terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

EXISTE (MUITO) PECADO AO SUL DO EQUADOR...

Nestes tempos de licenciosidade e relativismos mórbidos, em que tudo torna-se passível de questionamento geral e corriqueiro, a ideia de impor ou definir limites é irremediavelmente taxada de anacrônica ou obscurantismo 'medieval'. E, neste contexto de um mundo que perdeu completamente a noção do sagrado e do pecado, é perfeitamente compreensível, e até mesmo louvável, que 'não exista pecado ao sul do Equador...'

Neste contexto, o carnaval é o frenesi dos instintos e a apoteose da libertinagem. Mas um católico não poderia objetar que o pecado não está no carnaval, mas na carnavalização dos sentidos? Pode o pecado da ira não estar na ira? Pode o mal esconder-se ambiguamente atrás de algo intrinsecamente neutro? A questão de pecar ou não pecar envolve a relatividade do ato e do fato? De outra forma, as obras do espírito são frutos de suas operações ou, nas palavras de São Tomás de Aquino, operações e obras se correspondem como a edificação de uma casa para a casa edificada (Summa Theologiae).

Nada, absolutamente nada, nos atos humanos ou nas operações do espírito (ideias, juízos, imaginação, raciocínio), podem ser incondicionalmente neutras no âmbito da moral cristã: ou conduzem à maior glória de Deus ou nos afastam inexoravelmente da vida da graça: 'Portanto, quer comais quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus' (I Cor 10, 31). E, assim, como a ira tornada ação, a ira entranhada é também pecado. Expor-se à ocasião do pecado já é pecado. O que se impõe, além disso, é meramente a questão da maior ou menor gravidade de um e de outro pecado.

Se nosso propósito é fazer tudo para a glória de Deus, na edificação cotidiana da casa, o que estaremos fazendo exatamente nestes dias em um bloco de carnaval? Investidos na supressão dos costumes formais, em meio à turba eufórica e excitada, subjugados pela onda avassaladora da licenciosidade dos sentidos? 

Ora, se numa discussão, eu me permito ser dominado pela cólera e, em vez de confrontá-la com a objeção do autocontrole e do discernimento, eu a admito tendo em vista um alardeado controle sobre os meus atos, ainda assim, não passo de um encolerizado pecador. Da mesma forma, ainda que seduzido ou enganado pelos rompantes de se buscar apenas diversão no carnaval, numa festa intrinsecamente contrária à moral cristã, você será apenas mais um folião na legião de pecadores. E, convenhamos que, para um católico, isso não é nada engraçado...