terça-feira, 17 de dezembro de 2019

ANTÍFONAS DO Ó

As Antífonas do Ó são sete orações especialmente cantadas durante o tempo do Advento, particularmente ao longo da semana que antecede o Natal. A autoria das antífonas, que remontam aos séculos VII e VIII, tem sido comumente atribuída ao papa Gregório Magno. São sete orações extremamente curtas, sempre iniciadas pela interjeição Ó, correspondendo a sete diferentes súplicas manifestadas a Jesus Cristo, na expectativa do nascimento do Menino - Deus entre os homens, que é invocado sob sete diferentes títulos messiânicos tomados do Antigo Testamento. 

17 de dezembro

O Sapientia
quæ ex ore Altissimi prodisti,
attingens a fine usque ad finem,
fortiter suaviter disponens omnia:
Veni ad docendum nos viam prudentiae   


Ó Sabedoria
que saístes da boca do altíssimo
atingindo de uma a outra extremidade
e tudo dispondo com força e suavidade:
Vinde ensinar-nos o caminho da prudência

18 de dezembro

O Adonai
et Dux domus Israel,
qui Moysi in igne flammæ rubi apparuisti
et ei in Sina legem dedisti:
Veni ad redimendum nos in brachio extento
 

Ó Adonai
guia da casa de Israel,
que aparecestes a Moisés na chama do fogo
no meio da sarça ardente e lhe deste a lei no Sinai
Vinde resgatar-nos pelo poder do Vosso braço.
 
19 de dezembro

O Radix Jesse
qui stas in signum populorum,
super quem continebunt reges os suum,
quem gentes deprecabuntur:
Veni ad liberandum nos; jam noli tardare 


Ó Raiz de Jessé
erguida como estandarte dos povos,
em cuja presença os reis se calarão
e a quem as nações invocarão,
Vinde libertar-nos; não tardeis jamais. 

20 de dezembro

O Clavis David
et sceptrum domus Israel:
qui aperis, et nemo claudit;
claudis et nemo aperit:
Veni, et educ vinctum de domo carceris,
sedentem in tenebris et umbra mortis  


Ó Chave de Davi
o cetro da casa de Israel
que abris e ninguém fecha;
fechais e ninguém abre:
Vinde e libertai da prisão o cativo
assentado nas trevas e à sombra da morte. 

21 de dezembro

O Oriens
splendor lucis æternæ, et sol justitiæ
Veni et illumina sedentes in tenebris
et umbra mortis. 


Ó Oriente
esplendor da luz eterna e sol da justiça
Vinde e iluminai os que estão sentados
nas trevas e à sombra da morte. 

22 de dezembro

O Rex gentium
et desideratus earum
lapisque angularis,
qui facis utraque unum:
Veni et salva hominem quem de limo formasti 


Ó Rei das nações
e objeto de seus desejos,
pedra angular
que reunis em vós judeus e gentios:
Vinde e salvai o homem que do limo formastes.  

23 de dezembro

O Emmanuel,
Rex et legifer noster,
exspectatio gentium,
et Salvador earum:
Veni ad salvandum nos, Domine Deus noster 


Ó Emanuel,
nosso rei e legislador,
esperança e salvador das nações,
Vinde salvar-nos,
Senhor nosso Deus.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

AS NOVE JORNADAS DO ADVENTO


Preparação: andor com a imagens peregrinas de São José e da Virgem Maria
Procissão: passagem do andor em frente a uma casa, segundo trajeto pré-estabelecido, durante nove jornadas consecutivas.

Início: Sinal da Cruz, Credo, Pai Nosso.


Canto Inicial (livre)

Kyrie eleison
Christe eleison
Kyrie eleison

Canto

O Andor é colocado diante da porta da casa, no caminho da procissão. Os participantes dividem-se em dois grupos: dentro e fora da casa, agora de portas fechadas, e tem início o canto em que o grupo de fora pede pousada para o grupo de dentro.

(Grupo de Fora)

Em nome do Céu
vos peço pousada
porque já não pode andar
minha esposa amada. 

(Grupo de Dentro)

Aqui não é pousada
sigam adiante
não vamos abrir:
podeis ser um farsante!

(Grupo de Fora)

Não sejais desumanos
tende piedade 
que o Deus do Céu
vos recompensará de verdade.

(Grupo de Dentro)

Sigam em frente
sem mais nos molestar
porque se insistirem estamos prontos
a vos fazer calar.

(Grupo de Fora)

Temos muito viajado 
desde Nazaré
Eu sou um carpinteiro
meu nome é José.

(Grupo de Dentro)

Não nos importa o vosso nome
Deixai-nos dormir
porque já vos dissemos
que não vamos abrir!

(Grupo de Fora)

Escutai, ouvi isso,
quem vos pedis pousada
é a rainha do Céu
em terrena jornada.

(Grupo de Dentro)

então quem quer abrigo
por acaso é rainha;
como pode uma soberana
viajar assim sozinha?

(Grupo de Fora)

Sim, é a Rainha do Céu,
que tem por nome Maria
Que será a Mãe de Deus
antes de romper o dia.

Todos: Maria de Nazaré!

(Grupo de Dentro)

Que entre pois em minha casa,
a Virgem Imaculada
que passa à minha porta
pedindo pousada.

(Grupo de Fora)

Que Deus vos console
por tal caridade
E que o Céu seja vosso
por toda eternidade.

(Grupo de Dentro)

Ditosa é a morada
e bendito é o seu senhor
que nesta noite dá pousada
à Mãe do Salvador!

Todos: Mãe do Salvador!

(São abertas as portas da casa e todos cantam, com o andor posto à frente)

Abram-se as portas, rasguem-se os véus, 
vamos receber a Rainha dos Céus

Venham os esposos e filhos deste lar
receber Maria; deixá-la entrar.

Venham todos os que se encontram neste lugar
receber José; deixá-lo entrar.

Que os santos peregrinos
terminem a jornada
fazendo de nossas almas
a sua morada!

Ato de contrição

Prostrado em vossa presença, ó adorável Trindade, vos bendigo e vos dou graças pelo inefável mistério da Encarnação, no ventre da mais pura das virgens, vitima propícia da Divina Justiça pelo mundo pecador. Eis-me aqui, o mais ingrato dos pecadores... confundido e envergonhado, reconheço o vosso amor infinito e vossa ardentíssima caridade; adoro, bendigo e glorifico a vós que, desde o ventre puríssimo de Maria, vos entregastes aos padecimentos, desprezos e provações, mesmo inocente e que fixais em mim olhos de misericórdia; em mim, o mais indigno de vosso perdão, por haver ultrajado a vossa santidade e grandeza em troca dos inumeráveis benefícios que me haveis outorgado.

Ó Salvador que me redimistes da escravidão do demônio! Ó Pai que, esquecendo minha insensatez e desvarios, me busca, me chama e me oferece, em troca de tanta ingratidão, amor e bem-aventurança eterna! Pequei e me pesa na alma haver-vos ofendido. Aumentai em mim, meu Deus, o arrependimento e dai-me a força eficaz para odiar o pecado e perseverar em vosso santo serviço até o fim da minha vida. Amém.

Oração de Cada Dia (Nove Jornadas)

Primeira Jornada

'Ó Inocente e Puríssima Virgem Maria que, para cumprir o mandato de um soberano da terra, obrigada tivestes de partir, em companhia de vosso castíssimo esposo José, de Nazaré até Belém, para fazer cumprir o edito do César, que se apresentasse toda pessoa residente em seu império declarando o lugar de origem para pagar futuros tributos; por vosso exemplo, ó tão humilde Rainha, vos rogo reanimeis minha fé para que também, submisso e obediente, possa cumprir com o mandato de nosso Soberano do céu. Amém'.

Segunda Jornada

'Ó Virgem Santíssima, assim como vós sofrestes os rigores das intempéries levando em vosso ventre virginal ao Divino Jesus feito homem; eu, vos louvo e vos rogo que me ensineis a suportar as misérias, contratempos, desprezos e provações e que minha esperança se fortaleça em seguir vossos passos nas jornadas da virtude. Amém'.

Terceira Jornada

'Ó Rainha dos anjos, comunicai à minha alma, ó Imaculada Conceição, a fortaleza com que suportastes as provações da vossa terceira jornada, tendo por companhia vosso esposo José e o coro dos anjos celestes que cantavam e bendiziam ao Filho de vossas puríssimas entranhas, para que convosco possa continuar minha peregrinação nesta terra. Amém'.

Quarta Jornada

'Ó Minha Mãe, assim como vós suportastes miséria, provações e desdenhosas negativas quando, sem desanimar, imploravas pousada nesta jornada, transmiti-nos, ó Virgem Santíssima, essa mesma submissão e humildade vossa, para que o meu coração somente possa dar abrigo a um amor puro, piedoso e sincero como o da vossa Sagrada Família. Amém'.

Quinta Jornada

'Ó Cândida Pomba, Mãe e Rainha celestial que, à vossa chegada a Belém em busca de abrigo, pressurosa vos empenhastes em cumprir o mandato que aí vos levava; com este exemplo de submissão que me dais, ensinai-me também no caminho da obediência e submetei-me à vontade do  vosso Filho para que se fortaleça o meu espírito e avive o fogo do meu amor; e não permitis, Minha Mãe, que vacile a minha fé. Amém'.

Sexta Jornada

'Ó Rainha soberana, que suportastes as duras fatigas de tão cruel jornada de Nazaré a Belém, de porta em porta pedindo pousada, que todos vos negavam, sem haver encontrado humilde asilo afinal; por que não hei de suportar as provações da vida para alcançar a graça de seguir pelo caminho da virtude e conseguir contemplar-vos eternamente na Glória? Amém'.

Sétima Jornada

'Ó Rosa Mística e puríssima de aroma celestial que, nesta jornada em busca de pousada, com abnegação inefável, submissa aceitastes por asilo a solícita oferta de vosso santo esposo que somente pôde conduzir-vos a uma gruta, morada e refúgio eventual de pastores que aí, com seus rebanhos, se abrigavam contra as chuvas e as inclemências do tempo. Vós, que tudo isto suportastes, dai-me paciência para suportar também as amarguras terrenas. Amém'.

Oitava Jornada

'Ó Santíssima Virgem, ó Rainha Imaculada, aproxima-se o feliz momento em que, com resignação sem igual, dareis a luz ao Redentor do mundo; considerai que, apesar do sofrimento, ainda solícita ajudastes ao vosso casto esposo limpar as imundícias do lugar que não era propício nem para os animais; façais, Virgem Santa, que eu possa alcançar a eterna ventura de ser vosso digno servo. Amém'.

Nona Jornada

'Por fim, Mãe gloriosa, é chegado o ansiado momento em que destes a luz ao menino mais lindo, sábio e adorável, cuja presença o estábulo embelezou. Com o Castíssimo Patriarca, celebrais a glória com os hosanas de anjos, arcanjos e querubins e com todo o orbe cristão e o júbilo de milhões de fieis que adoram o Vosso Filho e cantam 'Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade'; até os animais se aproximam lentamente para dar calor e alento ao desnudo corpinho do nosso Redentor. Assome neste momento a aurora do cristianismo, a luz divina que exalta o fraco e o oprimido, que iguala o rico ao mendigo. Ó Maria, por este feliz momento em que recebestes a homenagem dos mais humildes, vos pedimos, com a mesma humildade, que nos ajudeis a viver sempre na Santa Vontade do Vosso Divino Filho. Amém'.

Rezam-se Nove Ave Marias (em memória aos nove meses de gravidez de Nossa Senhora), antecipadas com o seguinte Oferecimento:

Nós vos oferecemos estas Nove Ave Marias, ó castíssima Virgem e Mãe de Deus, em memória de vossa gloriosa maternidade e por todas as virtudes com que o Altíssimo adornou vossa alma. Rogamo-vos que não olheis a miséria e a indignidade que nos revestem, mas atendei-nos somente pelo honrosíssimo titulo de Mãe de Deus. Por este titulo, cheios de regozijo e consolo, infunde-nos a esperança de que, na hora final, velareis por nós, esquecendo-se de nossas ingratidões, e recordando, como Mãe do Salvador, quem, em sua agonia, vos fez depositária de sua misericórdia para com os pecadores. Suplicantes imploraremos a vossa assistência, cuja memória nos bastará, pois sabemos que nunca quem vosso auxilio implora será desamparado e, assim, confiamos obter a graça de receber no coração o vosso divino Menino Jesus Sacramentado, graça que será o sinal de nosso perdão e prenda segura da vida eterna. Amém.

Canto final (livre)

domingo, 15 de dezembro de 2019

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'Alegre-se a terra que era deserta e intransitável, exulte a solidão e floresça como um lírio. Germine e exulte de alegria e louvores. Foi-lhe dada a glória do Líbano, o esplendor do Carmelo e de Saron; seus habitantes verão a glória do Senhor, a majestade do nosso Deus' 
(Is 35, 1-2)

PÁGINAS DO EVANGELHO (2019 - 2020)

sábado, 14 de dezembro de 2019

14 DE DEZEMBRO - SÃO JOÃO DA CRUZ

(1542 - 1591)

João de Yepes, 'uma das almas mais puras da Igreja' no dizer de Santa Teresa, nasceu, assim como a própria Santa Teresa, na província de Ávila (Fontiveros) na Espanha, em 1542. Formado desde o berço na escola da pobreza e do sofrimento, estudou com os padres jesuítas e ingressou na Ordem Carmelita aos 21 anos,  ordenando-se sacerdote em 1567. Com decisão tomada para se transferir para a Ordem dos Cartuxos, então de hábitos bem mais austeros que o Carmelo, teve um encontro com Santa Teresa que mudou a sua vida. Diante da proposta da santa de reformar a Ordem Carmelita, abraçou esta causa com desmedido zelo e devoção por mais de 20 anos, assumindo, então, o nome de João da Cruz. 

Apesar de ter sido o primeiro padre da reforma carmelita, foi duramente perseguido pela Ordem, sendo isolado e privado de todas as suas funções originais. Nesse período de duras provações, ascese e contemplação, moldou-se a extraordinária poesia mística do santo, expressa em obras como  'Subida do Monte Carmelo', 'Noite escura da alma', 'Cântico Espiritual' e 'Chama de amor viva'. Num ambiente de perseguição, doenças e grandes sofrimentos, veio a falecer aos 49 anos de idade, no dia 14 de dezembro de 1591. O Papa Clemente X o beatificou em 1675; Bento XIII o canonizou em 27 de dezembro de 1726 e o Papa Pio XI o declarou 26º Doutor da Igreja Universal no princípio do século XX.

São João da Cruz, rogai por nós!

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

SANTA LUZIA E AS LÂMPADAS DA ALMA


'O olho é a luz do corpo. Se teu olho é são, todo o teu corpo será iluminado. Se teu olho estiver em mau estado, todo o teu corpo estará nas trevas. Se a luz que está em ti são trevas, quão espessas deverão ser as trevas!' (Mt 6, 22 - 23).

'Se teu olho te leva ao pecado, arranca-o e lança-o longe de ti: é melhor para ti entrares na vida cego de um olho que seres jogado com teus dois olhos no fogo da geena' (Mt 18, 9).

'Quem vive casta e santamente é templo do Espírito Santo. Sem a minha vontade, a virtude nada sofrerá. Podes, à força, pôr incenso nas minhas mãos para que eu o ofereça aos ídolos? Isto de nada vale porque Deus, que conhece os corações, não me julgará pelo o que fiz coagida. A violência feita ao corpo não arranca a pureza da alma, se minha vontade não consente. Ao contrário, esta violência me proporcionará duas coroas: a da virgindade e a do martírio' (Santa Luzia).

Santa Luzia foi perseguida durante a época do imperador Diocleciano e martirizada por decapitação. Diz a tradição que ela defendeu de tal forma sua pureza, que teria preferido arrancar os próprios olhos e entregá-los aos carrascos do que se submeter à infâmia de conspurcar a sua castidade a renegar a fé cristã. Neste sentido, ela é comumente representada com os dois olhos arrancados e colocados sobre uma bandeja. 

Na verdade, Santa Luzia não precisou arrancar seus olhos para vencer o pecado, ela os utilizou para ver, além das coisas físicas e materiais, de forma clara e transparente, a própria luz de Deus. É celebrada como a santa protetora da visão, mas muito além da visão física. Ela nos ensina que, como lâmpadas do corpo, os nossos olhos devem refletir em plenitude a luz de Cristo que habita as nossas almas!

Santa Luzia, rogai por nós!

OREMUS! (347)

A sequência completa destes pensamentos e reflexões é publicada diariamente na Página OREMUS na Biblioteca Digital deste blog.

13 DE DEZEMBRO

Cum oratis... [quando orardes... (Lc 11,2)]

Senhor, bendita seja a tua paciência de Mestre que me ensinou a rezar, com tanta sabedoria e com tanta simplicidade! Eu te agradeço, porque me ensinaste uma oração que eu posso compreender e sentir. Naquele dia eu aprendi que rezar não é nenhuma arte sublime e nenhuma ciência difícil fora do meu alcance. Compreendi que eu também posso falar com meu Deus, porque Ele é meu Pai.

Amo, Senhor, essa oração que me ensinaste. Ela é tão simples e, ao mesmo tempo, tão sublime; tão pequena, e tão grande, porque tem tanta força e tanta vida. Amo esse teu modo de rezar — como uma criança; porque eu também devo rezar com a inocência e simplicidade dos pequeninos. Sim, quero rezar como as crianças que, com uma palavra, fazem um mundo de pedidos. Porque elas são simples, conseguem pôr todo o coração numa única palavra, que mal sabem pronunciar.

Quero rezar como aquele ladrão que, com uma frase, arrebatou o teu perdão e o teu Reino. Quero rezar como aquele pecador, à entrada do templo; eu também sou um pecador e a minha miséria é muito grande, para que eu a possa disfarçar com palavras bonitas. Quero estar em tua presença, como uma criança simples e inocente, para falar com meu Pai que está nos Céus.

(Oremus — Pensamentos para a Meditação de Todos os Dias, do Pe. Isac Lorena, 1963, com complementos de trechos traduzidos do latim pelo autor do blog).