sexta-feira, 3 de maio de 2013

A FÉ EXPLICADA: O PURGATÓRIO (III)


A misericórdia de Deus é exercida, em relação ao Purgatório, de uma tríplice maneira: 1 – consolando as almas que nele estão; 2 – mitigando seus sofrimentos; 3 – dando-nos mil meios de evitar esse fogo punitivo. [...] As almas do Purgatório também recebem grande consolação da Santíssima Virgem. Não é Ela a Consoladora dos Aflitos? E qual aflição pode ser comparada à das pobres almas do Purgatório? Não é Ela Mãe de Misericórdia? E não é com relação a essas santas almas padecentes que Ela mostra toda a misericórdia de seu coração? Não nos devemos, pois, espantar de que, nas Revelações de Santa Brígida, a Rainha do Céu atribua a si o nome de Mãe das Almas do Purgatório. 'Eu sou – disse Ela à santa – a Mãe de todos aqueles que estão no lugar de expiação; minhas preces mitigam os castigos que lhes são infligidos por suas faltas'. [...]

Além do consolo que as almas recebem da Santíssima Virgem, elas são também assistidas e consoladas pelos santos Anjos, e especialmente por seus Anjos-da-Guarda. Os Doutores da Igreja ensinam que a missão tutelar dos Anjos-da-Guarda termina somente na entrada de seus protegidos no Paraíso. [...] O Anjo guardião conduz a alma ao seu lugar de expiação e lá permanece com ela para proporcionar-lhe toda a assistência e consolações em seu poder. [...]

Se Deus consola as almas com tanta bondade, sua misericórdia brilha ainda mais claramente no poder que dá à sua Igreja de encurtar a duração de seus sofrimentos. Desejando executar com clemência a severa sentença de sua justiça, Ele concede diminuição e mitigação da pena. Mas faz isso de maneira indireta, através da intervenção dos vivos. A nós Ele concede todo o poder para socorrer nossos aflitos falecidos, por meio do sufrágio, isto é, através dos meios da impetração e da satisfação.

A palavra sufrágio, em linguagem eclesiástica, é sinônimo de prece; contudo, quando o Concílio de Trento declara que as almas do Purgatório são assistidas pelos sufrágios dos fiéis, o sentido da palavra é mais abrangente. Inclui, em geral, tudo o que se pode oferecer a Deus pelos falecidos. Podemos assim oferecer a Deus não somente nossas preces, mas também nossas boas obras, tanto quanto elas sejam impetratórias ou satisfatórias.

Para entender esses termos, lembremo-nos de que cada uma de nossas boas obras, feitas em estado de graça, ordinariamente possui um tríplice valor aos olhos de Deus: (i) a obra é meritória, quer dizer, aumenta nosso mérito; dá-nos direito a um novo grau de glória no Céu; (ii) é impetratória (impetrar, obter), pois, como a prece, ela tem a virtude de nos obter algumas graças de Deus; (iii) é satisfatória, tendo, por assim dizer, um valor pecuniário e podendo satisfazer à divina justiça e pagar nossas dívidas de punição temporal diante de Deus.

O mérito é inalienável, e permanece propriedade da pessoa que pratica a ação. Pelo contrário, os valores impetratórios ou satisfatórios podem beneficiar outros, em virtude da Comunhão dos Santos. [...] Quais são os sufrágios pelos quais, de acordo com a doutrina da Igreja, podemos ajudar as almas do Purgatório? Respondemos: consistem nas orações, esmolas, jejuns e penitências de qualquer gênero, indulgências, e sobretudo no santo Sacrifício da Missa. Nosso Senhor Jesus Cristo permite-nos oferecer à Divina Majestade todas as obras, feitas em estado de graça, para alívio de nossos falecidos no Purgatório, e Deus as aplica a essas almas, de acordo com sua Justiça e Misericórdia.

Depois do Santo Sacrifício da Missa, temos uma multidão de meios muito eficientes para aliviar as santas almas, se os empregamos com espírito de fé e fervor (e estando em estado de graça) [...]. Sabemos que o Santo Rosário mantém o primeiro lugar entre todas as orações que a Igreja recomenda aos fiéis. Essa excelente prece, fonte de tantas graças para os vivos, é também singularmente eficaz no alívio dos falecidos. [...]

Se as boas obras ordinárias obtêm tanto alívio para as almas, qual não será o efeito da obra mais santa que um católico pode fazer, ou seja, a sagrada comunhão? [...] Depois da santa comunhão, falaremos da Via Sacra. Esse santo exercício pode ser considerado em si mesmo e nas indulgências com que é enriquecido. Em si, é uma solene e muito excelente maneira de meditar na Paixão de nosso Salvador, e, consequentemente, o mais salutar exercício de nossa santa Religião. [...] Assim, essa devoção, tanto pelas muitas excelências de que é objeto, quanto em razão de suas indulgências, constitui um sufrágio de grande valor em favor das santas almas. [...]

As indulgências são, na Igreja, um verdadeiro tesouro que permanece aberto aos fiéis. A todos é permitido dele se servir para pagar as próprias dívidas e as dos outros. [...] As almas do Purgatório, que se encontram em tão extrema necessidade, suplicam-nos com lágrimas em meio aos seus tormentos; temos os meios de pagar suas dívidas por meio das indulgências, mas não nos empenhamos em fazê-lo. [...]

O Doutor Angélico dá preferência às esmolas em relação ao jejum e à oração, quando se trata da expiação das faltas. Diz ele: 'Esmolas possuem mais completamente a virtude da satisfação do que a prece, e esta mais completamente que o jejum'. Esta é a razão por que grandes servos de Deus e grandes santos a escolheram como um principal meio de assistir aos falecidos. [...] A esmola cristã, essa misericórdia que Jesus Cristo tanto recomenda em seu Evangelho, compreende não só a assistência corporal aos necessitados, mas também todo bem que fazemos ao nosso próximo, trabalhando para sua salvação, suportando seus defeitos e perdoando suas ofensas. Todas essas obras de caridade podem ser oferecidas a Deus pelos falecidos, e contêm grande virtude satisfatória. [...]

Falamos da gratidão das santas almas. Isso elas podem algumas vezes manifestar de maneira clara, mas frequentemente o fazem invisivelmente, por suas preces. As almas rezam por nós não somente depois de sua libertação (do Purgatório), quando estão com Deus no Céu, mas mesmo em seu lugar de exílio e em meio a seus sofrimentos. Se bem que não podem rezar por si mesmas, no entanto, pelas suas súplicas, elas obtêm grandes graças para nós. [...] Se as almas são tão gratas a seus benfeitores, Nosso Senhor Jesus Cristo, que ama essas almas, que recebe como feito a si todo o bem que empreendemos em relação a elas, conceder-nos-á abundante recompensa, muitas vezes nesta vida, e sempre na próxima. Ele olha para aqueles que praticam essa misericórdia, e pune os que se esquecem de fazê-la para as almas do Purgatório.

(Excertos da obra: 'Purgatory, illustrated by the lives and legends of the Saints', do Pe. Padre F.X. Schouppe, TAN Books and Publishers, 1973, originais da Revista Catolicismo, 2005).