domingo, 11 de junho de 2023

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'A todo homem que procede retamente, eu mostrarei a salvação que vem de Deus(Sl 49)

Primeira Leitura (Os 6,3-6) - Segunda Leitura (Rm 4,18-25)  -  Evangelho (Mt 9,9-13)
 
 11/06/2023 - Décimo Domingo do Tempo Comum

29. 'MISERICÓRDIA E NÃO SACRIFÍCIO!'

'Naquele tempo... Jesus viu um homem chamado Mateus'... (Mt 9,9). Mateus, um homem comum, como eu e você. Jesus viu em Mateus, esse homem comum e pecador, o que vê em todos nós: homens comuns e pecadores que, no cotidiano de suas vidas, dedicam-se a tantas e muitas atividades e perdem tempo com tantas coisas, que se descuidam, que se esquecem, que se afastam da única coisa que realmente importa: a salvação eterna da alma!

Este pobre homem comum chamado Mateus - um coletor de impostos, praticante de uma das atividades mais desprezadas pelo povo judeu à época - vai experimentar, em toda a sua magnitude, as maravilhas da misericórdia de Deus: 'segue-me!' (Mt 9,9). Seguir a Jesus significava abandonar todos os bens para aquele que vivia de se apoderar dos bens alheios. E, sem titubear, o Mateus bendito dos Evangelhos largou tudo e seguiu Jesus. Esse Mateus tem nome - como poderia ter sido meu nome ou o seu - porque, ao se desvestir do mundo, teve como herança eterna o seu nome escrito no Livro da Vida.

E tal mudança de vida impõe a necessidade de uma grande celebração e a experiência de Mateus é então compartilhada com muitos outros irmãos de profissão e são muitos deles que agora estão em festa circundando Jesus à mesa. O apostolado que rende frutos de imediato, o serviço a Deus que começa no minuto seguinte ao chamamento da graça. E eis que, diante o mistério da graça, se manifesta o desvario da malevolência dos fariseus: 'Por que vosso mestre come com os cobradores de impostos e pecadores?' (Mt 9,11). E Jesus vai lhes dar esta resposta: 'Quero misericórdia e não sacrifício... eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores' (Mt 9,12). Ou seja, para nos chamar a todos - homens comuns e pecadores de todos os tempos - todos nós que precisamos ser curados das feridas do pecado.

Mateus, de agora em diante, será São Mateus, o primeiro Evangelista. Movido pela fé e pela docilidade aos ditames da graça - pela mesma fé creditada como justiça que tornaram Abraão o pai de muitos povos conforme a promessa divina - o coletor de impostos vai abandonar tudo para seguir Jesus. Seguir Jesus implica dedicação plena, tomada de decisão resoluta, integridade de propósito e... obras! São estas coisas que permeiam o significado da proposição imperativa do Senhor aos homens de todos os tempos: 'Quero misericórdia e não sacrifício!' (Mt 9,12). Seguir Jesus, sim, mas não apenas com os lábios ou por meio do indiferentismo de uma crença qualquer, mas com a fé creditada como justiça e servida pela caridade para com todos os nossos irmãos, para propiciar a todos nós a graça da salvação e os frutos eternos das maravilhas da misericórdia de Deus!

sábado, 10 de junho de 2023

TESOURO DE EXEMPLOS (226/228)

 

226. CUIDADO COM A ALMA

Conta um poeta latino, Horácio, que um jovem, levado pela loucura de gastar o seu patrimônio, dissolveu em vinagre uma pérola preciosíssima e bebeu-a de um trago (Hor., Sat. II, 3). Um movimento de indignação se apodera do leitor ao recordar tamanha falta de juízo daquele jovem. Mas, que dirão os anjos, quando veem os homens destruir a formosura de sua alma por um amargo prazer?

Um quadro do célebre pintor Rafael ou uma estátua de Miguel Ângelo são avaliadas a preços fabulosos, porque saíram das mãos de artistas famosos. E a nossa alma não saiu das mãos do Artista Supremo? Notai ainda que ela foi criada à semelhança de Deus; leva, pois, em si algo de sua beleza, de sua grandiosidade e da sabedoria de Deus.

227. VIVIA NUMA COLUNA

Um santo ermitão mandou levantar no deserto uma coluna muito alta e no topo da mesma viveu muitos anos. Ali no alto, elevado sobre a terra má e olhando para o céu sereno, repetia com frequência: 'Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo'.

Se todas as vezes que temos rezado o Glória o tivéssemos feito com o respeito daquele anacoreta, quantos méritos não teríamos acumulado para o céu! Quantos méritos se tivéssemos começado e terminado cada uma de nossas orações em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo!

228. POR QUE OS PADRES NÃO SE CASAM

Íamos passando diante de uma igreja e um companheiro nosso manifestou desejo de conhecê-la. Como havia na fachada uma grande cruz, julgamos que se tratava de uma Igreja Católica. A um menino que estava ali perto, perguntei:
➖ Sabes onde está o pároco?
➖ Sim; o pastor é o meu pai, eu vou chamá-lo.
➖ Não; não é preciso incomodá-lo. 
Eu tinha compreendido que se tratava de um templo protestante. Mas, por cortesia, tivemos de esperar, pois o menino foi correndo chamar o pai.

Passados alguns minutos, apareceu um certo homem que nos disse:
➖ Desculpai-nos, senhores; mas o pastor não pode vir. Tendo voltado há pouco para casa, encontrou a senhora dele adoentada. O menino, que foi chamá-lo para os senhores, saiu correndo em busca de um médico. Disse-me o pastor que despedisse, sem mais, todos os que desejassem falar-lhe. Pobre pastor! Que pena tenho dele! Uma filha está doente no hospital; um dos filhos está no manicômio e outro em um reformatório. O único filho que tem saúde é o menino que encontraste aqui.

Apenas saímos do templo, disse-me o meu companheiro, um advogado:
➖ Desculpai-me, senhor Padre, se vos digo sinceramente que as palavras desse sacristão me convenceram mais do que as vossas da conveniência do celibato do clero católico. Como  poderia cuidar seriamente de seus paroquianos quem se achasse nas condições de um tal pobre pastor? 

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)


sexta-feira, 9 de junho de 2023

OS GRANDES SINAIS PRECURSORES DO JUÍZO FINAL (V)

   

Et venit unus de septem angelis habentibus fialas plenas septem plagis

'E veio um dos sete Anjos que tinham as sete taças cheias dos sete últimos flagelos' (Ap 21,9)

Introdução

João era o anjo que devia preparar o caminho para a vinda de Jesus Cristo, nosso Salvador, ao mundo. De que maneira ele se preparou para isso? 'Percorreu toda a região próxima do Jordão' - diz São Lucas - 'pregando o batismo de penitência para a remissão dos pecados'¹. Por toda a parte clamava aos homens: 'Fazei penitência porque está próximo o Reino dos Céus'². Meus caros irmãos, o Deus Todo Poderoso gritará e dará avisos semelhantes quando se aproximar o último dia do mundo, por meio daqueles sinais terríveis que serão os precursores da segunda vinda de Cristo como Juiz. O que dirão esses sinais? O que João disse no seu tempo: 'Endireitai o caminho do Senhor'³; preparai-vos para a vinda do Juiz irado; fazei penitência pelos vossos pecados; convertei-vos a Deus porque o último dia está próximo. E é um sinal da grande bondade e misericórdia de Deus enviar esses sinais para advertir o mundo, como também é um sinal da sua bondade e misericórdia afligir o mundo frequentemente por calamidades públicas. Ambas estas verdades serão agora provadas.

Plano de Discurso

Os sinais que precedem o último dia são todos efeitos da bondade e da misericórdia de Deus, para que os pecadores, atemorizados por eles, se preparem fazendo uma verdadeira penitência, o que, no entanto, poucos deles o farão nessa ocasião. Este é o tema da primeira parte. As calamidades públicas do nosso tempo são também efeitos da bondade e da misericórdia de Deus, para que nós, castigados por elas, nos emendemos da nossa vida pecaminosa, o que, no entanto, poucos também fazem; esse tema será tratado na segunda parte. 'Farei penitência, ó Deus de bondade, pela Vossa graça, que Vos peço pelos méritos de Maria e pelas orações dos nossos santos e anjos da guarda'; tal é a conclusão que cada um deve alcançar.

Primeira Parte

Mas o que é que eu estou a dizer? Que os sinais que anunciarão a vinda do Juiz no último dia são sinais e efeitos da bondade e da misericórdia de Deus? Esses sinais terríveis, cuja mera visão encherá os homens de terror e de espanto? Aqueles sinais que, como já vimos, são terríveis portentos que mostram o ódio implacável, a ira e a cólera de Deus contra os pecadores? Serão eles, ao mesmo tempo, sinais da sua misericórdia para com os mesmos pecadores? Verdadeiramente, meus caros irmãos, é isso mesmo! Serão sinais da ira implacável de Deus que será derramada sem misericórdia sobre todos os pecadores no dia do julgamento mas, ao mesmo tempo, serão sinais da infinita bondade e misericórdia de Deus, de acordo com as palavras do Profeta: 'Em vossa ira, lembrai-vos da misericórdia!'⁴; de modo que os pecadores que estiverem no mundo naqueles dias, assustados pelos sinais, possam entrar em si mesmos, fazer penitência, converter-se, e assim escapar à cólera do Juiz; como diz São Tomás de Aquino, 'para que os corações dos homens se preparem para o juízo, prevenidos por esses sinais'⁵.

'Ninguém' - diz Santo Agostinho - 'que se dispõe a atacar diz ao outro: prepare-se!'⁶. Um homem que ameaça desta forma dá provas claras de que não está falando sério, mas que deseja que o outro possa escapar ao seu ataque. Se um juiz mandasse dizer a um ladrão apanhado em flagrante delito que, quando ouvisse o som de armas ou de um certo toque de campainha, isso era sinal de que os soldados estavam prestes a prendê-lo e a metê-lo na prisão e, uma vez proferida a sentença, ele seria conduzido de imediato ao local da execução, o que pensarias disso? O juiz parecer-vos-ia realmente estar empenhado em condenar o ladrão à morte? Não; muito pelo contrário; o juiz, em tal caso, atua em favor do ladrão e gostaria de o ver escapar. Pois, como diz o velho ditado, 'o gato que mia demais nunca será um bom caçador de ratos'. Assim é; aquele que pretende atacar o seu inimigo não deixa transparecer uma palavra sequer do seu objetivo; pelo contrário, esconde as suas armas e só as saca quando tem o outro completamente em seu poder, de modo que ele não possa escapar. Uma das primeiras e mais necessárias qualidades de um general é o silêncio; ele deve saber manter em segredo os planos que forma contra o inimigo e não deve revelá-los nem mesmo aos seus amigos mais íntimos, muito menos aos seus próprios soldados, para que ninguém o possa trair; e se, por caso, ele expor publicamente que num certo dia, e a uma certa hora, vai fazer uma investida para surpreender o inimigo, o que este não pensaria? 'Isso é apenas uma dissimulação! Não precisamos temer tal ataque; mas ele deve ter outro plano em vista e temos de estar atentos para não sermos surpreendidos por ele'.

Observemos, como nos fala Santo Agostinho, e admiremos a maravilhosa longanimidade e misericórdia de Deus, que Ele mostrará naquele dia em que, com terríveis presságios, armará todas as criaturas contra os pecadores: 'Se quisesse condenar se calaria'⁷ e reservaria a sua vingança para o último momento, quando caísse sobre eles de surpresa, no meio dos seus pecados e vícios. Mas, como Ele é, já advertiu os homens há muito tempo por meio dos seus profetas para ficarem de guarda; pois 'haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra a aflição e a angústia irão apoderar-se das nações pelo bramido do mar e das ondas'⁸; assim, quando contemplardes esses sinais, tende certeza de que o Juiz irado virá em breve para condenar-vos ao inferno, se não vos arrependerdes e emendardes vossas vidas. Que mais significam, então, os múltiplos sinais que se sucedem, senão que Deus não quer que o pecador se perca e que pretende avisá-lo para que faça penitência a tempo, a fim de escapar à ira divina?

Quando o desobediente Absalão se rebelou contra o seu pai Davi, com a intenção de usurpar a coroa, Davi preparou imediatamente um exército e marchou contra ele. Quem não pensaria que a intenção do pai era castigar o seu filho desobediente e pô-lo fora do caminho? No entanto, o seu coração amoroso e paternal estava disposto a agir de forma bem diferente. Quando enviou os seus generais para o combate, a sua mais estrita prescrição foi: 'Por favor, poupai-me o jovem Absalão!'⁹. O seu desejo não era apenas que o seu filho não fosse morto, mas que fosse protegido: 'salvai-o!'. Mas será que Davi agiu de forma coerente com isso? Se ele desejava que Absalão fosse salvo, por que enviou um exército contra ele? Ou será que foi obrigado a fazê-lo para se proteger? Caso contrário, não poderia ter mantido o seu exército em casa, se não quisesse que o seu filho sofresse qualquer dano? Na verdade, ele poderia ter feito tudo isso, diz Santo Agostinho, mas ele queria humilhar o orgulho do seu filho rebelde. Vou mostrar-lhe, pensou ele, que não me falta poder para o castigar, para que, assustado à vista do meu exército, se submeta e volte para o seu pai; mas os meus generais devem saber que não desejo a sua morte e, por isso, ordeno-lhes que o poupem e não lhe façam mal. Tal é, também, a razão pela qual o Deus Todo Poderoso assumirá a aparência de ira quando Ele, como vimos no último sermão, mediante terríveis presságios, chamará todas as criaturas às armas para derrubar os pecadores, seus filhos rebeldes. O seu objetivo é castigar a sua desobediência, de tal modo que, por medo do juízo final iminente e dos sinais que o precedem, eles se humilhem e, fazendo penitência oportuna, alcancem a vida eterna. 'Poupai-me o meu filho', diz Ele com o seu coração paternal e amoroso: 'Salvai as almas dos meus filhos, embora sejam rebeldes e desobedientes!'

E, como lemos na Sagrada Escritura, é assim que Deus sempre agiu. Quando Ele foi forçado pelos muitos pecados da humanidade a infligir algum castigo geral sobre o mundo, Ele quase nunca o fez sem ter anunciado muito antes por meio dos seus profetas, ou por meio de sinais e presságios, para que os homens, fazendo penitência oportuna, pudessem escapar dos efeitos de sua ira. Assim agiu com os ninivitas, a quem enviou o profeta Jonas para anunciar por todas as ruas da cidade: 'Daqui a quarenta dias, Nínive será destruída'¹⁰. Quem, ao ouvir esta terrível ameaça, não imaginaria que Deus estava extremamente irado contra a cidade ímpia? No entanto, não há dúvida de que, com essa ameaça, Ele se mostrou extremamente misericordioso e condescendente com ela. São João Crisóstomo, considerando esta circunstância, dirigiu-se a Deus maravilhado, perguntando-lhe: 'Meu Senhor e meu Deus, o que fazeis? Porque anunciais o castigo que quereis infligir?'¹¹. Faço-o, responderia o Omnipotente, para não ser obrigado a castigar; para que as minhas ameaças não tenham de ser cumpridas. E os ninivitas tinham a certeza dessa verdade; conheciam a Deus e sabiam que Ele é um Senhor misericordioso¹², como nos diz Santo Efrém. Quando ouviram o sermão de Jonas, recolheram-se todos, fizeram penitência e, assim, aplacaram a ira de Deus, de modo que as suas ameaças contra eles não se concretizaram.

Foi assim também que Ele agiu em relação ao perverso rei Faraó, que tão cruelmente perseguiu o povo de Israel. As muitas e maravilhosas pragas com que Ele afligiu a toda a terra do Egito são bem conhecidas das Escrituras, mas Ele só infligiu uma delas depois de ter enviado Moisés ao Faraó para o avisar, caso não permitisse a saída do povo eleito: 'farei perecer teu filho primogênito'¹³, ao que se seguiu outras pragas terríveis. Se o Faraó tivesse submetido, nenhuma das ameaças teria sido cumprida. E foi assim que o Todo Poderoso agiu depois. Quando quis entregar a cidade de Jerusalém nas mãos dos seus inimigos, Isaías teve de vaguear pelas ruas durante muito tempo, sem roupa, para avisar da calamidade iminente. Quando ameaçou o povo judeu com a escravidão sob o duro jugo dos assírios, enviou antes Jeremias acorrentado. E ainda, quando estava prestes a castigar os habitantes de Jerusalém com a fome, Ezequiel teve de comer apenas o estrume das vacas e dos bois durante trezentos e noventa dias. Todas essas coisas eram sinais da futura ira de Deus mas, ao mesmo tempo, eram provas da sua misericórdia. Com razão diz o profeta Davi ao seu Deus: 'Mas aos que vos temem destes um estandarte, a fim de que das flechas escapassem, para que vossos amigos fiquem livres'¹⁴.

Ora, meus caros irmãos, vedes como esses sinais terríveis que devem anunciar a ira de Deus antes do último dia são, ao mesmo tempo, provas da misericórdia e bondade divinas, destinadas à conversão e emenda do pecador? E, no entanto, o que deveria excitar nosso maior espanto, é que somente um número muito pequeno de pecadores será movido então a lamentar e emendar as suas vidas perversas. O medo natural e a angústia inspirados por tão terríveis fenômenos irão fazê-los definhar de terror, é verdade; mas, quando o medo tiver passado, não serão nem um pouco melhores do que antes; serão como o povo do tempo de Noé, quando se preparava para o dilúvio. Nem mesmo acreditarão que esses sinais prenunciam o último dia, nem que o julgamento final está próximo; mas rirão dos bons que acreditarem neles e ridicularizarão a sua credulidade; e assim continuarão em pecado até que o fogo os leve impenitentes diante do tribunal de Deus; e esse será o fim de muitos. Não é isso, pergunto, uma coisa deveras surpreendente? No entanto, por que deveríamos ficar surpresos com isso, meus queridos irmãos? Não agimos exatamente da mesma maneira nos nossos dias, quando o Todo Poderoso nos envia ou nos ameaça com calamidades públicas? Isso vos mostrarei na Segunda Parte deste sermão.

1. Venit in omnem regionem Jordanis, praedicans baptismum poenitentiae in remissionem peccatorum (Lc 3,3).
2. Poenitentiam agite; appropinquavit enim regnum caelorum (Mt 3,2).
3. Dirigite viam Domini (Jo 1,23).
4. Cum iratus fueris, misericordiae recordaberis (Hab 3,2).
5. Ut corda hominum ad judicium praeparentur, hujusmodi signis praemoniti.
6. Nemo volen ferire, dicit, observa.
7. Si damnare vellet, taceret.
8. Erunt signa in sole, et luna, et stellis, et in terris pressura gentium prae confusione sonitus maris et fluctuum (Lc 21,25).
9. Servate mihi puerum Absalom (2Sm 18,5).
10. Adhuc quadraginta dies, et Ninive subvertetur (Jn 3,4).
11. Cuju rei gratia quae facturus es mala, praedicis? (S.Chrys. Hom. de Jon.)
12. Cognoverunt Deum ut misericordem.
13. Ecce ego interficiam filium tuum primogenitum (Ex 4,23).
14. Dedisti metuentibus te significationem, ut fugiant a facie arcus; ut liverentur dilecti tui (Sl 54,6).

(Excertos da obra 'Sermons on the Four Last Things' - Sermon 28, do Rev. Francis Hunolt /1694 -1746/, tradução do autor do blog)

quinta-feira, 8 de junho de 2023

CORPUS CHRISTI 2023

Corpus Christi, expressão latina que significa Corpo de Cristo, é uma festa litúrgica da Igreja sempre celebrada na quinta–feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade, que acontece no domingo seguinte ao de Pentecostes, 50 dias depois da Páscoa. 

O pão é pão e o vinho é vinho
como frutos do homem em oração;
é o que trazemos, é tudo o que temos,
como oferendas da nossa devoção. 

Não é mais pão, nem é mais vinho
quando espécies na consagração;
alma e divindade que se reconciliam
a cada missa, em cada comunhão.

Aparente pão, aparente vinho,
é mais que vinho, muito mais que pão;
o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo
 é o alimento da nossa salvação.

(Arcos de Pilares)

INDULGÊNCIAS DO DIA DA SOLENIDADE DE CORPUS CHRISTI

  

Nesta quinta-feira, dia da solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, o católico pode ser contemplado com as seguintes indulgências:

(i) Indulgência parcial: rezar, com piedosa devoção, a oração 'Alma de Cristo':

Alma de Cristo, santificai-me.
Corpo de Cristo, salvai-me.
Sangue de Cristo, inebriai-me.
Água do lado de Cristo, lavai-me.
Paixão de Cristo, confortai-me.
Ó bom Jesus, ouvi-me.
Dentro de vossa chagas, escondei-me.
Não permitais que eu me separe de vós.
Do espírito maligno, defendei-me.
Na hora da morte chamai-me e
mandai-me ir para vós,
para que com vossos Santos vos louve
por todos os séculos dos séculos.
Amém. 

(ii) Indulgência plenária: rezar, com piedosa devoção, a oração 'Tantum Ergo' ou 'Tão sublime Sacramento':

Tão sublime sacramento
vamos todos adorar,
pois um Novo testamento
vem o antigo suplantar!
Seja a fé nosso argumento
se o sentido nos faltar.
Ao eterno Pai cantemos
e a Jesus, o Salvador,
igual honra tributemos,
ao Espírito de amor.
Nossos hinos cantaremos,
chegue aos céus nosso louvor.
Amém.

Do céu lhes deste o pão,
Que contém todo o sabor.

Oremos: Senhor Jesus Cristo, neste admirável Sacramento, nos deixastes o memorial da vossa Paixão. Dai-nos venerar com tão grande amor o mistério do vosso corpo e do vosso sangue, que possamos colher continuamente os frutos da vossa redenção. Vós que viveis e reinais para sempre. Amém.

quarta-feira, 7 de junho de 2023

BREVIÁRIO DIGITAL - LEGENDA ÁUREA (VIII)


1. Um dia, durante a construção de um mosteiro, os irmãos queriam erguer uma pedra, mas não conseguiam. O grande número de homens que lá se encontrava tampouco o conseguia, quando chegou São Bento, o escravo de Deus, e benzeu a pedra, que pôde então ser erguida com facilidade. Todos entenderam que tinha sido o diabo, sentado sobre a pedra, que não permitira ser anteriormente movida. Quando o muro alcançou certa altura... o antigo inimigo reapareceu e fez derrubar o muro, cuja queda esmagou um jovem monge. Mas o escravo de Deus mandou trazer em um saco o rapaz morto e destroçado, ressuscitou-o com uma prece e mandou-o de volta para o trabalho.


2. Uma noite em que São Bento, o escravo de Deus, olhava por uma janela e orava ao Senhor, viu difundir-se pelo ar uma luz que dissipou todas as trevas da noite. Subitamente pareceu aos seus olhos que todo o mundo estava sob um único raio de sol, e ele viu sendo levada ao Céu a alma de Germano, bispo de Cápua, cuja morte, soube mais tarde, ocorrera no momento daquela visão.

3. Uma outra ocasião em que São Bento visitava sua irmã e estavam à mesa, ela lhe pediu que passasse a noite em sua casa e, como ele não queria aceitar, ela inclinou-se, apoiou a cabeça nas mãos para orar ao Senhor e, quando se ergueu, produziram-se tantos relâmpagos e trovões e a chuva caiu com tanta abundância que não se podia sair fora de casa, embora um instante antes o céu estivesse perfeitamente sereno. Fôra a torrente de lágrimas dela que havia transformado a serenidade do ar em chuva. Contristado, o homem de Deus falou: 'Que Deus todo poderoso te perdoe, minha irmã. O que você fez?' Ela respondeu: 'Eu pedi e você não quis me ouvir; pedi ao Senhor e Ele me ouviu. Saia agora, se puder!' Isso aconteceu para que eles pudessem passar a noite inteira edificando-se mutuamente em santas conversas. Três dias depois de voltar ao mosteiro, ao erguer os olhos, o santo viu a alma da irmã que penetrava nas profundezas do Céu sob a forma de uma pomba; mandou então trazer o seu corpo para o mosteiro, onde foi colocado em um túmulo que ele tinha preparado para si próprio.

(Excertos da obra 'Legenda Áurea - Vidas de Santos, de Jacopo de Varazze)

Legenda Áurea constitui meramente um livro de devoção católica, acessível às pessoas comuns de todas as épocas, sem nenhum propósito de abordagem biográfica da vida dos santos sob o escopo da veracidade ou da confiabilidade histórica. Trata-se, portanto, de uma coletânea de fatos ficcionais e inverídicos (lendários) que, uma vez associados às virtudes heroicas específicas dos diferentes santos da Igreja, tinha por objetivo incrementar a devoção católica do leitor pelos santos para a sua própria santificação pessoal. Alguns deles serão publicados no blog. A excelência dos objetivos e resultados alcançados pela obra pode ser aferida pelo enorme sucesso das muitas e diversas versões e traduções realizadas desde a sua publicação original no século XIII. 

terça-feira, 6 de junho de 2023

POEMAS PARA REZAR (XLVI)


MORTE E RESSURREIÇÃO

Que dor hei de levar por sobre estes meus ombros, que medonha aflição dos meus sentidos?
Minhas mãos não estarão vazias e meu coração silencioso como a noite que se finda?
Que dor hei de levar?
Na imensidão dos meus atalhos inúteis, na busca desenfreada pelas horas forjadas da falta de tempo,
pela sombras onde ousei me descansar da luz,
que nada hei de levar?
Dos risos fáceis ou das manhãs de sol, do vento no rosto, das passadas febris,
caminhos que fiz sem saber onde chegar por tantos caminhos sem fim, 
que passo além hei de levar?
Olhando sobre as cabeças com a luneta do orgulho, encimado na torre da vanglória,
serei vestígio das minhas crenças vazias ou refém das minhas próprias mordaças?
Que serei eu então diante de Vós?

Que ai poderia eu gemer neste momento; que olhos terei para vos contemplar?
Não tenho mais para onde ir e coisa alguma para recomeçar o que não tem mais tempo de ser.
O que serei então?
Nesse livro de poucas páginas e de frases soltas feitas dos sussurros dos sentidos,
que ousaria chamar de minha vida sem autoria alguma, estarei miseravelmente só com meus pecados.
E Vós ainda tereis parte comigo?
Ansiaria por luz quem vislumbrou senão sombras; ansiaria por glória quem vacilou penumbras?
O que restou de mim da argila prima não será senão um barro disforme e sem peso algum, o nada que restou.
O que há de acontecer então?

Sairei do chão como barro arremessado aos ares, flecha galgada por arco retesado a sopesar alturas,
pleno da forma divina que me antecipa a glória do espírito que não retém limites.
Estareis ao meu lado nesta fuga.
Permanecerei espasmo de vida num segundo, e então toda a plenitude da graça como herança,
como fruto da redenção que amadureceu de repente para sempre, para sempre, para sempre...
Terei eu então a dimensão dos santos.
Contemplarei o meu Deus face a face e não terei mais sopro algum da humana sorte,
pois entrarei em prados verdejantes ressuscitado e revivido e, como louvor de todos os louvores,
Vós estareis comigo eternamente.

(Arcos de Pilares)