quarta-feira, 12 de novembro de 2025

ORAÇÃO À MÃE DE MISERICÓRDIA


Ó Maria, advogada dos pecadores, intercedei em meu favor. Lembrai-vos de que é para a nossa felicidade também, e não só para a vossa, que recebestes o grande poder e dignidade de que sois revestida. Se um Deus se dignou de fazer-se o vosso devedor pela natureza humana que de vós assumiu, é para que possais dispender ao vosso grado os tesouros da divina misericórdia. 

Vossos servos somos, dedicados de maneira especial ao vosso serviço, e nos gloriamos de viver sob a vossa proteção. Se fazeis bem a todos os homens, ainda aos que não vos conhecem ou se descuidam de honrar-vos, assim como aos que vos ultrajam e blasfemam, que não devemos esperar de tão grande bondade que busca os desgraçados para os socorrer, nós que vos honramos, amamos e em vós pomos toda a nossa confiança?

Grandes pecadores somos, mas Deus vos deu uma misericórdia e poder que ultrapassam as nossas iniquidades. Vós tendes o poder e a vontade de nos salvar, e nós tanto mais queremos esperar a nossa salvação, quanto mais indignos dela somos, para mais vos glorificar no céu, quando lá entrarmos pela vossa intercessão. 

Ó Mãe de misericórdia, nós vos apresentamos as nossas almas, que o sangue de Jesus Cristo havia outrora lavado e moldado de graça, mas que o pecado depois horrivelmente manchou; a vós pertence purificá-las. Alcançai-nos uma conversão sincera, o amor de Deus, a perseverança, o Paraíso. Grandes graças vos pedimos; mas não podeis obter tudo? Seria muito para o amor que Deus vos tem? Bastante vos é pedir ao vosso Filho: Ele não vos recusa coisa alguma. Rogai então, ó Maria, rogai por nós: e sereis atendida e nós infalivelmente salvos.

(As Mais Belas Orações de Santo Afonso de Ligório, do Pe. Saint-Omer)

terça-feira, 11 de novembro de 2025

'MESMO QUE APENAS UM SEJA SALVO...'

Que a Fé dos nossos Pais seja proposta àqueles que estão enganados, mas de boa vontade, com toda ternura e caridade. Se eles concordarem, recebamo-los em nosso meio. Se eles não concordarem, habitemos sozinhos, independentemente de números; e mantenhamo-nos afastados de almas equivocadas, que não possuem aquela simplicidade sem dolo, indispensavelmente necessária nos primeiros dias do Evangelho.

Os crentes, como está escrito nas Escrituras, tinham apenas um coração e uma alma. Portanto, aqueles que nos censuram por não desejar a pacificação, marquem bem quem são os verdadeiros autores da perturbação. Que eles não peçam mais reconciliação de nossa parte.

A todo argumento especioso que pareça aconselhar silêncio de nossa parte, opomos este outro argumento, a saber, que a caridade não conta como nada, nem seus próprios interesses nem as dificuldades dos tempos. Mesmo que nenhum homem esteja disposto a seguir nosso exemplo, o que fazer então? Devemos abandonar o dever somente por essa razão? Na fornalha ardente, os filhos do cativeiro da Babilônia entoaram seu cântico ao Senhor, sem fazer nenhuma avaliação da multidão que deixou a verdade de lado. Eles eram suficientes um para o outro, apenas três como eles eram!

Então, animem-se! sob cada golpe, renovem-se no amor; deixem seu zelo ganhar força a cada dia, sabendo que em vocês devem ser preservados os últimos resquícios de piedade que o Senhor, em seu retorno, pode encontrar na terra. 

Não deem atenção ao que a multidão pode pensar, pois um mero sopro de vento é suficiente para balançar a multidão para frente e para trás, como a onda ondulante. Mesmo que apenas um fosse salvo, como no caso de Ló de Sodoma, não seria lícito para ele se desviar do caminho da retidão, meramente porque ele descobre que ele é o único que está certo. Não; ele deve ficar sozinho, impassível, mantendo firme sua esperança em Jesus Cristo.

(São Basílio de Cesaréia)

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

PALAVRAS DA SALVAÇÃO

'Trema a criatura perante o suplício do seu Redentor, quebrem-se as pedras dos corações infiéis e saiam para fora, vencendo todos os obstáculos, aqueles que jaziam debaixo de seus túmulos. Apareçam também agora na cidade santa, isto é, na Igreja de Deus, como sinais da ressurreição futura e realize-se nos corações o que um dia se realizará nos corpos. A nenhum pecador é negada a vitória da cruz e não há homem a quem a oração de Cristo não ajude. Se ela foi útil para muitos dos que o perseguiam, quanto mais não ajudará os que a ele se convertem? Foi eliminada a ignorância da incredulidade, foi suavizada a aspereza do caminho, e o sangue sagrado de Cristo extinguiu o fogo daquela espada que impedia o acesso ao reino da vida. A escuridão da antiga noite cedeu lugar à verdadeira luz. O povo cristão é convidado a gozar as riquezas do paraíso, e para todos os batizados está aberto o caminho de volta à pátria perdida, desde que ninguém queira fechar para si próprio aquele caminho que se abriu também à fé do ladrão arrependido. Evitemos que as preocupações desta vida nos envolvam na ansiedade e no orgulho, de tal modo que procuremos, com todo o afeto do coração, conformar-nos ao nosso Redentor na perfeita imitação dos seus exemplos'.

(São Leão Magno)

domingo, 9 de novembro de 2025

EVANGELHO DO DOMINGO

   

'Os braços de um rio vêm trazer alegria à cidade de Deus, à morada do Altíssimo' (Sl 45)

Primeira Leitura (Ez 47,1-2.8-9.12) -Segunda Leitura (1Cor 3,9c-11.16-17) - Evangelho (Jo 2,13-22)

  09/11/2025 - DEDICAÇÃO DA BASÍLICA DO LATRÃO

A EXPULSÃO DOS VENDILHÕES DO TEMPLO


Neste domingo, o Evangelho nos mostra Jesus manifestando aos ímpios a ira santa de Deus. Há pouco, ocorrera o milagre das Bodas de Caná; estava próxima a Páscoa e, em perfeita conformidade à lei judaica, Jesus também viera visitar o Templo em Jerusalém. E ali, num ambiente tomado por uma completa profanação do espaço sagrado, Jesus expulsa os vendilhões do templo.

Tomado de santo furor, diante a balbúrdia e o tumulto dos homens que profanavam o santuário de Deus, Jesus faz um chicote de cordas e os expulsa com peremptória indignação: 'Tirai isto daqui! Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!' (Jo 2,16). Aquelas mãos divinas, consumidas em tantos atos de perdão e de misericórdia, tecem agora um chicote! E, com ele em mãos, golpeia e desmantela as bancas e as mesas, espanta vendedores e cambistas, afugenta os animais em correria, esparrama objetos, moedas e víveres pelo chão, movido por uma indignação e um zelo extremos pela profanação do sagrado. O que deve ter sido este cenário!

Paralisados e tomados de pavor, aqueles homens que se atropelam para fugir diante de Jesus e da profanação revelada, ainda ousam pedir um sinal ao Senhor por tais ações. E Jesus lhes dá a resposta pela revelação do mistério da ressurreição do seu corpo, templo perfeitíssimo de Deus: 'Destruí este Templo, e em três dias o levantarei (Jo 2,19). Jesus não falava do templo físico, mas do templo espiritual que habita em nós, e que contém em plenitude o Corpo, Sangue, Alma e Divindade do Senhor. O primeiro será destruído, porque não era santo. O segundo, por méritos e graças do Salvador, nos abriu as portas da redenção e da eternidade com Deus: 'Quando Jesus ressuscitou, os discípulos lembraram-se do que ele tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra dele' (Jo 2,22).

O episódio da expulsão dos vendilhões do Templo deveria nos alertar duramente sobre o rigor da Justiça Divina, diante o pecado e a perda de referência ao culto do sagrado. Ai daqueles que, usurpando da graça do livre arbítrio, negam a sua realidade espiritual e convertem as suas vidas em construir templos de barro e produzir frutos sazonais, ditados apenas pelos interesses humanos. Serão réus e depositários da santa ira de Deus, porque 'se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá, pois o santuário de Deus é santo e vós sois esse santuário' (1Cor 3,17).

sábado, 8 de novembro de 2025

UM NÃO AO QUINTO DOGMA MARIANO

O Dicastério para a Doutrina da Fé do Vaticano - principal órgão doutrinário da Igreja - publicou na terça feira passada (04/11/2025), a Nota Doutrinal Mater Populi Fidelis, visando esclarecer e alertar aos fieis católicos a utilização relativa de alguns títulos marianos, particularmente o de 'correndentora' e de 'medianeira de todas as graças'. As reações e as polêmicas foram imediatas e intensas ao teor da publicação, sancionada pelo Papa Leão XIV, positivas de um lado e massivamente críticas de outro, abrangendo o meio católico e repercutindo também em larga escala em outros domínios religiosos e na mídia em geral. 

Antes de mais nada, é imperioso lembrar que a Virgem Maria é contemplada com quatro dogmas pela Igreja - a Maternidade Divina, a Imaculada Conceição, a Virgindade Perpétua e a Assunção ao Céu - e por dezenas de títulos de honra e louvor como Nossa Senhora de muitos nomes, Mãe dos homens, Mãe da Igreja, Advogada Nossa, Corredentora do gênero humano, Medianeira Universal, Rainha da Paz, Rainha dos Apóstolos, Senhora de todos os Povos e muitos outros. Alguns destes títulos específicos têm sido objeto de novas proposições dogmáticas (o quinto dogma da Virgem Maria), enquanto outros estão intimamente arraigados à tradição, às orações e à própria liturgia da Igreja. A polêmica gerada pela Nota Doutrinal é que ela confronta diretamente aqueles títulos que têm sido objeto de novas proposições dogmáticas à Virgem Maria -  'correndentora' e 'medianeira de todas as graças'.

Do 'Fazei tudo o que Ele vos disser' (Jo 2, 5) ao 'Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra' (Lc 1, 38), e 'me chamarão bem-aventurada todas as gerações' (Lc 1, 48) e ainda 'Depois apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol' (Ap 12,1), estão delimitadas claramente, por um lado, a condição de serva e discípula do seu Filho e, por outro lado, uma bem aventurança e uma graça inaudita por parte de Deus. Da terra, exala o perfume de todas as virtudes da obra prima de Deus (que nortearam os quatro dogmas da Igreja sobre ela). Do Céu, pairam sobre as águas a Vontade de Deus. Se Deus quer, que razões 'dogmáticas, pastorais ou ecumênicas' podem obscurecer 'a mulher vestida de sol' (revestida do próprio Cristo por ser a Mãe de Deus)? 

A Nota Doutrinal, por mais que perambule por citações eruditas e relevantes, não responde e nem se detém nos aspectos cruciais destes títulos ainda não dogmáticos da Mãe de Deus: explicar que 'correndentora' não é 'Redentora' - um abismo teológico paira sobre as águas porque a ação de Nossa Senhora não tem e não poderia ter a medida do mérito e da satisfação infinita inseridas na Redenção de Cristo. Na mesma medida, 'mediadora de todas as graças' é uma mediação por Cristo, em Cristo e por Cristo, secundária e subordinada à Vontade Divina. Vontade Divina que quis que a Redenção de Cristo e a salvação dos homens passasse por aquela que Deus ousou chegar mais perto dele.

Objeções, questionamentos e argumentos plausíveis podem ser expostos em confronto a estes títulos, sob bases doutrinárias ou teológicas de naturezas diversas (nunca ecumênicas, é óbvio), inclusive e particularmente em relação à cooperação de Nossa Senhora na obra redentora de Jesus Cristo. Não há necessariamente heresia ou descalabro nisso, e tais elementos não 'rebaixam' a grandeza da Virgem Maria. Todos os dogmas marianos proclamados foram, com certeza, objeto de contradições e muitas discussões teológicas que foram, entretanto, contra-argumentadas, contestadas e descartadas, muitas vezes simplesmente esmagadas como heresias e ideologias funestas. 

No contexto atual, nada disso se impõe, mas tem-se meramente um reducionismo teológico e doutrinário que resume por inteiro o teor do documento, assinado por alguém de direito e por direito contestado, cujo texto arroga postulados muito negativos, críticos e ofensivos aos títulos marianos: 'sempre inoportuno'; 'especial prudência' e 'analogia remota' e para introduzir mais um título de relevância secundária - 'mãe do povo fiel' - que parece mais uma simples concessão ao escarcéu protestante e ecumênico. Não acho boa coisa contestar assim, com este arsenal limitado e enviesado, os Padres da Igreja, os Escolásticos, a Tradição da Igreja, um Leão XIII e um Pio XII ou o santo Papa Pio X, mas a Igreja nunca navega neste mundo sobre calmarias e vento a favor.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

SOBRE AS ÚLTIMAS QUATRO COISAS (VI)

   

PARTE II - O JUÍZO FINAL

I. Sobre os Sinais que Precederão o Juízo Final

Jesus Cristo, Juiz dos vivos e dos mortos que, na sua primeira vinda apareceu na terra com toda  quietude e tranquilidade, sob uma forma gentil e humilde, voltará pela segunda vez para julgar os homens com grande majestade e glória.

Para que a sua vinda não nos encontre despreparados, Ele enviará antecipadamente muitos e terríveis sinais para nos alertar a abandonar nossa vida pecaminosa. Sobre esses sinais, Ele mesmo diz: 'Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; e, na terra, angústia das nações, os homens desfalecendo de medo e expectativa do que sobrevirá ao mundo inteiro' (Lc 21, 25-26)... Porque então haverá grande tribulação, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá. E, se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria' (Mt 24,21-22). Que anúncio terrível! Que profecia terrível!

Poderia haver alguma previsão mais terrível para nós do que esta que vem dos lábios da Verdade Eterna? Quando Deus estava prestes a destruir a cidade de Jerusalém, Ele anunciou sua queda por meio de vários sinais. Um cometa, semelhante a uma espada de fogo, brilhou sobre a cidade, e exércitos de guerreiros armados foram vistos lutando no ar. Jerusalém poderia, no último momento, ter interpretado corretamente esses sinais e feito penitência para a salvação. Mas Jerusalém não soube o tempo da sua visitação. Se Deus fez com que sinais tão maravilhosos aparecessem antes da destruição de uma única cidade, não anunciará Ele o fim do mundo que se aproxima e os castigos que virão sobre ele, por meio de sinais terríveis e assustadores? 

Há, portanto, todas as razões para acreditar que, um tempo considerável antes do Dia do Juízo Final, sinais temíveis aparecerão em toda a terra e nos céus. Cristo parece indicar isso nas palavras: 'Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; os homens definharão de medo e expectativa do que virá sobre o mundo inteiro'. Esses sinais se tornarão mais numerosos a cada dia, e os homens ficarão tão aterrorizados que, se Deus não encurtasse esses dias, até mesmo os eleitos começariam a se desesperar. Então, como diz São Jerônimo, os céus ficarão nublados com nuvens pesadas e uma tempestade terrível se levantará.

A força do vento derrubará os habitantes da terra e os lançará no ar; árvores serão arrancadas, casas ficarão sem telhado. Longos estrondos de trovões ressoarão nos céus, os relâmpagos, como serpentes de fogo, iluminarão o céu e, com suas línguas bifurcadas, brincando ao redor das moradias da humanidade, acenderão uma conflagração geral, em meio ao estrondo dos trovões. As águas do oceano ficarão tão agitadas que suas ondas se elevarão como montanhas, quase alcançando as nuvens. O rugido e a fúria das ondas varridas pela tempestade durarão algum tempo. Todos os animais da terra levantarão a voz, e seus uivos sombrios encherão o ar, de modo que os corações dos homens ficarão paralisados de terror.

No entanto, isso é apenas o começo da tristeza, diz-nos Nosso Senhor. O que acontecerá a seguir, Ele descreve com estas palavras: “Imediatamente após a tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua luz, as estrelas cairão do céu e os poderes do céu serão abalados' (Lc 21, 25-26). Este escurecimento do sol ocorrerá em plena luz do meio-dia. E assim como seus raios dourados iluminando a face da natureza alegram tanto os homens quanto os animais, a retirada repentina de sua luz causará tristeza e angústia a toda a criação. E isso ainda mais porque a lua deixará de brilhar, e sua luz suave e pacífica não mais iluminará as sombras da noite. Todas as estrelas que salpicam o firmamento e lançam um brilho sobre a terra desaparecerão de seu lugar habitual. Essa terrível escuridão causará tal alarme e angústia no coração de todas as criaturas vivas, tanto homens quanto animais, que o luto e o lamento serão universais.

Com o lamento de angústia que ascende dos habitantes da Terra, os uivos dos espíritos malignos no ar se misturarão em um concerto hediondo, pois eles perceberão por esses sinais que o Dia do Juízo Final está próximo; eles sabem que em breve terão que comparecer perante o rigoroso tribunal de Deus; eles sabem que serão lançados no Inferno por toda a eternidade. Daí sua fúria, sua raiva e seus delírios frenéticos.

Aqui podemos repetir as palavras ditas por Cristo: 'Este é apenas o começo da dor', e podemos acrescentar que não haverá fim para ela. Pois, após a terrível escuridão, tudo estará perturbado e em desordem, e os elementos serão liberados, de modo que os homens temerão que os céus caiam e a terra afunde sob seus pés. É isso que Cristo quer dizer quando afirma: ' Os poderes do céu serão abalados e as estrelas cairão do céu'. Pois, de acordo com a vontade divina, o firmamento com todas as suas estrelas, o sol com seus planetas, a atmosfera com seu véu de nuvens, serão tão fortemente abalados e feitos tremer que sons terríveis de colisões, quebras e explosões assustadoras serão ouvidos em todos os lugares. As estrelas serão expulsas de suas órbitas e, assim, os grandes poderes do céu entrarão em conflito uns com os outros.

Quais serão os sentimentos do homem que viver esses eventos? Como toda a humanidade, todos os seres criados lamentarão! O próprio Cristo nos diz que assim será: 'Na terra haverá angústia das nações, por causa da confusão do rugido do mar e das ondas; os homens definharão de medo e expectativa do que virá sobre o mundo inteiro' (Lc 21,25-26). E em outro lugar Ele diz: 'Haverá então grande tribulação, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá. E, se aqueles dias não fossem abreviados, nenhuma carne se salvaria' (Mt 24, 21-22). Nosso Senhor não poderia ter usado expressão mais forte para descrever a miséria absoluta dos mortais infelizes do que dizer que eles definharão de medo e apreensão pelas coisas que ainda estão por vir sobre o mundo. 

Como é possível que os homens que estarão vivos naquela época não desanimem, não se desesperem, diante de tamanha miséria insondável? Mesmo a fé e a coragem de um apóstolo seriam duramente provadas para suportar tamanha infelicidade indescritível. Todos os homens terão a aparência de quem viu um fantasma. Seus cabelos ficarão em pé, seus joelhos baterão um no outro, eles tremerão de medo, seu terror os privará da capacidade de falar, seus corações morrerão dentro deles por causa da tribulação, perderão a razão e a consciência, ninguém ajudará o seu vizinho, ninguém confortará o seu próximo, ninguém trocará uma palavra com os seus amigos; apenas todos se unirão em choro e lamentação, e correrão para se esconder nas cavernas da terra.

Quando essa lamentação tiver durado algum tempo, o Deus da justiça porá fim à sua miséria, e tudo o que estiver sob o firmamento do Céu será destruído pelo fogo. Pois o fogo cairá do Céu e incendiará tudo com que entrar em contato. Em muitos lugares, também, chamas brotarão do solo e aterrorizarão os mortais infelizes a tal ponto que eles não saberão como escapar delas. Alguns buscarão abrigo em porões e cavernas, outros mergulharão em rios e lagos. As chamas devoradoras se espalharão tão rapidamente que as florestas serão incendiadas, e as cidades e vilas serão incluídas na destruição. Por fim, toda a Terra estará em chamas e ocorrerá uma conflagração geral, como nunca se viu ou se ouviu falar. O calor das chamas violentas será tão intenso que as pedras e rochas derreterão, e o mar e todas as águas da terra ferverão e se converterão em vapor.

Todos os homens então vivos, todos os animais da terra e todos os peixes do mar serão destruídos nesta conflagração universal. Assim, o mundo inteiro chegará a um fim terrível, e tudo nesta terra será consumido ou purificado pelo fogo. Depois que tudo isso acontecer, a aparência da terra será completamente renovada.

(Excertos da obra 'The Four Last Things - Death, Judgment, Hell and Heaven', do Pe. Martin Von Cochem, 1899; tradução do autor do blog)

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

O MAIOR DE TODOS OS PECADOS

Se odiássemos o pecado como deveríamos odiá-lo; puramente, profundamente, valentemente, deveríamos fazer mais penitência, infligir em nós próprios maiores castigos, deveríamos chorar os nossos pecados mais abundantemente. Pois a suprema deslealdade para com Deus é a heresia. É o pecado dos pecados, a mais repugnante das coisas que Deus desdenha neste mundo enfermo. No entanto, quão pouco entendemos da sua enorme odiosidade! É a poluição da verdade de Deus, o que é a pior de todas as impurezas.

Porém, quão pouca importância damos à heresia! Fitamo-la e permanecemos calmos... Tocamo-la e não trememos. Misturamos-nos com ela e não temos medo. Vemo-la tocar nas coisas sagradas e não temos nenhum sentido do sacrilégio. Inalamos seu odor e não mostramos qualquer sinal de abominação ou de nojo. Entre nós, alguns simpatizam com ela e alguns até atenuam a sua culpa. Não amamos a Deus o suficiente para nos enraivecermos por causa da sua glória. Não amamos os homens o suficiente para sermos caridosamente verdadeiros por causa das suas almas.

Tendo perdido o tato, o paladar, a visão e todos os sentidos das coisas celestiais, somos capazes de morar no meio desta praga odiosa, impertubavelmente tranquilos, reconciliados com a sua repulsividade, e não sem proferirmos declarações em que nos gabamos de uma admiração liberal, talvez até com uma demonstração solícita de simpatia tolerante.

Por que estamos tão abaixo dos antigos santos, e até dos modernos apóstolos destes últimos tempos, na abundância das nossas conversões? Porque não temos a antiga firmeza! Falta-nos o velho espírito da Igreja, o velho gênio eclesiástico. A nossa caridade não é sincera porque não é severa, e não é persuasiva porque não é sincera.

Falta-nos a devoção à verdade enquanto verdade, enquanto verdade de Deus. O nosso zelo pelas almas é fraco, porque não temos zelo pela honra de Deus. Agimos como se Deus ficasse lisonjeado pelas conversões, e não pelas almas trêmulas, salvas por uma abundância de misericórdia.

Dizemos aos homens a metade da verdade, a metade que melhor convém à nossa própria pusilanimidade e aos seus próprios preconceitos. E, então, admiramo-nos que tão poucos se convertam e que, desses tão poucos, tantos apostatem.

Somos tão fracos a ponto de nos surpreendermos que a nossa meia-verdade não tenha tanto sucesso como a verdade completa de Deus. Onde não há ódio à heresia, não há santidade. Um homem, que poderia ser um apóstolo, torna-se uma úlcera na Igreja por falta de reta indignação.

(Excertos da obra 'O Preciosíssimo Sangue ou o Preço da Nossa Salvação', do Pe. Frederick William Faber)