quarta-feira, 18 de outubro de 2023

O MISTÉRIO DA SANTÍSSIMA TRINDADE

O conhecimento de um só Deus em três Pessoas, que nós recebemos pela fé, é mais alto, sem comparação, do que o conhecimento que temos de Deus pela simples razão natural.

Existem três graus no conhecimento que o homem pode ter de seu Criador. O primeiro é o conhecimento natural, que lhe é dado pela luz da razão. O segundo, o conhecimento sobrenatural, que ele recebe pela luz da fé. O terceiro, o conhecimento ou visão beatífica, que ele recebe pela luz da glória.

Estes três graus se assemelham um pouco com os diversos modos com que nossos sentidos se aplicam ao conhecimento de um objeto sensível. Podemos conhecer um objeto material ou pelo tato, quando o apalpamos, ou pelo ouvido, quando escutamos sua descrição, ou pela visão, quando o vemos. Isso é explicado por São Tomás na sua Suma Contra os Gentios. Ora, esses três modos se aplicam bem aos três graus do conhecimento de Deus que vimos acima.

(i) A razão procura de certo modo tocar Deus, que está fora de sua visão. É o que diz São .Paulo: 'Que busquem a Deus como que às apalpadelas' (At 17,27) São Paulo desenha aqui um quadro que representa os pobres pagãos às apalpadelas, como cegos, atravessando a natureza e procurando tocar em Deus. O Apóstolo lhes mostra o meio de o encontrar: 'Ele não está longe' - diz ele - 'pois vivemos, nos movemos e existimos por ele' (At 17,28). Compenetrem, pois, em si mesmos e o encontrarão, Ele que é o Pai de toda a vida.

Quando apalpamos um objeto, nos convencemos da existência desse objeto; em seguida, medimos aproximadamente suas dimensões. Assim a razão natural, que apalpa Deus, está em condições de demonstrar a existência de Deus. Ela chega até a alcançar algo de sua imensidade, de sua eternidade, de seu poder infinito. Eis até onde puderam ir, segundo atesta São Paulo, os filósofos da antiguidade, pela investigação racional (Rm 1, 20).

(ii) Este adágio não pode nos satisfazer, a nós católicos. Somos chamados a subir mais alto e a aprofundar nossa busca pelo conhecimento sobrenatural. Trata-se do conhecimento pela luz da fé, semelhante àquele que nos vem pelo sentido da audição: Fides ex auditu - diz São Paulo, a fé nos vem pela audição, ou seja, quando ouvimos a palavra de Cristo, audito autem per verbum Christi. Ela nos traz um conhecimento mais íntimo de Deus, na medida em que a palavra santa nos revela as maravilhas escondidas na sua essência, na medida em que ela nos inicia nos segredos dessa natureza criadora onde aprendemos a adorar a Trindade de Pessoas.

Temos ainda, é verdade, um pano nos olhos; mas em vez de só apalpar o quadro, ouvimos deslumbrados sua descrição, pelo menos até onde nossa inteligência, presa às imagens terrestres, é capaz de penetrar. Em vez de tocar somente em Deus Vivo, analisamos, por assim dizer, a força e os atos da vida divina.

(iii) Virá um dia em que a venda será retirada de nossos olhos. Uma luz, chamada luz de glória, virá fortificar, elevar, dilatar nossa inteligência. Então veremos Deus. Sim, diz São João, nós o veremos como Ele é - Videbimus eum sicuti est (I Jo 3,2); 'Sim' - diz São Paulo - 'nós o veremos face a face' - Videbimus facie ad faciem (I Cor 13,12). O conheceremos como Ele nos conhece. O que mais dizer? Elevados a este grau, teremos chegado ao termo dos desejos da criatura racional; possuiremos nosso fim.

Lembremos que este conhecimento beatífico, tão grande, tão glorioso, está em germe no conhecimento que temos pela fé, pois a fé é um começo de possessão da verdade total que é o próprio Deus. A fé é obscura, visto que os mistérios que ela nos propõe estão acima da capacidade da razão, no estado de vida atual; mas ela é luminosa, pois esses mistérios, escondidos a nossos olhos pela excessiva luz, iluminam com sua luz maravilhosa as coisas temporais e as eternas.

Logo, não devemos considerar os mistérios da fé como pontos negros que atrapalhariam o olhar de nossa inteligência; eles são astros explodindo de luz e que se escondem de nós nessa própria luz, cujo reflexo nos descobre todo um oceano de verdades escondidas aos sábios deste mundo e reveladas aos humildes e aos pequenos. 

O primeiro e mais luminoso desses astros é, sem dúvida, o mistério da Santíssima Trindade. Sentimos nossa fraqueza quando tentamos falar dele: se não podemos fazê-lo dignamente, que Deus nos ajude, ao menos, a falar humildemente e com santo proveito.

(Excertos da obra 'O mistério da Santíssima Trindade', do Pe. Emmanuel- André)

terça-feira, 17 de outubro de 2023

O DOGMA DO PURGATÓRIO (LXVI)

 

Capítulo LXVI

Alívio às Santas Almas pela Via Sacra - Venerável Maria d'Antigna e essa Santa Devoção

Depois da Sagrada Comunhão, falemos da Via Sacra. Este santo exercício pode ser considerado em si mesmo, bem como nas indulgências com que é enriquecido. Em si mesmo, é um modo solene e muito excelente de meditar a Paixão do nosso Salvador e, por conseguinte, o exercício mais salutar da nossa santa religião.

No seu sentido literal, a Via Sacra é a distância percorrida pelo Homem-Deus, carregando o peso da sua Cruz, desde o palácio de Pilatos, onde foi condenado à morte, até ao cume do Calvário, onde foi crucificado. Depois da morte do seu Divino Filho, a Virgem Santíssima, sozinha ou em companhia das santas mulheres, visitou frequentemente aquele caminho doloroso. Seguindo o seu exemplo, os fiéis da Palestina e, no decurso dos tempos, numerosos peregrinos de países mais distantes, foram também visitar esses lugares santos, banhados com o suor e o sangue de Jesus Cristo; e a Igreja, para encorajar a piedade deles, abriu-lhes os seus tesouros de bênçãos espirituais. Mas como nem todos podem ir à Terra Santa, a Santa Sé permite que se ergam nas igrejas e capelas de países distantes cruzes, quadros ou baixos-relevos, representando as cenas comoventes que se passaram no verdadeiro caminho do Calvário em Jerusalém.

Ao permitir a inserção destas santas Estações, os Romanos Pontífices, que compreenderam toda a excelência e toda a eficácia desta devoção, dignaram-se também a enriquecê-la com todas as indulgências que haviam concedido aos que participavam de uma visita presencial à Terra Santa. E assim, de acordo com diferentes Circulares (Breves) e Constituições dos Soberanos Pontífices Inocêncio XI, Inocêncio XII, Bento XIII, Clemente XII e Bento XIV, aqueles que fazem a Via Sacra, com as devidas disposições, são contemplados com todas as indulgências concedidas aos fiéis que visitam pessoalmente os Lugares Santos de Jerusalém, sendo estas indulgências aplicáveis também aos falecidos.

Ora, como é certo que numerosas indulgências, plenárias ou parciais, foram concedidas a quem visitava os Lugares Santos de Jerusalém, como se pode ver na Bula Terrae Sanctae, podemos dizer então, no que diz respeito às indulgências que, de todas as práticas de piedade, a Via Sacra é a mais rica. Assim, esta devoção, tanto pela excelência do seu objeto como pelas indulgências a ela associadas, constitui um sufrágio do maior valor para as Santas Almas.

Encontramos um incidente relacionado com este tema na Vida da Venerável Maria d'Antigna (Louvet, Le Purgatoire, p. 332). Durante muito tempo, ela teve o piedoso costume de fazer todos os dias a Via Sacra para alívio das almas dos falecidos; mas depois, por motivos mais aparentes do que concretos, passou a fazê-la raramente e, por fim, omitiu-a completamente. Nosso Senhor, que tinha grandes desígnios em relação a esta piedosa virgem e que desejava fazer dela uma vítima de amor para a consolação das pobres almas do Purgatório, quis dar-lhe uma lição que nos serve de instrução a todos. Uma religiosa do mesmo convento, falecida então há pouco tempo, apareceu-lhe, queixando-se com tristeza: 'Minha querida Irmã' - disse ela - 'porque já não fazes a Via Sacra pelas almas do Purgatório? Antigamente, costumavas aliviar-nos todos os dias com esse santo exercício; por que nos privas agora dessa assistência?'

Enquanto a alma ainda falava, o próprio Nosso Senhor apareceu à sua serva e repreendeu-a pela sua negligência. 'Sabe, minha filha' - acrescentou - 'que a Via Sacra é muito proveitosa para as almas do Purgatório e constitui um sufrágio do maior valor. Por isso, permiti que esta alma, para seu bem e para o bem dos outros, vos implorasse isto. Sabei também que foi por causa da vossa dedicação expressa na prática desta devoção que fostes favorecida pela comunicação frequente com os mortos. É também por esta razão que essas almas agradecidas não cessam de rezar por vós e de defender a vossa causa no tribunal da minha Justiça. Dá a conhecer este tesouro às tuas irmãs e diz-lhes que dele tirem abundantemente frutos para si e para as almas dos falecidos'.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.

segunda-feira, 16 de outubro de 2023

POEMAS PARA REZAR (XLIX)


A Morte é Nada

(Santo Agostinho)

A morte não é nada, eu apenas passei para o outro lado.

Eu sou o que sou e você é você.

O que somos, seremos; permanecemos.

Chama-me pelo nome que sempre me chamaste. Fala de mim como sempre falaste.

Não uses um tom diferente. Nem assumas um ar solene e triste.

Continua a rir do que nos fez rir juntos. Rezem, sorriam, pensem em mim.

Que o meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem quaisquer luzes, sem quaisquer sombras.

A vida continua o que sempre foi. O fio não foi cortado.

Então por que deveria estar fora do teu pensamento simplesmente porque agora estou fora de tua presença?

Eu espero por ti um dia; lembra-te, eu não estou longe, estou apenas do outro lado do caminho.

Compreendes isso? Tudo está bem.

Ah! se pudesses compreender o dom de Deus e o que é o Céu! Se pudesses ouvir o cântico dos anjos que agora me cercam aqui! Ah! se pudesses olhar com os teus próprios olhos os horizontes, os campos eternos e os novos caminhos que eu percorro! Se pudesses contemplar, ainda que por um instante, a beleza na qual estou vivendo e perante a qual todas as belezas conhecidas se apagam!

Creias em mim; quando a morte vier romper as tuas correntes como rompeu as que me acorrentavam na terra; quando chegar o dia que Deus fixou e só Ele conhece e tua alma vier ao meu encontro no Céu, então verás também Aquele que te escolheu e que te amará eternamente e, finalmente, terás um coração feito por ti e na medida da plenitude de Deus.

(tradução do autor do blog)

domingo, 15 de outubro de 2023

EVANGELHO DO DOMINGO

   

'Na casa do Senhor habitarei eternamente' (Sl 22)

Primeira Leitura (Is 25,6-10a) - Segunda Leitura (Fl 4,12-14.19-20)  -  Evangelho (Mt 22,1-14)

 15/10/2023 - Vigésimo Oitavo Domingo do Tempo Comum

47. O BANQUETE REAL


No seu ministério público, Jesus falava muitas vezes em forma de parábolas, para incutir nos homens os ensinamentos da Boa Nova, sem lhes ferir demasiado as susceptibilidades da prática consolidada sobre valores falsos ou essencialmente humanos. Neste contexto, o plano divino de salvação da humanidade é apresentado na analogia de que 'o Reino dos Céus é como a história do rei que preparou a festa de casamento do seu filho. E mandou os seus empregados para chamar os convidados para a festa, mas estes não quiseram ir' (Mt 22, 1-2).

O convite pressupõe uma convocação; a festa foi preparada em todos os detalhes e todos os convidados têm lugares específicos reservados na mesa do banquete; a eles está destinado as iguarias mais refinadas - símbolo dos mistérios da graça associados à Visão Beatífica e à plena vida em Deus. Mas muitos 'não quiseram ir' (Mt 22, 2), começando pelos hebreus, o povo escolhido do Antigo Testamento. Muitos e muitos outros seguirão neste caminho de recusa explícita, seja pela indiferença, seja pelo envolvimento total nos seus próprios interesses pessoais e mundanos.

A reação do rei é imediata: ‘A festa de casamento está pronta, mas os convidados não foram dignos dela. Portanto, ide até as encruzilhadas dos caminhos e convidai para a festa todos os que encontrardes’ (Mt 22, 8 - 9). Diante do não do povo escolhido, o Senhor faz a opção pelos outros, os gentios do mundo, por todos os homens que acreditaram e assumiram a doutrina do seu Filho, vítima de amor sacrificada pelo triunfo da Cruz. Ir a todas as encruzilhadas e a todos os cantos do mundo é a vocação missionária da Igreja de todos os tempos, para buscar os eleitos para a grande festa do Senhor.

No banquete real, somente serão aceitos os convidados que estiverem usando o 'traje de festa' (Mt 22, 11), ou seja, estiverem revestidos do estado de graça, premissa das almas adentrarem o Reino dos Céus. Assim, até mesmo os que fizeram parte da Igreja - os convidados - mas que usufruíram de uma fé sem obras e não produziram os frutos da graça serão julgados inconvenientes no grande dia do Juízo e serão expulsos do banquete e, assim, perderão definitivamente o Reino dos Céus e serão jogados às trevas, onde só haverá choro e ranger de dentes. Nós devemos ter o firme propósito de servir a Cristo na fé e nas obras, para nos tornarmos os convivas do banquete real por toda a eternidade, tangidos pela misericórdia e não pela justiça divina, porque 'muitos são chamados, e poucos são escolhidos' (Mt 22, 14).

sábado, 14 de outubro de 2023

SOBRE A SERENIDADE


Serenidade. 

Por que te zangas, se zangando-te, ofendes a Deus, incomodas os outros, passas tu mesmo um mau bocado... e por fim tens de te acalmar?

Isso mesmo que disseste, di-lo em outro tom, sem ira, e ganhará força o teu raciocínio e, sobretudo, não ofenderás a Deus.

Não repreendas quando sentes a indignação pela falta cometida. Espera pelo dia seguinte, ou mais tempo ainda. 

E depois, tranquilo e com a intenção purificada, não deixes de repreender. Conseguirás mais com uma palavra afetuosa, do que ralhando por três horas. Modera o teu gênio.

(São Josemaria Escrivá em 'Caminho')

sexta-feira, 13 de outubro de 2023

O PAPA DO ROSÁRIO


Pela estrada que ia de Anagni em direção a um castelo de Carpineto, na Itália, seguia um carro de luxo, levando um jovem distinto da nobreza romana e seu preceptor. Ouviram gemidos e pararam. Encontraram um pobre pastorzinho a gemer com um dos pés todo ferido e ensanguentado.

O pobre menino chorava e, com o terço nas mãos, implorava a proteção de Nossa Senhora do Rosário.
➖ O que te aconteceu?
➖ Um carro passou por cima do meu pé e sofro horrorosamente aqui, atirado à beira da estrada...

O moço fidalgo, muito comovido, desceu do carro, foi a um regato ali próximo, trouxe água no chapéu, banhou as feridas e as envolveu com um lenço umedecido.
 E onde moras meu pequeno?
➖ Lá, naquele morro...
➖ Não poderás caminhar até lá, vamos levar-te primeiro a Carpineto onde farás o tratamento desse pé ferido e depois te levaremos à tua casa.

O pequeno foi transportado ao carro com todo cuidado e carinho.
 Joaquim, disse o preceptor, o que vai fazer rapaz?
➖ O que todo cristão deve fazer. Por acaso hei de abandonar aqui este pobrezinho?!

Ao chegar ao castelo, a mãe de Joaquim alegrou-se ao ver o bom coração do filho. Recebeu nos braços o pastorzinho e lhe deu logo um bom quarto. Foi chamado o médico da família. Algumas horas mais tarde o carro do Castelo transportava o ferido à sua choupana.

Joaquim foi levá-lo e já lhe havia dado uma boa esmola e alguns presentes. A pobre camponesa, mãe do pequeno ferido, chorava comovida e profundamente grata.
➖Ó meu bom moço, que hei de fazer para vos provar o meu agradecimento? Nossa Senhora do Rosário vos abençoe e vos pague! Só tenho o meu Rosário, só este Rosário e eu o rezarei muitas vezes na vossa intenção. É a minha gratidão: meu Terço vos há de tornar feliz!

O moço fidalgo caridoso era Joaquim Pecci, mais tarde o Padre Joaquim Pecci; depois o Cardeal Pecci e finalmente Leão XIII, o Papa do Rosário, o papa que instituiu na Igreja o mês do Rosário.

(Excertos da obra 'O Mês do Rosário', do Monsenhor Ascânio Brandão)

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

GLÓRIAS DE MARIA: NOSSA SENHORA APARECIDA

A história é bem conhecida: em 1717, Dom Pedro de Almeida Portugal e Vasconcelos (Conde de Assumar), efetivado como governador das Capitanias de São Paulo e Minas Gerais, viajou de navio de Portugal a Santos, com grande comitiva. Tomando posse do governo em São Paulo, seguiu rumo às minas de ouro em Minas Gerais, fazendo uma longa parada em Guaratinguetá, no período de 17 a 30 de outubro. Para a recepção do ilustre viajante, foram-lhe servidos os melhores pratos da culinária local, incluindo os saborosos pescados do Rio Paraíba do Sul.

Para a nobre tarefa de pescar uma grande quantidade de peixes, foram convocados os pescadores Domingos Alves Garcia, seu filho João Alves e Felipe Pedroso, cunhado de Domingos, entre outros. Entretanto, mesmo com o conhecimento enorme que tinham dos melhores pontos de pesca, não conseguiam nada. Mas algo extraordinário estava para ocorrer. Na rede lançada, surgiu primeiro uma pequena imagem em terracota de Nossa Senhora da Conceição, sem a cabeça, que foi recolhida e guardada com zelo pelos pescadores no fundo do barco. E eis que, numa nova investida, mais abaixo no rio, sem nada de peixe, veio a cabeça da imagem. Um objeto de dimensões tão reduzidas coletado do leito largo e vigoroso do Paraíba do Sul! E, surpresa ainda maior, novas investidas da rede trouxeram agora cardumes de peixes, em tão grande quantidade, repetindo-se, no largo do Porto de Itaguaçu, o milagre de Cristo no Mar da Galileia.


Cientes dos fatos extraordinários ocorridos, os pescadores locais recuperaram a imagem e passaram a venerá-la em suas casas, como imagem peregrina, até que a mesma foi colocada em pequeno oratório na casa de Atanásio Pedroso, filho de Felipe, e depois, com o culto já generalizado na ‘Nossa Senhora Aparecida’, erigiu-se uma pequena capela de sua devoção em Itaguaçu, com o apoio do Padre José Alves Vilela, pároco da Igreja de Santo Antônio de Guaratinguetá. Sob a sua coordenação, a devoção recebeu a aprovação episcopal e foi construída, então, a Igreja de Nossa Senhora Aparecida, no chamado Morro dos Coqueiros, inaugurada em 1745, apenas 28 anos após o achado da imagem. Em torno da igreja, implantou-se rapidamente uma comunidade que constitui hoje a cidade de Aparecida. A igreja tornou-se de imediato centro de romarias e de devoções marianas de toda a natureza.


Com a intensa participação popular e, pela ausência de sacerdotes no Brasil, optou-se pela solicitação de auxílio junto a comunidades religiosas europeias. Em 1894, com a chegada dos padres redendoristas alemães, as atividades religiosas, os cultos e as romarias tornaram-se muito mais organizados, favorecendo muito a rápida difusão da evangelização e a consolidação da igreja como santuário de frequente peregrinação. Tais eventos culminaram com a solene coroação da imagem de Nossa Senhora Aparecida em 8 de setembro de 1904 (com manto azul e coroa de ouro cravejada de diamantes e rubis, ofertados pela Princesa Isabel em visita ao santuário em 6 de novembro de 1888) e com a elevação do santuário à condição de Basílica Menor em 29 de abril de 1908. Em 16 de julho de 1930, o Papa Pio XI outorgou o título de Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do BrasilEm 1967, ano da comemoração do jubileu dos 250 anos da aparição da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, o Papa Paulo VI ofertou ao Santuário Nacional da Padroeira do Brasil uma Rosa de Ouro, ato repetido pelo Papa Bento XVI em 2007. O dia da Padroeira do Brasil é celebrado em 12 de outubro, feriado nacional. 

As enormes e crescentes manifestações populares exigiram a construção de uma nova basílica, com dimensões e infraestrutura compatíveis com o maior centro de peregrinação espiritual do Brasil que se tornou Aparecida. Desta forma, entre 1955 e 1980, foi construída a atual Basílica, inaugurada a 04 de julho de 1980 pelo Papa João Paulo II e elevada a Santuário Nacional em 1984. Que continua a receber milhares de peregrinos, infindáveis romarias, em agradecimento, louvor e veneração à Virgem Padroeira do Brasil. Na Sala das Promessas, em meio a milhares de ex-votos, tem-se uma ideia da admirável senda de prodígios e milagres alcançados por tantos romeiros e fieis, pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida.


Em Aparecida, ao contrário de tantos outros centros de peregrinação mariana, a Virgem fez-se aparecer apenas sob a forma de uma pobre e pequena imagem de terracota de 38cm de altura, sem quaisquer visões, mensagens ou prodígios sobrenaturais, para falar aos simples, aos humildes, aos fracos, aos desvalidos, que as almas simples, despojadas de valores intrinsecamente humanos e entregues somente à confiança e à misericórdia de Deus por Maria, são as glórias dos Céus.


ORAÇÃO A NOSSA SENHORA APARECIDA

Ó Senhora da Conceição Aparecida, que fizestes tantos milagres que comprovam vossa poderosa intercessão junto ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, obtende para nossas famílias as graças de que tanto necessitam. Defendei-nos da violência, das doenças, do desemprego e, sobretudo, do pecado, que nos afasta de Vós. Protegei nossos filhos de tantos fatores de deformação da juventude. E concedei a todos os membros de nossas famílias a graça de poderem trilhar o caminho de perfeição e de paz ensinado por Vosso Divino Filho, que afirmou: 'Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em Mim. Haveis de ter aflições no mundo; mas tende confiança, Eu venci o mundo!' Amém.