segunda-feira, 9 de abril de 2018

A PROFECIA ESQUECIDA DE FÁTIMA

Com imprimatur de 23 de agosto de 2013, foi publicada a obra 'Um Caminho sob o Olhar de Maria', uma biografia da Irmã Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado, pelo Carmelo de Coimbra, contendo cartas e fotos inéditas da vidente, acontecimentos de sua vida adulta e, principalmente, muitos registros de seu diário inédito 'O meu Caminho'. De caráter impressionante, e uma possível chave para o entendimento do Terceiro Segredo de Fátima, é a narrativa de como a Irmã Lúcia superou o terror para finalmente escrever o texto do Terceiro Segredo.

'... no dia 3/1/1944, ajoelhei–me junto da cama (que, por vezes, me serve de mesa para escrever) e de novo fiz a experiência, sem nada conseguir; o que mais me impressionava era que, no mesmo momento, escrevia sem dificuldade qualquer outra coisa. Pedi então a Nossa Senhora que me fizesse conhecer qual era a Vontade de Deus. E dirigi-me para a capela, eram 4 horas da tarde, hora que costumava ir fazer a visita ao Santíssimo, por ser a hora que ordinariamente estava mais só e, não sei o porquê, mas gosto de me encontrar a sós com Jesus no Sacrário.

Aí ajoelhei-me no meio, junto ao degrau da mesa da Comunhão e pedi a Jesus que me fizesse conhecer qual era a Sua Vontade. Habituada como estava a crer que as ordens dos superiores são a expressão certa da Vontade de Deus, não podia crer que esta não o fosse. E perplexa, meio absorta, sob o peso duma nuvem escura que parecia pairar sobre mim, com o rosto entre as mãos, esperava, sem saber como, uma resposta. Senti então, uma mão amiga, carinhosa e maternal me tocar no ombro e, ao levantar o olhar, vi a querida Mãe do Céu.

'Não temas, quis Deus provar a tua obediência, fé e humildade, esteja em paz e escreve o que te mandam, não porém o que te é dado entender do seu significado. Depois de escrito, encerra-o num envelope, fecha-o e lacra-o e escreve por fora, que só pode ser aberto em 1960, pelo Sr. Cardeal Patriarca de Lisboa ou pelo Sr. Bispo de Leiria'. Senti o espírito inundado por um mistério de luz que é Deus e nEle vi e ouvi:

'A ponta da lança como chama que se desprende, toca o eixo da terra, ela estremece: montanhas, cidades, vilas e aldeias, com os seus moradores, são sepultados. O mar, os rios e as nuvens saem dos seus limites, transbordam, inundam e arrastam consigo num redemoinho, moradias e gente em número que não se pode contar: é a purificação do mundo pelo pecado em que se mergulha. O ódio, a ambição provocam a guerra destruidora! Depois senti no palpitar acelerado do coração e no meu espírito o eco duma voz suave que dizia: – No tempo, uma só Fé, um só Batismo, uma só Igreja, Santa, Católica, Apostólica. Na eternidade, o Céu!'

Esta palavra 'Céu' encheu a minha alma de paz e felicidade, de tal forma que quase sem me dar conta, fiquei repetindo por muito tempo: 'O Céu! O Céu!' Apenas passou a maior força do sobrenatural, fui escrever [o Terceiro Segredo] e fi-lo sem dificuldade, no dia 3 de janeiro de 1944, de joelhos apoiada sobre a cama que me serviu de mesa ['O Meu Caminho', p. 158 – 160].

domingo, 8 de abril de 2018

'MEU SENHOR E MEU DEUS!'

Páginas do Evangelho - Segundo Domingo da Páscoa



O segundo domingo do tempo pascal é consagrado como sendo o 'Domingo da Divina Misericórdia', com base no decreto promulgado pelo Papa João Paulo II na Páscoa do ano 2000. No Domingo da Divina Misericórdia daquele ano, o Santo Padre canonizou Santa Maria Faustina Kowalska, instrumento pelo qual Nosso Senhor Jesus Cristo fez conhecer aos homens Seu amor misericordioso: 'Causam-me prazer as almas que recorrem à Minha misericórdia. A estas almas concedo graças que excedem os seus pedidos. Não posso castigar, mesmo o maior dos pecadores, se ele recorre à Minha compaixão, mas justifico-o na Minha insondável e inescrutável misericórdia'.

No Evangelho deste domingo, Jesus já havia se revelado às santas mulheres, a Pedro e aos discípulos de Emaús. Agora, apresenta-Se diante os Apóstolos reunidos em local fechado e, uma vez 'estando fechadas as portas' (Jo 20, 19), manifesta, assim, a glória de Sua ressurreição aos discípulos amados. 'A paz esteja convosco' (Jo 20, 19) foi a saudação inicial do Mestre aos apóstolos mergulhados em tristeza e desamparo profundos. 'A paz esteja convosco' (Jo 20, 21) vai dizer ainda uma segunda vez e, em seguida, infunde sobre eles o dom do Espírito Santo para o perdão dos pecados: 'Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos' (Jo 20, 22-23), manifestação preceptora da infusão dos demais dons do Espírito Santo por ocasião de Pentecostes. A paz de Cristo e o Sacramento da Reconciliação são reflexos incomensuráveis do amor e da misericórdia de Deus. 

E eis que se manifesta, então, o apóstolo da incredulidade, Tomé, tomado pela obstinação à graça: 'Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei' (Jo 20, 25). E o Deus de Infinita Misericórdia se submete à presunção do apóstolo incrédulo ao lhe oferecer as chagas e o lado, numa segunda aparição oito dias depois, quando estão todos novamente reunidos, agora com a presença de Tomé, chamado Dídimo. 'Meu Senhor e meu Deus!' (Jo 20, 28) é a confissão extremada de fé do apóstolo arrependido, expressando, nesta curta expressão, todo o tesouro teológico das duas naturezas - humana e divina - imanentes na pessoa do Cristo.

'Bem-aventurados os que creram sem terem visto!' (Jo 20, 29) é a exclamação final de Jesus Ressuscitado pronunciada neste Evangelho. Benditos somos nós, que cremos sem termos vistos, que colocamos toda a nossa vida nas mãos do Pai, que nos consolamos no tesouro de graças da Santa Igreja. E bem aventurados somos nós que podemos chegar ao Cristo Ressuscitado com Maria, espelho da eternidade de Deus na consumação infinita da Misericórdia do Pai. 

sábado, 7 de abril de 2018

CATECISMO MAIOR DE PIO X (IV)

A torre de Babel

29. Os descendentes de Noé multiplicaram-se rapidamente e cresceram em tão grande número, que não podendo estar juntos, começaram a pensar em separar-se. Mas antes determinaram levantar uma torre tão alta que chegasse ao céu. O trabalho seguia em frente a passos largos, quando Deus, ofendido de tanto orgulho, baixou e confundiu as línguas dos soberbos construtores, que não entendendo uns aos outros, tiveram de se dispersar sem concluir o seu ambicioso projeto. A torre foi chamada de 'Babel', que significa confusão.

O povo de Deus

30. Os homens após o dilúvio não permaneceram fiéis a Deus por muito tempo, mas logo caíram nas maldades do passado, e foram tão longe a ponto de perderem o conhecimento do verdadeiro Deus e de entregar-se à idolatria, que consiste em reconhecer e adorar como divindade as coisas criadas.

31. Por isso, Deus, para preservar na terra a verdadeira religião, escolheu um povo e tomou a si governá-lo com especial providência, preservando-o da corrupção geral.

Princípio do Povo de Deus - Renova-se com Abraão o antigo pacto

32. Para pai e tronco do novo povo de Deus escolheu um homem da Caldeia, chamado Abraão, descendente dos antigos Patriarcas pela linhagem de Héber. O povo que dele teve origem chamou-se povo hebreu. Abraão conservou-se justo em meio do seu povo, entregue ao culto dos ídolos, e para que preservasse na justiça, Deus lhe ordenou que saísse de sua terra e se dirigisse para Canaã, também chamada Palestina, prometendo-lhe que lhe faria cabeça de um grande povo e que de sua descendência nasceria o Messias. Em confirmação à palavra de Deus, Abraão teve com sua esposa Sara, embora de idade avançada, um filho, que se chamou Isaac.

33. Para testar a fidelidade e obediência de seu servo, Deus ordenou-lhe que lhe sacrificasse este seu único filho, a quem tanto amava e em quem recaíam as divinas promessas. Mas Abraão, seguro dessas promessas, não hesitou na fé e, como está escrito na Sagrada Escritura, esperou contra toda a esperança; dispôs tudo conforme deveria ser o sacrifício e estava para executá-lo. Mas um anjo deteve sua mão, e como recompensa por sua fidelidade, Deus o abençoou e anunciou que daquele seu filho nasceria o Redentor do mundo.

34. Isaac, chegado aos quarenta anos, casou-se com Rebeca, sua prima, mãe depois a um mesmo tempo de dois filhos: Esaú e Jacó. Como primogênito, tocava a Esaú a bênção paternal; mas o Senhor dispôs que, pela solicitude de Rebeca, Isaac abençoasse Jacó, a quem anteriormente Esaú dera o direito de primogenitura por uma mísera compensação.

35. Jacó, então, para escapar da ira de Esaú, teve que fugir para Haran, a casa de seu tio Labão, que lhe deu por esposas suas duas filhas, Lia e Raquel, e depois de vinte anos regressou para sua casa muito rico e com numerosa família. De volta pelo caminho, antes que se reconciliasse com seu irmão, em uma visão que teve, foi mudado o nome de Jacó pelo de Israel.

36. Jacó foi pai de doze filhos, dos quais os dois últimos, José e Benjamin, eram filhos de Raquel. Entre os filhos de Jacó, o mais discreto e reto era José, queridíssimo, mais que todos, de seu pai. Por esse motivo seus irmãos o aborreciam, e este aborrecimento os levou a tramar contra ele, primeiro a morte, e depois, sua venda a certos mercadores ismaelitas, que o conduziram ao Egito e venderam, por sua vez, a Potifar, ministro de Faraó.

(Do Catecismo Maior de Pio X)

PRIMEIRO SÁBADO DE ABRIL


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

NÃO REZE O 'PAI NOSSO' ASSIM ...


Não diga 'Pai'
se você realmente não vive como um filho ou uma filha do Pai.

Não diga 'nosso'
se você é apenas seu 'eu' dentro do próprio egoísmo.

Não diga 'que estais nos Céus'
se você continua preso e acorrentado às coisas do mundo.

Não diga 'santificado seja o vosso Nome'
se você invoca Deus apenas com seus lábios, mas o seu coração não se santifica com Ele.

Não diga 'venha a nós o vosso Reino'
se você entende por reino as glórias e as utopias deste mundo.

Não diga 'seja feita a vossa vontade assim na terra como no Céu'
se você se desfalece diante dos primeiros sinais da dor e do sofrimento (a Cruz de Cristo tem a mesma medida no Céu e na terra).

Não diga 'O pão nosso de cada dia nos dai hoje'
se você ainda não entendeu que aquilo que lhe é desnecessário pertence ao próximo.

Não diga 'perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido'
se você não distribui com fartura os frutos do perdão e da caridade.

Não diga 'e não nos deixeis cair em tentação'
se você não consegue controlar a imaginação e evitar as ocasiões do pecado.

Não diga 'mas livrai-nos do mal'
se você não combate com toda a sua alma o mal que existe.

Não diga 'Amém'
se você não aceita sinceramente no seu coração e na sua alma as palavras do Pai Nosso.

(Autor desconhecido, tradução e adaptação pelo autor do blog) 

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


A Grande Revelação do Sagrado Coração de Jesus foi feita a Santa Margarida Maria Alacoque durante a oitava da festa de Corpus Christi de 1675...

         'Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para  honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares ... Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra'.


... e as doze Promessas:
  1. A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração.
  2. Eu darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias a seu estado.
  3. Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.
  4. Eu os consolarei em todas as suas aflições.
  5. Serei seu refúgio seguro na vida, e principalmente na hora da morte.
  6. Lançarei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.
  7. Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias.
  8. As almas tíbias se tornarão fervorosas pela prática dessa devoção.
  9. As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição.
  10. Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais empedernidos.
  11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes inscritos para sempre no meu Coração.
  12. A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

    ATO DE DESAGRAVO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 
    (rezai-o sempre, particularmente nas primeiras sextas-feiras de cada mês)

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é deles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados, diante do vosso altar, para vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o vosso dulcíssimo Coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só as nossas próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conspurcando as promessas do batismo, renegam o jugo suave da vossa santa Lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas particularmente das licenças dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra vós e vossos santos, dos insultos ao vosso vigário e a todo o vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino Amor, e enfim, dos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.

Oh, se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades! Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que vós oferecestes ao Eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre os nossos altares.

Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nossos próximos, impedir, por todos os meios, novas injúrias à vossa divina Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número possível de almas.

Recebei, ó Jesus de Infinito Amor, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes até a morte no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à Pátria bem-aventurada, onde vós, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

quinta-feira, 5 de abril de 2018

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (X)

SEGUNDA PARTE

O homem procede de Deus e para Deus deve voltar

 PRIMEIRA SEÇÃO

Noções gerais acerca do modo como o homem tem de voltar para Deus

I

SEMELHANÇA ENTRE AS OPERAÇÕES DE DEUS E AS DO HOMEM

Há alguma semelhança entre as operações divinas e as humanas?
Sim, Senhor.

Em que consiste?
Em que, assim como Deus é livre para dispor do Universo a seu agrado, também o é o homem no que dele depende (Prólogo)*.

II

ÚLTIMO FIM DOS ATOS HUMANOS - A FELICIDADE

Tem em vista o homem algum fim em todas as suas ações?
Quando obra como homem e não como máquina, por impulso ou reação física e instintiva, sim, Senhor (I, 1).

É o homem o único ser material que se propõe algum fim em suas ações?
Somente o homem é capaz de se propor uma finalidade.

Logo, os outros seres materiais obram ao acaso?
Não, Senhor; as suas operações estão ordenadas à consecução de um fim determinado, porém, não o intentam, nem o propõem, porque isto, em seu lugar, o faz Deus (I, 2).

Logo, todos se movem para realizar o fim que Deus se propôs?
Sim, Senhor.

Assinalou Deus algum fim às ações humanas?
Na verdade, Deus lhes assinalou um fim.

Que diferença há entre as ações do homem e as dos outros seres materiais?
Diferenciam-se em que o homem pode, sob o impulso e dependência de Deus, determinar o fim dos seus atos, ao passo que os outros seres propendem cegamente, por natureza ou instinto, para o fim que Deus lhes assinalou (Ibid).

Em que se baseia esta diferença?
Em que o homem possui inteligência e os demais seres, não (Ibid).

Propõe-se o homem, com seus atos, alcançar algum fim último e supremo?
Sim, Senhor; porque se não quisesse e não intentasse o seu fim último, nada poderia intentar nem querer (I, 4, 5).

Subordina ao dito fim todas as suas ações?
Ordena-as a todas para a consecução do fim último ou de modo consciente e explícito, ou implicitamente em virtude de certa espécie de instinto racional (I, 6).

Qual é este objeto tão desejado?
A felicidade (I, 7).

Logo, o homem quer necessariamente ser feliz?
Sim, Senhor.

Não haverá algum que queira ser desgraçado?
É impossível que o haja (V, 8).

Pode equivocar-se ao escolher o objeto da sua felicidade?
Sim, Senhor; porque, estando em suas mãos escolher entre muitos bens, pode confundir os verdadeiros com os aparentes (I, 7).

Que sucede se se engana?
Que em lugar de encontrar a felicidade no fim da jornada, só encontra a mais desconsoladora e irreparável desgraça.

Logo é de excepcional importância o acerto na opção?
É importantíssimo.

III

OBJETO DA FELICIDADE

Em que consiste objetivamente a felicidade do homem?
Num bem superior a ele e o único capaz de acumulá-lo de perfeições (II, 1-8).

Este bem pode consistir nas riquezas?
Não, Senhor; porque as riquezas são coisa inferior ao homem, e incapazes, por si mesmas, de aperfeiçoá-lo (II, 1).

São as honras?
Também não; porque as honras não dão perfeição, já a supõem, sob pena de serem postiças, e se são postiças nada são (II, 2).

E a glória e o renome?
Também não; já porque supõem méritos, já por serem, neste mundo, coisa mui frágil e volúvel (II, 4).

Consiste no poder?
Não, Senhor; porque o poder não se dá para o bem próprio, senão para o dos outros e está à mercê do capricho e do espírito de insubordinação (II, 4).

Consiste na saúde e na beleza corporal?
Também não; porque a saúde e a beleza são bens inconsistentes e passageiros e, além de tudo, só dão perfeição ao exterior e não ao interior do homem (II, 5).

Serão os prazeres dos sentidos?
Não, Senhor; porque são grosseiros demais, comparados com os gozos delicados da alma (II, 6).

Logo, o objeto da felicidade consiste nalgum bem que traz perfeição diretamente ao espírito?
Sim, Senhor (II, 7).

Qual é este bem?
Deus, Sumo Bem, Soberano e Infinito (II, 8).

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular).