domingo, 8 de julho de 2018

OS IRMÃOS E AS IRMÃS DE JESUS

Páginas do Evangelho - Décimo Quarto Domingo do Tempo Comum


Na pequena Nazaré, Jesus tinha sido apenas o filho de um carpinteiro, o filho de Maria e José. Ali viveu por cerca de trinta anos, desde o retorno da fuga dos seus pais para o Egito, após a morte de Herodes (Mt 2, 15-23) até o início de sua vida pública, com o batismo no Jordão (Mt 3, 13-17). Ali vivera no anonimato de uma família simples, como uma pessoa comum e os seus conterrâneos não tiveram dele, durante todo este tempo, nenhuma ocorrência extraordinária, nenhuma referência de sua manifestação como o Filho de Deus. E, desde algum tempo, Jesus partira de Nazaré para algum lugar alhures. 

E, certamente, cada vez com maior vigor, chegavam a eles notícias da pregação pública de Jesus por toda a Galileia, as suas parábolas, os seus milagres, os seus feitos extraordinários, a manifestação grandiosa de uma doutrina messiânica que levaria à redenção e à salvação de toda a humanidade. E, mais certamente ainda, tais notícias deveriam produzir neles impulsos de incredulidade e estranheza: 'Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco?’ (Mc 6,3). O ceticismo natural daquela gente era imposto por uma dualidade factual: Jesus tinha sido 'uma pessoa normal' entre eles e, agora, em pouco tempo, assumira uma referência profética e messiânica fora de Nazaré, muito além da capacidade de entendimento possível daquelas pessoas que haviam convivido diariamente com Ele durante tantos anos...

E eis que Jesus retorna agora à Nazaré de quase todos os seus dias; quanta expectativa e admiração certamente não deveriam estar aflorando naquela gente, quando Jesus entrou na sinagoga da cidade e começou a pregar as Escrituras. Quanto júbilo de amor e caridade não terá se revestido o Senhor, de modo tão especial, para ensinar a sã doutrina àqueles homens e mulheres de sua terra de predileção? De uma certa forma ali, mais do que em qualquer outro lugar, a dualidade humana e divina de Jesus se manifestava de forma tão sublime e particular mas, contradição das contradições, uma será julgada para anular a outra! Movidos pela incredulidade, pela inveja, pelo arbítrio humano da pura má vontade, aqueles homens se fecharam em suas experiências humanas e negaram o milagre da fé: 'E ficaram escandalizados por causa dele' (Mc 6, 3).

Mesmo entre os seus familiares mais próximos, os 'irmãos e irmãs de Jesus', houve uma resistência muito além do ceticismo inicial, fruto dessa insustentável condição humana de julgar pelas meras aparências e com base apenas na lógica fria das coisas palpáveis e racionais. Neste contra-senso geral, Nazaré perdeu a primazia da graça e Jesus não pôde ali realizar milagre algum e passou a pregar, então, nos povoados vizinhos. Jesus chegou a se admirar com a cegueira espiritual de sua gente e lançou sobre eles o epíteto que perpassou pelos tempos: 'Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares' (Mc 6, 4). Nos escombros da lógica fria, a fé não pode se erguer grandiosa e nem fincar raízes na terra nua da incredulidade pura e obstinada. Estes são aqueles que Jesus há de nomear mais tarde: 'Nunca vos conheci' (Mt 7, 23). Os que creem, os que realmente se abrem ao milagre da fé, estes são, verdadeiramente, 'os irmãos e as irmãs de Jesus'.