sexta-feira, 24 de outubro de 2014

HORA SANTA DE OUTUBRO


Esta é uma hora três vezes santa, pela proximidade de Jesus Cristo a nossas almas pobrezinhas. A ferida sempre aberta de Seu peito fala-Lhe da terra e O força docemente a atender, ao mesmo tempo em que os cânticos do céu, as súplicas e os gemidos sobem do desterro. Ele avança agora para o abismo de nosso nada, sedento de almas. Avancemos também nós para o abismo de Seu Coração até sucumbir ditosamente nele. Senhor Jesus, faz que compreendamos o dom inefável de Vosso Divino Coração!

(Breve Pausa)
(Pedi-Lhe a luz da fé para conhecê-lO, caridade abrasadora para amá-lO e para fazê-lO amar em Seu Sagrado Coração)

Getsêmani, o horto da agonia mortal do Mestre, não desapareceu. Perpetua-se em cada Sacrário da terra. Ele está aqui, pois, na Hóstia. Nela, Jesus agonizante sente os desfalecimentos de uma angústia suprema e de uma caridade incontrolável. Triste até a morte nesse tabernáculo, Ele anseia, oh, dulcíssima misericórdia!, encontrar uma reparação, descansar em nossos peitos e confiar-nos aí todo o tesouro de aflição e de carinho em que extravasa Seu adorável Coração. 

A terra em que agora o adoramos é terra santa. Aqui está realmente Jesus, o jovem encantador de Nazaré. Jesus, o Mestre compassivo de Tiberíades. Aqui, está Jesus, o Amigo de Betânia. Sim, aqui, a dois passos, está o amável moribundo de Getsêmani, a Vítima adorável do Calvário. Oh, noite mais formosa que a alvorada! À sua sombra, de inefável paz, São João e Santa Maria parecem aproximar-se a este altar para compartilhar conosco o segredo que, ao descansar sobre seu Coração, lhes confiou o Prisioneiro do amor. 

(Pausa) 
(Declarai-lhe em doce intimidade que o amais com toda o alma, com amor de desagravo) 

A sós com Jesus! Que delícia! A sós com Ele, compartilhando Sua solidão e Sua agonia! Mas escutai; lá fora ruge uma tormenta de ódio contra o perseguido Jesus Cristo. O eco dos séculos vai gritando ante as grades de seu cárcere, a blasfêmia horrenda do povo grita: 'És réu de morte... Crucifica-o!' Que mal nos fez esse Deus ensanguentado? Almas piedosas, que desejam consolá-lO, vede-O chegar nesta Hora Santa, pressionado sob o peso de Sua Cruz. Vem ferido na alma, percorrendo uma Via Dolorosa que parece não ter fim. Vem, mas abraçado sempre a Seu patíbulo. Ama-nos tanto! Vede-O. Chega agoniado, perdida a formosura de Seus olhos na formosura de Suas lágrimas. Vem exausto de sangue e transbordante em misericórdia Seu doce Coração. Já está aqui. Oh, mistério inefável! Se compreendêssemos o dom desta aproximação de Jesus, a graça incomparável de sua vizinhança consoladora no Sacrário. Está aí... A um passo... Ao abençoar-nos, à sombra de Sua mão nos atinge.

(Breve Pausa) 

E o que é que procura? Uma trégua às Suas dores. Quer o amor de Seus amados. Que venha então. Ah, sim! Que venha repousar nesta Hora Santa ao calor de afeto de nossas almas compassivas. Os anjos do Santuário escutam abismados uma harmonia triste e misteriosa: é como o eco, nunca apagado, de um divino lamento: o do Getsêmani. É o gemido salvador do Gólgota, que parece repercutir ao renovar-se este sacrifício incruento do altar. Desde o fundo do Sacrário, Seus lábios, encharcados na amargura de todas as ingratidões, nomeiam-nos com bênção de amor a todos os que nesta Hora Santa viemos chorar com Ele a desventura de Seu amor menosprezado. É grande, que imensa é a dor que Lhe atormenta... Mas é maior ainda, é infinito, o amor que o tortura!

Quanta dignidade a deste Salvador! Quer confiar-nos Suas tristezas; está ansioso de desafogar conosco a decepção sofrida com tantos que, tomados de favores, chamaram-se Seus discípulos, e depois O abandonaram. Mais fieis ainda do que São Pedro, que São Tiago e que São João no Horto da agonia, escutemo-IO nós, pois quer falar-nos pela ferida de Seu amante Coração. 

(Pausa mais longa) 
(Solicita com fervor e humildade a graça de escutar a voz do Senhor, que pede e que se queixa) 

(Lento)

Voz do Mestre 

Fazia tanto tempo, alma querida, que vos aguardava aqui na Hóstia para contar-vos o amor que Me devora. Abençoo-vos, porque tiveste compaixão de vosso Deus encarcerado, sumido em amarga solidão. Tinha sede de vós. Por fim vos venci. Admite vós mesmo, sim, repete-me que Meu Coração vos venceu. Assegura-Me em seguida que Me amas. Que vós também sentes sede de Mim, e sede devoradora. 

Longe de Meu lado, vós, que és pó e nada, quantas vezes riste e gozaste. Eu sem vós, Eu, vosso Deus, por recobrar-vos, deixei aos anjos, deixei aos céus, e, depois de trinta e três anos de agonia, expirei num madeiro. Rompeste um dia minhas correntes. E livre de Meus braços pela culpa, ai, como pudeste amar tão triste liberdade? Olhe as mudanças, os disfarces que na terra Me forjei para atar-Me a vosso ingrato coração. Aqui me tens, constituído Prisioneiro ditoso de vosso amor. Como me pagaste? 

Perdoo-vos; mas sereis desde hoje, em desagravo, inteira e eternamente Meu. Filho tão amado, contempla-Me traído e só, só e blasfemado, só e escarnecido, só e sempre abandonado. Como Me fere esse esquecimento, sobretudo o dos bons; como Me magoa a covardia e indiferença dos que se chamam Meus amigos! Tenho aqui o Coração que tanto amou aos homens, e dos quais é tão mal correspondido. Terá dor semelhante a Minha dor? Minha alma está triste até a morte. Acerca-vos, põe os lábios na ferida de Meu lado, e, em reparação de amor, diga que Me amas com todo vosso coração, com toda vossa alma e todas vossas forças. Dá-Me de beber vossa alma. Tenho sede de vossa felicidade.

(Cortado e muito lento) 

Chamei a vossa consciência tantas vezes por Minha graça, e emudeceste. Recordas? Perdoo vosso desdém e vosso silêncio. Esperei muito próximo de vossa alma semanas, meses, longos anos. Supliquei-vos que Me abrisses. E me recusaste... Lembras- vos? Perdoo essa cruel deslealdade. Arrojado de todas as partes, mendiguei um consolo e o albergue de vosso coração. Por respeito humano, por falta de abnegação ou por indiferença, Me negaste-o. Recordas? Esqueço essa perfídia. Quando repartias carinho a todos, pedi para Mim uma centelha desse afeto. Todas as criaturas chegam sempre a tempo, todas. E Eu, alma querida, por que só Eu chego sempre tarde? Por que Me feres? Quando e em que vos tenho contristado? Responde-Me! 

(Breve pausa) 
(Cortado)

Tive fome de dar consolo aos enfermos e aos tristes. Procurei um refúgio nas casas da dor humana. Entrei com ousadia nelas, pois sou o Deus consolador de todas as misérias. E aqui Me têm jogado com ignomínia de centenas de hospitais, da cabeceira dos anciãos e dos berços dos órfãos. Que mal vos fez Minha compaixão e Minha ternura? Oh! Vocês, filhinhos Meus, amai-Me, em reparação de tanta crueldade. Amai-Me muito. Sou Jesus... 

Tive sede de um amor sem mancha: o das flores da infância. Procurei o carinho dos meninos pois, ao baixar do Calvário de Minhas decepções, recordei os lírios e as brisas de Minha Nazaré inesquecível, quando Eu também fui Menino. Oh, dor! Escuta, alma consoladora, como os que se chamam sábios no mundo Me renegam e amaldiçoam. Que mal fiz a vossos filhos? Amai-Me, oh! Amai-Me muito. Sou Jesus... Estive ansioso de fazer-vos felizes, dando-vos a verdadeira paz, que o mundo não possui, e vos roguei que me aceitásseis, como um dos vossos, no íntimo de vosso lar. Quis constituir-Me e ser chamado o Pai, o Esposo adorado, o Irmão inseparável. 

E o lar Me despediu. Mas não irei. Ah, não! Aqui me tendes aguardando com doçura que um pesar me abra, ainda que tarde, sua porta, pois as de Meu Coração jamais se fecham. Eu sou Jesus, a paz e o amor das famílias. Deixai em Minha frente, se quereis, a coroa dos espinhos, deixai-a sangrenta e crudelíssima, mas dai-Me, vo-lo peço por Minha Mãe, dai-Me hospedagem em vossas casas, consenti que Eu reine no lar. Amai-Me na família. Sou sua vida. Amai-Me muito, porque eu sou Jesus...

(Pausa longa) 

E agora, fala-Me vós, alma ditosa; fala-Me em íntima confiança, a este Deus que é todo caridade. Eis-Me aqui, benigno e manso, sou Jesus de Nazaré. Que poderia negar-vos nesta Hora Santa, em que vieste compartilhar Meus abandonos e Minhas agonias? Aqui Me tens; entrego-vos o Coração que tanto vos amou. Não posso conter os ardores do amor que vos professo. Chama-Me, e serei mil vezes vosso. Fala-Me, sou vosso Irmão. Adora-Me, sou vosso Deus. Consola-Me, com todo o amor de vossa alma. 
Eu sou Jesus... 

(Pausa) 

(Enquanto tantos bons dormem, enquanto tantos desgraçados pecam, o Senhor Jesus segue agonizando misticamente no Sacrário. Aproximemo-nos e falemos, em doce intimidade, a Seu Coração que nos aguarda) 

(Lento e sempre cortado) 

Voz da alma 

Que tenho eu, Senhor Jesus, que Vós não me tenhas dado? O que sei eu, que Vós não me tenhas ensinado? O que valho eu, se não estou ao Vosso lado? O que mereço eu, se a Vós não estou unido? Perdoa-me os erros que contra Vós tenho cometido! Pois me criaste sem que eu o merecesse, e me redimiste sem que eu o pedisse. Muito fizeste em criar-me, Muito em redimir-me. E não será menos poderoso em perdoar-me. Pois o muito sangue que derramaste, e a acerba morte que padeceste, não foi pelos anjos que Vos adoram, senão por mim e o restante dos pecadores que Vos ofendem. Se Vos neguei, deixa-me reconhecer-Vos; se Vos injuriei, deixa-me adorar-Vos; se Vos ofendi, deixa-me servir-Vos, porque é mais morte do que vida, a que não está empregado em Vosso santo serviço. 

(Breve pausa) 

Que bem me encontro assim, reclinado maciamente no céu de Vosso peito! E este, só este, o lugar de meu descanso eterno. Este, o Tabernáculo onde escuto Vossas palavras de vida e Vossas lamentações de amor e sacrifício. Deixa de sofrer, Mestre e atende o hino de minha alma, ansiosa de confundir-se, num abraço eterno, com a Vossa; escuta-me, Jesus irmão.

(Lento) 

Coração de Jesus, dulcíssimo com os pecadores: um pecador Vos fala... 
Coração de Jesus, caminho dos extraviados: um pródigo Vos procura... 
Coração de Jesus, suavidade dos que sofrem: um desgraçado chama em Vosso santuário... 
Coração de Jesus, amigo fidelíssimo do homem, um amigo ingrato está aqui e Vos chora... 
Coração de Jesus, bonança nas contínuas vacilações da vida; uma alma combatida Vos chama em seu socorro...
Coração de Jesus, fogueira de santidade no amor, minha alma anseia saciar-se em Vós de amor e santidade... 
Coração de Jesus agonizante, esperança dos moribundos, lembra-Vos dos que nesta mesma hora lutam nas convulsões da morte...
Tem piedade dos agonizantes, os salva segundo Vossa grande misericórdia...
Envia-lhes, Senhor, o anjo de Getsêmani, e acerca a seus lábios que já não podem chamar-Vos o cálice de Vosso Coração piedoso...
Coração de Jesus, lembra-Vos dos moribundos mais desamparados! 

(Pedi pelos agonizantes) 
(Pausa) 

Vossa terna Mãe e Vossa Cruz são testemunhas desta Vossa amabilíssima palavra: 'Vim em procura dos enfermos, dos extraviados, das ovelhas perdidas de Israel'. A Virgem Maria recolheu zelosa, em beneficio dos pecadores, Vossas lágrimas de sangue. Em união, pois, com Ela, boa, misericordiosa, refúgio dos pecadores e caídos, peço-Vos por aqueles que ao ofender-Vos não sabem o que fazem. O mundo lhes condena inexorável; mas Vós, que conheceis a fraqueza humana e que lês tão adentro dessas almas infelizes, Vós, Jesus, tem piedade, tem paciência, tem perdão para com elas em Vosso amável Coração.

Peço-Vos, rogo-Vos, em nome de Vossa Eucaristia, pelos pobres pecadores. Perdoa-os, Jesus, e escreve seus nomes no livro da vida. Divino Salvador das almas, coberto de confusão me prostro em Vossa presença, e, dirigindo minha vista ao solitário Tabernáculo, sinto oprimido o coração ao ver o esquecimento em que Vos têm relegado tantos dos redimidos. Mas já que com tanta condescendência permites que nesta Hora Santa uma de Vossas lágrimas (...) às que verteu Vosso benigno Coração, rogo-Vos, Jesus, por aqueles que não rogam, louvo-Vos por tantos que Vos amaldiçoam e, com todo o ardor de minha alma, Vos clamo e Vos adoro em todos os sacrários da terra. Aceita, Senhor, o grito de expiação que um pesar sincero arranca de nossas almas afligidas. Elas vos pedem piedade; pelos meus pecados, pelos de meus pais, irmãos e amigos. 

(Todos, em voz alta) 

Piedade, ó Divino Coração! Pelas infidelidades e sacrilégios. 
Piedade, ó Divino Coração! Pelas blasfêmias e profanações dos dias santos. 
Piedade, ó Divino Coração! Pela libertinagem e os escândalos públicos. 
Piedade, ó Divino Coração! Pelos corruptores da juventude. 
Piedade, ó Divino Coração! Pela desobediência sistemática à Santa Igreja. 
Piedade, ó Divino Coração! Pelos crimes dos lares, pelas faltas dos pais e dos filhos. 
Piedade, ó Divino Coração! Pelos atentados cometidos contra o Romano Pontífice. 
Piedade, ó Divino Coração! Pelos transtornadores da ordem pública social cristã. 
Piedade, ó Divino Coração! Pelo abuso de sacramentos e o ultraje a Vosso santo Tabernáculo. 
Piedade, ó Divino Coração! Pela covardia dos ataques da imprensa, pelos maquinadores de seitas tenebrosas. 
E, por fim, Jesus, pelos bons que vacilam e pelos pecadores obstinados que resistem à Vossa graça... Piedade, ó Divino Coração! 

(Pausa) 

As doze promessas

Não nos basta, Senhor, Vossa misericórdia. Vossos interesses são os nossos, queremos Vosso Reinado. Pedimos, bom Jesus, que cumpras conosco as promessas que fizestes à Vossa confidente Margarida Maria em beneficio das almas que Vos adoram na formosura indizível, na ternura inefável, no amor incompreensível de Vosso Sagrado Coração. Por isso Vos pedimos com Vossa Santa Igreja, suplicamos-Vos pela Virgem Mãe, exigimos-Vos pela honra inviolável de Vosso nome, que estabeleças já, que apresses o reinado de Vosso amante Coração. 

(Todos, em voz alta) 

Venha a nós o reinado de Vosso amante Coração.

1ª. Jesus, reine logo, antes que Satanás e o mundo arrebatem as consciências e profanem em Vossa ausência todos os estados da vida... 
Venha a nós o reinado de Vosso amante Coração.

2ª. Jesus, triunfe nos lares, reine neles pela paz inalterável, aos que Vos receberam com hosanas... 
Venha a nós o reinado de Vosso amante Coração.

3ª.  Não demores, Mestre muito amado, porque muitos destes padecem aflições e amarguras que só Vós prometestes remediar. 
Venha a nós o reinado de Vosso amante Coração. 

4ª. Vem, porque és forte. Vós, o Deus das batalhas da vida, vem ... mostrando-nos Vosso peito ferido como esperança celestial na hora da morte... 
Venha a nós o reinado de Vosso amante Coração. 

5ª. Seja Vós o sucesso prometido em nossos trabalhos, só Vós a inspiração e recompensa de todas as empresas. 
Venha a nós o reinado de Vosso amante Coração. 

6ª. E Vossos prediletos, quer dizer, os pecadores, não esqueças que para eles, sobretudo, revelaste as ternuras Incansáveis de Vosso amor.
Venha a nós o reinado de Vosso amante Coração. 

7ª. São tantos os mornos, Mestre, tantos os indiferentes a quem deves inflamar com esta admirável devoção! 
Venha a nós o reinado de Vosso amante Coração. 

8ª. 'Aqui está a vida', disseste-nos, mostrando-nos Vosso peito atravessado. Permite, pois, que aí bebamos o fervor, a santidade, a que aspiramos. 
Venha a nós o reinado de Vosso amante Coração. 

9ª. Vossa imagem, a pedido Vosso, foi entronizada em muitas casas. Em nome delas Vos suplico sigas sendo, em todas, o Soberano muito amado. 
Venha a nós o reinado de Vosso amante Coração. 

10ª. Põe palavras de fogo, persuasões irresistíveis, vencedoras, naqueles sacerdotes que Vos amam e que Vos pregam como São João, Vosso Apóstolo amado. 
Venha a nós o reinado de Vosso amante Coração. 

11ª.  E a quantos ensinem esta devoção sublime, a quantos publiquem vossas inefáveis maravilhas, reserva-lhes, Jesus, uma fibra vizinha àquela em que tens gravado o nome de Vossa Mãe. 
Venha a nós o reinado de Vosso amante Coração. 

12ª.  E, por fim, Senhor Jesus, dá-nos o céu de Vosso Coração enquanto compartilhamos Vossa agonia na Hora Santa, por esta hora de consolo e pela Comunhão das primeiras sextas-feiras; cumpre conosco Vossa promessa infalível. Pedimos-Vos que na hora decisiva da morte... 
Venha a nós o reinado de Vosso amante Coração. 

(Pedi-lhe que cumpra suas promessas de vitória, que reine nas almas e na sociedade) 
(Pausa) 

No seio de meu lar, bom Jesus, há penas muito fundas e secretas. Se Vós reinasses entre os meus com toda a intensidade de amor que Vós mereces, ah! não haveria em minha casa tantos e tão amargos pesares! Vem, vem! Amigo de Betânia, pois em minha família há alguém que está enfermo e Vós o amais. Quando Vós estais, as mesmas penas são suaves, e ao Vosso lado, os espinhos têm bálsamo de paz. Vem, pois, e não tardeis, amigo de Betânia. Apressa-Vos, porque meu lar está ferido com a ausência de seres queridos que faltam nele: pai, mãe e irmãos, todos crescemos junto ao pé da Cruz. Ah! E depois essa mesma Cruz, por vontade do Céu, foi-nos separando do ninho santo do lar. Tende piedade desses amados ausentes, que trabalham e lutam longe da família, e talvez também longe de Vosso altar. E venha logo a nosso lado, Jesus, amigo doce de Betânia!

(Nomeai os seres queridos do lar, os pródigos por quem vos interessam) 
(Breve pausa) 

Mestre, Irmão, Amigo da alma, Jesus querido, tende misericórdia também dos meus que morreram, daqueles que foram à eternidade em seguimento Vosso. Dormem em paz porque Vos amaram, e porque Vós sois infinito em caridade. Mas, ao ir-se, deixaram-nos sombras e tristezas na alma, espinhos e uma tumba no caminho. Ah! Mas bem sei eu que em Vosso Coração amabilíssimo não pode ter separações; nele, onde está a vida, desaparece a horrível morte. Por isso, Vos peço paz sobre suas tumbas, e aos que ficamos, gemendo neste vale de lágrimas, dá-nos a resignação que levanta, o desapego da terra e o amor ao sofrimento, que nos une inseparavelmente a Vós. 


(Nomeai a vossos mortos tão queridos, inesquecíveis). 
(Pausa) 

Não fechais ainda a preciosa ferida de Vosso lado: tenho que Vos pedir, em especial, pelos que sofrem, por aqueles, Senhor Jesus, que Vos procuram com olhos cansados de chorar. Por tantos a quem a desgraça, os duelos, as decepções, a pobreza, as doenças ou suas próprias fraquezas feriram de morte. Nazareno amabilíssimo, Vós sabeis, por amarguíssima experiência, quão pulsantes são os espinhos do caminho. Consolai, pois, aos atribulados. Tende piedade dos que sofrem. 

(Pedi-lhe força de consolo nas tribulações) 

De mim não Vos falei, porque me confiais sem reservas ao Vosso Divino Coração. Vós, que tanto me amais e que és o único em compreender-me, não ireis seguramente querer esquecer-me. Oh, Jesus: escutai minha última prece, unida sempre à agonia do Vosso Coração Sacramentado! Inclinai-Vos e atendei-me benigno. 
(Cortado e lento)

Quando os anjos de Vosso Santuário Vos louvarem na Hóstia Sacrossanta e eu me encontrar na agonia... Seus louvores são os meus. Lembrai-Vos do pobre servo de Vosso Divino Coração. Quando as almas justas da terra Vos clamam acendidas em amor e eu me encontre na agonia... Seus trabalhos e suas lágrimas são as minhas. Lembrai-Vos do pródigo, resgatado por Vosso Sagrado Coração. Quando Vossos sacerdotes, as virgens do templo e Vossos apóstolos vos aclamarem Soberano, pregarem-Vos às almas e Vos entronizarem nos povos e eu me encontre na agonia..., seu zelo e seus ardores são os meus. Lembrai-Vos do apóstolo de Vosso Divino Coração. 

Quando a Igreja orar e gemer ante o altar, para redimir convosco o mundo e eu me encontre na agonia... , seu sacrifício e sua prece serão os meus. Lembrai-Vos do amigo de Vosso Sagrado Coração. Quando, na Hora Santa, Vossas almas amadas, amando e reparando, fizerem-Vos esquecer abandonos, sacrilégios e traições e eu me encontre na agonia... , seus colóquios contigo e seus consolos são os meus. Lembrai-Vos deste altar e desta vítima de Vosso Divino Coração. Quando Vossa divina Mãe Vos adorar na Sagrada Eucaristia e repare aí os crimes infinitos da Terra e eu me encontre na agonia..., Suas adorações serão as minhas. Lembrai-Vos do filho de Vosso Sagrado Coração. 

Oh, sim! Lembrai-Vos desta criatura miserável, que Vós tanto amastes... recordai que lhe exigiste que se esquecesse de si mesma por Vosso amor. Mas não, Senhor; esquecei-me se quiseres, com a condição que me deixeis esquecido para sempre na chama formosa de Vosso amante Coração. Ah! e cuidai, Jesus, do meu coração; desprendei-o de tudo afeto terreno. Velai por esta alma, encadeada deliciosamente a Vosso Sacrário, e alimentai nela o fogo santo em que Vos abrasas. Oh, abrasai-me, Senhor Jesus. Acendei-me em Vossa caridade, pois almejo amar-Vos até a paixão, até a insensatez, até o delírio, com amor mais forte do que a morte! 

(Pausa) 
(Cortado) 

Que tenho eu, Senhor Jesus, que Vós não me tenhais dado? Despojai-me de tudo, de Vossos próprios dons; mas abismai-me na fogueira de Vosso ardente Coração. O que sei eu, que Vós não me tenhais ensinado? Esqueça eu a ciência sombria da terra e da vida, e em mudança, conheça melhor a Vós, oh, amável Coração! Que valho eu, se não estou a Vosso lado? O que mereço eu, se a Vós não estou unido? Une-me, pois, a Vós, com vínculo que seja eterno. Renuncio a todas as delícias de Vosso amor, com tal de 
possuir perfeitamente este outro Paraíso, o do Vosso terno Coração. E nele sepulta, ó sim, os erros que contra Vós cometi. E castiga, e vinga-Vos de todos eles ferindo com dardo de acendida caridade ao que tanto Vos ofendeu. 

E se Vos neguei, deixai-me reconhecer-vos na Eucaristia em que Vós viveis. Se Vos ofendi, deixai-me servir-Vos em eterna escravidão de amor eterno, porque é mais morte do que vida a que não se consome em amar e em fazer amar Vosso esquecido, Vosso amoroso, Vosso divino Coração. Venha a nós Vosso reino! 

Padre Nosso e Ave-Maria pelas intenções particulares dos presentes; 
Padre Nosso e Ave Maria pelos agonizantes e pecadores; 
Padre Nosso e Ave-Maria pedindo o reinado do Sagrado Coração mediante a Comunhão frequente e diária, a Hora Santa e a Cruzada da Entronização do Rei Divino em lares, sociedades e nações. 

(Cinco vezes) 

Coração Divino de Jesus, venha a nós o Vosso reino! 

Fórmula de consagração individual ao Sagrado Coração de Jesus, composta por Santa Margarida Maria 

Eu (nome) Vos dou e consagro, ó Sagrado Coração de Jesus Cristo, minha pessoa e minha vida, minhas ações, penas e sofrimentos, para não querer mais servir-me de nenhuma parte de meu ser senão para Vos honrar, amar e glorificar. É esta minha vontade irrevogável: ser todo Vosso e tudo fazer por Vosso amor, renunciando de todo o meu coração a tudo quanto Vos possa desagradar. Tomo-Vos, pois, ó Sagrado Coração, por único objeto do meu amor, protetor de minha vida, segurança de minha salvação, remédio de minha fragilidade e de minha inconstância, reparador de todas as imperfeições de minha vida e meu asilo seguro na hora da morte. 

Sede, ó coração de bondade, minha justificação diante de Deus, Vosso Pai, para que desvie de mim Sua justa cólera. Ó coração de amor! Deposito toda a minha confiança em Vós, pois tudo temo de minha malícia e de minha fraqueza, mas tudo espero de Vossa bondade! Extingui em mim tudo o que possa desagradar-Vos, ou se oponha à Vossa vontade. Seja o Vosso puro amor tão profundamente impresso em meu coração, que jamais possa eu esquecer-Vos, nem separar-me de Vós. Suplico, por Vosso infinito amor, que meu nome seja escrito em Vosso coração, pois quero fazer consistir toda a minha felicidade e toda a minha glória em viver e morrer como Vosso escravo. Amém. 


(Hora Santa de Outubro, pelo Pe. Mateo Crawley - Boevey)