sábado, 13 de agosto de 2016

O QUE É A VERDADE?

1. 'Que é a Verdade?' (Jo 18, 38): assim Pilatos questionou Jesus antes de entregá-lo à sanha dos seus assassinos.

2. Pilatos, na verdade, não queria uma resposta de Jesus: 'Falando isso, saiu de novo, foi ter com os judeus...' (Jo 18, 39). Ele sentia apenas desprezo naquele momento e sua pergunta apenas refletia as trevas dos seus sentimentos mundanos. Não havia sido propriamente uma pergunta, mas uma declaração de desprezo. Nunca nenhum homem chegou tão perto da Verdade e nunca foi tão infame em desprezá-la. 

3. Jesus, entretanto, havia respondido a questão antes mesmo que fosse pronunciada: 'Todo o que é da verdade ouve a minha voz... Mas o meu Reino não é deste mundo' (Jo 18, 37, 36). A Verdade é Cristo e a sua Igreja e têm os seus frutos na eternidade. 'A doutrina da fé revelada por Deus não foi proposta ao espírito humano como doutrina filosófica que o homem tivesse de aperfeiçoar, mas foi confiada à Esposa de Cristo como depósito divino que Ela deve conservar fielmente e apresentar sem erro algum' (Denzineor, Enehiridion, 1800).

4. Por não ser o reino de Cristo desse mundo, o mundo será sempre hostil à Verdade, conforme a própria profecia de Simeão no Templo: 'Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições...' (Lc 2, 34 - 35). E assim também a Igreja, em nome da Verdade que possui por primazia e privilégio absolutos, será sempre um sinal de contradição e de escândalo para o mundo por pregar uma doutrina e uma moralidade que o mundo há de sempre rejeitar.

5. O mundo prega valores do mundo: a tolerância do mundo, a convivência do mundo, a paz do mundo. Valores falsos, porque impõem o falso conceito de que é preciso abrir mão da verdade, que passa a ser entendida e analisada como um parâmetro relativo, ao sabor da interpretação subjetiva de cada um e de todos. A verdade do mundo, subjugada pelo relativismo e pelos modismos dos tempos, é tão somente uma aberração comum, que tem por frutos o ceticismo, o indiferentismo religioso, o embotamento espiritual, a tolerância covarde, o bem viver com todos, a felicidade ecumênica. Mas, se este fosse o ideal humano, porque Cristo nos recomendaria o contrário tão enfaticamente: 'Julgais que vim trazer paz à terra? Não, digo-vos, mas separação' (Lc 12, 51). 

6. Quando a Igreja abraça o mundo, ela vai de encontro à Verdade. Não há conciliação possível entre um mundo que quer a paz dos homens e a Igreja que prega a Verdade que é Cristo, pois também ela, por herança, é sinal de contradição e separação deste mesmo mundo. A Verdade não estabelece ideais, conselhos, regrinhas de convivência ecumênica. A Verdade estabelece convicções, dogmas, mandamentos. A Verdade não faz concessões, não se molda por casuísmos e favores, não comporta meias-verdades, não se divide em partes e nem se refaz nos tempos, porque é sempre o mesmo todo, indissolúvel e eterna.

7. A Verdade é tudo o que procede de Cristo e da Igreja com Cristo, derramada sobre aqueles que, sendo cristãos no mundo, esperam o reino que não é deste mundo. O mais é apenas a miserabilidade quase infinita dos homens que se iludem na utopia de viver as suas próprias verdades.

(Arcos de Pilares)