segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

O PENSAMENTO VIVO DE CHESTERTON (III)

'Todas as religiões têm em si qualquer coisa de bom, mas o bem, a sua mesma realidade própria, a humildade e amor, e ardente gratidão a Deus, não se encontra nelas. Quanto mais profundamente as conhecemos, e até quanto maior reverência por elas sentimos, mais claramente o compreendemos. No mais profundo delas, encontra-se qualquer outra coisa que não é o puro bem; encontra-se a dúvida metafísica acerca da matéria ou a voz forte da natureza ou, no melhor dos casos, o temor da lei e da divindade. Se estas coisas se exageram, surge uma deformação que pode ir até à adoração do demônio'.

'Devemos lembrar que, seja verdadeira ou não, a filosofia materialista é com certeza mais limitante do que qualquer religião. Num sentido, naturalmente, todas as idéias inteligentes são estreitas. Não podem ser mais amplas do que elas mesmas. Um cristão só é limitado no mesmo sentido em que um ateu é limitado. Ele não pode pensar que o cristianismo é falso e continuar sendo cristão; e o ateu não pode considerar que o ateísmo é falso e continuar sendo ateu. Mas, na prática, há um sentido muito especial em que o materialismo tem mais restrições que o espiritualismo. O cristão tem perfeita liberdade para acreditar que existe uma considerável quantidade de ordem estabelecida e desenvolvimento inevitável no universo. Mas ao materialista não é permitido admitir em sua imaculada máquina a menor mancha de espiritualismo ou milagre'.

'Um santo é um medicamento por ser um antídoto. Na verdade, é também por isso que, muitas vezes, ele é um mártir: ele é confundido com um veneno por ser um antídoto. Vê-lo-emos geralmente a restaurar a sanidade do mundo exagerando uma coisa qualquer que o mundo esteja a negligenciar, e, seguramente, este elemento não será o mesmo em todas as épocas. No entanto, é por instinto que cada geração tenta encontrar o seu santo, e ele não será o que as pessoas querem, mas sim aquilo de que precisam'.