terça-feira, 13 de agosto de 2024

PROFECIAS CATÓLICAS (I)

👉 Teresa Neumann (1936): 'As fúrias do inferno estão agora à solta. O castigo divino será inevitável'. 

👉 São Columbano (século VI): 'Escutai, escutai o que acontecerá nos últimos dias do mundo! Haverá grandes guerras; serão promulgadas leis injustas; a Igreja será despojada dos seus bens; as pessoas lerão e escreverão muito; mas a caridade e a humildade serão ridicularizadas, e o povo comum acreditará em ideias falsas'.

👉 Elizabeth Canori-Mora (século XIX): 'Ai do religioso que não observar a sua regra! O mesmo digo ao clero secular e a todos os homens do mundo que se entregam a uma vida de prazeres e que acreditam nas falsas máximas das ideias modernas'.

👉 São Metódio (século IV): 'Chegará um dia em que os inimigos de Cristo se vangloriarão de ter conquistado o mundo inteiro. Eles dirão: Os cristãos não podem escapar agora! Mas um Grande Rei levantar-se-á para combater os inimigos de Deus. Ele irá derrotá-los e a paz será dada ao mundo, e a Igreja será libertada das suas aflições'

👉Pio IX (século XIX): 'Haverá um grande prodígio que encherá o mundo de admiração. Mas este prodígio será precedido pelo triunfo de uma revolução durante a qual a Igreja passará por provações que não podem ser descritas'.

👉 Melanie Calvat (a Vidente de La Salette, século XIX): 'Depois de uma guerra terrível, um Grande Rei surgirá e o seu reinado será marcado por uma paz maravilhosa e um grande renascimento religioso'.

👉 São Cataldo (século V): 'O Grande Rei guerreará até à idade de quarenta anos. Ele reunirá grandes exércitos e expulsará os tiranos do seu império'.

Comentários:

A profecia de São Columbano já se concretizou: já tivemos duas guerras mundiais; foram promulgadas leis injustas em todos os países; o desenvolvimento da imprensa fez com que as pessoas lessem e escrevessem muito, algo que só um santo poderia imaginar no século VI; a caridade e a humildade são agora ridicularizadas, e as pessoas acreditam no falso messianismo humano que surgiu durante a Renascença nos meios intelectuais, e que se espalhou entre as pessoas comuns a partir do século VIII. 

São Metódio foi um dos primeiros profetas da era cristã a prever a vitória do comunismo. Ele não nomeou o comunismo, mas as correlações com outras profecias tornarão isso claro. Muitas outras profecias dizem que a vitória do comunismo parecerá inevitável mas, neste momento, ocorrerá um fenômeno cósmico impressionante. Um Grande Rei deverá governar a Europa e será o líder de um grande exército que irá impor uma derrota fragorosa aos comunistas e estender a sua influência moral a todo o mundo, durante o período de paz que se seguirá à grande catástrofe. Pio IX alude também ao mesmo episódio, embora em termos diferentes, pois ele teve uma visão do fenômeno cósmico que se seguirá ao triunfo da revolução comunista. Melanie Calvat e São Cataldo fazem menções similares ao surgimento do Grande Rei.

(Excertos da obra 'Catholic Prophecy: The Coming Chastisement', de Yves Durant) 

domingo, 11 de agosto de 2024

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Provai e vede quão suave é o Senhor!' (Sl 33)

Primeira Leitura (1Rs 19,4-8) - Segunda Leitura (Ef 4,30-5,2) -  Evangelho (Jo 6,41-51)

  11/08/2024 - DÉCIMO NONO DOMINGO DO TEMPO COMUM

37. 'EU SOU O PÃO VIVO DESCIDO DO CÉU'


'Eu sou o pão vivo descido do céu' (Jo 6, 51). De todas as manifestações e revelações de Jesus aos seus contemporâneos, nenhuma outra causou tanta incredulidade, espanto e incompreensão do que estas palavras de salvação eterna. A divindade exposta em plenitude à humanidade pecadora, a dimensão espiritual assumindo o fluxo de todas as percepções humanas, provocou naquela gente uma reação desmedida de incredulidade: 'Não é este Jesus o filho de José? Não conhecemos seu pai e sua mãe? Como pode então dizer que desceu do céu?' (Jo 6, 42).

'Eu sou o pão vivo descido do céu' (Jo 6, 51). Jesus pronunciou estas palavras na sinagoga de Cafarnaum, pouco depois do extraordinário milagre da multiplicação dos pães e dos peixes e em seguida à prévia revelação da santa eucaristia à multidão que fôra ao seu encontro para se fartar de pão material (evangelho do domingo passado): 'Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede' (Jo 6, 35). E todo o bem vem e volta para Deus, por meio do Pai e o preço do jugo suave do amor é a vida eterna, a ressurreição do último dia: 'Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o atrai. E eu o ressuscitarei no último dia' (Jo 6, 44).

'Eu sou o pão vivo descido do céu' (Jo 6, 51). Pão de vida eterna para a alma e para o corpo, não como o maná dado aos filhos de Israel, mas como alimento espiritual descido do Céu para a salvação do mundo. Não se trata mais de um mero alimento para saciar a fome; é o banquete eucarístico da graça, o próprio Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus, como nossa comida e nossa bebida de vida eterna; 'Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo' (Jo 6, 51).

'Eu sou o pão vivo descido do céu' (Jo 6, 51). Pelo mistério da graça, recebemos a Vida de Cristo na Santa Eucaristia e nos revestimos da semente de eternidade que será revelada em plenitude na ressurreição do último dia. Pela união do humano e do divino, já não somos mais reféns do alimento que hoje sacia e depois se consome; somos agora herdeiros da imortalidade junto de Deus, saciados do pão vivo descido dos Céus e que 'permanece até a vida eterna' (Jo 6, 27).

sábado, 10 de agosto de 2024

GALERIA DE ARTE SACRA (XXXVIII)


'A cruz de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória' (Gl 6,14)

Os instrumentos da Paixão do Senhor (a cruz, a coroa de espinhos, a coluna da flagelação, os pregos, a lança, etc), são conhecidos como Arma Christi (as armas de Cristo) e constituem uma série de símbolos representando a Agonia, a Traição, a Prisão, o Julgamento, a Condenação, a Crucificação, a Descida da Cruz e o Sepultamento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Os principais instrumentos da Paixão, mais recorrentes na arte sacra, são:

- a cruz (o santo madeiro);
- a coluna da flagelação com um ou mais flagelos;
- a coroa de Espinhos;
- o 'véu da Verônica';
- os cravos ou pregos da crucificação;
- a vara com a esponja com a qual se ofereceu vinagre a Jesus;
- a lança com a qual o soldado perfurou o coração de Cristo.


Outros instrumentos complementares da Arma Christi são:

- o cálice da última Ceia, que representa também o cálice da agonia;
- as trinta moedas de prata recebidas por Judas;
- as correntes, cordas e tochas usadas pelos soldados que prenderam Jesus;
- a espada usada por Pedro para cortar a orelha do servo do sumo sacerdote;
- o galo que cantou após as negações de Pedro;
- a mão do soldado que esbofeteou Jesus;
- uma corneta, que um soldado soa de modo desafinado para zombar de Jesus;
- o caniço entregue a Jesus como 'cetro' pelos soldados;
- o jarro e a bacia com água com os quais Pilatos lavou as mãos;
- o Titulus Crucis, ou seja, a placa com a inscrição 'Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus';
- as vestes de Jesus e os dados usados pelos soldados para o sorteio;
- o martelo utilizado para pregar Jesus na cruz e o alicate usado para removê-los;
- a escada utilizada para a deposição do corpo de Jesus da cruz.
- o Santo Sudário (lençol do sepultamento) e o vaso com mirra para ungir o corpo.

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

TRATADO SOBRE A HUMILDADE (VIII)

 

50. A humildade é caridosa, interpretando todas as coisas pelo melhor e compadecendo-se e desculpando, na medida do possível, as faltas dos outros. Por isso, São Pedro, querendo exortar-nos a amar e a ter compaixão dos nossos semelhantes, exorta-nos ao mesmo tempo a sermos humildes: 'Tendo compaixão uns dos outros, com sentimentos de amor fraterno... humildes' [1 Pd 3, 8], porque não há caridade sem humildade e, por isso, censurar e criticar com demasiada prontidão as ações do próximo, julgar e dizer mal dele são vícios que se opõem diretamente à virtude da humildade. Quem me deu o poder de julgar os meus irmãos? Quando assim me constituo juiz deles e, no tribunal dos meus pensamentos, condeno primeiro um e depois outro, estou a usurpar uma autoridade que não possuo e que só a Deus pertence: 'Porque Deus é o Juiz' [Sl 49,6].

E, se isso não é orgulho, o que é orgulho? Em castigo de tal arrogância, Deus permite-nos muitas vezes cair nas mesmas faltas que condenamos nos outros, e é bom que nos lembremos do ensinamento de São Paulo: 'Por isso, és indesculpável, ó homem, todo aquele que julga. Porque, quando julgas a outro, condenas-te a ti mesmo' [Rm 2,1]. Há sempre um certo orgulho farisaico no coração daquele que julga e fala mal dos outros porque, ao depreciar os outros, ele se exalta. É em vão que tentamos encobrir o nosso falar mal sob o véu de um motivo bom; é sempre o resultado do orgulho que é rápido a descobrir as fraquezas dos outros, enquanto permanece cego para as suas próprias fraquezas.

Se somos culpados de orgulho, procuremos emendar-nos e não nos iludamos de possuir o mais pequeno grau de humildade até que, pelas nossas boas resoluções cuidadosamente executadas, tenhamos mortificado a nossa má tendência para falar mal do nosso próximo. Ouçamos o Espírito Santo: 'Onde há soberba também haverá opróbrio, mas onde há humildade também haverá sabedoria' [Pv 11,2]. O homem orgulhoso é desdenhoso e arrogante em seu discurso; e somente o humilde sabe falar bem e com sabedoria. Se houver humildade no coração, ela se manifestará na fala, porque 'o homem bom, do bom tesouro do seu coração, tira o que é bom' [Lc 6,45].

51. Mas, para adquirir a humildade, é necessário também ser prudente em não falar bem de si mesmo. 'Que outro te louve' - diz a palavra inspirada - 'e não a tua própria boca, um estranho e não os teus próprios lábios' [Pv 27,11]. É muito fácil cairmos neste erro de nos elogiarmos a nós próprios até se tornar um hábito e, com este hábito tão oposto à humildade, como poderemos ser humildes? Que boas qualidades temos nós próprios pelas quais nos possamos louvar? Tudo o que há de bom em nós vem de Deus, e só a Ele devemos dar louvor e honra. Quando, portanto, nos louvamos a nós próprios, estamos a usurpar a glória que é devida somente a Deus. 

Mesmo que, ao nos louvarmos, por vezes remetamos tudo para a honra de Deus, isso pouco importa; quando não há necessidade absoluta, é melhor abstermo-nos de nos auto-elogiarmos porque, embora remetamos tudo para a glória de Deus com os nossos lábios, o nosso camuflado e sutil amor-próprio não pode deixar de se apropriar dela secretamente. E mesmo falando de forma depreciativa de nós mesmos, pode haver algum orgulho hipócrita em nossas palavras, tal como foi mencionado pelo sábio de antigamente quando ele disse: 'há quem se humilhe maliciosamente, mas cujo coração está cheio de engano' [Eclo 19,23].

Portanto, nunca podemos vigiar-nos o suficiente, porque não há nada que nos ensine tão bem a conhecer o orgulho do nosso coração como as nossas palavras, com as quais revelamos ou escondemos a depravação dos nossos afetos. E esta é a caraterística do orgulhoso, segundo São Bernardo: 'Aquele que se vangloria de ser o que é, mente sobre o que não é' [Epist. 87]. Tenhamos no coração e na mente este precioso conselho dado por Tobias a seu filho: 'Nunca permitas que o orgulho reine na tua mente ou em tuas palavras' [Tb 4,14]. As palavras de um homem orgulhoso são deprimentes, quer fale de si mesmo ou dos outros, e são odiadas tanto por Deus como pelos homens: portanto, devemos detestar este vício, não só do ponto de vista cristão, mas também do ponto de vista humano.

('A Humildade de Coração', de Fr. Cajetan (Gaetano) Maria de Bergamo, 1791, tradução do autor do blog)

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

SOFRER COM CRISTO PARA COM CRISTO REINAR


1. O reino de deus está dentro de vós, diz o Senhor (Lc 17,21). Converte-te a Deus de todo o coração, deixa este mundo miserável, e tua alma achará descanso. Aprende a desprezar as coisas exteriores e entrega-te às interiores, e verás chegar a ti o reino de Deus. Pois o reino  de Deus é a paz e o gozo no Espírito Santo, que não se dá aos ímpios. Virá a ti Cristo para consolar-te, se lhe preparares no teu interior digna moradia. Toda a sua glória e formosura está no interior, e só aí o Senhor se compraz. Frequentemente visita ele o homem interior em doce entretenimento, suave consolação, grande paz e familiaridade sobremaneira admirável.

2. Eia, alma fiel, para este Esposo prepara teu coração, a fim de que se digne vir e morar em ti. Pois assim ele diz: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e viremos a ele e faremos nele a nossa morada (Jo 14,23). Dá, pois, lugar a Jesus e a tudo mais fecha a porta. Se possuíres a Cristo, estarás rico e satisfeito. Ele mesmo será teu provedor e fiel procurador em tudo, de modo que não hajas mister de esperar nos homens. Porque os homens são volúveis e faltam com facilidade à confiança, mas Cristo permanece eternamente, e firme nos acompanha até ao fim.

3. Não se há de ter grande confiança no homem frágil e mortal, por mais que nos seja caro e útil; nem nos devemos afligir com excessos, porque, de vez em quando, nos contraria com palavras ou obras. Os que hoje estão contigo amanhã talvez sejam contra ti, e reciprocamente, pois os homens mudam como o vento. Põe toda a tua confiança em Deus, e seja ele o teu temor e amor; ele responderá por ti, e fará do melhor modo o que convier. Não tens aqui morada permanente (Hb 13,14), e onde quer que estejas, és estranho e peregrino; nem terás nunca descanso, se não estiveres intimamente unido a Jesus.

4. Para que olhas em redor de ti, se não é este o lugar de teu repouso? No céu, deve ser a tua habitação, e como de passagem hás de olhar todas as coisas da terra. Todas passam, e tu igualmente passas com elas; toma cuidado para não te apegares a elas, a fim de que não te escravizem e percam. Ao Altíssimo eleva sempre teus pensamentos, e a Cristo dirige súplica incessante. Se não sabes contemplar coisas altas e celestiais, descansa na paixão de Cristo e queira habitar em suas sacratíssimas chagas. Pois, se te acolheres devotamente às chagas e aos preciosos estigmas de Jesus, sentirás grande conforto em tuas mágoas, não farás mais caso do desprezo dos homens e facilmente sofrerás as suas detrações.

5. Cristo também foi, neste mundo, desprezado dos homens e, em suma necessidade entre os opróbrios, o desampararam seus conhecidos e amigos. Cristo quis padecer e ser desprezado; e tu ousas queixar-te de alguém? Cristo teve adversidade e detratores; e tu queres ter a todos por amigos e benfeitores? Como poderá ser coroada tua paciência, se não encontrares alguma adversidade? Se não queres sofrer alguma contrariedade, como serás amigo de Cristo? Sofre com Cristo e por Cristo, se com Cristo queres reinar.

6. Se, uma só vez, entraras perfeitamente no Coração de Jesus e gozaras um pouco de seu ardente amor, não farias caso do teu proveito ou dano, ao contrário, te elegrarias com os mesmos opróbrios; porque o amor de Jesus faz com que o homem se despreze a si mesmo. O amante de Jesus e da verdade, e o homem deveras espiritual e livre de afeições desordenadas, pode facilmente recolher-se em Deus, e, elevando-se em espírito, acima de si mesmo, fruir delicioso descanso.

(Da Imitação de Cristo, de Thomas de Kempis)

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

O DOGMA DO PURGATÓRIO (LXXXVI)

Capítulo LXXXVI

Vantagens e Recompensas pela Devoção às Santas Almas - Gratidão das Almas - Santa Margarida de Cortona e São Filipe Néri - O Cardeal Baronius e a Doente no Leito de Morte

É difícil compreender a gratidão das almas santas? Se tivésseis resgatado um cativo do jugo da escravatura, estaria ele grato por tal benefício? Quando o imperador Carlos V se apoderou da cidade de Túnis, restituiu à liberdade vinte mil escravos cristãos que, antes da sua vitória, estavam reduzidos a mais deplorável condição. Plenos de gratidão para com o seu benfeitor, rodearam-no, abençoando-o e cantando-lhe louvores. Se désseis saúde a um doente em estado grave ou fortuna a uma criatura infeliz, reduzida à miséria, não receberíeis em troca a sua gratidão e as suas bênçãos? E as almas, tão santas e tão boas, comportar-se-ão de modo diferente em relação aos seus benfeitores; essas pobres almas cujo cativeiro, pobreza, sofrimento e necessidade ultrapassam de longe qualquer cativeiro, indigência ou doença que se possa encontrar na Terra? Elas intercedem especialmente na hora da morte daqueles que intercederam por elas, visando protegê-los, guiá-los e conduzi-los às moradas eternas. 

Já falamos de Santa Margarida de Cortona e da sua devoção às almas santas. Conta-se na sua biografia que, ao morrer, viu uma multidão de almas que ela tinha libertado do Purgatório formarem-se em procissão para a acompanharem ao Paraíso. Deus revelou este favor concedido a Margarida de Cortona por intermédio de uma pessoa santa da cidade de Castello. Esta serva de Deus, arrebatada em êxtase no momento em que Margarida partiu desta vida, viu a sua alma no meio deste cortejo brilhante e, ao recuperar do seu arrebatamento, contou a todos o que Nosso Senhor tinha manifestado a ela.

São Filipe Néri, fundador da Congregação do Oratório, tinha uma terníssima devoção para com as santas almas do Purgatório, e sentia uma atração particular por rezar por aquelas que tinham estado sob a sua direção espiritual. Considerava-se muito obrigado para com todas elas, porque a Divina Providência as tinha confiado de modo especial ao seu zelo. Parecia-lhe que a sua caridade devia segui-los até à sua purificação final e à sua admissão na glória do Céu. Confessou que muitos dos seus filhos espirituais lhe apareciam depois da morte, fosse para lhe pedir orações, fosse para lhe agradecer a sua intercessão em favor deles.

Após a sua morte, um padre franciscano de grande piedade estava a rezar na capela onde tinham sido depositados os venerados restos mortais do santo, quando este lhe apareceu rodeado de glória e no meio de um brilhante cortejo. Encorajado pelo ar de amável familiaridade com que o santo o olhava, atreveu-se a perguntar o significado daquele cortejo luminoso de espíritos bem aventurados que o acompanhava. O santo respondeu-lhe que eram as almas daqueles que ele tinha guiado espiritualmente em vida e que, com os seus sufrágios, tinha libertado do Purgatório. Acrescentou que tinham vindo ao seu encontro desde a sua partida deste mundo, para o introduzirem, por sua vez, na Jerusalém Celeste.

'Não há dúvida' - diz o piedoso Padre Rossignoli - 'que, ao entrarem na glória eterna, os primeiros favores que pedem à Divina Misericórdia são para aqueles que lhes abriram as portas do Paraíso e que nunca deixarão de rezar pelos seus benfeitores, sempre que os virem em qualquer necessidade ou perigo. Nos reveses da sorte, nas doenças e nos contratempos de toda a espécie, eles serão os seus protetores. Seu zelo aumentará na proporção em que os interesses da alma estiverem em jogo; eles os ajudarão poderosamente a vencer a tentação, a praticar boas obras, a morrer uma morte cristã e a escapar dos sofrimentos da outra vida'.

O Cardeal Baronius, cuja autoridade como historiador é bem conhecida, relata que uma pessoa muito caridosa para com as almas santas foi afligida por uma terrível agonia quando estava no seu leito de morte. O espírito das trevas sugeriu-lhe os medos mais sombrios e ocultou-lhe da vista a doce luz da Divina Misericórdia, tentando levá-la ao desespero. De repente, o Céu pareceu abrir-se diante dos seus olhos e ela viu milhares de defensores a voar em seu auxílio, reanimando a sua coragem e prometendo-lhe a vitória. Consolada por esta ajuda inesperada, perguntou quem eram os seus defensores. 'Somos as almas que tu libertaste do Purgatório; nós, por nossa vez, viemos para te ajudar, e muito em breve te conduziremos ao Paraíso' - foi a resposta. Perante estas palavras consoladoras, a doente sentiu que os seus receios se transformavam na mais doce confiança. Pouco tempo depois, ela expirou tranquilamente, com o semblante sereno e o coração cheio de alegria.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog