quinta-feira, 29 de maio de 2014

CARTAS A MEU PAI (III)

Pai:

S. e eu gastamos um bom tempo discutindo a seguinte questão: como um único pecado mortal poderia condenar um homem à morte eterna? Segundo S., 'isso não faz sentido' porque seria 'muito pouco' para uma alma, que viveu na terra 60 ou 70 anos ser, assim, condenada ao inferno. O argumento destas pessoas que não creem (e, fatalmente, de uma boa parcela de muitos que se dizem 'católicos') é regido pela mais pura lógica humana: o mal se paga com o mal, o bem independe da crença de cada um, o valor do pecado contra Deus é relativo. Quando a razão subsiste na concepção de que Criador e criaturas são meros personagens da dimensão humana, os homens se comportam como deuses e Deus passa a ser uma quimera.

Todo pecado tem infinita gravidade porque cometido contra Deus, Ser Infinito. Assim, qualquer reparação de qualquer pecado implica uma resposta também infinita que só foi possível por Cristo e em Cristo, o Filho do Deus Vivo. É a nossa reparação, ridícula e irrisória que, compartilhada aos méritos infinitos da Vida, Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, torna infinita a reparação de qualquer um e de todos os nossos pecados diante de Deus. Num pecado venial, fomos tolhidos pelas vicissitudes humanas mas não violamos esta 'partilha' de méritos com Cristo. Num pecado mortal, não apenas a violamos como nos separando definitivamente dela e, neste caso, toda reparação, por maior que possa ser em termos dos valores humanos, é apenas a manifestação ridícula e irrisória de almas destituídas da graça de Deus.   

S. insistiu sobre o valor da caridade e o zelo extremo dado ao próximo por pessoas de outras religiões, pelos 'católicos que são mais do que os católicos'. Que valor humano extraordinário! Quantas ações que constroem o bem e plantam as sementes do amor entre os homens! Riqueza humana que será paga pelo pai, até o último centavo, em riqueza humana, feita de bens materiais ou de alegrias e conquistas nesta vida, na plenitude de dons e de talentos repartidos entre os homens. Tudo isso, no entanto, não vale nada, absolutamente nada, nas eternas moradas; sem a Verdade de Cristo, todos os caminhos são maus; é como um rio de águas límpidas e cristalinas que corre para um abismo de fogo. Nas margens, vicejam oásis e jardins; no destino final, apenas a imensidão do nada.   

T. leu a 'História de uma Alma' e o livro a tocou profundamente, me pediu também para escrever alguma coisa sobre o valor do sofrimento na vida do Padre Pio, o que fiz com muito gosto. Dois santos trabalhando juntos são muito mais eficazes que a intercessão de um para a santificação de sua alma. T. começou a construir seu lugarzinho no Céu e vai ser instrumento de Deus para a salvação de muitos.

Meu Anjo da Guarda insiste comigo que devo domar a minha 'rebeldia'. Que eu preciso ter a tolerância de ouvir tudo que me falam, com santa paciência, e, nem sempre, responder simplesmente o que sei ou o que apenas acho. Lembra-me sempre que uma palavra vã estará perdida para sempre; uma palavra certa pode salvar uma alma. Prometo que estou me esforçando  em me santificar também nas palavras. Que Nossa Senhora de Fátima me guarde e seja meu modelo neste propósito. Amém.

E isso é tudo por hoje, na vida de um filho vosso no meio do mundo. Boa noite, pai. Com a vossa bênção, R.

('Cartas a Meu Pai' são textos de minha autoria e pretendem ser uma coletânea de crônicas que retratam a realidade cotidiana da vida humana entranhada com valores espirituais que, desapercebidos pelas pessoas comuns, são de inteira percepção pelo personagem R. As pessoas e os lugares, livremente designados apenas pelas suas iniciais, são absolutamente fictícios).

quarta-feira, 28 de maio de 2014

ORAÇÕES DE MAIO: POR INTERCESSÃO DE MARIA (V)


Ó minha Senhora Imaculada, alegro-me contigo por ver-te enriquecida com tão grande pureza. Agradeço, e só posso agradecer sempre, o nosso Criador por te ter preservado de toda mancha de pecado; creio firmemente nesta doutrina e estou pronto a jurar e até dar a minha vida, se for necessário, em defesa deste tão grande e tão singular privilégio de tua imaculada concepção.

Eu queria que o mundo inteiro te conhecesse e te reconhecesse como sendo a bela aurora, sempre iluminada pela luz divina; como aquela arca eleita da salvação, livre do naufrágio comum do pecado; como a pomba perfeita e imaculada que teu Divino Esposo a chamou; como o jardim recluso para o deleite de Deus; como a fonte selada, cujas águas não podem ser turvadas pelo inimigo; e, finalmente, como o cândido lírio que tu és pois, apesar de germinado entre os espinhos dos filhos de Adão, todos concebidos em pecado e inimigos de Deus, foste conservada pura e imaculada e, em todas as coisas, amada pelo teu Criador.

Consinta-me, portanto, que eu te louve como o próprio Deus te louvou: és toda formosa e não há mancha em ti ('Tota pulchra es, Amica mea, et macula non est in te' - Cant. iv. 7). Ó pomba puríssima, toda cândida, toda bela, sempre amiga de Deus! Quão bela és tua, minha Amada, quão bela és tu! (Quam pulchra es, amica mea, quam pulchra es!' - Ib. 1). Dulcíssima, amabilíssima, imaculada Maria, tu que és tão bela aos olhos do teu Senhor, não desprezes volver teus olhos compassivos às feridas da minha alma, tão asquerosas como são. Olhe e se compadeça de mim, e me cure.

Ó belo ímã dos corações, atraí também para ti meu coração miserável. Tu, que desde o primeiro momento de vida, apareceste pura e bela diante de Deus, tem piedade de mim, que não só nasci em pecado mas, desde o batismo,  tenho maculado minha alma com novas culpas. 

Que graça poderá negar a ti o Deus que te escolheu para Sua Filha, Sua Mãe e Sua esposa e, por essa razão, te preservou de toda mancha e te preferiu, em seu amor, a todas as outras criaturas? Rogo a ti com as palavras de São Filipe Néri: 'Virgem Imaculada, vem salvar-me'. Faz com que eu me lembre sempre de ti, e que tu, tu nunca te esqueças de mim. A espera do dia feliz em que poderei contemplar tua beleza no Paraíso parece mil anos perdidos, tanto mais te poderei louvar e amar muito mais do que posso agora, minha Mãe, minha Rainha, minha amada, belíssima, dulcíssima, puríssima e imaculada Maria. Amém.

(Excertos da obra 'Glórias de Maria', de Santo Afonso Maria de Ligório)

terça-feira, 27 de maio de 2014

A ORAÇÃO MAIS ANTIGA EM DEVOÇÃO À NOSSA SENHORA


SUB TUUM PRAESIDIUM (À VOSSA PROTEÇÃO)

'À vossa proteção; recorremos Santa Mãe de Deus; não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, Ó Virgem gloriosa e bendita!'

A oração Sub tuum praesidium (À vossa proteção) é a mais antiga oração conhecida de devoção à Nossa Senhora. Encontrada num fragmento de papiro, em 1927, no Egito, remonta ao século III, faz menção explícita ao tempo de perseguições dos cristãos ('não recuse os nossos pedidos na necessidade e salva-nos do perigo') e possui uma relevância teológica excepcional por referir-se à Nossa Senhora com a invocação Theotokos (Mãe de Deus). Este título que constitui uma das glórias de Maria, já era aplicado desde o século II, tendo sido objeto de proposição dogmática formal no Concílio de Éfeso, no ano 431. 

O texto original, do qual derivam diversas variações litúrgicas (copta, grega, ambrosiana e romana) pode ser traduzido assim: 'Sob a asa da vossa misericórdia, nós nos refugiamos, Mãe de Deus; não recuse os nossos pedidos na necessidade e salva-nos do perigo, ó somente pura, somente bendita'.

domingo, 25 de maio de 2014

'NÃO VOS DEIXAREI ÓRFÃOS, EU VIREI A VÓS'

Páginas do Evangelho - Sexto Domingo da Páscoa


A liturgia deste Sexto Domingo da Páscoa é centrada na ação santificadora do Espírito Santo, nas almas e na vida da Igreja, como primícias da Festa de Pentecostes que se aproxima. A graça santificante, que nos torna filhos adotivos de Deus, nos é atribuída pela apropriação do Divino Espírito Santo, na chamada 'inabitação trinitária', que procede e se faz na encarnação do próprio Deus, Uno e Trino, em nossas almas.

Estamos inseridos no contexto dos capítulos do Evangelho de São João, que integram o chamado 'testamento espiritual' de Cristo, que reproduzem o longo discurso feito por Jesus aos seus discípulos, logo após o banquete pascal, e no qual o Senhor expõe e revela, de forma abrangente e maravilhosa, a síntese e a essência dos seus ensinamentos e da sua doutrina. Doutrina que se resume no amor sem medidas, no chamado a viver plenamente a presença de Jesus Ressuscitado em nossas vidas, como testemunhas da fé e da fidelidade aos seus mandamentos: 'Se me amais, guardareis os meus mandamentos' (Jo 14, 15). 

Eis aí o legado de Jesus aos seus discípulos: a graça e a salvação são frutos do amor, que é manifestado em plenitude, no despojamento do eu e na estrita submissão à vontade do Pai: 'Amai ao Senhor vosso Deus com todo vosso coração, com toda vossa alma e com todo vosso espírito. Este é o maior e o primeiro dos mandamentos' (Mt 22, 37-38). A graça nasce, manifesta-se e se alimenta do nosso amor a Deus, pois 'quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele ' (Jo 14, 21). Nos mistérios insondáveis de Deus, somos transformados no batismo,  pela infusão do Espírito Santo em nossas almas, em tabernáculos da Santíssima Trindade, moradas provisórias do Pai, do Filho e do Espírito Santo, como sementes da glória antecipada das moradas eternas na Casa do Pai.  

A presença permanente da Santíssima Trindade em nossas vidas vem por meio da manifestação do Espírito Santo, o Defensor, o Paráclito, conforme as palavras de Jesus: 'Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós' (Jo 14, 18) e ainda 'eu rogarei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco' (Jo 14, 16). Como templos do Espírito Santo e tabernáculos da Santíssima Trindade, somos moldados como obras de Deus para viver em plenitude o Espírito da Verdade. Sob a ação do Espírito Santo, podemos, então, trilhar livremente o caminho da santificação, até os limites de um despojamento absoluto do próprio ser para a plena manifestação da glória de Deus em nós. 

sábado, 24 de maio de 2014

PADRE PIO E OS SOFRIMENTOS

Uma das principais razões pelas quais o Diabo odiava o Padre Pio tanto é que ele ganhava muitas almas por meio dos seus sofrimentos. Ele comentava frequentemente sobre a magnitude desses sofrimentos espantosos: 'O Pai celeste nunca deixou de permitir que eu compartilhasse os sofrimentos do seu Filho Unigênito, mesmo fisicamente. Estas dores são tão agudas que se tornam absolutamente indescritíveis e inconcebíveis'.

Padre Pio dizia que seus sofrimentos poderiam ser comparados 'aos que os mártires experimentaram quando foram queimados vivos ou brutalmente assassinados por darem o seu testemunho de fé em Jesus Cristo'. Em 25 de novembro 1915, falava que 'Minha condição está se tornando insuportável e eu permaneço vivo apenas por milagre'. Em carta datada de 03 de novembro de 1915, escreveu: 'O Senhor me levou a experimentar as dores que os condenados sofrem nas regiões infernais' e, em 13 de agosto de 1916: '... Eu não estou exagerando quando digo que certamente as almas do Purgatório não padecem de dor maior' e ainda '...Eu estou sofrendo enormemente e sinto que estou morrendo a todo momento'.

Falando a uma pessoa sobre alguns de seus sofrimentos físicos, Padre Pio disse: 'Não é tanto pelos dias. Veja, quando os acontecimentos do dia começam, uma coisa leva a outra, e assim o dia passa. [O pior] São as noites. Se eu me permitir dormir, a dor destes (e ele ergueu as mãos feridas para mostrar os estigmas) é multiplicada muito além da medida'. Respondendo a outra pessoa que lhe perguntou sobre as dores dos estigmas, Padre Pio respondeu: 'Você acha que o Senhor as deu a mim para decoração?'

Outras vezes: 'Basta imaginar a angústia que eu sinto por saber que vou experimentar [as dores] praticamente todos os dias. A ferida no coração sangra abundantemente ... ' E ainda '... Eu estou convicto de que tenho em mim algo que sinto como uma barra de ferro que se estende por baixo do meu coração até o lado inferior direito das minhas costas, que me causa uma dor tão aguda que não me permite qualquer descanso...'

Padre Pio recusava todos os tipos de calor artificial, gás ou aquecedores elétricos, mesmo o calor do carvão vegetal, durante as noites frias de inverno. Uma vez, Padre Pio ficou para 21 dias sem comer. Ele só recebia a Sagrada Comunhão. 'Você tem que se alimentar", dizia o superior. 'Por favor, eu não posso comer'. 'Você deve', insistia o superior e, em poucos minutos, Padre Pio vomitava tudo o que tentava comer. Muitas vezes, Padre Pio tinha falta de apetite, crises de vômito e períodos de transpiração intensa. Ele tinha períodos de febre tão alta que confundia todos os médicos, que não sabiam como tratá-lo. 

Algumas vezes, as temperaturas do Padre Pio eram tão elevadas que o mercúrio extravasava para fora do termômetro. Alguns termômetros comuns quebravam sob as suas axilas. Em uma ocasião, usando um termômetro diferente e que não quebrou, sua temperatura chegou a 127,4 °Farenheit (53°Celsius).

A sua temperatura, às vezes, subia acima de 125°F (mais de 50°C) sem qualquer razão aparente. Fr. Michelangelo, um franciscano que vivia com ele, disse: 'No termômetro comum, não era possível medir a temperatura do Padre Pio ... Eu estava presente uma vez quando o médico quis tirar a sua temperatura e ver se iria mesmo quebrar o termômetro. Padre Pio disse: 'Não, o termômetro vai quebrar!' Em um instante, bang! O mercúrio subiu de súbito e o quebrou imediatamente'

Um médico, que falava a outro médico sobre as altas temperaturas do Padre Pio, disse: 'Quando eu tirei a temperatura dele, [a leitura] saiu fora da escala. Eu tive de usar um termômetro especial, que registrou 125 °F ontem à noite e 120 °F esta manhã. Ele não deveria estar vivo'.

Padre Pio dizia sobre o sofrimento: 'Nenhum sofrimento suportado por amor a Cristo, mesmo mal suportado, ficará sem recompensa na vida eterna. Tem confiança e esperança nos méritos de Jesus e, desta forma, mesmo o barro pobre tornar-se-á o mais fino ouro que vai brilhar no palácio do rei do céu'. Nosso Senhor falou uma vez ao Padre Pio sobre seus sofrimentos, da seguinte maneira: 'Meu filho, eu preciso de vítimas, a fim de apaziguar a ira justificável e divina do meu Pai: renove o seu sacrifício e o faça sem reservas'.

Padre Pio disse também: 'Se as pessoas compreendessem o valor do sofrimento, eles não buscariam o prazer, mas somente sofrer'. Ele já se queixava também com problemas com a cegueira, desde 18 de novembro de 1912. Em 30 de janeiro de 1915, escreveu: '... a minha vista ... tem melhorado ao longo do tempo'. Padre Pio teve um sofrimento adicional por ser convocado para o serviço militar por um período de tempo, apesar do estar em um estado terrível de sua saúde física. 

Outro sofrimento (embora não físico) foi o fato de que Deus muitas vezes revelava a ele o estado das almas de outros, enquanto permanecia no escuro em relação à sua própria alma. Padre Pio dizia: 'Em outras almas, pela graça de Deus, eu vejo claramente; mas na minha própria, não vejo nada além da escuridão'.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

OS MAIS BELOS LIVROS CATÓLICOS DE TODOS OS TEMPOS (2)

3. SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO  AS GLÓRIAS DE MARIA

Um livro clássico das obras de espiritualidade mariana, escrito por Santo Afonso Maria de Ligório, fundador da Congregação do Santíssimo Redentor (Missionários Redentoristas). A obra foi publicada em Nápoles em 1750, quando o santo tinha, então, 54 anos de idade. Neste verdadeiro tratado de amor e devoção à Mãe de Deus, que inclui várias orações e uma profusão de frases e reflexões de santos e doutores da Igreja sobre Nossa Senhora, Santo Afonso revela e louva as singulares e extraordinárias graças que Deus cumulou Maria como modelo perfeito de vida cristã e medianeira no plano divino da salvação.

Tomado de particular devoção pela Virgem desde a infância, Santo Afonso exalta as glórias de Maria por ela ter sido tão amada por Deus e por ter correspondido este amor em plenitude, e nos conclama a amá-la com especial devoção, para que possamos ser merecedores de partilhar e compartilhar, com ela e por meio dela, graças tão extremadas, como sustento, auxílio, fortaleza e perseverança diante das incertezas e obstáculos da nossa vida.

A obra original era dividida em duas partes, publicadas em tomos distintos: no primeiro, o autor, consciente da aversão que a oração Salve Rainha produzia sobre os hereges da época, explica detalhadamente o texto desta antífona litúrgica ao longo de dez capítulos, ilustrados com diferentes exemplos e orações próprias à Mãe de Deus. O segundo volume comportava o restante do texto: nove discursos sobre as principais festas de Nossa Senhora, sete reflexões sobre as Dores de Maria, dez tópicos contemplando as Virtudes de Maria e dez outros dedicados à Prática de devoções em honra a Nossa Senhora. Nas publicações seguintes, adotou-se o princípio geral de se dividir o texto da obra em suas cinco partes distintas.

Excertos da obra 'Glórias de Maria' têm sido publicados neste blog nos tópicos 'Orações de Maio: por Intercessão de Maria', com traduções do autor. 

4. SANTA TERESA DE LISIEUX  HISTÓRIA DE UMA ALMA

A 'HISTÓRIA DE UMA ALMA' constitui o registro integrado dos manuscritos autobiográficos de Santa Teresa de Lisieux, mundialmente conhecida como ‘Santa Teresinha do Menino Jesus’, freira carmelita que viveu no mais absoluto ostracismo e morreu com apenas 24 anos de idade em 1897. Em três cadernos, escritos no período de 1895 a 1897, a santa registrou a sua busca particular por um caminho de santificação pessoal que ela mesma chamou de 'pequena via", a via de confiança absoluta à vontade de Deus.

Na plena aceitação dos desígnios divinos sobre as almas de cada um de nós, no abandono de nossas vidas nos braços de Jesus Cristo, na entrega total de nossas ações e pensamentos à proteção da Santíssima Virgem: eis aí a pequena via, o caminho da infância espiritual, a gloriosa trilha de santificação para os homens comuns, o espantoso atalho ao Céu, proposto e vivido intensamente pela santa carmelita. Eis a sua pequena via maravilhosa de santificação: basta aceitar a nossa própria pequenez, a imensa fragilidade humana que nos domina, as enormes limitações de viver em plenitude os desígnios de Deus sobre as nossas almas; fazer de tantas imperfeições e fragilidades, não meros obstáculos, mas as próprias pedras do caminho, rejuntadas e consolidadas firmemente num imenso amor e numa confiança sem limites na bondade e misericórdia de Deus. 

A obra original, publicada em 1898, consistia de três partes distintas: Manuscrito A, redigido por Teresa entre janeiro de 1895 e janeiro de 1896, a pedido de sua irmã Paulina, então priora do Carmelo de Lisieux. Trata-se de reminiscências de infância, com o título: História Primaveril de uma Florinha Branca, escrita por ela mesma, e dedicada à Reverenda Madre Inês de Jesus; Manuscrito B, composto por uma carta de 'elevação' da alma a Jesus, escrita a 08 de setembro de 1896 e uma carta escrita à Irmã Maria do Sagrado Coração (sua irmã Maria), redigida entre 13 e 16 de setembro de 1896 e Manuscrito C, caderno dedicado à Madre Maria de Gonzaga, tornada nova priora em 1896, e que foi redigido em junho de 1897, contendo a síntese dos ensinamentos de Teresa, as premissas e os fundamentos do seu caminho da infância espiritual.

quarta-feira, 21 de maio de 2014

ORAÇÕES DE MAIO: POR INTERCESSÃO DE MARIA (IV)


Ó Maria, minha Mãe querida, em que abismo de males eu não deveria estar agora, se tu tantas vezes não me tivesses preservado com a tua mão compassiva! Há quantos anos eu já não deveria estar no inferno, se tu não me tivesses salvado por meio de tuas orações poderosas! 

Meus graves pecados lá me arrojaram; a justiça divina já tinha me condenado; os demônios já clamavam por executar a sentença; e tu viestes em meu auxílio antes que eu te chamasse ou pedisse. E o que eu posso retribuir, ó minha bendita protetora, por tantos favores e por tal amor?

Tu também vergaste a dureza do meu coração, e me atraíste ao teu amor e à confiança em ti. E em quantos outros males não teria caído se, com a tua mão compassiva, não tiveste me ajudado diante dos perigos em que eu estive a ponto de cair! Continue, ó minha esperança, a me preservar do inferno, e dos pecados que eu ainda possa cair. Nunca me permita tal infortúnio e ser amaldiçoado no inferno. 

Minha Senhora, eu te amo. Poderá tua bondade suportar ver perder um servo que te adora? Conceda-me, então, nunca mais ser ingrato a ti e ao meu Deus que, por teu amor, outorgou-me tantas graças. Ó Maria, diga-me, posso perder-me? Sim, se eu te abandonar. Mas isso é possível? Que eu nunca possa esquecer o amor que nutres por mim. 

Depois de Deus, tu és o amor da minha alma. Eu não sou mais capaz de viver sem te amar. Ó mais bela, mais santa, mais amável, criatura mais doce do mundo, eu me regozijo na tua felicidade. Eu te amo e espero sempre te amar tanto no tempo como na eternidade. Amém.

(Excertos da obra 'Glórias de Maria', de Santo Afonso Maria de Ligório)