domingo, 22 de abril de 2012

SOLA SCRIPTURA INSANA

É bem sabido o sentido simbólico dos números nas Sagradas Escrituras. No contexto mais superficial desta numerologia, repete-se aqui e ali o bordão de '15 razões porque sou protestante, 15 razões porque deixei de ser católico' e outras 15 variantes do mesmo estrabismo espiritual. São 15, e podiam ser 150, que sempre se reduzem a uma só: o que não estiver explícito com todas as letras nas Sagradas Escrituras, é destituído de crença e, portanto, produto do reducionismo da Palavra de Deus. E, assim, Purgatório, Missa, Papa e os Santos da Igreja são impelidos na fornalha dos crentes como matéria sem valor algum. Vale o que está escrito, e impõe-se total descrédito (quando não se atribui tais intervenções à ação do demônio) sobre tudo que é fruto da Tradição ou História da Revelação. Impõe-se o dogma do homem sobre o Evangelho de Deus: a Sola Scriptura. Nada pode ser acrescentado às Escrituras, venha de onde vier, seja lá o que for; tudo o que estiver além do que está registrado nas Escrituras deve ser peremptoriamente rejeitado por princípio. Nesta insana via, dolorosa via, ouso fazer meros 5 comentários (sem quaisquer simbolismos numéricos):

1. A  Bíblia não é essencial para se chegar à salvação. Se isto fosse verdade, a maioria das pessoas que existiram antes da invenção da imprensa teriam necessariamente perdido o céu. Portanto, a Bíblia não pode ser Tudo e não pode ser o único caminho para a salvação.

2. Nas próprias Escrituras, encontramos palavras demolidoras desse culto restritivo ao final do Evangelho de São João: 'Há, porém, muitas outras coisas que Jesus fez e que, se fossem escritas uma por uma, creio que o mundo não poderia conter os livros que se escreveriam' (Jo 21,25). Portanto, muitas outras coisas reveladas por Jesus não estão impressas nas Escrituras, mas foram transmitidas oralmente pelos apóstolos - o que chamamos hoje de Tradição da Igreja. E, exatamente por isso, porque a Verdade deveria ser difundida primariamente pela palavra falada em vez da palavra escrita, é que Jesus conclamou aos seus discípulos nos termos gerais: 'Ide e ensinai' (Mc 16, 15-20).

3. Ao se impor a validade absoluta das Escrituras, o protestante aniquila toda a riqueza espiritual da Tradição Oral e das Revelações, esvazia por completo os méritos e as graças extraordinárias passíveis de obtenção pela mediação da Virgem Maria (Nossa senhora foi tão exaltada por Deus exatamente porque se fez a serva mais humilde Dele e, é de concluir, portanto, que tal humildade relativizou profundamente a sua presença nas Escrituras, para glória de Deus e louvor de Cristo; para os protestantes,no entanto, isto implicou evidentemente no contrário, ou seja, um absurdo desdém e apequenamento do papel de Maria no plano salvífico do Pai), exclui o mérito dos Santos da Igreja, descartam o tesouro da Eucaristia e das indulgências, fomentam o relativismo cristão (as Sagradas Escrituras permitem livre interpretação, propiciando, assim, um número incontável de escolas protestantes) e, evidentemente, deturpam e achincalham a Verdadeira Igreja de Cristo, dada em caráter personalíssimo a Pedro: '... e sobre esta pedra eu edificarei Minha Igreja' (Mt 16, 18).

4. Os nossos irmãos afastados da Fé Verdadeira comportam-se como milhões de Tomés: 'o que eu não puder ler nas Sagradas Escrituras sobre o que Jesus fez ou falou nessa Terra, eu não acreditarei'. Seriam apenas incrédulos. Mas, infelizmente, são mais do que isso. Ao se portarem como doutos e auto-suficientes da Palavra de Deus, levam o livre arbítrio às últimas consequências do orgulho desmedido e da presunção inescrupulosa, tornando-se, então, transgressores da Verdade e devotos do Pai da Mentira.

5. Da mesma forma que um católico deve e precisa se alimentar da Palavra de Deus transcrita nas Sagradas Escrituras, como fonte segura e de valor inestimável para a sua vida espiritual, ao protestante cabe tarefa muitíssimo maior: admitir a sua pequenez como Filho de Deus, eximir-se definitivamente da aura de doutor da lei e converter-se à única Igreja de Cristo, fora da qual não há salvação. 

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