quarta-feira, 4 de setembro de 2019

AS DUAS FACES DA FÉ

A fé tem um só nome, mas duas maneiras de ser. Há um gênero de fé que se relaciona com os ensinamentos de Cristo e inclui a elevação de uma pessoa e sua concordância sobre determinado assunto; diz respeito ao interesse pessoal, conforme o Senhor: 'Quem ouve minhas palavras e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não incorre em condenação' (Jo 5,24) e 'Quem crê no Filho não será julgado, mas passa da morte para a vida' (Jo 3,18.24). 

Ó bondade imensa de Deus para com os homens! Com efeito, os justos foram agradáveis a Deus pelo trabalho de muitos anos. Mas aquilo que alcançaram, entregando-se corajosamente e por muitos anos ao serviço de Deus, isto mesmo em uma simples hora, Jesus te concede. Porque se creres que Jesus Cristo é Senhor e que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo e levado ao paraíso por aquele que nele introduziu o ladrão. E não hesites em acreditar ser isto possível, pois quem salvou o ladrão neste santo Gólgota, pela fé de uma só hora, pode também salvar-te a ti, se creres. 

O outro gênero é a fé que Cristo concede por graça especial. Pois a uns pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria, a outros a palavra da ciência, segundo o mesmo Espírito. A outros a fé, no mesmo Espírito, a outros o dom de curar (1Cor 12,8-9). Este carisma da fé dado pelo Espírito não se relaciona apenas com a palavra; torna ainda capaz de realizar coisas acima das forças humanas. Quem tiver uma fé assim, dirá a este monte: 'Vai daqui para ali; e irá' (Mt 17,20). Quando, pois, pela fé, alguém disser isto, crendo que acontecerá sem hesitar em seu coração, então é sinal de que recebeu esta graça. 

Dela se disse: 'Se tivésseis fé como um grão de mostarda (Mt 17,20). Como o grão de mostarda, tão pequenino, possui uma força de fogo e que, semeado em estreito pedaço de terra, produz grandes ramos que, depois de crescidos, podem dar sombra às aves do céu, assim também, num abrir e fechar de olhos, a fé realiza as maiores coisas na pessoa. Porque lhe dá uma ideia sobre Deus e o vê tanto quanto é capaz, inundada pela luz da fé. Percorre os confins da terra; e antes da consumação do mundo, já prevê o juízo e a entrega das recompensas prometidas

Guarda, então, a fé que de ti depende e que te leva a ele para que recebas de suas mãos também aquela que age muito além das forças humanas.

(Das Catequeses de São Cirilo de Jerusalém)

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'A sabedoria deste mundo está em esconder as maquinações do coração, velar o sentido das palavras, mostrar como o verdadeiro é falso, demonstrar ser errado aquilo que é verdadeiro. Pelo contrário, a sabedoria dos justos consiste em nada fingir por ostentação; declarar o sentido das palavras; amar as coisas verdadeiras como são; evitar as falsas; fazer o bem gratuitamente; preferir tolerar de bom grado o mal a fazê-lo; não procurar vingança contra a injúria; reputar lucro a afronta em bem da verdade. Zomba-se, porém, desta simplicidade dos justos porque para os prudentes deste mundo a virtude da pureza de coração é tida por loucura. Tudo quanto se faz com inocência, eles reputam tolice e aquilo que a verdade aprova nas ações, soa falso à sabedoria humana'.

(São Gregório Magno)

domingo, 1 de setembro de 2019

PÁGINAS COMENTADAS DOS EVANGELHOS DOS DOMINGOS

Filho, realiza teus trabalhos com mansidão e serás amado mais do que um homem generoso. Na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade e assim encontrarás graça diante do Senhor (Eclo 3, 19-20)

sábado, 31 de agosto de 2019

REZAI PELAS ALMAS DO PURGATÓRIO!


'A minha vocação religiosa e sacerdotal é uma graça imensa que atribuo à minha cotidiana oração pelas Almas do Purgatório que, ainda menino, eu aprendi com minha mãe' (Beato Angelo D'Acri)

'Quando quero obter alguma graça de Deus, recorro às almas do Purgatório e sinto que sou atendida por causa de sua intercessão' (Santa Catarina de Bolonha)

'Caminhando pela rua, no tempo livre, rezo sempre pelas Almas do Purgatório. Estas santas Almas, com sua intercessão, me salvaram de muitos perigos da alma e do corpo' (São Leonardo do Porto Maurício)

'Nunca pedi graças às almas purgantes sem ser atendida; pelo contrário, aquelas que não pude obter dos espíritos celestes as obtive pela intercessão das Almas do Purgatório' (Santa Catarina de Gênova)

'Todos os dias ouço a Santa Missa pelas almas do Purgatório: a este piedoso costume eu devo tantas graças que, continuamente, recebo para mim e para meus amigos' (São Conrado Ferrini)

AS RAÍZES DOS SETE PECADOS CAPITAIS

Como ensina São Gregório Magno e, depois dele, São Tomás, os pecados capitais de vanglória ou vaidade, preguiça, inveja, ira, gula e luxúria não são os mais graves de todos, pois maiores são os de heresia, apostasia, desesperação e de ódio a Deus; mas são os primeiros a que se inclina nosso coração, levando-nos a nos afastar de Deus e a cometer outras faltas ainda mais graves.

O homem não chega à perversão absoluta de uma vez, mas pouco a pouco. Examinemos primeiro, em si mesma, a raiz dos sete pecados capitais. Todos eles se originam no amor desordenado de si mesmo ou egoísmo, que nos impede de amar a Deus sobre todas as coisas e inclina a nos apartarmos dele. É evidente que pecamos, isto é, que nos desviamos de Deus e nos afastamos dele cada vez que tendemos para um bem criado, indo contra a vontade divina.

Isto é a consequência fatal de um amor desordenado de nós mesmos, que vem a ser a fonte de todo pecado. Por conseguinte, não só é necessário moderar esse amor desordenado ou egoísmo, mas também é preciso mortificá-lo, para que o amor ordenado ocupe seu lugar. Enquanto o pecador em estado de pecado mortal se ama a si sobre todas as coisas, praticamente antepondo-se a Deus, o justo ama a Deus mais que a si e deve, além disso, amar-se em Deus e por Deus; amar seu corpo de tal maneira que sirva à alma, não lhe obstando a vida superior; amar a alma convidando-a a participar eternamente da vida divina; amar sua inteligência e vontade, de modo que participem mais e mais da luz e do amor de Deus. Este é o sentido profundo da mortificação do egoísmo, do amor e da vontade próprios, opostos à vontade de Deus.

O amor desordenado de nós mesmos leva à morte, como diz o Senhor: 'O que ama (desordenadamente) a sua vida, perdê-la-á; e quem aborrece (ou mortifica) a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna' (Jo 12, 25). Desse desordenado amor, raiz de todos os pecados, nascem as três concupiscências de que fala São João (I Jo 2, 16) quando diz: 'Porque tudo o que há no mundo é concupiscência da carne, e concupiscência dos olhos, e soberba da vida; e isto não vem do Pai, mas do mundo'.

Observa Santo Tomás que os pecados carnais são mais vergonhosos que os espirituais porque nos rebaixam ao nível do animal; contudo, os espirituais, os únicos que se compartilham com o demônio, são mais graves, porque vão diretamente contra Deus e nos afastam dele. A concupiscência da carne é o desejo desordenado do que é ou parece útil à conservação do indivíduo ou da espécie e, deste amor sensual, provêm a gula e a luxúria. A concupiscência dos olhos é o desejo desordenado do que agrada a vista, o luxo, as riquezas, o dinheiro que nos proporciona os bens terrenos; dela nasce a avareza.

A soberba da vida é o desordenado amor da própria excelência e de tudo aquilo que pode ressaltá-la; quem se deixa levar pela soberba, erige-se a si em seu próprio deus, a exemplo de Lúcifer. Daí se vê a importância da humildade, que é virtude capital, tanto quanto o orgulho é fonte de todo pecado. São Gregório e Santo Tomás ensinam que a soberba é mais que um pecado capital: é a raiz da qual procedem mormente quatro pecados capitais: vaidade, preguiça espiritual, inveja e ira.

A vaidade é o amor desordenado de louvores e de honras; a preguiça espiritual se entristece pensando no trabalho requerido para santificar-se; a ira, quando não é uma indignação justificada e sim um pecado, é um movimento desordenado da alma que nos inclina a rechaçar violentamente o que nos desagrada, de onde se seguem as disputas, injúrias e vociferações. Estes pecados capitais, sobretudo a preguiça espiritual, a inveja e a ira engendram tristezas amargas que afligem a alma e são totalmente contrários à paz espiritual e ao contentamento, ambos frutos da caridade.

A prática generosa da mortificação dispõe a alma para outra purificação mais profunda que Deus mesmo realiza, com o fim de destruir completamente os germes de morte que ainda subsistam em nossa sensibilidade e faculdades superiores. Mas não basta considerar as raízes dos sete pecados capitais; é preciso analisar suas consequências. Como consequências do pecado, se entendem geralmente as más inclinações que os pecados deixam em nosso temperamento, mesmo depois de apagados pela absolvição. Entretanto, também pode entender-se como consequências dos pecados capitais os demais pecados que têm sua origem neles.

Os pecados capitais assim se chamam porque são um como princípio de muitos outros; temos, em primeiro, inclinação para eles e depois, por meio deles, para outras faltas às vezes mais graves. É dessa forma que a vanglória gera desobediência, jactância, hipocrisia, disputas, discórdia, afã de novidades, pertinácia. A preguiça espiritual conduz ao desgosto das coisas espirituais e do trabalho de santificação, em razão do esforço que exige, engendrando a malícia, o rancor ou a amargura contra o próximo, a pusilanimidade ante o dever, o desalento, a cegueira espiritual, o esquecimento dos preceitos, a busca do proibido.

Igualmente, a inveja ou desagrado voluntário do bem alheio, bem que temos como mal nosso, engendra o ódio, a maledicência, a calúnia, a alegria do mal alheio e a tristeza por seus triunfos. Por sua vez, a gula e a sensualidade geram outros vícios e podem conduzir à cegueira espiritual, ao endurecimento do coração, ao apego à vida presente até à perda da esperança da vida eterna, ao amor de si mesmo até ao ódio de Deus e à impenitência final.

Frequentemente, os pecados capitais são mortais. Podem existir de uma maneira muito vulgar e baixa, como em muitas almas em pecado mortal, ou bem podem também existir, nota São João da Cruz, em uma alma em estado de graça, como outros tantos desvios da vida espiritual. Por isso se fala às vezes da soberba espiritual, da gula espiritual, da sensualidade e da preguiça espiritual.

A soberba espiritual inclina, por exemplo, a fugir daqueles que nos dirigem reprimendas, ainda quando tenham autoridade para isso e no-las dirijam justamente; também pode levar-nos a guardar-lhes certo rancor em nosso coração. Quanto à gula espiritual, poderia fazer-nos desejar consolos sensíveis na piedade, até o ponto de buscarmos nela mais a nós mesmos que a Deus. É o orgulho espiritual a origem do falso misticismo.

Felizmente, diferentemente das virtudes, estes vícios não são conexos, ou seja, pode-se possuir uns sem os outros, e muitos são até contrários entre si: assim, não é possível ser avarento e pródigo ao mesmo tempo.  A enumeração de todos estes tristes frutos do exagerado amor de si deve levar-nos a um sério exame de consciência e nos ensina, ademais, que o terreno da mortificação é muito extenso, se quisermos viver uma vida cristã profunda.

O exame de consciência, longe de apartar-nos do pensamento de Deus, aponta-nos para ele. Deve-se inclusive pedir-lhe luz para enxergar um pouco a alma como o próprio Deus a vê, para enxergar o dia ou a semana que passaram como se os víssemos escritos no livro da vida, à maneira de como os veremos no dia do Juízo Final. Por isto temos de repassar cada noite, com humildade e contrição, as faltas cometidas de pensamento, palavra, ação e omissão.

No exame, deve-se evitar a minuciosa investigação das menores faltas, tomadas em sua materialidade, pois semelhante esforço poderia fazer-nos cair em escrúpulos e esquecer coisas mais importantes. Trata-se menos de uma completa enumeração das faltas veniais que da investigação e acusação sinceras do princípio de onde geralmente procedem. A alma não deve se deter em demasia na consideração de si mesma, deixando de olhar para Deus. Pelo contrário há de se perguntar, tendo os olhos fitos em Deus: como julgará Deus este dia ou semana que agora termina? Foi este dia meu ou de Deus? Busquei a Deus ou a mim mesmo?

Desse modo, sem turbação, a alma julgar-se-á desde um plano elevado, à luz dos preceitos divinos, tal como se julgará no último dia. Mas, como diz Santa Catarina de Sena, não separemos a consideração de nossas faltas do pensamento da infinita misericórdia. Olhemos nossa fragilidade e miséria ao lume da infinita bondade de Deus que nos alevanta. O exame, feito deste modo, longe de desalentar-nos, aumentará nossa confiança em Deus.

Por contraste, a visão de nossos pecados nos esclarece o valor da virtude. O que melhor nos revela o valor da justiça é a dor que a injustiça produz. A imagem da injustiça que cometemos e o pesar de tê-la cometido devem nos despertar a 'fome e sede de justiça'. Por contraste, é necessário: que a fealdade da sensualidade nos revele a beleza da pureza; que a desordem da ira e da inveja nos faça compreender o alto valor da mansidão e da caridade e que as aberrações da soberba nos ilustrem acerca da elevada sabedoria da humildade.

Peçamos a Deus inspirar-nos um santo aborrecimento do pecado, que nos separa da divina bondade, da qual tantos benefícios recebemos e esperamos para o porvir. Esse santo ódio do pecado não é, de certa forma, senão o outro lado do amor de Deus. É impossível amar profundamente a verdade sem detestar a mentira, amar de coração ao bem, e o soberano Bem que é Deus, sem que por sua vez detestemos o que nos separa de Deus.

A maneira de evitar a soberba é pensar com frequência nas humilhações do Salvador e pedir a Deus a virtude da humildade. Para reprimir a inveja, temos de rogar pelo próximo, desejando-lhe o mesmo bem que para nós desejamos. Aprendamos igualmente a reprimir os movimentos da ira, afastando-nos dos objetos que a provocam, trabalhando e falando com doçura. Esta mortificação é absolutamente indispensável.

Pensemos que temos que salvar nossa alma e que ao nosso redor há muito bem a se fazer, sobretudo na ordem espiritual. Não esqueçamos que devemos trabalhar pelo bem eterno dos demais e empregar, para consegui-lo, os meios que o Salvador nos ensinou: a morte progressiva do pecado, mediante o progresso nas virtudes e, principalmente, no amor de Deus.

(Excertos da obra 'As três idades da vida interior', do Pe. Garrigou-Lagrange)

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XXXVII)

TERCEIRA PARTE

JESUS CRISTO

Único caminho para o homem voltar para Deus

I

O MISTÉRIO DE JESUS CRISTO OU DA ENCARNAÇÃO TEM POR FIM CONDUZIR O HOMEM PARA DEUS

Que significa o mistério incompreensível da Encarnação?
Que a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Verbo e Filho único de Deus, unido desde toda a Eternidade ao Pai e ao Espírito Santo na indivisão de Deus, criador e governador soberano do universo, se encarnou e nasceu da Santíssima Virgem Maria, viveu a nossa vida mortal, evangelizou o povo judeu da Palestina ao qual havia sido pessoalmente enviado por seu Pai; foi desprezado, vendido e entregue ao governador romano Pôncio Pilatos, condenado à morte, crucificado e sepultado; desceu aos infernos, e ao terceiro dia ressuscitou dentre os mortos; subiu aos céus quarenta dias depois, e está assentado à direita de Deus Pai, donde governa a Igreja por Ele fundada, à qual enviou o seu Espírito, que é também o do Pai, santificando-a com os sacramentos da graça e dispondo-a para a segunda vinda no fim dos tempos; então julgará os vivos e os mortos, depois de os ressuscitar; e estabelecerá a separação definitiva entre os bons, que com Ele gozarão eternamente as delícias de seu Pai, e os maus, que feridos com a sua maldição, receberão digno castigo nos suplícios do fogo eterno.

II

CONVENIÊNCIA, NECESSIDADE E HARMONIA DA ENCARNAÇÃO

Harmoniza-se bem a Encarnação com o que sabemos a respeito de Deus?
Sim, Senhor; porque sabemos que Deus é o bem por essência; é próprio e característico do bem o comunicar-se e Deus não pode comunicar-se às criaturas de modo mais inefável e sublime que no mistério da Encarnação (1,1)*.

Foi necessária a Encarnação do Filho de Deus?
Considerada em si mesmo, não Senhor; porém, suposto que o gênero humano caiu do primitivo estado de justiça original; se se queria reabilitá-lo e, sobretudo, dar satisfação completa e abundante por aquele pecado, era absolutamente indispensável que um Deus- Homem tomasse a seu cargo a empresa (1, 2).

Logo, o motivo da Encarnação foi remir os homens do pecado?
Sim, Senhor (I, 2, 3).

Nestas condições, por que não se encarnou o Filho de Deus, desde o princípio da queda dos nossos primeiros pais?
Porque era necessário que o homem reconhecesse a sua desdita e a necessidade de um Deus Salvador e para dar tempo aos anúncios e conveniente preparação ou apresto de sua vinda (1, 5, 6).

Em que consiste essencialmente o mistério da Encarnação?
Na união substancial e indissolúvel das naturezas divina e humana em unidade de pessoa divina, a segunda pessoa da Santíssima Trindade, conservando cada natureza todas as suas propriedades (II, 1,6).

Por que se encarnou a pessoa do Filho com preferência à do Pai e à do Espírito Santo?
Porque, sendo o Filho, Verbo de Deus, e simbolizando o Verbo, por apropriação, a ciência e a sabedoria divinas, pelas quais todas as coisas foram feitas, a Ele parece que pertencia reparar os estragos que na natureza humana havia produzido o pecado; e, além disso, porque, procedendo do Pai, Este podia enviá-Lo e Ele por sua vez enviar o Espírito Santo (III, 8).

III

DO QUE JESUS CRISTO SE APROPRIOU OU TOMOU NO MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO

Que significam as expressões: o Filho de Deus se encarnou, o Verbo se fez carne, se fez homem, etc.?
Que assumiu e se apropriou da nossa natureza humana, concreta, individual, tal como se encontra nos descendentes do primeiro homem depois do pecado, para incorporá-la à pessoa divina (IV, 1-6).

Logo no Verbo Encarnado há indivíduo humano?
De modo algum; há natureza individual, não indivíduo ou pessoa humana, porque esta natureza está individualizada na Pessoa do Verbo, o Filho de Deus (IV, 3).

A natureza humana, que o Filho de Deus assumiu, consta dos dois elementos essenciais que integram a de todos os outros homens?
Sim, Senhor (V, 1-4).

Logo, o Filho de Deus Encarnado tem corpo, carne, ossos, membros, sentidos e órgãos, como nós?
Sim, Senhor (V, 1, 2).

Tem, como nós, alma dotada de inteligência e vontade com as demais faculdades? 
Sim, Senhor; tem alma exatamente igual a que descrevemos no estudo do homem (V, 3, 4).

O Filho de Deus incorporou simultaneamente todos os elementos que integram a natureza humana individual?
Sim, Senhor; porém com certa ordem (VI, 1-6).

Em que consiste esta ordem?
Em que tomou o corpo mediante a alma, e a alma e suas potências mediante o espírito e o corpo, alma e espírito mediante a natureza humana por eles formada (VI, 1-5).

A união da natureza humana com a pessoa do Verbo realizou-se direta e imediatamente, sem intervenção, nem interposição de alguma coisa criada?
Sim, Senhor; porque o fim da união é a comunicação do ser divino à natureza humana (VI, 6).

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)