segunda-feira, 7 de março de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (134/136)

 

134. DIÁLOGO COM SÃO PAULO

Jesus Cristo disse de si mesmo: 'Eu sou a luz do mundo'. Nos seus lábios e nos lábios dos seus apóstolos, em poucos anos, viu o mundo a formosura dessa luz e ficou envolvido em seus raios. Duvidais? Interrogai São Paulo, o gigante da verdade e do amor, o apóstolo que não descansa, a boca que não cala, as mãos que não desmaiam, o coração que nunca se apaga. Aí o tendes: interrogai-o.

➖ Santo Apóstolo, de onde vens?
➖ Da Grécia.
➖ Percorreste a Arábia?
➖ Toda.
➖ Estiveste na Ásia?
➖ Cheguei às suas praias mais remotas.
➖ E visitaste Atenas?
➖ Falei do Areópago, bem como nas ruas de Corinto, Tessalônica e Éfeso.
➖ Pensas em ir a Roma?
➖ Até lá chegarei. Tenho ardentes desejos de avistar-me com os césares do mundo.
➖ Estiveste na prisão?
➖ Muitas vezes.
➖ Sofreste naufrágios?
➖ Três vezes me vi nos abismos do mar.
➖ Estiveste em perigo de morte?
➖ Em muitos; a cada passo.
➖ Sofreste fome?
➖ Sim.
➖ Frio?
➖ Também.
➖ Ódios e calúnias?
➖ Isso toda a vida; prego a verdade e não me creem; prego o amor e odeiam-me.
➖ Santo Apóstolo, descansa!
➖ Não posso.
➖ Modera tuas energias.
➖ Tudo me parece pouco.
➖ És incompreensível.
➖ Sou a lógica, a lógica da verdade, a lógica do amor.

O Apóstolo cala-se um instante. Pensa. Levanta a cabeça e prossegue:
➖ Vi o meu divino Mestre. Conheci-o na estrada de Damasco. Compreendi que é a verdade, a luz. Levo-o no coração: é um fogo que me abrasa. Levo-o nos lábios: é uma luz que me guia e me arrebata. Poucos anos faz que andamos pelo mundo, eu e os demais Apóstolos, pregando a sua doutrina, anunciando a sua lei. Erguei os olhos e vede: a fé tem sido pregada em todo o universo. Jesus Cristo conquista toda a terra, porque Ele é a luz, é o sol da verdade. Viva Jesus Cristo!

135. UM MENTIROSO CRUEL

O czar Nicolau, que há cem anos governou o império russo, foi um dos homens mais sanguinários. A sua crueldade arrancou a vida de milhares de filhos da Igreja Católica; maior, porém, foi o número dos que tiveram uma morte lenta nos trabalhos forçados e nos horrendos cárceres do clima horrível da Sibéria.

Entretanto, diante dos reis europeus e sobretudo diante do Soberano Pontífice, fazia sempre alarde de sentimentos religiosos e humanitários. Indo a Roma, o poderoso e sanguinário czar foi recebido em audiência por sua Santidade o Papa Pio IX. O Pontífice perguntou-lhe como tratava os católicos. E o czar, com a mais vil hipocrisia, respondeu:
➖ Muito bem, Santíssimo Padre.

Não pôde o Papa sofrer a vileza daquele coração traidor. Levantou-se de seu trono, fitou o poderoso imperador com majestosa dignidade e com voz forte e enérgica disse:
➖ Mentis!
O imperador russo não pôde conservar-se em pé; ficou com que aniquilado e saiu dali aterrado, como se uma tempestade tivesse estalado sobre a sua cabeça e o fogo de um raio o ameaçasse. Desceu rapidamente as escadas do Vaticano e foi ocultar-se no palácio em que se hospedava.

Também a vós, milhares de cristãos; também a vós, milhares de católicos, pergunta o vigário de Jesus Cristo:
➖ Amais a Jesus Cristo?
E respondeis com hipócrita serenidade:
➖ Amamos!

➖ Mentis! vos dirá o Papa.
E com razão, pois não sois vós que profanais os dias santos de guarda? Não sois vós que abandonais a oração e os sacramentos? Não sois vós que desprezais os mandamentos divinos? E não mentis aos homens, mas a Jesus Cristo... ao próprio Deus!

136. O PUNHAL DA IMPUREZA

Aquele moço não conhecia maior tesouro neste mundo do que o coração de sua mãe. Filho e mãe viviam sozinhos no mundo. E eram felizes, porque possuíam a maior felicidade da vida: a felicidade do amor.

Mas aquele moço começou a sofrer de uma doença esquisita. Tremiam-lhe as pernas. O tremor nervoso subia pouco a pouco pelo corpo e, quando chegava à cabeça, estourava a loucura. Naqueles momentos de furiosa loucura, o rapaz procurava uma faca, empunhava-se e corria por toda a casa, com os olhos arregalados, gesticulando ferozmente, e gritando: 'Minha mãe, minha mãe! Onde está minha mãe? Quero matar minha mãe!'

Cessava a loucura. O filho voltava a si. Conhecia a sua loucura e, de joelhos, pedia mil vezes perdão a sua mãe. Dizia-lhe: 'Mãe, minha mãe, se um dia, num desses arrebatamentos, eu te tirasse a vida? Que seria de mim? Morreria de dor'. Assim também eram grandes os temores da mãe como as angústias do filho. Sabeis o que ele resolveu fazer? Quando sentia que o temor começava a subir-lhe pelo corpo, pegava uma corda muito forte, corria para a mãe e dizia-lhe: 'Amarra-me, mãe, amarra-me' e a mãe amarrava fortemente as mãos do filho.

No momento em que a loucura subia à cabeça, ele soltava rugidos de fera e gritava: 'Onde está minha mãe? Quero matar minha mãe!' Mas, como poderia fazer-lhe mal, se tinha as mãos bem amarradas? Passada a loucura, o moço tomava aquela corda e beijava-a com loucuras de amor. Meu irmão, alerta! Quando sentires que vem chegando a tentação, o perigo, toma o rosário, cinge-te com as cadeiras da oração. Reza e serás forte. Quando passar o perigo, beijarás, reconhecido e grato, o teu rosário, que te livrou do punhal da impureza.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)