sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

DA VIDA ESPIRITUAL (101)

Não faças nada neste mundo que não comece pelo Sinal da Cruz. Do ato mais cotidiano e simplório até os acontecimentos mais importantes de tua vida. Faça o Sinal da Cruz o tempo todo e em tudo: ao se levantar e ao deitar-se, ao entrar e ao sair de casa, antes e após as refeições, no trabalho, no descanso e no lazer, nas horas mais atarefadas e mais calmas, na alegria e na tristeza, sentado ou andando, antes ou depois de um encontro, uma reunião, uma visita ou uma consulta, no carro ou no ônibus, no silêncio do quarto ou no vozerio da multidão, em tudo e sempre. Faça o Sinal da Cruz sobre a fronte, sobre a boca, sobre os olhos, sobre o peito, sobre um órgão ou um membro em especial: mente pura, boca pura, olhos puros, coração puro. O Sinal da Cruz é a tua marca registrada de cristão e de Filho de Deus e armadura e escudo espirituais contra todas as tentações, ciladas do demônio e contra todos os males.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

SERMÃO SOBRE A CEGUEIRA


Ó quem me dera ter agora neste auditório o mundo inteiro! Quem me dera que me ouvisse agora a Espanha, que me ouvisse a França, que me ouvisse a Alemanha, que me ouvisse a própria Roma! Príncipes, reis, imperadores e monarcas do mundo, vede a ruína dos vossos reinos, vede as aflições e misérias dos vossos vassalos, vede as violências, vede as opressões, vede os tributos, vede as pobrezas, vede as fomes, vede as guerras, vede as mortes, vede os cativeiros, vede a assolação de tudo? Ou vedes ou não vedes. Se o vedes, como não o remediais? E se não o remediais, como vedes? Estais cegos. 

Príncipes eclesiásticos, grandes, maiores, supremos e vós, ó prelados que estais em seu lugar, vede as calamidades universais e particulares da Igreja, vede os destroços da Fé, vede o decaimento da Religião, vede o desprezo das Leis Divinas, vede a irreverência dos lugares sagrados, vede o abuso dos costumes, vede os pecados públicos, vede os escândalos, vede as simonias, vede os sacrilégios, vede a falta de doutrina sã, vede a condenação e a perda de tantas almas dentro e fora da Cristandade? Ou vedes ou não vedes. Se o vedes, como não o remediais? E se não o remediais, como vedes? Estais cegos. 

Ministros da república, da justiça, da guerra, do estado, do mar e da terra, vede as obrigações que se descarregam sobre o vosso cuidado, vede o peso que carrega sobre vossas consciências, vede as desatenções do governo, vede as injustiças, vede os roubos, vede os descaminhos, vede as maquinações, vede as dilações, vede os subornos, vede os respeitos, vede as potências dos grandes e as vexações dos pequenos, vede as lágrimas dos pobres, vede os clamores e gemidos de todos. Ou vedes ou não vedes. Se o vedes, como não o remediais? E se não o remediais, como vedes? Estais cegos. 

Pais de família, que tendes casa, mulher, filhos e criados, vede o desconcerto e o descaminho das vossas famílias, vede a vaidade da mulher, vede o pouco recolhimento das filhas, vede a liberdade e más companhias dos filhos, vede a soltura e descomedimento dos criados, vede como vivem, vede o que fazem e o que se atrevem a fazer, fiados muitas vezes na vossa dissimulação, no vosso consentimento e na sombra do vosso poder? Ou vedes ou não vedes. Se o vedes, como não o remediais? E se não o remediais, como vedes? Estais cegos. 

Finalmente, homem cristão, de qualquer estado e de qualquer condição que seja, vede a Fé e o caráter que recebestes no Batismo, vede a obrigação da Lei que professais, vede o estado em que viveis há tantos anos, vede os encargos da vossa consciência, vede as restituições que deveis, vede a ocasião da qual não vos apartais, vede o perigo da vossa alma e de vossa salvação, vede que estais atualmente em pecado mortal, vede que se vos tomais a morte nesse estado, vos condenais sem remédio; vede que se vos condenais, haveis de arder no inferno enquanto Deus for Deus e que haveis de carecer do mesmo Deus por toda a eternidade. Ou vemos tudo isto, cristãos, ou não o vemos. Se não vemos, como somos tão cegos? E se o vemos, como não o remediamos? 

Fazemos conta de remediar tudo isso alguma hora, mas quando há de ser esta hora? Ninguém haverá tão ímpio, tão bárbaro, tão blasfemo, que diga que não. Pois se o havemos de remediar alguma hora, quando há de ser esta hora? Na hora da morte? Na última velhice? Essa é a conta que lhe fizeram todos os que estão no inferno, e lá estão, e lá estarão para sempre. E será bem que façamos nós também a mesma conta e que nos vamos após eles? Não, não, não queiramos tanto mal a nossa alma. Pois se algum dia há de ser, se algum dia havemos de abrir os olhos, se algum dia nos havemos de resolver, porque não será hoje este dia?

Ah Senhor, pois que não quero persuadir aos homens e nem a mim (pois somos tão cegos), a Vós me quero volver. Não olheis, Senhor, para as nossas cegueiras; lembrai-Vos dos Vossos olhos, lembrai-Vos do que eles fizeram hoje em Jerusalém. Ao menos um cego saia hoje daqui iluminado. Ponde em nós esses olhos piedosos; ponde em nós esses olhos misericordiosos; ponde em nós esses olhos onipotentes. Penetrai e abrandai com eles a dureza destes corações: rasgai e alumiai a cegueira destes olhos para que vejam o estado miserável de suas almas; para que vejam quanto lhes merece essa Cruz e essas Chagas e para que, lançando-nos todos aos Vossos pés, como hoje fez o cego, arrependidos e com uma firmíssima resolução de nos afastar de nossos pecados, nos façamos dignos de ser iluminados com a Vossa Graça e, assim, Vos ver eternamente na Glória.

Excertos do 'Sermão da Quinta Quarta-Feira da Quaresma', do Pe. Antônio Vieira, 1669)

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

PALAVRAS ETERNAS (IV)

'Totus tuus ego sum Mariae et omnia mea tua sunt'


Sou todo teu, Maria, e tudo o que é meu é teu

(São Luís Grignion de Montfort)

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

BREVIÁRIO DIGITAL - ILUSTRAÇÕES DE DORÉ (VII)

PARTE VII (Jz 15 - Rt 2)

 [Sansão derruba os filisteus com a queixada de um jumento (Jz 15)]

 [Sansão carrega o portão de Gaza (Jz 16A)]

  [Sansão e Dalila (Jz 16B)]

  [A morte de Sansão (Jz 16C)]

  [O levita encontra o cadáver de sua concubina à porta (Jz 19A)]

  [O levita leva o cadáver da concubina para casa (Jz 19B)]

  [Os benjamitas tomam para si as filhas de Silo (Jz 21)]

  [Noemi e suas duas noras (Rt 1)]

[Rute apanha feixes de trigo no campo de Booz (Rt 2)]

ILUSTRAÇÕES DE DORÉ (I)

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

O SINAL DA CRUZ (III)


In hoc Signo vinces - 'Por este Sinal vencerás'

III

A primeira razão do Sinal da Cruz ter sido dado aos homens é a de nos tirarmos do pó, pois é um sinal divino que nos enobrece. Mas por que tirados do pó? Dize-me: quem é que entra chorando no mundo? Que sempre vive sujeito a todas as enfermidades? E que durante largo tempo é incapaz de prover as suas próprias necessidades? Todavia, este ser é a Imagem de Deus e do Rei da Criação e é necessário que ele não se degrade. Mas eis que Deus, tocando-o, imprime na sua fronte um Sinal Divino que o enobrece e este título de nobreza, este Sinal Divino, é o Sinal da Cruz. Sinal divino, porque vem do Céu e não da terra. Percorre todos os países e todos os séculos; não encontrarás em parte alguma o homem que imaginou o Sinal da Cruz, o santo que o inventou ou o Concilio que o impôs.

Quem é, pois, o autor e o instituidor do Sinal da Cruz? Para o encontrar, é necessário transpor todos os séculos, todas as criaturas visíveis, todas as hierarquias angélicas; é necessário subir até ao Verbo Eterno que é — a Verdade em Pessoa. Escuta uma testemunha nas melhores condições de saber o que se refere. Seu testemunho é tanto mais irrecusável, quanto é certo tê-lo valorizado com o timbre do próprio sangue. É’ o grande Bispo de Cartago, São Cipriano, que exclama: 'Senhor, Vós que sois o Sacerdote Santo, nos legastes três coisas imorredouras: o Cálice do Vosso Sangue, o Sinal da Cruz e o Exemplo das Vossas Dores'. E Santo Agostinho acrescenta: 'Ó Senhor Jesus Cristo, Vós quisestes que este sinal ficasse impresso sempre em nossa fronte'.

O brasão do católico é o Sinal da Cruz. Sou católico; portanto, o Sinal da Cruz fala da minha origem e fala a todos da nobreza da minha gente. Uma gente a que pertencem legiões inteiras de Doutores, de Virgens, de Mártires, de poetas, de oradores, de filósofos, de artistas, de grandes legisladores, de reis, beneméritos, guerreiros ilustres, qual é? Esta gente chama-se — a grande População Católica — a qual temos a graça de pertencer. E o Sinal da Cruz é o brasão desse grande povo.

O primeiro sentimento que o Sinal da Cruz desenvolve em nós enobrecendo-nos aos nossos olhos é o respeito por  nós mesmos. O respeito dos outros para conosco mede-se por aquele respeito que temos por nós mesmos. A crueldade, a hipocrisia, a devassidão e o vício só podem inspirar temor. Os homens da atualidade, velhos ou moços — homens todos que nunca fazem o Sinal da Cruz — eles se respeitam? 

Façamos um ensaio de análise... a parte mais nobre do homem é a alma. E da alma, a faculdade mais nobre é a inteligência, dada pelas mãos do próprio Deus para receber a verdade e só a verdade — mas a inteligência é hoje conspurcada e profanada pela mentira e pelo erro. Porventura, o homem de hoje respeita a própria inteligência? E' para satisfazer os nobres anseios da inteligência que hoje ele procura a verdade? Não. Nem gosto mais tem ele pelas fontes puras de onde jorra a verdade, pois os oráculos divinos, os sermões ou os livros ascéticos ou de filosofia cristã causam-lhe náusea. Se porventura pudésseis penetrar o íntimo de uma inteligência batizada, parecerias estar num depósito de trastes ou loja de peças velhas! Encontrarias ali em  misturada confusão — ignorância, contos vãos, frivolidades, preconceitos, mentiras, erros, dúvidas, objeções estultas, impiedades, tolices, negações e inutilidades — triste espetáculo!

Se tua mão não toca em tua fronte para fazeres o Sinal Divino, tocará a miúdo o que nunca deveria tocar. Se não queres armar, com o sinal protetor, os teus olhos, nem os teus lábios, nem o teu peito; então teus olhos mancham-se olhando o que nunca deveriam ver; teus lábios, como mudos faladores, não dizem o que deviam dizer, para dizerem o que para sempre deviam calar; e o teu peito, altar profanado, arde em chamas cujo nome, só em si, já é uma vergonha. Eis então a tua história íntima.

O homem que nunca faz o Sinal da Cruz perde a estima da própria vida. Ele a vilipendia e a desperdiça, porque não a leva a sério: da noite faz dia para o dia lhe ser noite e não recusa nada às tendências e ao gosto, consumindo o seu tempo sem relação com a eternidade. Tudo isso é como tecer teias de aranha, caçar moscas e construir castelos de papelão. Levar a vida a sério é bem aproveitá-la como o exige o seu Único Proprietário — Aquele que dispõe de tudo; Aquele que um dia nos pedirá contas, não apenas do conjunto, mas de tudo; não só dos anos, mas dos minutos. Fatigado, enfim, no caminho das bagatelas e das iniquidades, o que pode esperar então o homem desprezador do Sinal Divino? 

(Excertos adaptados da obra 'O Sinal da Cruz', do Monsenhor Gaume, 1862)

domingo, 12 de janeiro de 2020

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS


'Jesus de Nazaré foi ungido por Deus com o Espírito Santo e com poder. Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com ele' 
(At 10, 38)

PÁGINAS DO EVANGELHO (2019 - 2020) 

sábado, 11 de janeiro de 2020

REZAR E AMAR

'Prestai atenção, meus filhinhos: o tesouro do cristão não está na terra, mas nos céus. Por isso, o nosso pensamento deve estar voltado para onde está o nosso tesouro. Esta é a mais bela profissão do homem: rezar e amar. Se rezais e amais, eis aí a felicidade do homem sobre a terra.

A oração nada mais é do que a união com Deus. Quando alguém tem o coração puro e unido a Deus, sente em si mesmo uma suavidade e doçura que inebria, e uma luz maravilhosa que o envolve. Nesta íntima união, Deus e a alma são como dois pedaços de cera, fundidos num só, de tal modo que ninguém pode mais separar. Como é bela esta união de Deus com sua pequenina criatura! É uma felicidade impossível de se compreender. 

Nós nos havíamos tornado indignos de rezar. Deus, porém, na sua bondade, permitiu-nos falar com ele. Nossa oração é o incenso que mais lhe agrada. Meus filhinhos, o vosso coração é por demais pequeno, mas a oração o dilata e torna capaz de amar a Deus. A oração faz saborear antecipadamente a felicidade do céu; é como o mel que se derrama sobre a alma e faz com que tudo nos seja doce. Na oração bem feita, os sofrimentos desaparecem, como a neve que se derrete sob os raios do sol. 

Outro benefício que nos é dado pela oração: o tempo passa tão depressa e com tanta satisfação para o homem, que nem se percebe sua duração. Escutai: certa vez, quando eu era pároco em Bresse, tive que percorrer grandes distâncias para substituir quase todos os meus colegas que estavam doentes; nessas intermináveis caminhadas, rezava ao bom Senhor e – podeis crer! – o tempo não me parecia longo. 

Há pessoas que mergulham profundamente na oração, como peixes na água, porque estão inteiramente entregues a Deus. Não há divisões em seus corações. Ó como eu amo estas almas generosas! São Francisco de Assis e Santa Clara viam nosso Senhor e conversavam com ele do mesmo modo como nós conversamos uns com os outros. 

Nós, ao invés, quantas vezes entramos na Igreja sem saber o que iremos pedir. E, no entanto, sempre que vamos ter com alguém, sabemos perfeitamente o motivo por que vamos. Há até mesmo pessoas que parecem falar com Deus deste modo: 'Só tenho duas palavras para vos dizer e logo ficar livre de vós'. Muitas vezes penso nisto: quando vamos adorar a Deus, podemos alcançar tudo o que desejamos, se pedirmos com fé viva e coração puro'.

(Excertos da obra 'Catecismo de São João Maria Vianney', do original Catéchisme sur la prière: Esprit du Curé d’Ars, de A. Monnin,, 1899)