se for falsa, tem a obrigação de renunciar a ela para abraçar a verdadeira. Assim, quando se tem a boa dita de nascer sob a verdadeira religião, não se precisa realmente de mudar suas crenças; e deve-se estar pronto para derramar até a última gota de sangue antes de se apostatar dela. Porém, quando não se teve a boa fortuna de nascer sob a verdadeira religião, e se vem a conhecê-la, é absolutamente imperativo, sob pena de falta grave, abandonar a falsa religião e abraçar a verdadeira.

O dever mais sagrado do homem é seguir a verdade desde o instante que a conhece: antes de tudo, temos de obedecer a Deus. Abandonar a falsa religião para seguir a verdadeira é acatar a Vontade de Deus e, portanto, cumprir o mais sagrado dos deveres. Certamente nada merece tanto respeito quanto as crenças de nossos pais; mas este respeito tem os seus limites, os limites da verdade. Ninguém está obrigado a copiar os defeitos dos pais. Se os pais são ignorantes, é necessário por acaso que, por respeito, os filhos permaneçam ignorantes como eles? A salvação é uma questão pessoal, individual, da qual cada um é responsável diante de Deus .

As razões pelas quais se negligencia abraçar a verdadeira religião são: o respeito humano, os interesses temporais e o desejo de seguir as próprias paixões; mas, obviamente, essas causas são ruins em si e devem, portanto, ser sacrificadas para fazer cumprir a Vontade de Deus e salvar a alma.

(Excertos da obra 'La Religión Demostrada', de P. A. Hillaire)