terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

AS PROFECIAS (FALSAS) DE SÃO MALAQUIAS

São Malaquias nasceu na Irlanda em 1094 (ou 1095), tornou-se Arcebispo de Armagh em 1132 e morreu em 2 de novembro de 1148 em Claraval, na França, tendo sido canonizado em 1190 pelo Papa Clemente III. Que o santo tinha manifestações proféticas, isso é bem conhecido, uma vez que anunciou explicitamente a data de sua morte, bem como fez várias predições sobre a Irlanda. Entretanto, as revelações atribuídas a ele sobre os papas parecem ser mera especulação e potencialmente falsas. 

De acordo com estas revelações, ao apresentar o relatório das atividades de sua diocese ao Papa  Inocêncio II, em Roma, perpassou pela mente do santo a sequência dos papas (e também dos antipapas reinantes neste período), desde Celestino II, eleito em 1143, até o fim dos tempos, compreendendo 112 pontífices (102 papas e 10 antipapas*). Para cada um deles, era apresentada uma frase ou dístico contendo duas, três ou no máximo quatro palavras latinas que caracterizaria o papa eleito ou o seu pontificado. Para o último papa listado, a mensagem destinava uma frase completa: 'Durante a última perseguição da Santa Igreja Romana sentar-se-á Pedro Romano, que apascentará a sua grei no meio de muitas tribulações; quando estas tiverem terminado, a cidade de sete colinas será destruída, e o tremendo Juiz julgará o seu povo. Fim'

Há várias razões para se questionar tais revelações. Em primeiro lugar, São Bernardo, amigo e autor de uma biografia do santo, jamais fez menção a tais profecias, o que seria um despropósito face ao valor intrínseco das mensagens. Por estranho que pareça, a listagem não faz distinção entre papas e antipapas. Por outro lado, as 'profecias de São Malaquias' somente foram difundidas publicamente na obra Lignum Vitae, editada em Veneza em 1595, ou seja cerca de 450 anos após a morte do santo. Outro fato que permite questionar a autenticidade das profecias é que existe claramente uma distinção entre duas fases das mensagens: entre Celestino II (1143-1144) até Gregório XIV (1590-1591), os dísticos apresentam uma vinculação óbvia e direta com o nome ou as prerrogativas do pontífice (brasão, título cardinalício, lugar de origem do papa, etc). De Gregório XIV em diante, porém, os dísticos passam a ter uma contextualização abstrata, enigmática e generalista, perdendo-se completamente o foco das divisas precedentes, o que leva supor que as profecias tenham sido expostas nesta época. 

No completo desconhecimento destes fatos, os 'especialistas' tendem a forçar conexões fantasiosas entre os dísticos e os pontífices**, tudo no estrito princípio de confirmar as tais 'profecias'. E, assim, neste cenário de profecias forçadas, com a renúncia de Bento XVI (2650 papa), o próximo papa seria o derradeiro pontífice, no escopo de um mundo no fim dos tempos.


* As profecias incluem os seguintes 10 antipapas:

Vítor IV (1159-1164); Pascoal III (1164-1168); Calisto III (1168-1178); Nícolas V (1328-1330); Clemente VII (1378-1394); Bento XIII (1394-1423); Clemente VIII (1423-1429); Alexandre V (1409-1410); João XXIII (1410-1415); Felix V (1439-1449)

** Dísticos e Pontífices para os papas dos séculos XX e XXI:

(-10) Lumen in coelo – Luz no céu (Leão XIII, 1878-1903]
(-9) Ignis ardens  Fogo ardente (Pio X, 1903-1914);
(-8) Religio depopulata – A Religião despovoada (Bento XV, 1914-1922);
(-7) Fides intrépida – Fé intrépida (Pio XI, 1922-1939); 
(-6) Pastor Angelicus – Pastor angélico (Pio XII, 1939-1958); 
(-5) Pastor et Nauta – Pastor e navegante (João XXIII, 1958-1963); 
(-4) Flos florum – Flor das flores [Paulo VI, 1963-1978); 
(-3) De mediate Lunae – Da meia lua [João Paulo I, 1978]; 
(-2) De labore solis – Eclipse do sol [João Paulo II, 1978-2005]; 
(-1) Gloria olivae – Glória da oliveira [Bento XVI, 2005 - 2013]