sábado, 5 de dezembro de 2015

A BÍBLIA EXPLICADA (XVI) - A FIGUEIRA


A figueira constitui um dos símbolos mais recorrentes dos textos bíblicos, desde o Gênesis até o Apocalipse, tendo sido objeto de manifestação explícita pelo próprio Jesus. Como todo símbolo bíblico, a figueira tem, portanto, um significado direto e específico, quase sempre evidenciando uma distinção clara entre a sua floração (caule e folhas) e sua fecundidade (produção de frutos).

A referência à figueira nas Sagradas Escrituras começa com a árvore do conhecimento do bem e do mal, situada no meio do Jardim do Éden, cujos frutos foram proibidos a Adão e Eva por imposição direta de Deus:

'Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: Vós não comereis dele, nem o tocareis, para que não morrais' (Gn 3, 3).

Pela desobediência, enganados pela astúcia da serpente, Adão e Eva conheceram o pecado:

'Então os seus olhos abriram-se; e, vendo que estavam nus, tomaram folhas de figueira, ligaram-nas e fizeram cinturas para si' (Gn 3, 7).

A referência explícita às folhas da figueira não é meramente acidental, mas associada à árvore do conhecimento do bem e do mal. A alma é uma árvore nascida para o amor movido pela compaixão e pela caridade, que deve ser cuidada e cultivada para dar frutos de vida (conhecimento do bem)...

'Quem trata de sua figueira, comerá seu fruto; quem cuida do seu senhor, será honrado' (Pv 27, 18).

... mas, uma vez corrompida nos valores da graça, cultiva apenas o egoísmo e dá frutos de morte (conhecimento do mal). 

'porque então a figueira não brotará, nulo será o produto das vinhas' (Hb 3, 17)

Como a árvore boa que dá bons frutos, a figueira do bem dará figos bons, ao passo que a árvore ruim dará maus frutos: figos estragados que não podem ser comidos

Fez-me o Senhor contemplar esta visão: colocadas diante do templo do Senhor estavam duas cestas de figos (Jr 24, 1) ... Uma das cestas continha ótimos figos, como o são os prematuros; a outra, porém, tão maus que nem mesmo se podiam comer. Disse-me o Senhor: Que vês, Jeremias? Figos, respondi; excelentes uns, péssimos outros, que nem mesmo servem para comer (Jr 24, 2 - 3)... Eis o que disse o Senhor Deus de Israel. Assim como contemplas (com prazer) os figos bons, assim também olharei favoravelmente os desterrados de Judá que destes lugares exilei para a terra dos caldeus (Jr 24, 5)... E, à semelhança do que acontece aos maus figos que por demais estragados (Jr 24,8) ... vou enviar contra eles a espada, a fome e a peste, e os tratarei como figos deteriorados, tão maus que não se podem mais comer (Jr 29,17).

Ai da figueira (alma) que não dá bons frutos, ano após ano (tornando inútil o depositário de graças divinas e seu cultivo); assim, deverá ser cortada e lançada ao fogo:

'Um homem havia plantado uma figueira na sua vinha, e, indo buscar fruto, não o achou. Disse ao viticultor: - Eis que três anos [referência ao tempo do ministério público de Jesus] há que venho procurando fruto nesta figueira e não o acho. Corta-a; para que ainda ocupa inutilmente o terreno. Mas o viticultor respondeu: - Senhor, deixa-a ainda este ano [referência ao tempo da misericórdia de Deus]; eu lhe cavarei em redor e lhe deitarei adubo. Talvez depois disto dê frutos. Caso contrário, cortá-la-ás' (Lc 13, 6 -9). 

'O machado já está posto à raiz das árvores: toda árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada ao fogo' (Mt 3, 10).

Muitas vezes, a árvore do bem parece estar prosperando, e se enche de folhas viçosas, antecipando farta colheita...

'Compreendei isto pela comparação da figueira: quando seus ramos estão tenros e crescem as folhas, pressentis que o verão está próximo' (Mt 24, 32).

... mas eis, então, que os valores do mundo consomem toda a seiva que, assim, não fecunda os frutos:

'Porquanto cada árvore se conhece pelo seu fruto. Não se colhem figos dos espinheiros, nem se apanham uvas dos abrolhos' (Lc 6, 44).

Aquelas figueiras que não produziram frutos nos tempos da misericórdia, jamais produzirão frutos depois dos tempos da justiça divina:

'Vendo uma figueira à beira do caminho, aproximou-se dela, mas só achou nela folhas; e disse-lhe: Jamais nasça fruto de ti! [referência ao tempo da eternidade]. E imediatamente a figueira secou' (Mt 21, 19 - 20).

As figueiras que produziram figos bons estarão transformadas, na eternidade da glória, em árvores da vida (e não mais como árvores do conhecimento, pois o mal não existe mais), que produzem frutos e frutos que são eternos:

'Mostrou-me então o anjo um rio de água viva resplandecente como cristal de rocha, saindo do trono de Deus e do Cordeiro. No meio da avenida e às duas margens do rio, achava-se uma árvore da vida, que produz doze frutos, dando cada mês um fruto, servindo as folhas da árvore para curar as nações. Não haverá aí nada de execrável, mas nela estará o trono de Deus e do Cordeiro' (Ap 22, 1 - 3).