sábado, 22 de outubro de 2016

QUESTÕES SOBRE A NATUREZA DO DEMÔNIO (V)


Questão 12: Os demônios conhecem o futuro? 

Eles não veem o futuro, mas podem fazer às vezes fazer conjecturas sobre ele. Com sua inteligência, muito superior à humana, podem deduzir algumas coisas que sucederão ou ocorrerão, conhecendo as suas causas. Aquilo que pertence apenas à liberdade humana, está indeterminado e isto eles não o conhecem. Não sabem o que eu decidirei livremente. Mas, com sua inteligência superior, veem os efeitos das causas que nós não percebemos nada. Assim, há ocasiões em que eles sabem, com toda a certeza, o que sucederá, ainda que nem o mais inteligente dos seres humanos seja capaz de suspeitar mesmo analisando com todo rigor todos os aspectos causais. Em outras ocasiões, porém. nem a natureza angélica da mais elevada hierarquia poderia deduzir [o futuro].  A liberdade humana [nosso livre arbítrio] constitui sobretudo o grande fator de indeterminação em suas previsões.

Questão 13: Pode um demônio fazer algo de bom? 

O demônio não está sempre fazendo o mal; muitas vezes, ele está simplesmente pensando. E, nisso, não faz mal algum, pois se trata de um mero ato de sua natureza. Entretanto, o demônio não pode realizar atos morais sobrenaturais, ou seja, não pode fazer um ato de caridade, de arrependimento sobrenatural, de glorificação sincera a Deus, etc, uma vez que, para realizá-los, precisaria de uma graça sobrenatural. Pode até glorificar a Deus, mas à força, mas não porque quisera fazê-lo. Pode arrepender-se de ter se afastado de Deus, mas sem pedir perdão por isso, recriminando apenas o mal que lhe sobreveio desta ação, mas sem remorso por ter ofendido a Deus. E assim pode fazer muitos outros atos naturais com sua inteligência e vontade. Porém, o demônio jamais demonstrará a mínima compaixão nem o menor ato de amor para quem quer que seja. Seu coração somente odeia, sendo insensível ao sofrimento dos demais.

Questão 14: O demônio pode experimentar algum prazer? 

O demônio não conta com nenhum dos nossos cinco sentidos. Conta apenas com a sua inteligência e vontade. Pode parecer que é pouca coisa, mas não é. Os prazeres intelectuais podem ser tão variados como os de nossos cinco sentidos. Na realidade, são muito mais variados. O gozo que nos proporciona uma ópera, uma sinfonia, uma partida de xadrez, um livro, são prazeres eminentemente espirituais, ainda que essa informação nos chegue ao espírito por meio de imagens sensíveis. O mundo espiritual, visto por nós a partir de nosso mundo, pode parecer insípido, incolor, tedioso, mas isso é um erro. O mundo espiritual é muito mais variado, rico e auspicioso daquilo que nos oferece o universo material. 

Os demônios gozam dos prazeres, pois suas duas faculdades espirituais (conhecimento e vontade) permanecem intactas. A forma de agir de sua natureza permanece inalterada apesar do afastamento de Deus. O que não podem fazer é amar a ninguém com um amor sobrenatural. A capacidade de amar foi aniquilada na psicologia do demônio. O demônio conhece mas não ama. O prazer que consegue ao ter êxito em fazer um mal é exatamente o mesmo de uma pessoa na terra quando consegue vingar-se de seu inimigo. Trata-se de um prazer cheio de ódio, sem nenhuma consolação.

Questão 15:  O demônio é livre para fazer mais ou menos males? 

O demônio faz o mal quando quer, nada o obriga a fazê-lo. É um ser livre e sua vontade é que determina fazer as coisas quando quiser. Deseja fazer o mal e para fazer o mal há que tentar. Mas, para tentar, tem que insistir. Alguns demônios insistem mais, outros desistem antes. Há demônios mais decididos e outros menos operosos. Há demônios que, pelo ímpeto de sua cólera, perseguem as almas como verdadeiros predadores. Outros demônios estão submersos em uma espécie de depressão e não possuem um ódio extremado para perseguir tão obsessivamente as almas. Entretanto, estamos falando de graus, já que todos odeiam a Deus e são predadores de almas.

Questão 16: Quais são os mais malignos dentre os demônios? 

Pode parecer que demônios mais perversos são os pertencentes à mais alta hierarquia, mas não. Não existe uma relação entre natureza e pecado. Uma natureza angélica da última hierarquia pode ser muito mais perversa que um anjo superior. O mal que pode cometer um ser livre não depende da inteligência, nem do poder que se possui. Sempre se coloca como um exemplo de malignidade extrema o chefe das forças nazistas, Heinrich Himler. Mas, não poderia ser pior algum de seus subordinados? Evidente que sim! 

Entre os homens, vemos que alguém menos inteligente e em uma posição social menos relevante pode ser muito pior, muito mais perverso, que um grande ditador. E o mesmo que vale para o mal, vale para o bem. Um anjo da última hierarquia pode desenvolver mais as suas virtudes que um da mais alta hierarquia. Da mesma forma, uma idosa humilde e sem estudos e que tenha se dedicado apenas aos afazeres domésticos pode ser mais santa que um arcebispo ou um sumo pontífice. Uma interessante pergunta que se depreende de tudo isso é se a hierarquia que nos dá a Bíblia (anjos, arcanjos, principados...) é uma hierarquia da graça ou da natureza. Ou seja, os serafins são os mais santos ou somente os mais poderosos e nos quais brilha mais o fulgor da inteligência angélica? 

Minha opinião é de se trata de uma hierarquia segundo a natureza, uma vez que as descrições das imagens dos quatro Seres Viventes ao redor do Cordeiro (os anjos de maior hierarquia) dão mais impressão de poder e de conhecimento, assim como os próprios nomes das nove hierarquias. O nome de principado ou potestade, por exemplo, são nomes que pressupõem mais poder. Além do mais, é mais fácil estabelecer uma hierarquia de natureza que de graça. 

(Excertos da obra 'Summa Daemoniaca', do Pe. Jose Antonio Fortea, tradução do autor do blog)