quinta-feira, 14 de outubro de 2021

O PÃO NOSSO DA ORAÇÃO

Nosso Senhor não prometeu, em lugar nenhum, tornar-nos infalivelmente felizes neste mundo; Ele nos prometeu - leiamos o Evangelho - nos escutar como um pai que não daria por alimento ao seu filho, ainda que este lhe pedisse, uma pedra, uma serpente ou um escorpião, mas o pão, o peixe, os ovos, que o nutrirão e o farão viver e crescer. Aquilo que Jesus, nosso Salvador, se empenha de nos dar infalivelmente como fruto de nossa oração, não são aqueles favores que os homens pedem muitas vezes por ignorância daquilo que realmente serve para a sua salvação.

O que Ele nos dá é aquele 'bom espírito', aquele pão dos dons sobrenaturais necessários ou úteis para a nossa alma; aquele peixe por ele preparado que, futuro símbolo que Cristo ressurgido deu em alimento aos apóstolos na praia do Lago de Tiberíades; aqueles ovos, alimento da piedade e devoção para os pequenos, que os homens muitas vezes não distinguem das pedras danosíssimas para a saúde espiritual, a eles oferecidas por satanás tentador.

Os homens muitas vezes são como crianças ignaras daquilo que é bom para elas e que lhes convêm pedir e ineptas muitas vezes as orações que dirigem ao Pai Celeste. Mas o Espírito Santo, o qual com a sua graça age em nossas almas e inspira os nossos gemidos, sabe muito bem dar a elas um verdadeiro sentido e um valor real; e o Pai, que lê no fundo dos corações, à luz do sol, vê aquilo que através de nossas orações e de nossos desejos, o seu divino Espírito pede para nós e por nós, e tais pedidos do Espírito, profundamente íntimos em nós, Ele ouve com toda a certeza.

A oração, portanto, quer ser um pedido daquilo que é bom para a alma, um pedido com perseverança, mas também um pedido piedoso. E qual é a oração piedosa? Não é a oração do som de palavras somente, com a mente e o coração vagando, com os olhos desviando para todos os lados; mas é a oração recolhida que diante de Deus se anima de confiança filial, ilumina-se de viva fé, impregna-se de amor para com Ele e para com os irmãos.

É a oração sempre feita na graça de Deus, sempre meritória de vida eterna, sempre humilde em sua própria confiança; é a oração que, quando vos ajoelhais diante do altar ou diante da imagem do Crucifixo ou da Virgem Santíssima em vossa casa, não conhece a arrogância do fariseu, que se vangloria achando-se melhor do que os demais homens; mas, semelhante ao pobre publicano, vos faz sentir no coração que tudo o que recebestes não é senão pura misericórdia de Deus para convosco.

O pão da divina doutrina é verdadeiramente um pão cotidiano, é o pão da oração. Se volvemos um olhar para a história dos séculos passados, Roma, já nos albores da fé, nos parece como uma cidade orante, não nos templos dos falsos deuses do gentilismo, mas ao único verdadeiro Deus, seja nas casas particulares dos primeiros seguidores de Cristo ou mesmo nas catacumbas, em momentos de maior perigo. Com efeito, desde o século terceiro, ao ar livre ou em verdadeiras igrejas como as nossas, a oração foi desde então para ela potentíssima arma de vitória e de triunfo para permanecer firme diante das perseguições, forte diante os tribunais e os suplícios, para morrer mártir de Cristo sob o ferro dos seus algozes. 

A arma de sua defesa e de sua esperança era a oração, baluarte e rocha de fé as suas basílicas e os seus altares de elevação a Deus; as aras dos mártires, santuários e tumbas, onde a piedade chamava, desde distantes regiões e além dos mares também, devotos e coroados príncipes para se inclinarem na oração e escolherem para si, naqueles lugares venerandos, o repouso de seus despojos mortais. 

A oração é um bem, que não humilha e rebaixa, mas exalta e enobrece o homem. Os artistas mais exímios, os mestres da psicologia figurada, não conseguiram criar nada que mais subjugue o ânimo quanto a representação do homem em oração. Nesta atitude orante, ele demonstra a sua mais elevada nobreza, que se reafirma no princípio geral de que 'o homem é verdadeiramente grande quando está de joelhos'.

(Pio XII, excertos de discursos e alocuções)

Nenhum comentário: