quinta-feira, 6 de julho de 2017

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

A pureza, a ausência das paixões desregradas e o afastamento de todo mal é a divindade. Se, portanto, estas coisas se encontrarem em ti, Deus estará totalmente em ti. Quando teu espírito estiver puro de todo vício, liberto de todo mau desejo e longe de toda nódoa, serás feliz pela agudeza e luminosidade do teu olhar, porque aquilo que os impuros não podem ver, tu, limpo, o perceberás. Retirada dos olhos da alma a escuridão da matéria, pela serenidade pura, contemplarás claramente a beatificante visão. E esta, o que é? Santidade, pureza, simplicidade, todo esplendor da luminosa natureza divina, pelos quais Deus se nos deixa ver.
(São Gregório de Nissa)

quarta-feira, 5 de julho de 2017

AMOR E SUBMISSÃO

Através de todos os séculos, dos passados e dos futuros, sempre se encontraram e sempre se encontrarão homens dispostos a exclamar, perante os Pilatos deste Mundo: 'Não queremos que este Homem reine sobre nós!' Por detrás desta rebelião contra Deus, há duas falsas idéias: a primeira é a de que a inteligência inventa ou cria a verdade, quando, afinal, simplesmente a descobre ou encontra e a segunda ideia falsa é a seguinte: a de que da submissão a alguém decorre a servidão para com esse alguém. Esta ideia implica a negação de todas as hierarquias, tanto em a Natureza como na Criação, tendendo a colocar todos os homens num mesmo plano de igualdade, considerando-se cada um a si próprio como um Deus.

Essa filosofia do orgulho tem para si que, ser independente, implica total insubmissão seja ao que for. A verdade, porém, é que a independência é condicionada pela dependência. Obedecer não significa executar as ordens de um sargento instrutor. A obediência ressalta, principalmente, do amor de uma ordem recebida e do amor daquele que a deu. O mérito da obediência está menos no ato em si mesmo do que, acima de tudo, no amor que o motiva; a submissão, a dedicação, e o serviço que a obediência implica, não vêm da servidão, mas, pelo contrário, dos efeitos que derivam do amor e com ele fazem íntima unidade. Obediência só é servilismo para aqueles que não compreenderam a espontaneidade do amor.

Para compreendermos a obediência, devemos considerá-la entre dois grandes fatos. O primeiro deu-se no momento em que uma mulher fez ato de submissão à vontade de Deus: 'Faça-se em mim a Tua palavra'. O outro fato, quando uma mulher pedia ao homem que obedecesse a Deus: 'Façam tudo o que Ele vos disser'. Entre estas duas expressões, vemos: '... O Menino crescia e se fortificava cheio de sabedoria; e a graça de Deus era com Ele... E desceu com eles, e foi a Nazaré, e era-lhes submisso' (Lc 2, 51). Para reparar o orgulho dos homens, humilhou-se Nosso Senhor, obedecendo aos seus pais: 'E a eles era submetido'.

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Esta humildade, abstração feita da Sua Divindade, era exatamente o contrário do que seria lícito esperar de um homem destinado a vir a ser um reformador da humanidade. E, no entanto, que faz este carpinteiro, durante esses trinta anos de obscuridade? Fabrica o caixão do mundo pagão. Fabrica um jugo para o mundo futuro e faz uma Cruz sobre a qual será adorado. Dá a suprema lição dessa virtude, que é fundamento de todo o Cristianismo: a humildade, a submissão e a vida discreta em que nos preparamos para o cumprimento dos nossos deveres.

Nosso Senhor passou três horas na Cruz para nos resgatar; passou três anos a ensinar-nos e trinta anos a obedecer, a fim de que o Mundo, rebelde, orgulhoso e satanicamente independente, aprenda o valor da obediência. A vida da família foi instituída por Deus, para, na sua vida do lar, formar o caráter do homem, porque é da infância que nascerá a maturidade do homem – para o bem ou para o mal. Os únicos atos da infância de Cristo que nos são conhecidos são atos de submissão a Deus, Seu Pai Celeste e, também, a Maria e a José. E desta maneira nos é demonstrado o dever peculiar à infância e à juventude: o da obediência aos pais que representam Deus.

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Jesus se manteve no seu lugar, na sua oficina de carpinteiro, obedecendo aos seus pais, aceitando as restrições da sua posição, considerando os cuidados do dia, com uma visão toda espiritual, alimentando-se e impregnando-se das luzes da sua fé no Padre Eterno, mantendo a sua alma com toda a paciência, apesar do desejo ardente que O impelia para a salvação dos homens. Nele não houve sombra de impaciência ou de precipitação que pudessem prejudicar o desenvolvimento normal de uma força e poder normalmente constituídos.

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O que torna particularmente impressionante a obediência desta Criança é ser ela o Filho de Deus. Ela, o General da Humanidade, faz-se soldado de linha. O Rei desce do seu trono e desempenha o papel do último dos seus súbditos. Se Ele, o Filho de Deus, se submete à sua mãe e ao seu pai adotivo, para reparação dos pecados de orgulho, como é que os filhos hão de escapar a essa doce necessidade de submissão para aqueles que são, para eles, de pleno direito, os seus superiores?

Durante todo esse tempo de obediência voluntária, Ele nos mostrou que o Quarto Mandamento constitui a base da vida familiar. Porque, afinal, se olharmos as coisas do alto, como é que o pecado original da desobediência contra Deus poderia ser aniquilado, a não ser pela obediência do próprio Deus (como homem) que fora desafiado?

A primeira revolta do Universo de paz criado por Deus foi o trovão de Lúcifer: 'Não obedecerei!' O Paraíso Terrestre deu ressonância a esse trovão, que se perpetuou através das idades, infiltrando-se em todas as famílias onde pai, mãe e filho se encontram reunidos. Submetendo-se a Maria e José, a Divina Criança proclama que a autoridade na família e na vida pública é um poder que provém do próprio Deus.

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Ele garante, pela sua obediência quando criança, esta verdade importantíssima: a de que os pais só exercem a sua autoridade em nome de Deus. Os pais têm, pois, um sagrado direito sobre seus filhos, porque a Deus devem esse privilégio: 'Toda a alma esteja sujeita aos poderes superiores, porque não há poder que não venha de Deus; e os (poderes) que existem foram instituídos por Deus' (Rom 13, 1). Se os pais abandonarem a sua autoridade legítima e a responsabilidade natural que têm de seus filhos, o Estado aproveitará da fraqueza deles. Quando a obediência consciente deixa de existir na família, será suplantada pela obediência forçada ao Estado. É pela obediência no lar que aprendemos a obedecer publicamente, porque, em ambos os casos, a consciência submete-se a um representante da autoridade de Deus. Se é certo que o Mundo perdeu o respeito da autoridade, isso se deve ao fato de o ter perdido, primeiro, na família. 

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Em Nazaré, o Infinito curvou-se sobre a Terra e – para obedecer – se fez Menino.

(Excertos da obra 'O primeiro amor do mundo' do Arcebispo Fulton Sheen)

terça-feira, 4 de julho de 2017

OS 3 PECADOS CAPITAIS CONTRA OS ANJOS DA GUARDA (III)


III - Os pecados do escândalo

Muito se fala de escândalo, mas poucos sabem o que se entende por essa palavra. Dar escândalo é, na definição da ascese católica, nada mais que oferecer a outros ocasião de pecado. 'Isto', diz São Tomás, 'de dois modos se pode fazer: ou diretamente, ou indiretamente' (2. 2. q. XLIII). O escândalo é direto quando o escandaloso tem em vista a ruína espiritual do próximo. É indireto quando não se tem em mente tão perversa intenção, mas apenas se prevê que ações ou palavras são ao próximo, ocasião de ruína espiritual, e não obstante se faz tal ação ou se dizem tais palavras, sem que para isto haja uma justa razão.

Em ambos os casos, entretanto, o resultado ou fim, intencionado ou não, do ato escandaloso, é a ruína do próximo. E assim é o escândalo o maior dos males que a ele podemos fazer. E pior é matar-lhe a alma e tirar-lhe a vida sobrenatural, que lhe custou o Sangue de Cristo, do que privá-lo da vida natural, que lhe custou simplesmente um ato de sua onipotente vontade. O escandaloso é um assassino de almas e um esbanjador do Sangue de Cristo. O escandaloso deita a perder tudo o que Cristo sofreu de agonias e dores, de tormentos e injúrias, de injustiças e escárnios.

Se se pudessem ver as almas mortas, a muitas delas veríamos cobertas das feridas deixadas pelo punhal assassino do escandaloso. Ora, o que não veem os nossos olhos, por não perceberem o que é espiritual, veem-no os Anjos de Deus, que são da mesma natureza de nossas almas. O seu horror, então, pelos que escandalizam os inocentes, é bem semelhante ao de Jesus Cristo, que pronunciou severíssimas palavras a esse respeito. Perguntaram-lhe certa feita os seus discípulos quem era o maior no reino dos céus. Chamou então, Jesus, a uma criancinha, colocou-a em meio deles e lhes disse que o maior no reino dos céus seria o que fizesse como aquela criança. E ajuntou depois: 'aquele que escandalizar a uma dessas criancinhas, seria bem que fosse lançado no fundo do mar com uma pedra de moinho atada ao pescoço'.

A enérgica expressão de Nosso Senhor Jesus Cristo traduz bem todo o horror que as almas santas sentem pelo escandaloso. Ora, os Anjos, são as criaturas mais santas que Deus já criou, excetuada Maria Santíssima. Quanto, pois, o pecado de escândalo os ofenda, bem se pode compreender. Mas, além disso, ainda outros motivos mais particulares há pelos quais o escândalo seja ofensivo aos Anjos. E estes motivos são os meios de que usa o escandaloso, o chefe a cujos serviços se põe e o fim que tem em vista. 

Um, o Anjo, quer a salvação do homem; outro (o escandaloso), a sua ruína e condenação. Um, para esse efeito, sugere castos pensamentos, excita santos afetos, estimula a fugir do pecado e a praticar o bem, e o outro procura infundir nas almas perversas ideias, desperta as paixões mais vergonhosas nos corações, tudo faz para desencaminhar os bons. Por fim, um é mensageiro de Deus, seu ministro e embaixador, outro sequaz do príncipe das trevas, seu agente e representante.

Portanto, foge, aborrece, abomina com todas as tuas forças ao pecado de escândalo, sumamente injurioso a Cristo, e ofensivo ao santo Anjo da Guarda. E guarda-te sobretudo de escandalizar os inocentes, pois, diz Cristo Nosso Redentor: 'os seus Anjos, no céu, sempre veem a face de meu Pai, que está nos céus' - Angeli eorum, in coelis, semper vident faciem Patris mei, qui in coelis est.

(Excertos da obra 'Os Santos Anjos da Guarda', do Pe. Augusto Ferretti)

segunda-feira, 3 de julho de 2017

OS 3 PECADOS CAPITAIS CONTRA OS ANJOS DA GUARDA (II)


II - Os pecados contrários à virtude angélica 

Tais pecados, como ficou dito, sumamente repugnam à puríssima natureza angélica. Consequentemente, não podem eles deixar de abominá-los sumamente. Suponhamos um preceptor, de ânimo singularmente sereno, de atitudes constantemente pacíficas. É fora de dúvida, que tal preceptor, se empenhará, sobretudo, em tornar o seu discípulo igualmente paciente, calmo, pacífico. E tanto mais o amará quanto mais ele se conformar com o seu exemplo e ensino. E a razão disso, é clara: amamos aqueles que têm traços de caráter semelhantes aos nossos, e sentimos aversão pelos que nos são notavelmente dissemelhantes.

Os Anjos, portanto, nada devem aborrecer mais do que os pecados contrários à virtude da pureza. E isto pela razão explicada. A sua natureza puríssima os leva a amar os que lhe são semelhantes, e a aborrecer tudo aquilo que lhe é oposto. Há, portanto, uma grave ofensa ao celeste Anjo que nos acompanha, em todo ato dessa natureza. E quem deseja viver de sua fé, isto é, admitir, praticamente, a constante presença desse bem-aventurado espírito, deve por isso mesmo evitar tudo aquilo que lhe pode afetar a pureza dos costumes.

São Basílio usa de uma comparação que nos torna assaz sensível o que asseveramos. 'Assim como a fumaça, diz ele, afugenta as abelhas, e assim como um mau odor põe em debandada as cândidas pombinhas, assim esse lastimável e nauseante pecado repele o Santo Anjo de Deus, guarda da nossa vida'. É certo que não nos abandona o Santo Anjo da Guarda, depois que o ofendemos, como também não deixa de nos estar presente o próprio Deus, no próprio ato pecaminoso. 

Deus continua presente, como ser Onipotente, mas não daquela forma peculiar, vivificando-nos da sua mesma vida divina. O Anjo da Guarda também continua presente. Mas é claro que os laços de caridade que o prendem a nós se tornam mais fracos. Por outra parte, sendo piores as nossas disposições, menos ele nos poderá ajudar espiritualmente. No entanto, ao amor sucede a compaixão. E o bom Anjo de Deus, então, se empenhará em nos reconduzir ao bom caminho, por meio de suas inspirações e moções interiores.

Jovem que me lês, faze por conservar-te digno do amor do teu Anjo da Guarda, fazendo-te semelhante a ele pela pureza dos teus costumes. Se, no entretanto, suceder que venhas a tornar-te indigno até dos seus olhares, presta ouvido às suas inspirações, e volta, pressuroso, aos braços do amável e celeste companheiro do teu peregrinar. E se neste momento em que me lês, reconheces que não és digno do amor do santo Anjo, dá-lhe, porventura pela primeira vez, o prazer de ver-te de novo puro como ele, e digno como ele, do amor de Deus!

Oh, que feliz a vida do moço puro, amável aos Anjos, admirado e respeitado dos homens! 'O homem puro', diz São Bernardo, 'faz-se de homem, Anjo. O Anjo, e o homem que leva a vida ilibada', diz ele, 'são, decerto, diferentes; mas não pela virtude, e sim pela felicidade ou excelência da natureza - differunt sed felicitate naturae, non virtute (Epist. XXIV). Podemos, pois, por virtude, ser o que os Anjos são por natureza. Sejamo-lo, já que de nós depende. Sejamo-lo, como verdadeiros seguidores de Jesus, Cordeiro sem mancha, como perfeitos filhos de Maria, Mãe puríssima, Rainha das Virgens e concebida sem pecado.

(Excertos da obra 'Os Santos Anjos da Guarda', do Pe. Augusto Ferretti)

domingo, 2 de julho de 2017

AS COLUNAS DA IGREJA

Páginas do Evangelho - Solenidade de São Pedro e São Paulo

Neste domingo, a liturgia católica celebra a Solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, primícias da fé, fundamentos da Igreja. De toda a fundamentação bíblica do primado de Pedro, é em Mt 16, 18-19 que aflora, mais cristalina do que nunca, a água viva que brota e transborda das Palavras Divinas as primícias do papado e da Igreja, nascidos juntos com São Pedro: 'Por isso eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la' (Mt 16, 18). Esta será a Igreja Militante, a Igreja Temporal, A Igreja da terra, obra temporária a caminho da Igreja Eterna do Céu. Mas ligada a Pedro e aos sucessores de Pedro, sumos pontífices herdeiros da glória, poder e realeza de Cristo.

(Cristo entrega as chaves a São Pedro - Basílica de Paray-le-Monial, França)

E Jesus vai declarar, em seguida e sem condicionantes, o poder universal e sobrenatural da Santa Igreja Católica Apostólica e Romana: 'Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra será desligado nos céus' (Mt 16, 19). Ligado ou desligado. Poder absoluto, domínio universal, primado da verdade, Cátedra de Pedro. Na terra árida de algum ermo qualquer da 'Cesareia de Felipe', erigiu-se naquele dia, pela Vontade Divina, nas sementeiras da humanidade pecadora, a Santa Igreja, a Videira Eterna.

Com São Paulo, a Igreja que nasce, nasce com um gigante do apostolado e se afirma como escola de salvação universal. Eis aí a síntese do espírito cristão levado à plenitude da graça: Paulo se fez 'outro Cristo' em Roma, na Grécia, entre os gentios do mundo. No apostolado cristão de São Paulo, está o apostolado cristão de todos os tempos; a síntese da cristandade nasceu, cresceu e se moldou nos acordes pautados em suas epístolas singulares proferidas aos Tessalonicenses, em Éfeso ou em Corinto. Síntese de fé, que será expressa pelas próprias palavras de São Paulo: 'Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé' (2Tm 4,7).

(São Paulo Apóstolo - Basílica de Alba, Itália)

São Pedro foi o patriarca dos bispos de Roma, São Paulo foi o patriarca do apostolado cristão. Homens de fé e coragem extremadas, foram as colunas da Igreja. São Pedro morreu na cruz, São Paulo morreu por decapitação pela espada. Mártires, percorreram ambos os mesmos passos da Paixão do Senhor. E se ergueram juntos na Glória de Deus pela Ressurreição de Cristo.

sábado, 1 de julho de 2017

OS 3 PECADOS CAPITAIS CONTRA OS ANJOS DA GUARDA (I)


Não há pecado, evidentemente, que não ofenda os Anjos da nossa Guarda. Não há pecado, portanto, que por nós não deva ser evitado por respeito à presença do Santo Anjo de Deus. Há, entretanto, alguns pecados que os ofendem mais gravemente. É mister aborrecê-los profundamente e evitá-los com todo o cuidado para não desgostar ao amável protetor nosso e zeloso guarda de nossa alma.

É fácil compreender que pecados sejam estes, se consideramos os Santos Anjos de Deus sob os três aspectos seguintes: com respeito a Deus, seu Criador e Senhor, com respeito a eles mesmos, e com respeito a nós, os homens. Com respeito a Deus, são ministros zelosíssimos seus: espíritos administradores. Todo pecado, portanto, que ofende diretamente a majestade de Deus, é-lhes igualmente profundamente injurioso e profundamente os ofende.

Com respeito a si mesmos são puríssimos espíritos. Quer isto dizer que, não sendo, como os homens, compostos de carne e espírito, são de todo isentos dos atos carnais e sensuais inerentes à natureza humana. Todo ato sensual, portanto, não permitido por Deus Nosso Senhor, todo ato carnal não dirigido pela razão, de todo repugna a sua puríssima e toda espiritual natureza. Enfim, com respeito aos homens, são os seus guardas e nada têm mais a peito do que a sua salvação: missi propter eos qui hereditatem capient salutis. Ora, há um pecado que se opõe a essa missão dos Anjos: é o pecado de escândalo. O escandaloso leva as almas à perdição como os Anjos da Guarda à salvação. Eis, portanto, a terceira espécie de pecado que os Anjos grandemente abominam. 

I - Injúrias que diretamente ofendem a majestade de Deus 

De dois modos é possível injuriar a Majestade de Deus. Primeiramente, de modo indireto e, como que por consequência, violando deliberadamente os seus preceitos ou proibições, tal como acontece no homicídio, na detração, no ódio para com o próximo. Em segundo lugar, diretamente, e per se, tendo por alvo da injúria, imediatamente, a mesma divindade sacrossanta, ou ainda os atributos infinitos, tal como se dá na blasfêmia ou quando com insensata ousadia se maldiz a sapientíssima Providência, quando se zomba de sua santa religião, se rebela contra os seus santos dogmas. São estas últimas, injúrias de lesa Majestade divina, que são sumamente ofensivas aos Anjos, zelosos ministros seus.

Qual é, com efeito, o ofício dos Santos Anjos com respeito a Deus? Como indica o mesmo vocábulo grego 'angelos', são eles mensageiros e ministros de Deus. Ora bem, que ministro verdadeiramente fiel ao seu senhor e solícito de seus interesses, não vibra de indignação contra o acinte de quem o insulta em sua mesma presença, não toma como suas as injúrias feitas ao seu Senhor, não se afoita cheio de zelo à pressão do ofensor e à vingança do ofendido? Assim fazem os fiéis servidores dos senhores da terra. Como não farão, então esses supremos ministros de Deus altíssimo?

É por vezes mentirosa, instável em todo o caso, e interessada, a fidelidade do homem ao homem; mas a fidelidade dos Anjos ao seu Criador é leal, sincera, constante, acompanhada de zelo ardoroso. Por outra parte, vai infinitamente menos do servo ao senhor, por grande que seja, desta terra, do que do Anjo a Deus, ser infinito que lhe deu o ser e tudo o que ele tem. É pois, para o Anjo, a Majestade divina, algo de tremendo, altíssimo e adorabilíssimo. Daí todo o zelo, desses seus ministros e servidores. 

Só na misericórdia divina, com que se conformam os Anjos, se pode achar a razão pela qual não vingam eles incontinente e implacavelmente as ofensas feitas à divina Majestade. Deus, que é Pai de Misericórdia, ainda oferece a esses pecadores o auxílio de sua graça; também os Anjos continuam prestando-lhes assistência, e como médicos compassivos todos se empenham para que os infelizes se reaviem no caminho do céu. Mas quem poderá dizer a indignação suma dos bem-aventurados espíritos, obrigados a ser testemunhos de tão horríveis excessos?

Sanctum et terribile nomen ejus: é santo e terrível, o nome do Senhor, diz o Salmista. Respeita-o pois, para que não venhas a ofender a sua divina Majestade e para que não causes ao bom Anjo da Guarda o desgosto de assistir a tão horrenda injúria do seu Criador e Senhor. 'Nem digas diante do Anjo: não há providência, para que não aconteça que irado o Senhor com tal falar, não faça perecer todas as obras de tuas mãos: neque dicas coram Angelo non est providentia, ne forte iratus Deus contra sermones tuos dissipet cuncta opera manuum tuarum (Ecl  5, 5). Guarda-te, pois, de tal falar, como te adverte o Espírito Santo. Não digas que o vosso Pai celeste não é bom ou não é justo. Não faças da sua santa religião objeto dos teus gracejos e muito menos das tuas zombarias. Submete aos seus santos dogmas, que Deus se dignou revelar-lhe, o teu intelecto, certo de que Deus te guia na senda da verdade, sem o mínimo perigo de transviar-te.

Enfim, tudo o que se refere a Deus de um modo especial, é digno de veneração e respeito por tua parte: objetos, lugares, pessoas consagradas ao seu divino culto ou ao seu sagrado serviço. Guarda-te, portanto, de toda irreverência na igreja e de todo desrespeito para com os ministros do santuário ou as sagradas cerimônias que aí se realizam. Os Anjos, como diz São Teodoro Studita, são os guardas que velam pelos altares e pelos templos de Deus: per angelos altaria Dei custodiuntur et fidelium templa servantur

Não é, por outra parte, por respeito aos Anjos, que São Paulo preceitua que as mulheres devem conservar-se com o véu sobre a cabeça na igreja? Com que olhos não verão, pois, esses Anjos que aí assistem, o infeliz que faz da casa de Deus não só teatro para seu divertimento, mas lugar de licença e escândalo? Há, entretanto, um momento em que todo respeito de tua parte é pouco no templo de Deus: é o momento da Santa Missa. Lembra-te que a ela assistem multidões de espíritos celestiais profundamente reverentes, e como que transidos de santo temor ante o altíssimo mistério que ali se cumpre. 

E como remate de todas estas considerações, que deves tomar como inspiradas pelo teu Anjo da Guarda, e como que saídas de sua boca, guarda em teu coração estas palavras de São Gregório Nazianzeno, que te farão venerar e respeitar os sacerdotes de Deus, e quiçá te movam a seguir-lhes a carreira: 'os mesmos Anjos', diz ele, 'puros adoradores de Deus puríssimo, é provável que venerem o sacerdócio como coisa bem digna do seu culto': sacerdotium ipsi quoque Angeli, puri purissimi Dei cultores, tanquam ipsorum cultui minime impar, fortasse veneratione prosequuntur. E se queres uma palavra de autoridade divina que eleve o sacerdote a uma como identificação com o próprio Cristo, guarda esta breve e profunda palavra dita aos apóstolos e seus sucessores pelo divino Mestre: 'quem vos ouve, é a mim que ouve; e quem vos despreza, é a mim próprio que despreza': qui vos audit, me audit, qui vos spernit, me spernit.

(Excertos da obra 'Os Santos Anjos da Guarda', do Pe. Augusto Ferretti)

PRIMEIRO SÁBADO DE JULHO


Mensagem de Nossa Senhora à Irmã Lúcia, vidente de Fátima: 
                                                                                                                           (Pontevedra / Espanha)

‘Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todo o momento Me cravam, com blasfêmias e ingratidões. Tu, ao menos, vê de Me consolar e diz que a todos aqueles que durante cinco meses seguidos, no primeiro sábado, se confessarem*, recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia, meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação.’
* Com base em aparições posteriores, esclareceu-se que a confissão poderia não se realizar no sábado propriamente dito, mas antes, desde que feita com a intenção explícita (interiormente) de se fazê-la para fins de reparação às blasfêmias cometidas contra o Imaculado Coração de Maria no primeiro sábado seguinte.