sexta-feira, 22 de março de 2013

DA VIDA ESPIRITUAL (46)

Diante do pecado, tua alma, em dor profunda, gritaria do fundo do teu coração: ‘Eis o que me fizeste agora, uma casa envolta em trevas, um caos de vertigens e medo! Aonde a luz do Santo Espírito que irrompia em cascatas sem fim através do teu corpo revestido da graça do Pai? Aonde o júbilo sem medidas do amor eucarístico? Aonde o perfume inebriante das coisas do céu? Nada mais, a não ser o vazio imenso de um coração que pulsa pelo fogo tíbio das paixões humanas, que bombeia o sangue que te torna cidadão do mundo e órfão da eternidade? 

Como dói esta brusca ruptura, esta implosão de ideais, este abismo de destroços e ruínas! Aspiravas ser espírito da vontade divina e agora és carne de um mendigo da loucura; de discípulo do Filho do Homem passaste a ser peregrino de atalhos sem fim; do calor abrasador do fogo de Cristo volveste a tua face à seiva pegajosa das tentações humanas; com o mesmo preço vil das moedas de Judas compraste com a tibieza todos os prazeres do mundo; do mistério da graça me levaste aos sumidouros infernais dos desesperados. 

Dentro do teu coração fechado, não mais repousa uma alma de esplêndida beleza; dentro do teu peito humano, esconde-se a miséria dos instintos e a falange dos teus desejos e ambições. São elas que destrancam as portas da tua mansidão, sulcam a superfície polida do teu caráter, violam os segredos de teus sentimentos, perturbam a calmaria de tuas convicções, achincalham as certezas de tua fidelidade, destroem as correntes de tua perseverança, descalçam os apoios de tua generosidade e corroem as fontes de tua fé; são elas que te banqueteiam com tantos amores divididos, crenças dispersas, meias verdades e os frutos da insensatez. Teu corpo exala odor de obra temporária, tua alma agoniza sem luz e sem ar...' 

E, então, meu filho, tu irias correndo buscar o tesouro da oração, da confissão, da santa eucaristia... E aprenderias a ouvir, com a nitidez de todos os trovões, o grito de tua alma...