quarta-feira, 3 de maio de 2023
terça-feira, 2 de maio de 2023
OS GRANDES SINAIS PRECURSORES DO JUÍZO FINAL (I)
Statim autem, post tribulatimem dierum illorum, sol obscurabitur, et luna non dabit lumen suum
'Logo após esses dias de tribulação, o sol escurecerá, a lua não terá claridade, cairão do céu as estrelas e as potências dos céus serão abaladas' (Mt 24, 29)
Introdução
Terríveis são os sinais precursores do dia do Juízo Final, o último dia do mundo. Haverá muitos destes sinais e alguns surgirão muito tempo antes, enquanto outros somente serão manifestos nos tempos imediatos da catástrofe final. Do primeiro tipo, estão aqueles que já conhecemos e experimentamos, como a destruição da nação judaica: um povo agora sem fé, reinado ou comunidade; a conversão dos pagãos à verdadeira religião, que já foi pregada e propagada em todas as partes do globo; a perseguição da Igreja por tantos hereges que atuaram como precursores do Anticristo; além destes, vimos guerras, fomes, pestilências, terremotos, o aumento da maldade e do pecado, homens esfriando no amor de Deus, a falta de reverência a Deus nas igrejas e nos sacerdotes e superiores espirituais e ainda a queda do império romano, como faz menção o apóstolo São Paulo, de acordo com Tertuliano, São Jerônimo e São Cirilo.
Todos esses são sinais da aproximação do fim do mundo e do terrível dia do julgamento. São João escreve em sua primeira epístola: 'Filhinhos, esta é a última hora'¹. Eles são, como nos falam Santo Ambrósio e São Crisóstomo, a doença da terra que precederá a sua morte: 'porque estamos nos momentos de morte do mundo e certas doenças do mundo devem vir antes². Uma doença do mundo é a fome, uma doença do mundo é uma praga, uma doença do mundo é guerra e perseguição; por essas coisas, Deus nos lembra que está se aproximando o fim, para que não nos apeguemos muito a nada desse mundo. Outros sinais da vinda do último dia, além da queda do império romano, são o advento do Anticristo e os terríveis presságios no sol, na lua e nas estrelas, e a angústia de todas as nações da terra, sobre as quais lemos no Evangelho de hoje. Esta última classe de sinais tratarei como tema, meus queridos irmãos, hoje e durante o Advento e tentarei, com a ajuda de Deus, deduzir deles alguma doutrina moral para o nosso proveito. Começo hoje com a vinda e a tirania do Anticristo.
Plano do Discurso
Quem será o Anticristo e o que ele virá a fazer no mundo? Isso explicarei nesta primeira parte. Quais devem ser os nossos pensamentos sobre isso? Esta será a lição de moral da segunda parte. Dá-nos a tua luz e graça, futuro Juiz dos vivos e dos mortos, Cristo Jesus; isto vos pedimos pelos méritos da Vossa Mãe Maria e pelas orações de nossos santos anjos da guarda.
Primeira Parte
Quem é então o Anticristo? De que natureza ele deve ser? Na Escritura, o Espírito Santo nunca lhe dá um nome próprio porque, como diz Santo Irineu, Ele não quis mencionar o nome de um homem tão mau; portanto, Ele o chama apenas de Anticristo, ou seja, aquele que se opõe a Cristo em tudo. O profeta Daniel o chama de 'animal medonho, pavoroso e de uma força excepcional'³. São Paulo o chama de homem do pecado, todo vício e maldade: 'homem do pecado, filho da perdição'⁴. Em todo caso, ele será um homem da mesma natureza que nós, criado por Deus para o mesmo fim e com graças e os meios suficientes para salvar sua alma, se ele o quisesse. De acordo com a opinião de Santo Agostinho e São João Damasceno, esse homem perverso deve ser fruto de relações sexuais adúlteras e, como diz São Jerônimo e São Gregório, nascerá da tribo judaica de Dan na Babilônia e será criado secretamente por feiticeiros e bruxas. É fácil imaginar o tipo de treinamento que ele provavelmente receberá desse tipo de mestres.
Quando tornar-se um homem, esconderá sua maldade e astúcia sob uma máscara de hipocrisia e aparente santidade; será muito zeloso pela lei de Moisés e fingirá desprezar todas as coisas terrenas, ser inimigo da idolatria e devoto das Sagradas Escrituras. Embora vá chafurdar em todos os tipos de impureza, externamente condenará o adultério e o condenará como o maior dos crimes e será muito caridoso para com os pobres; em uma palavra, ele terá uma tal aparência de virtude que muitas nações desejarão tê-lo como seu rei. Acima de tudo, diz Santo Antônio, ele tentará persuadir o povo de que tudo o que os profetas disseram sobre o Messias deverão se cumprir em sua pessoa. Assim, ele atrairá para si os judeus em grande número, e eles logo o olharão e o adorarão como o tão esperado Messias, quando perceberem que ele se opõe a Cristo e à lei cristã, em defesa da lei judaica e suas cerimônias, bem como poderão lucrar muito com ele no poder.
Uma vez elevado a uma posição destacada no mundo e tendo assegurado um grande número de seguidores, então esta serpente perversa começará a cuspir o seu veneno e a espalhar a sua autoridade sobre o mundo por meio de astúcia, promessas e força das armas. Além de turcos, pagãos e judeus, ele atrairá para o seu lado, sob a sua autoridade, um número incontável de cristãos, atraídos pelas promessas de riquezas, honras, dignidades e prazeres sensuais que colocará à disposição de todos os seus seguidores, como diz o profeta Daniel: 'ele lhes conferirá autoridade sobre numerosos vassalos e lhes distribuirá terras em recompensa'⁵. E, além dos imensos recursos dos países conquistados, terá a ajuda do diabo que, por permissão divina, descobrirá para ele minas de ouro e prata, e tesouros escondidos no mar: 'E ele terá poder sobre os tesouros de ouro e de prata e todas as coisas preciosas'⁶. Que isca atraente será para atrair os filhos vaidosos, ambiciosos e gananciosos do mundo, já tão dispostos a se agarrar a essas coisas! Como eles poderão resistir a esta sedutora e poderosa tentação?
Mas quando o Anticristo encontrar almas virtuosas que não se deixarão desviar do amor de Deus por promessas, lisonjas, carícias, dinheiro, honras ou prazeres, então usará contra elas outra arma terrível, na forma de torturas que o tirano mais cruel nunca sequer pensou: 'haverá então uma grande tribulação' - diz Nosso Senhor no Evangelho - 'como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá'⁷. De modo que mesmo muitos servos justos e piedosos de Deus cederão sob a pressão das torturas e negarão o seu Deus. 'E foi-lhe dado' - diz São João no Apocalipse, falando da terrível besta, com a qual ele quis dizer o Anticristo - 'fazer guerra aos santos e vencê-los. E foi-lhe dado poder sobre toda tribo, povo, língua e nação'⁸. Isso para que ele vença até os santos, alguns segundo o corpo pelo martírio, torturando-os e matando-os; e outros, o que é muito mais deplorável, de acordo com a alma, forçando-os com tormentos cruéis a negar Jesus Cristo e sua fé. Não haverá escolha simples entre suportar torturas intoleráveis e abandonar a verdadeira religião ou morrer de fome e penúria em cavernas e desertos.
Tudo o que poderia encorajar um cristão piedoso e consolá-lo em tal tribulação será então removido; pois esta besta cruel em seu orgulho ousado se estabelecerá como o verdadeiro Deus e reivindicará ser adorado e ter igrejas construídas em sua honra. 'E o rei fará conforme a sua vontade' - diz o Profeta Daniel - 'ele será exaltado e se engrandecerá acima de qualquer deus'⁹. Todos os templos consagrados a Nosso Senhor serão demolidos e profanados, as imagens sagradas serão destruídas e os livros sagrados queimados; todos os pregadores e sacerdotes serão eliminados e o uso dos santos sacramentos e a celebração da missa serão totalmente abolidos: 'Tropas sob sua ordem virão profanar o santuário, a fortaleza; farão cessar o holocausto perpétuo e instalarão a abominação da desolação'¹⁰.
Essas são as palavras do Profeta Daniel. Assim, por cerca de quatro anos, durante a duração do reinado do Anticristo, a celebração pública do santo sacrifício não será tolerada em nenhum lugar do mundo; nem a visão de um único crucifixo haverá para que alguém possa se consolar em suas tristezas. Ele dará aos seus seguidores um sinal, que deverão usar na testa ou na mão direita e qualquer homem sem este sinal não poderá comprar ou vender coisa alguma ou fazer qualquer negócio; este sinal será dado pelas palavras blasfemas: Nego Jesum – 'Nego Jesus'. Ó verdadeiramente merecedores de compaixão serão os cristãos que viverão nesses tempos difíceis! O que será deles? E quão claramente verão as palavras de Nosso Senhor realizadas: 'Muitos são chamados, mas poucos são os escolhidos'¹¹.
E este será o caso especialmente quando o Anticristo recorrer ao terceiro e mais poderoso meio que ele deve utilizar para confirmar a sua falsa doutrina; pois, como São João testifica dele, ele deve, por meio de bruxaria e feitiçaria, realizar incontáveis milagres e coisas portentosas: 'Realizou grandes prodígios, de modo que até fez descer fogo do céu sobre a terra, à vista dos homens e seduziu os habitantes da terra com os prodígios que lhe era dado fazer'¹². E não apenas ele, mas também seus servos e seguidores terão o poder de operar esses falsos milagres. Nosso Senhor já nos avisou sobre isso, conforme lemos no Evangelho: 'Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios'¹³. Quantas almas serão perdidas quando este grande e terrível monarca, tão poderoso aos olhos do mundo, na presença dos cristãos - como diz Santo Hipólito - purificar os leprosos, curar os paralíticos, libertar os possuídos pelo demônio e até mesmo aparentemente ressuscitar os mortos para a vida, com todos estes curados o adorando como o verdadeiro Deus!
Como será quando ele ordenar que o sol fique parado nos céus e isso acontecer sob o seu comando? Quando ele invocar grandes tempestades do mar e as acalmar em seguida? Quando - como diz Lactantius - ele fizer crianças de tenra idade, animais e até mesmo imagens sem vida gritarem que tudo o que Jesus Cristo ensinou é falso, que Ele não é o Filho de Deus, mas um traidor que está condenado para sempre? Quando ele invocar fogo do céu para consumir aqueles que o confrontam, como o profeta Elias fez nos tempos antigos; quando queimar sacrifícios em sua honra ou dar a seus discípulos línguas de fogo, para que possam falar todas as línguas, tal como os apóstolos quando receberam o Espírito Santo na forma de línguas de fogo? Como será quando - de acordo com o testemunho de Alberto, o Grande - ele aparentar morrer para voltar à vida após três dias e depois ser levado pelos demônios para o céu? Como será quando legiões desses demônios disfarçados de anjos de luz o assistirem e servirem, de forma visível, e cantarem hinos de louvor em sua honra, como se ele fosse o verdadeiro Deus e o prometido Salvador do mundo?
'Alas!' [expressão latina de pesar, algo como 'Ai de mim!'] - exclama São Gregório - imaginando como devem ser aqueles tempos terríveis, 'quão severa provação será para a mente humana!'¹⁴. E de fato será tão grande que, se possível, os eleitos seriam enganados por ele, como nos diz Nosso Senhor: 'A ponto de enganar (se possível) até os eleitos'¹⁵. Assim o Anticristo vai atrair para o seu lado quase todo o mundo: os ímpios e os ávidos por riquezas, honras e prazeres; os piedosos e tementes a Deus pelos tormentos intoleráveis que lhes serão infligidos; os simples e incautos pelos maravilhosos sinais e prodígios que realizará. 'Se aqueles dias não fossem abreviados, criatura alguma escaparia'¹⁶.
Seu reinado durará três anos e meio, após os quais este homem cruel se elevará no ar, no Monte das Oliveiras em direção ao céu e então, como dizem alguns, Nosso Senhor o atingirá com um raio ou, como outros sustentam, ordenará que seja arremessado à terra e o seu corpo e a sua alma atirados então para o abismo do inferno: 'Então, o tal ímpio se manifestará. Mas o Senhor Jesus o destruirá com o sopro de sua boca e o aniquilará com o resplendor da sua vinda'¹⁷. Aí está, meus queridos irmãos, uma breve descrição do Anticristo como anúncio e precursor do último dia terrível do julgamento, de acordo com os profetas, apóstolos das Sagradas Escrituras e com os santos Padres e a Tradição da Igreja. O que você acha disso? Que lição devemos tirar de tudo isso para o bem de nossas almas? Isso é o que veremos na Segunda Parte.
1. Filioli, novissima hora est (1Jo 2, 18).
2. Quia in saeculi sumus, praecedunt quaedam aegritudines mundi (S. Ambr. L. 10, cf Lc 17).
3. Bestia terribilis, atque mirabilis, et fortis nimis (Dn 7,7)
4. Homo peccati, filius perditionis. (2Ts 2,3).
5. Multiplicabit gloriam, et dabit eis potestatem in multis, et terram dividet gratuito (Dn 11,39).
6. Et dominabitur thesaurorom auri et argenti, et in omnibus pretiosis (Dn 11, 43).
7. Erit enim tunc tribulatio magna, qualis non fuit ab Initio mundi, usque modo, neque fiet (Mt 24, 21).
8. Et est datum illi bellum facere cum sanctis, et vincere eos; et data est illi potestas in omnem tribum, et populum, et linguam, et gentem (Ap 13,7).
9. Et faciet juxta voluntatem suam rex; et elevabitur et magnificabitur adversus omnem deum (Dn 11, 36).
10. Et brachia ex eo stabunt, et polluent sanctuarium fortitudinis; et auferent juge sacrificium, et dabunt abominationem in desolationem (Dn 11, 31)
11. Multi sunt vocati, pauci vero electi (Mt 20, 16).
12. Et fecit signa magna, ut etiam ignem faceret de caelo descendere in terram in conspectu hominum. Et seduxit habitantes in terra, propter signa, quae data sunt illi facere (Ap 13, 13-14).
13. Surgent enim pseudo Christi, et pseudoprophetae, et dabunt signa magna, et prodigia (Mt 24, 24).
14. Quae erithumanae mentis illia tentatio! (S. Greg. L. 32. Moral. c. 13).
15. Ita ut in errorem inducantur (si fieri potest) etiam electi (Mt 24, 24).
16. Et nisi breviati fuissent dies illi, non fieret salva omnis caro (Mt 24, 22).
17. Et tunc revelabitur ille iniquus, quem Dominus Jesus interficiet spiritu oris sui (2Ts 2,8).
(Excertos da obra 'Sermons on the Four Last Things' - Sermon 26, do Rev. Francis Hunolt /1694 -1746/, tradução do autor do blog)
segunda-feira, 1 de maio de 2023
01 DE MAIO - SÃO JOSÉ OPERÁRIO
São José, São José carpinteiro,
dai-me o cinzel do entalhador
para que eu molde almas, muitas almas,
com a sagrada face do Senhor...
São José, modelo de virtudes,
imprimi em mim virtuoso labor
para que eu seja luz, luz que alumie,
os santos caminhos do Senhor...
São José, homem de oração,
dai-me a graça da vida interior
para que eu leve ovelhas, muitas ovelhas,
ao rebanho do Bom Pastor...
São José, São José missionário,
guiai-me no apostolado do amor
pelos homens, para que muitos se salvem,
na infinita misericórdia do Senhor...
São José, esposo de Maria,
ungi-me a fronte com especial fervor
de levar as almas, todas as almas,
às fontes da graça do Senhor...
São José, São José camponês,
dai-me o arado e fazei-me semeador
que eu possa dar frutos, muitos frutos,
nas vinhas gloriosas do Senhor...
São José, homem justo na fé,
fazei de mim esteio consolador
de todos que sofrem, dos que padecem,
crucificados como o Senhor...
São José, São José operário,
fazei de mim um santo trabalhador
que eu seja obra de muitos nomes
nas moradas eternas do Senhor...
domingo, 30 de abril de 2023
EVANGELHO DO DOMINGO
'O Senhor é o pastor que me conduz,
para as águas repousantes me encaminha' (Sl 22)
Primeira Leitura (At 2,14a.36-41) - Segunda Leitura (1Pd 2,20b-25) - Evangelho (Jo 10,1-10)
30/04/2023 - Quarto Domingo da Páscoa
23. O BOM PASTOR
No Quarto Domingo da Páscoa, ressoa pela cristandade a imagem e a missão do Bom Pastor: 'Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. A esse o porteiro abre, e as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora. E, depois de fazer sair todas as que são suas, caminha à sua frente, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz' (Jo 1, 2 - 4). Jesus, o Bom Pastor, conhece e ama, com profunda misericórdia, cada uma de suas ovelhas desde toda a eternidade. Criadas para o deleite eterno das bem-aventuranças, redimidas pelo sacrifício do calvário e alimentadas pela sagrada eucaristia, Jesus acolhe as suas ovelhas com doçura extrema e infinita misericórdia.
E Jesus, plasmado pelo amor divino, conhece cada uma das suas ovelhas pelo nome. Nada, nem coisa, nem homem, nem demônio algum, poderá nos apartar do amor de Deus. Porque este amor, sendo infinito, extrapola a nossa condição humana e assume dimensões imensuráveis. Ainda que todos os homens perecessem e a humanidade inteira ficasse reduzida a um único homem, Deus não poderia amá-lo mais do que já o ama agora, porque todos nós fomos criados, por um ato sublime e extraordinariamente particular da Sua Santa Vontade, como herdeiros dos céus e para a glória de Deus: 'Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas. A Ele a glória por toda a eternidade!' (Rm 11, 36).
Jesus toma sobre os ombros a ovelha de sua predileção, cada um de nós, a humanidade inteira, para a conduzir com segurança às fontes da água da vida (Ap 7, 17), onde Deus enxugará as lágrimas dos nossos olhos. E nos mostra o caminho: 'Eu sou a porta. Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem' (Jo 1, 9). Somos chamados a uma vida de predileção na Casa do Pai, que homem algum jamais pôde sequer imaginar o que poderia ser viver a eternidade na glória de Deus: 'Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância' (Jo 1, 10).
Reconhecer-nos como ovelhas do rebanho do Bom Pastor é manifestar em plenitude a nossa fé e esperança em Jesus Cristo, Deus Único e Verdadeiro, cuja bondade perdura para sempre e cujo amor é fiel eternamente (Sl 99,5). Como ovelhas do Bom Pastor, não nos basta ouvir somente a voz da salvação; é preciso segui-Lo em meio às provações da nossa humanidade corrompida, confiantes e perseverantes na fé, até o dia dos tempos em que estaremos abrigados eternamente na tenda do Pai, lavados e alvejados no sangue do Cordeiro (Ap 7, 14b).
sábado, 29 de abril de 2023
O DOGMA DO PURGATÓRIO (LV)
Capítulo LV
Auxílio às Santas Almas - A Santa Missa - Padre Gerard e as Três Conversões - As Trintas Missas de São Gregório
Vamos agora considerar os efeitos sobrenaturais da Missa de uma outra forma, mas que provam não menos claramente a eficácia do Santo Sacrifício quando oferecido pelos defuntos. Nós os encontramos nas Memórias do Padre Gerard, um jesuíta inglês e confessor da fé durante as perseguições religiosas na Inglaterra no século XVI.
Depois de relatar como recebeu a abjuração de um cavalheiro protestante, casado com uma de suas primas, padre Gerard acrescenta: 'Esta conversão levou a outra nas circunstâncias mais extraordinárias. Meu novo convertido foi ver um de seus amigos que estava gravemente doente. Este era um homem justo, detido na heresia mais por ilusão do que por qualquer outro motivo. O visitante exortou-o com urgência a se converter e a pensar em sua alma; e obteve dele a promessa de que faria a sua confissão. Neste sentido, instruiu-o em tudo e o ensinou a se preparar na contrição dos seus pecados, enquanto foi procurar um padre. Mas ele teve grande dificuldade em encontrar um, e nesse ínterim o doente morreu. Quando estava prestes a expirar, o pobre moribundo perguntava frequentemente se o amigo ainda não havia voltado com o 'médico' que ele havia prometido trazer; era assim que ele chamava o padre católico.
O que se seguiu mostrou que Deus aceitou a boa fé do falecido. Nas noites seguintes à sua morte, sua esposa, protestante, viu uma luz movendo-se em seu quarto e até passando através das cortinas de sua cama. Com medo, ela chamou uma de suas criadas para dormir com ela no quarto, mas esta não via nada, embora a luz continuasse visível aos olhos de sua senhora. A pobre senhora mandou chamar então o amigo cujo regresso o marido tanto esperara, contou-lhe o sucedido e perguntou o que devia ser feito. Este amigo, antes de dar uma resposta, consultou um padre católico. O padre lhe disse que a luz era, para a esposa do falecido, um sinal sobrenatural pelo qual Deus a convidava a retornar à Verdadeira Fé. A senhora ficou profundamente impressionada com essas palavras e abriu então o seu coração à graça e, por sua vez, foi convertida.
Uma vez convertida, mandou celebrar a missa em seu quarto por algum tempo, mas a luz sempre voltava. O padre, considerando essas circunstâncias diante de Deus, refletiu que o falecido, embora salvo por seu arrependimento acompanhado pelo desejo de confissão, estava no purgatório e, portanto, precisava de orações. Aconselhou à sua senhora que mandasse rezar missa pela alma dele durante trinta dias, segundo um antigo costume dos católicos ingleses. A boa viúva seguiu este conselho e, no trigésimo dia, em vez de uma luz, viu três, sendo que duas delas pareciam apoiar a terceira. As três luzes pairaram sobre a sua cama, depois elevaram-se até o teto e desapareceram, para nunca mais voltar. Essas três luzes parecem ter significado as três conversões e a eficácia do Santo Sacrifício da Missa para abrir o Céu às almas que partiram'.
As trinta missas que eram rezadas por trinta dias consecutivos não é um costume apenas inglês, como é chamado pelo padre Gerard, mas também é amplamente difundido na Itália e em outros países cristãos. Essas missas são chamadas as Trinta Missas de São Gregório, porque o piedoso costume parece remontar a este grande papa. Assim é relatado em seus Diálogos (Livro 4, cap. 40): Um religioso, chamado Justus, havia recebido e guardado para si três moedas de ouro. Esta foi uma falta grave contra seu voto de pobreza. Ele foi descoberto e excomungado. Esta pena salutar o fez entrar em si mesmo e, algum tempo depois, morreu com verdadeiros sentimentos de arrependimento. No entanto, São Gregório, para inspirar aos irmãos um vivo horror ao pecado da avareza em um religioso, não retirou a sentença de excomunhão. Justus foi enterrado separado dos outros monges e as três moedas foram jogadas na sepultura, enquanto os religiosos repetiam todos juntos as palavras de São Pedro a Simão, o Mago: Pecunia tua tecum sit in perditionem – Pereça contigo o teu dinheiro! (At 8,20).
Algum tempo depois, o santo Abade, julgando que o escândalo estava suficientemente reparado e movido de compaixão pela alma de Justus, chamou o sacristão [monge responsável pelos serviços religiosos do mosteiro] e disse-lhe com tristeza: 'Desde o momento de sua morte, nosso irmão é torturado pelas chamas do Purgatório; devemos por meio da caridade fazer um esforço para libertá-lo. Vá, então, e cuide para que, de agora em diante, o Santo Sacrifício seja oferecido em sua intenção por trinta dias; não deixe passar uma manhã sem que a Vítima da Salvação seja oferecida para a sua libertação'. O sacristão obedeceu prontamente. As trinta missas foram celebradas ao longo de trinta dias consecutivos. Quando chegou o trigésimo dia e terminou a trigésima missa, o defunto apareceu a um irmão chamado Copiosus, dizendo: 'Bendito seja Deus, meu querido irmão, hoje fui libertado e admitido na sociedade dos santos'. Desde então estabeleceu-se este piedoso costume de celebrar trinta missas em intenção das almas dos defuntos.
Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog.
sexta-feira, 28 de abril de 2023
28 DE ABRIL - SÃO LUÍS DE MONTFORT
Missionário do Espírito Santo e da Virgem Santíssima, São Luís Maria Grignion de Montfort foi o portador da graça divina de uma mensagem de transcendência extraordinária: a necessidade de uma devoção ardente à Mãe de Deus e do conhecimento da missão ímpar de Nossa Senhora no Segundo Advento do seu Filho.
Nasceu em 31 de janeiro de 1637 em Montfort (França), sendo ordenado sacerdote em 1700. Em 1706, foi recebido pelo Papa Clemente XI que, confirmando a sua vocação missionária, outorgou-lhe o título de 'Missionário Apostólico'. Nesta missão, combateu duramente a doutrina jansenista na França, que, crendo na predestinação, apresentava um Deus tirânico e sem misericórdia.
Fundou três instituições religiosas: a Companhia de Maria (congregação de sacerdotes missionários), as Filhas da Sabedoria (freiras dedicadas à assistência aos doentes nos hospitais e à instrução de meninas pobres) e os Irmãos de São Gabriel (congregação de leigos voltados para o ensino). Escreveu várias obras, dentre elas o 'Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem', referência básica da mariologia cristã. Morreu em 28 de abril de 1716, aos 43 anos e apenas 16 anos como sacerdote, em Saint-Laurent-sur-Sèvre (França). Foi beatificado em 1888 e canonizado em 1947, pelo Papa Pio XII.
quinta-feira, 27 de abril de 2023
SERMÕES DO CURA D'ARS (IX)
SOBRE O MALDITO RESPEITO HUMANO (II)
II – Mas agora comecemos de outra maneira. Diga-me amigo, porque zombas dos que fazem profissão de piedade ou, para que o entendas melhor, dos que gastam mais tempo do que tu na oração, dos que frequentam de maneira mais assídua do que tu os sacramentos, dos que fogem dos aplausos do mundo? Uma de três, meus filhos: ou considerais estas pessoas como hipócritas, ou zombais da piedade em si ou, enfim, que lhe causais nojo ver que eles valem mais do que vós.
(i) Para chamá-los de hipócritas, seria preciso que houvésseis lido o seu coração e estivésseis plenamente convencidos de que toda a sua devoção é falsa. Pois bem, meus filhos, não parece natural, quando vemos uma pessoa fazer alguma boa obra, pensar que o seu coração é bom e sincero? Sendo assim, vede quão ridículos resultam vossa linguagem e vossos juízos. Vês em vosso próximo um exterior bom e dizeis ou pensais que seu interior nada vale. Se lhe mostram um fruto bom; indubitavelmente pensais que a árvore de onde ele veio é de boa qualidade e formais dele um bom juízo. Por outro lado, tratando-se de julgar as pessoas de bem, dizeis o contrário: o fruto é bom, mas a árvore que o deu não vale nada. Não, meus filhos, não, não sois tão cegos nem tão insensatos para disparatar desta maneira.
(ii) Digo, em segundo lugar, que zombais da piedade em si, mas me engano; não zombais de tal pessoa porque as suas orações são longas, frequentes ou feitas com reverência. Não, não é isto, porque também vós orais (pelo menos, se não o fazeis, faltais a um de vossos primeiros deveres). É acaso porque ela frequenta os sacramentos? Mas tampouco vós haveis passado o tempo da vossa vista sem aproximar-vos dos santos sacramentos; se os tem visto no tribunal da penitência, se os tem visto aproximar-se à sagrada mesa. Não desprezais, pois, a tal pessoa porque cumpre melhor que vós os seus deveres de religião, estando perfeitamente convencidos do perigo em que estamos de nos perdermos e, por conseguinte, da necessidade que temos de recorrer constantemente à oração e aos sacramentos para perseverar na graça do Senhor, e sabendo que depois deste mundo nenhum recurso resta: bem ou mal, forçoso será permanecer na sorte que, ao sair dele, nos espera toda a eternidade.
(iii) Não, meus filhos, nada disto é o que nos enoja na pessoa de nosso próximo. É que, não tendo a coragem de imitá-lo, não queremos sofrer a vergonha de nossa frouxidão; antes queremos arrastar-nos a seguir nossas desordens e nossa vida indiferente. Quantas vezes nos permitimos dizer: para que servem tanta dissimulação, estar tanto tempo na igreja, madrugar tanto para ir até lá e outras coisas do tipo? Meus filhos! È que a vida das pessoas seriamente piedosas é a condenação de nossa vida frouxa e indiferente.
Bem fácil é compreender que sua humildade e o desprezo que elas têm de si mesmas condena nossas vidas orgulhosas, que nada sabem sofrer, pois quer a estima e o louvor de todos. Não há dúvida de que sua doçura e sua bondade para com todos, condena as nossas impetuosidades e nossa cólera; é coisa certa que sua modéstia, sua circunspecção em toda a sua conduta condena a nossa vida mundana e cheia de escândalos. Não é realmente só isso o que nos molesta na pessoa de nossos próximos? Não é isto o que nos enfada quando ouvimos falar bem dos demais e anunciar suas boas obras? Sim, não há dúvida de que sua devoção, seu respeito à Igreja nos condena e contrasta com nossa salvação.
Da mesma maneira que nos sentimos naturalmente inclinados a escusar nos demais os defeitos que há em nós mesmos, somos propensos a desaprovar neles as virtudes que não temos a coragem de praticar. Assim estamos vivendo todos os dias. Um libertino se alegra de achar outro libertino que lhe aplauda em suas desordens; longe de desaconselhá-lo, lhe alenta a prosseguir nelas. Um vingativo se compraz na companhia de outro vingativo, para que se aconselhem mutuamente, a fim de achar o meio de vingar-se dos seus inimigos.
Mas ponha uma pessoa regrada em companhia de um libertino, uma pessoa sempre disposta a perdoar com outra vingativa; vereis como em seguida os malvados se desenfreiam contra os bons e se lhes caem em cima. E porque isto, meus filhos, senão porque, não tendo a virtude de obrar como eles, queriam poder arrastá-los para o seu lado, a fim de que a vida santa que estes levam não seja uma contínua censura às suas próprias vidas? Mas, se quereis compreender a cegueira dos que zombam das pessoas que cumprem melhor do que eles seus deveres cristãos, escuta-me um momento.
Que pensarias de um pobre que tivesse inveja de um rico, se ele não fosse rico senão porque não quer sê-lo? Não lhe dirias: amigo, por que hás de dizer mal desta pessoa por causa da sua riqueza? De ti somente depende ser tão rico como ela, e ainda mais se quiseres, pois, de igual maneira, meus filhos, por que nos permitimos vituperar aos que levam uma vida mais regrada do que a nossa? Somente de nós depende ser como eles e ainda melhores. O fato de que os outros praticam a religião com mais fidelidade que nós, não nos impede de sermos tão honestos e perfeitos como eles, e mais, todavia, se quisermos sê-lo.
Digo, em terceiro lugar, que as pessoas sem religião tendem a desprezar a quem faz profissão dela; mas engano-me: não é que os desprezem, apenas aparentam, pois em seus corações os têm em grande estima. Quereis uma prova disso? A quem recorrerá uma pessoa, ainda que não tenha piedade, para achar algum consolo em suas penas, algum alívio em sua tristeza e dores? Crê que irá buscá-lo em outra pessoa como ela? Não, meus amigos, não. Conhece muito bem que uma pessoa sem religião não pode consolar-lhe e dar-lhe bons conselhos. Irá aos mesmos de quem antes zombava. Fartamente convencido está de que somente uma pessoa prudente, honesta e temerosa de Deus pode consolá-lo e dar-lhe algum alívio em suas penas.
Quantas vezes, de fato, filhos meus, achando-nos agoniados pela tristeza ou por qualquer outra miséria, temos acudido a alguma pessoa prudente e boa e, ao cabo de um quarto de hora de conversação, nos temos sentido totalmente mudados e nos retiramos dizendo: 'Que ditosos são os que amam a Deus e também os que vivem ao seu lado'. Eis que eu me entristecia, não fazia mais que chorar, me desesperava; e, com uns momentos na companhia desta pessoa, me tenho sentido totalmente consolado. Bem certo é quanto ela me tem dito: que o Senhor não tem permitido isto senão para o meu bem, e que todos os santos e santas haviam passado penas maiores, e que mais vale sofrer neste mundo que no outro. E assim acabam por dizer: 'quando se me apresentar outra pena, não demorarei em acudir-me a ele de novo me busca de consolação'. Ó santa e formosa religião! Quão felizes são os que te praticam sem reservas, e quão grandes e preciosos são os conselhos e doçuras que nos proporcionas!
Vês, pois, meus filhos, que zombais de quem não merecem. Que deveis, pelo contrário, estar infinitamente agradecidos a Deus por ter entre vós algumas almas boas que sabem aplacar a cólera do Senhor, sem o qual pronto seríamos esmagados por sua justiça. Se pensais bem, uma pessoa que faz bem as suas orações, que não busca senão agradar a Deus, que se compraz em servir ao próximo, que sabe desprender-se até mesmo do necessário para ajudar-lhe, que perdoa de bom grado aos que lhes fazem alguma injúria, não podes dizer, que se porte mal, antes ao contrário. Tal pessoa não é senão muito digna de ser louvada e estimada por toda a gente.
Sem dúvida, a esta pessoa é a quem criticais; mas, não é verdade que ao fazê-lo, não pensais no que dizes? É certo, os diz vossa consciência; ela é mais feliz que nós. Ouve amigo meu, escuta-me, e eu te direi o que deves fazer: bem longe de vituperar desta classe de pessoas e zombar-te delas, hás de fazer todos os esforços possíveis por imitá-las, unir-te todas as manhãs às suas orações e a todos os atos de piedade que elas façam durante o dia. Mas direis para fazer o que elas fazem é necessário violentar-se e sacrificar-se demasiadamente. Custa muito trabalho! Não tanto como quereis vós supor, meus filhos. Tanto custa fazer bem as orações da manhã e da noite? Tão difícil é escutar a palavra de Deus com respeito, pedindo ao Senhor a graça de aproveitá-la? Tanto se necessita para não sair da Igreja durante as instruções? Para abster-se de trabalhar aos domingos? Para não comer carne nos dias proibidos e desprezar aos mundanos empenhados em perder-se?
Se é que temeis que os chegue a faltar à coragem dirigi vossos olhos à Cruz donde morreu Jesus Cristo e vereis como não vos faltará alento. Olhai as multidões de mártires, que sofreram dores que vós não podeis compreender, por temor de perderem as suas almas. Concluamos meus filhos, dizendo: 'Quão poucas são as pessoas que verdadeiramente servem a Deus!' Uns ocupam-se de destruir a religião, se fosse possível, com a força das suas armas, como os reis e imperadores pagãos; outros com os seus escritos ímpios querem desonrá-la e destruí-la se pudessem; outros zombam dela nos que a praticam; outros, enfim, sentem desejo de praticá-la, mas têm medo de fazê-lo diante do mundo.
Ai! Meus filhos! Quão pequeno é o número dos que andam pelo caminho do céu, pois só contam nele os que, contínua e valorosamente, combatem ao demônio e as suas sugestões, e desprezam ao mundo com todos os seus enganos! Posto que esperamos nossa recompensa e nossa felicidade somente em Deus, por que, meus filhos, amar ao mundo, havendo prometido com juramento aborrecê-lo e desprezá-lo para não seguir a não ser Jesus Cristo, levando a nossa cruz todos os dias de nossa vida? Feliz, meus filhos, aquele que não busca senão a Deus e despreza todo o resto. Isto chama-se felicidade...
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