segunda-feira, 30 de setembro de 2024

TRATADO SOBRE A HUMILDADE (XI)

 

56. Há um tipo de orgulho que é ainda mais abominável aos olhos de Deus do que qualquer outro, e é aquele - como diz a Sagrada Escritura - que pertence mais especialmente aos pobres. 'O pobre que se ensoberbece, minha alma odeia' [Eclo 25,4]. Se o orgulho de quem é rico em méritos, talentos e virtudes - tesouros mais preciosos para a alma - é desagradável a Deus, mais desagradável ainda será para Ele em quem não tem esses mesmos motivos de orgulho, mas que, pelo contrário, teria todas as razões para ser humilde. E este, receio, é o orgulho de que sou culpado.

Sou pobre de alma, sem virtude nem mérito, cheio de iniquidade e malícia, e, no entanto, me estimo e amo tanto a minha própria estima que fico perturbado se os outros não me estimam também. Sou verdadeiramente uma criatura pobre, orgulhosa e miserável; e quanto maior é a minha pobreza, mais o meu orgulho é detestável aos olhos de Deus. Tudo isto resulta de não conhecer a mim próprio. Concedei, ó meu Deus, que eu possa dizer como o profeta: 'Eu sou o homem que vê a minha pobreza' [Lm 3,1]. Fazei-me conhecer, Senhor, a minha própria miséria, que de mim mesmo nada sou, nada sei, nada possuo senão os meus pecados, e nada mereço senão o inferno. Recebi de Vós muitas graças, luzes e inspirações, e muita ajuda, e no entanto com que ingratidão respondi à vossa infinita bondade! Quem mais pecador, quem mais ingrato e quem mais perverso do que eu? Quanto mais fizestes por mim, tanto mais humilde devo ser, pois terei de te prestar contas rigorosas de todos os vossos benefícios: 'E a quem muito for dado, muito será pedido' [Lc 12,48]. E, no entanto, quanto maior é a vossa bondade, maior tem sido o meu orgulho. Coro de vergonha, e é o conhecimento do meu orgulho que me obriga agora a ser humilde.

57. É mais fácil ser humilde na adversidade do que na prosperidade, e é impossível dizer o quanto a felicidade temporal influencia o homem a ser orgulhoso. 'Dos sofrimentos dos mortais não participam' [Sl 72,5], assim o Profeta-Rei fala dos pecadores, e acrescenta: 'Por isso a soberba os prendeu' [Sl 72,6]. A adversidade contrabalança o nosso amor-próprio e impede o seu crescimento, pois, por um lado, dá-nos a conhecer as nossas fragilidades, tanto mais quando é inesperada e dolorosa, e, por outro lado, obriga-nos a voltar os nossos pensamentos para Deus, a implorar a sua misericórdia e a humilharmo-nos sob a sua mão, como fez o profeta: 'Na minha aflição invoquei o Senhor' [Sl 17,7] e 'E como um triste, assim me humilhei' [cf Sl 34, 13-14]. Portanto, se não soubermos suportar as tribulações com alegria, pelo menos suportemo-las com paciência e humildade.

Ó como são preciosas essas humilhações pelas quais adquirimos e aprendemos a exercitar a humildade! É então que devemos exclamar com o salmista: 'na sepultura, acaso há de se falar no seu amor? [Sl 88,11] ou então, como o rei Nabucodonosor quando, caindo em si, humildemente exclamou: 'Por isso, agora louvo, engrandeço e glorifico o Rei dos Céus, porque Ele é capaz de humilhar os que andam na soberba' [Dn 4,34]. As aflições não faltam neste vale de lágrimas, mas são poucos os que sabem usá-las como meio de se tornarem humildes. Concedei, ó meu Deus, a vossa misericórdia, para que eu possa estar entre esses poucos!

('A Humildade de Coração', de Fr. Cajetan (Gaetano) Maria de Bergamo, 1791, tradução do autor do blog)

domingo, 29 de setembro de 2024

EVANGELHO DO DOMINGO

    

'A lei do Senhor Deus é perfeita, alegria ao coração' (Sl 18)

Primeira Leitura (Nm 11,25-29) - Segunda Leitura (Tg 5,1-6) -  Evangelho (Mc 9,38-43.45.47-48)

  29/09/2024 - VIGÉSIMO SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM

44. A SANTIFICAÇÃO EXIGE O ÓDIO AO PECADO

Naqueles dias, nos caminhos da Galileia, os discípulos de Jesus ainda se tomavam como os únicos arautos da Verdade e discutiam à qual deles esta primazia haveria de se elevar mais alto, pois viviam ainda reféns de uma perspectiva puramente humana do reino prometido por Jesus. Atento às murmurações deles, o Senhor vai condenar o pecado do orgulho ao lhes assegurar que o maior de todos é o que serve a todos (Mc 9, 35) para, em seguida, os exortar que, no caminho da santificação, o amor a Deus implica um ódio extremado ao pecado, a todo tipo de pecado.

Esta firme exortação tem origem na pergunta de João: 'Mestre, vimos um homem expulsar demônios em teu nome. Mas nós o proibimos, porque ele não nos segue' (Mc 9, 38), cuja ação é imediatamente contestada por Jesus, pois não havia sido movida pela caridade, mas por meros ciúmes da concessão de dons sobrenaturais a quem não era do restrito círculo fechado dos discípulos do Senhor: 'Quem não é contra nós é a nosso favor' (Mc 9, 40). Não deve haver limites ou impedimentos para os mistérios da Graça, quando o bem é feito compartilhado com o autor da Vida: 'quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa' (Mc 9, 41).

E, de forma oposta, Jesus condena aquele que, por malícia, se conspurca na obstinação do pecado, consumindo a graça na lama do escândalo, expondo-se e expondo a muitos no caminho da ruína espiritual de suas almas, no caminho do inferno. Quanto a este, a admoestação de Jesus é severa: 'melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço' (Mc 9, 42). A gravidade do pecado do escândalo - por ações, por exemplos, por palavras - está em que, muito além de provocar a perda da inocência alheia ou propagar blasfêmias, é que, ao conduzir à perda das almas, é um pecado que simula, em sua essência, a ação do próprio demônio.

Jesus exorta, então, se cumprir, em tudo e para todos, a santificação em plenitude, traduzida na observância radical aos seus Mandamentos. Isso implica não ceder ao pecado sob concessão alguma e não afrontar a graça divina por nenhum propósito humano. A verdadeira santificação exige, portanto, vigilância extrema, oração constante e fuga da ocasião de pecado por todos os meios disponíveis, pelos mais extremos possíveis: 'Se tua mão te leva a pecar, corta-a! É melhor entrar na Vida sem uma das mãos, do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. Se teu pé te leva a pecar, corta-o! É melhor entrar na Vida sem um dos pés, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno. Se teu olho te leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno, onde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga' (Mc 9, 43.45.47-48).

29 DE SETEMBRO - SÃO MIGUEL ARCANJO

    

(São Miguel com elmo e armadura medieval - Catedral de Bruxelas)

'Houve uma batalha no Céu: Miguel e os seus Anjos guerrearam contra o Dragão. O Dragão batalhou, juntamente com os seus Anjos, mas foi derrotado e não se encontrou mais um lugar para eles no Céu' (Ap 12, 7-8).

'Naquele tempo, surgirá Miguel, o grande Príncipe, constituído defensor dos filhos do seu povo e será tempo de angústia como jamais houve' (Dn 12, 1).

Assim como Lúcifer é o chefe dos demônios, Miguel é o maior dentre os anjos, Príncipe das milícias celestes, protetor da Santa Igreja e da humanidade contra as forças do inferno. Assim, a designação de arcanjo (oitavo coro dos anjos) tem sentido genérico e nominativo, pois certamente São Miguel, sendo o primeiro dentre os Anjos, é o maior dos serafins. Dentre os vários santuários destinados à devoção ao Arcanjo São Miguel, Príncipe das milícias celestes, destaca-se aquele localizado no Monte Saint Michel na França, cuja foto constitui a abertura e o símbolo deste blog.

(Santuário de São Miguel - Monte Saint Michel/França)

São Miguel, rogai por nós!
Intercedei a Deus por nós!

sábado, 28 de setembro de 2024

AS CINCO IDOLATRIAS MODERNAS


Foi então que soou no céu a trombeta da cólera divina, que ninguém deixou de ouvir; e o Homem Moderno, que havia caído em cinco idolatrias e cinco desobediências, está agora condenado a ser provado e purificado por cinco castigos e cinco penitências:

Idolatria da Ciência, com a qual quis fazer outra Torre de Babel que chegasse até ao céu; e a ciência está neste momento ocupada em construir aviões, bombas e armas de longo alcance para destruir casas, cidades e fábricas.

Idolatria da Liberdade, com a qual quis fazer de cada homem um pequeno e caprichoso tiranete; e eis o momento em que o mundo está cheio de despotismo, e os próprios povos pedem mãos de ferro para sair da confusão que criou esta liberdade insana.

Idolatria do Progresso, com a qual acreditaram que, em pouco tempo, ter-se-iaum Paraíso Terrestre; e eis que o Progresso é o Bezerro de Ouro que mergulha os homens na miséria, na escravidão, no ódio, na mentira e na morte.

Idolatria da Carne, à qual se pediu o céu e as delícias do Éden; e a carne do homem despida, exibida, mimada e adorada, está a ser destroçada, dilacerada e amontoada como esterco nos campos de batalha.

Idolatria do Prazer, com a qual se quer fazer do mundo um carnaval perpétuo e converter os homens em crianças agitadas e irresponsáveis; e o prazer criou um mundo de enfermidades, dolências e torturas, que fazem desesperar todas as faculdades de medicina.

(Excertos da obra 'Cristo vuelve o no vuelve?', do Pe. Leonardo Castellani)

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

GALERIA DE ARTE SACRA (XXXIX)

'O Retorno do Calvário' é uma obra do pintor inglês Herbert Gustave Schmalz (1856 - 1935). A pintura retrata um crepúsculo já dominado pelas sombras da noite. Eis o tempo dos homens: a Paixão de Cristo está consumada e seu corpo está confinado por uma pedra no sepulcro novo. Três cruzes solitárias (no alto à direita da pintura) modelam agora o cenário do Calvário. A 'volta para casa' ainda é parte integrante da Paixão, porque o triunfo da ressurreição é ainda uma perspectiva.

Todo o cenário contribui para um jogo contínuo de confrontos: luzes e sombras, a escadaria e a parte baixa da cidade, o distanciamento do Calvário diante a perspectiva ainda indefinida do triunfo da ressurreição. Cinco personagens - 1 homem e 4 mulheres - vivenciando uma elevação de graças e dores muito acima das mazelas do mundo lá embaixo, percorrem lentamente os degraus de uma escadaria.

Eis o homem: João, o discípulo amado que ampara e sustenta a Maria, Mãe do Crucificado. O seu olhar está fixado na visão do Calvário e é quase possível transcrever seu pensamento de agora, demarcado a ferro e a fogo pelas palavras finais de Jesus: 'Eis aí tua mãe'. Maria avança em desolação completa, cada passo agora é abandono e resignação completa: 'Vós todos que passais pelo caminho, olhai e vede: há dor como a minha dor? (Lm 1,12).

Há outras Marias neste grupo que amparam e acompanham a Virgem Maria. A mulher ruiva que a consola diretamente com João é Maria Madalena ou Maria de Magdala, que vai se tornar a primeira testemunha da ressurreição. Maria, mulher de Cleófas ou mãe de Tiago (Menor) é provavelmente a mulher que, mais atrás, tem o olhar dirigido às solitárias cruzes que encimam o Calvário. E a mulher atrás dela, com o rosto envolto pelas mãos, é provavelmente Salomé, 'a mãe de Tiago e João, filhos de Zebedeu'. As duas mulheres que, mais tarde, iriam juntas para comprar aromas para ungir o Corpo de Jesus. Ou, sob outro ponto de vista, podemos inverter a identificação de ambas na pintura.

Mas alguém vislumbrou uma outra interpretação criativa para esta pintura que me agrada muitíssimo mais. Aquelas duas figuras mais atrás - uma que obscurece a própria visão e outra que volve seu olhar ao drama da Paixão, ambas aturdidas, ambas profundamente abaladas - somos nós, eu e você, quaisquer um de nós. Reflexos de nós mesmos, personagens reais ou projetados de quem, no tempo dos homens e na eternidade de Deus, seremos igualmente um dia - todos - testemunhas da Paixão. 

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

INSENSATEZ E PRESUNÇÃO

 

1. Insensato é quem põe sua esperança nos homens ou nas criaturas. Não te envergonhes de servir a outros por Jesus Cristo, e ser tido como pobre neste mundo. Não confies em ti mesmo, mas põe em Deus tua esperança. Faze de tua parte o que puderes, e Deus ajudará tua boa vontade. Não confies em tua ciência, nem na sagacidade de qualquer vivente, mas antes na graça de Deus, que ajuda os humildes e abate os presunçosos.

2. Se tens riquezas, não te glories delas, nem dos amigos, por serem poderosos, senão em Deus, que dá tudo, além de tudo, deseja dar-se a si mesmo. Não te desvaneças com a airosidade ou formosura de teu corpo, que com pequena enfermidade se quebranta e desfigura. Não te orgulhes de tua habilidade ou de teu talento, para que não desagrades a Deus, de quem é todo bem natural que tiveres.

3. Não te reputes melhor que os outros para não seres considerado pior por Deus, que conhece tudo que há no homem. Não te ensoberbeças pelas boas obras, porque os juízos dos homens são muito diferentes dos de Deus, a quem não raro desagrada o que aos homens apraz. Se em ti houver algum bem, pensa que ainda melhores são os outros, para assim te conservares na humildade. Nenhum mal te fará se te julgares inferior a todos; muito, porém, se a qualquer pessoa te preferires. De contínua paz goza o humilde; no coração do soberbo, porém, reinam inveja e iras sem conta.

(Da Imitação de Cristo, de Thomas de Kempis)

quarta-feira, 25 de setembro de 2024

O DOGMA DO PURGATÓRIO (LXXXIX)

Capítulo LXXXIX

Vantagens e Recompensas pela Devoção às Santas Almas - A Mulher Napolitana e o Bilhete Misterioso

Para provar que as almas do Purgatório demonstram a sua gratidão até por favores temporais, o Padre Rossignoli relata um fato ocorrido em Nápoles, que tem alguma semelhança com o que acabamos de ler. Se não é dado a todos oferecer a Deus as abundantes esmolas de Judas Machabeus, que enviou doze mil dracmas a Jerusalém para sacrifícios e orações em favor dos mortos, são muito poucos os que não podem ao menos fazer a oferta da pobre viúva do Evangelho, que foi elogiada pelo próprio Salvador. Ela havia dado apenas dois cêntimos, mas, disse Jesus: 'todos deitaram do que tinham em abundância; esta, porém, pôs, de sua indigência, tudo o que tinha para o seu sustento' (Mc 12, 44).  

Este exemplo comovente foi imitado por uma humilde mulher napolitana, que tinha a maior dificuldade em prover as necessidades da sua família. Os recursos da casa dependiam dos ganhos diários do marido, que todas as noites trazia para casa o fruto do seu trabalho. Infelizmente, um dia esse pobre pai foi preso por dívidas, de modo que a responsabilidade de sustentar a família recaiu sobre a infeliz mãe, que não possuía nada além de sua confiança em Deus. Com fé, ela implorou à Providência Divina que viesse em seu auxílio e, especialmente, para que livrasse o seu marido que definhava na prisão apenas por causa de sua pobreza.

Dirigiu-se então a um cavalheiro rico e benevolente e, contando-lhe a triste história dos seus infortúnios, suplicou-lhe com lágrimas que a ajudasse. Deus permitiu que ela recebesse dele apenas uma esmola insignificante, no valor de uma moeda equivalente a apenas dez cêntimos. Profundamente aflita, entrou numa igreja para implorar ao Deus dos indigentes que a socorresse na sua aflição, pois nada tinha a esperar na terra. Estava absorta em orações e lágrimas quando, por inspiração, sem dúvida, do seu bom anjo da guarda, lhe ocorreu interceder pelas almas santas em seu favor, pois tinha ouvido falar muito dos seus sofrimentos e da sua gratidão para com aqueles que as ajudam. Cheia de confiança, dirigiu-se à sacristia, ofereceu aquela simples moeda e perguntou a um sacerdote se seria possível celebrar uma missa pelos defuntos. O bom padre, que lá se encontrava, apressou-se a subir ao altar para rezar a missa nessa intenção, enquanto a pobre mulher, prostrada em recolhimento, assistia o Santo Sacrifício, oferecendo as suas orações pelos defuntos.

Regressou à casa muito consolada, como se tivesse recebido a certeza de que Deus tinha ouvido a sua oração. Quando percorria as ruas populosas de Nápoles, foi abordada por um ancião, que lhe perguntou de onde vinha e para onde ia. A infeliz mulher explicou-lhe a sua aflição e o uso que tinha feito da pequena esmola que recebera. O velho pareceu profundamente sensibilizado com a sua miséria, disse-lhe algumas palavras de encorajamento e deu-lhe um bilhete fechado num envelope, mandando que o entregasse a um certo senhor em particular, deixando-a em seguida.

A mulher apressou-se a procurar o tal senhor e a entregar a ele o bilhete recebido. Este, ao abrir o envelope, foi tomado de espanto e intensa comoção, pois reconheceu imediatamnete a letra do seu pai, falecido há algum tempo. 'Onde arranjaste esta carta?' - exclamou ele, completamente atordoado. 'Senhor' - respondeu a boa mulher - 'foi um ancião que me abordou na rua. Falei-lhe da minha aflição e ele mandou-me entregar-lhe este bilhete em seu nome. O seu semblante assemelha-se muito ao retrato que o senhor tem sobre a porta'. Cada vez mais impressionado por estas circunstâncias, o cavalheiro pegou de novo o bilhete e o leu em voz alta: 'Meu filho, o teu pai acaba de sair do Purgatório, graças a uma missa que a portadora deste recado mandou celebrar esta manhã. Ela está em situação muito aflita e eu a recomendo aos seus cuidados'. 

Leu e releu aquelas linhas, traçadas por aquela mão que lhe era tão cara, por um pai que agora estava entre os eleitos. Lágrimas de alegria corriam-lhe pelas faces quando se voltou para a mulher. 'Pobre mulher' - disse ele - 'com a tua esmola insignificante, asseguraste a felicidade eterna daquele que me deu a vida. Por minha vez, assegurarei a tua felicidade temporal. Tomo a meu cargo suprir a partir de agora todas as tuas necessidades e as de toda a tua família'. Que alegria para aquele senhor! Que alegria para aquela pobre mulher! É difícil dizer de que lado encontrava-se a maior felicidade. O que é mais importante e mais fácil é ver a instrução que se pode tirar desse fato: ele nos ensina que o menor ato de caridade para com os membros da Igreja Sofredora é precioso aos olhos de Deus e atrai sobre nós milagres de misericórdia.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog