sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

02 DE FEVEREIRO - APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO

Ao tomar a criança nos seus velhos e cansados braços, Simeão é a Igreja que acolhe Jesus. Ao ser recebido nos braços do velho sacerdote, Jesus acolhe para si o resgate e a redenção da humanidade pecadora. Neste encontro no Templo, é forjada a missão da Igreja: permanecer, ainda que envelhecida e cansada, nos braços de Cristo, até o último dia da humanidade.


Salve, ó Virgem, Mãe de Deus, cheia de graça,
pois de ti nasceu o sol de justiça, o Cristo, nosso Deus, 
iluminando os que estão nas trevas.


Alegra-te, ó justo ancião, 
ao receber em teus braços o libertador das nossas almas, 
que nos dá a ressurreição.


Simeão abençoando a Virgem Maria, Mãe de Deus,
viu profeticamente nela os sinais da paixão.


O coro celeste dos Anjos, inclinado para a terra,
vê o primogênito de toda a criação, como pequeno menino,
ser levado ao Templo pela Virgem Mãe.


Cristo Deus, que santificaste um seio virginal
e abençoaste, como convinha, as mãos de Simeão,
vieste e nos salvaste.


Nas guerras, concede a paz ao teu povo
e fortalece os governantes que tu amas,
ó único Amigo dos homens.


Abre-se hoje a porta do céu!


O Verbo eterno do Pai, de fato,
tendo iniciado a sua existência temporal,
sem separar-se da sua divindade,
conforme a lei, 
deixa-se levar ao templo por sua Mãe,
como menino de quarenta dias.


O velho Simeão recebe-o em seus braços dizendo:
'Deixa ir-me em paz - exclama o servo ao Senhor -,
pois meus olhos viram tua salvação'.


Ó tu que vieste ao mundo para salvar o gênero humano:
Glória a ti, Senhor!


Ó Sião, acolhe Maria, a porta do céu:
ela é semelhante ao trono dos Querubins
e sustenta o Rei da glória.


A Virgem é uma nuvem de luz que traz o Filho feito carne,
nascido antes da estrela da manhã.

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS

 

DEVOÇÃO DAS NOVE PRIMEIRAS SEXTAS - FEIRAS   

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

ORAÇÃO: ATO HEROICO DE CARIDADE

O Ato Heroico de Caridade (ler sobre isso aqui) consiste em ceder às almas do Purgatório todas as nossas obras de satisfação, isto é, o valor satisfatório de todas as obras da nossa vida e de todos os sufrágios que nos serão dados depois da nossa morte, sem reservar nada para saldar as nossas próprias dívidas. Depositamo-los nas mãos da Santíssima Virgem, para que ela os distribua, segundo a sua vontade, às almas que deseja livrar do Purgatório.


'Ó Santíssima e Adorável Trindade, desejando cooperar na libertação das almas do Purgatório, e para testemunhar a minha devoção à Santíssima Virgem Maria, eu cedo e renuncio em favor dessas santas almas toda a parte satisfatória das minhas obras, e todos os sufrágios que me possam ser dados depois da minha morte, entregando-os inteiramente nas mãos da Santíssima Virgem, para que ela os aplique segundo a sua boa vontade às almas dos fiéis defuntos que ela deseja libertar dos seus sofrimentos. Dignai-vos, ó meu Deus, aceitar e abençoar esta oferenda que Vos faço neste momento. Amém'.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

31 DE JANEIRO - SÃO JOÃO BOSCO

  


Filho de uma humilde família de camponeses, São João (Melchior) Bosco nasceu em Colle dos Becchi, localidade próxima a Castelnuovo de Asti em 16 de agosto de 1815. Órfão de pai aos dois anos, viveu de ofícios diversos na pobreza da infância e da juventude, até ser ordenado sacerdote em 5 de junho de 1841, com a missão apostólica de servir, educar e catequizar os jovens, o que fez com extremado zelo e santificação durante toda a sua vida.

Em 1846, fundou o Oratório de São Francisco de Sales em Turim, dando início à sua obra prodigiosa, arregimentando colaboradores e filhos, aos quais chamava de salesianos, em meio a um intenso e profícuo apostolado. Em 1859, fundou  a Congregação Salesiana e, em 1872, com a ajuda de Santa Maria Domingas Mazzarello, fundou o Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora para a educação da juventude feminina. Em 1875, enviou a primeira turma de seus missionários para a América do Sul. No Brasil, as primeiras casas salesianas foram o Colégio Santa Rosa em Niterói e o Liceu Coração de Jesus em São Paulo. 

Faleceu a 31 de janeiro de 1888 em Turim, aos 72 anos, deixando como herança cristã a Congregação Religiosa Salesiana espalhada por diversos países da Europa e das Américas. O Papa Pio XI, que o conheceu e gozou da sua amizade, canonizou-o na Páscoa de 1934. Popularizado como 'Dom Bosco', foi aclamado pelo Papa João Paulo II como 'pai e mestre da juventude' e se tornaram lendários os seus sonhos proféticos (exemplo abaixo), que ele narrava em suas pregações aos jovens salesianos.

A BIGORNA E O MARTELO

Em 20 de agosto de 1862, depois de rezadas as orações da noite e de dar alguns avisos relacionados com a ordem da casa, Dom Bosco disse: 'Quero contar-lhes um sonho que tive faz algumas noites'.

Sonhei que estava em companhia de todos os jovens em Castelnuovo do Asti, na casa de meu irmão. Enquanto todos faziam recreio, dirigiu-se a mim um desconhecido e convidou-me a acompanhá-lo. Segui-o e ele me conduziu a um prado próximo ao pátio e ali indicou-me, entre a erva, uma enorme serpente de sete ou oito metros de comprimento e grossura extraordinária. Horrorizado ao contemplá-la, quis fugir.

— 'Não, não' — disse-me meu acompanhante — 'não fujas; vem comigo'.
 'Ah!' — exclamei — 'não sou tão néscio para me expor a um tal perigo'.
— 'Então' — continuou meu acompanhante —'aguarda aqui'.
E, em seguida, foi em busca de uma corda e com ela na mão voltou novamente junto a mim e disse-me:
— 'Tome esta corda por uma ponta e agarre-a bem; eu agarrarei o outro extremo e por-me-ei na parte oposta e, assim, a manteremos suspensa sobre a serpente'.
— 'E depois?'
— 'Depois a deixaremos cair sobre a espinha dorsal'.
— 'Ah! não; por caridade. Pois ai de nós se o fizermos! A serpente saltará enfurecida e nos despedaçará'.
— 'Não, não; confie em mim' — acrescentou o desconhecido —'eu sei o que faço'.
— 'De maneira nenhuma; não quero fazer uma experiência que pode-me custar a vida'.

E já me dispunha a fugir, quando o homem insistiu de novo, assegurando-me que não havia nada que temer; e tanto me disse que fiquei onde estava, disposto a fazer o que me dizia. Ele, entretanto, passou do outro lado do monstro, levantou a corda e com ela deu uma chicotada sobre o lombo do animal. A serpente deu um salto voltando a cabeça para trás para morder ao objeto que a tinha ferido, mas em lugar de cravar os dentes na corda, ficou enlaçada nela mediante um nó corrediço. Então o desconhecido gritou-me:

— 'Agarre bem a corda, agarre-a bem, que não se lhe escape'.

E correu a uma pereira que havia ali perto e atou a seu tronco o extremo que tinha na mão; correu depois para mim, agarrou a outra ponta e foi amarrá-la à grade de uma janela. Enquanto isso, a serpente agitava-se, movia-se em espirais e dava tais golpes com a cabeça e com sua calda no chão, que suas carnes rompiam-se saltando em pedaços a grande distancia. Assim continuou enquanto teve vida; e, uma vez morta, só ficou dela o esqueleto descascado e sem carne. Então, aquele mesmo homem desatou a corda da árvore e da janela, recolheu-a, formou com ela um novelo e disse-me:

— 'Presta atenção!'

Colocou a corda em uma caixa, fechou-a e depois de uns momentos a abriu. Os jovens tinham-se ajuntado ao ao meu redor. Olhamos o interior da caixa e ficamos maravilhados. A corda estava disposta de tal maneira, que formava as palavras: Ave Maria!

— 'Mas como é possível?' — disse — 'Você colocou a corda na caixa e agora ela aparece dessa maneira!'.

— 'Olhe' — disse ele — 'a serpente representa o demônio e a corda é a Ave Maria, ou melhor, o Santo Rosário, que é uma série de Ave Marias com a qual e com as quais se pode derrubar, vencer e destruir todos os demônios do inferno.

Enquanto falávamos sobre o significado da corda e da serpente, voltei-me para trás e vi alguns jovens que, agarrando os pedaços da carne da serpente, os comiam. Então gritei-lhes imediatamente:

— 'Mas o que é o que fazem? Estão loucos? Não sabem que essa carne é venenosa e que far-lhes-á muito dano?'

'Não, não' — respondiam-me os jovens — 'a carne está muito boa'.

Mas, depois de havê-la comido, caíam ao chão, inchavam-se e tornavam-se duros como uma pedra. Eu não podia ficar em paz porque, apesar daquele espetáculo, cada vez era maior o número de jovens que comiam aquelas carnes. Eu gritava a um e a outro; dava bofetadas a este, um murro naquele, tentando impedir que comessem; mas era inútil. Aqui caía um, enquanto que lá começava a comer outro. Então chamei os clérigos em meu auxílio e disse-lhes que se mesclassem entre os jovens e se organizassem de maneira que ninguém comesse aquela carne. Minha ordem não teve o efeito desejado, pois alguns dos clérigos começaram também a comer as carnes da serpente, caindo ao chão como os outros. Eu estava fora de mim quando vi a meu redor um grande número de moços estendidos pelo chão no mais miserável dos estados. Voltei-me, então, para desconhecido e disse-lhe:

— 'Mas o que quer dizer isto? Estes jovens sabem que esta carne ocasiona-lhes a morte e, contudo, a comem. Qual é a causa?'

Ele respondeu-me: ' Já sabes que animalis homo non percipit ea quae Dei sunt: Alguns homens não percebem as coisas que são de Deus'.

— 'Mas não há remédio para que estes jovens voltem em si?'

— 'Sim, há'.

— 'E qual seria?'

— 'Não há outro que não seja pela bigorna e pelo martelo'.

— 'Bigorna? Martelo? E como terei que empregá-los?'

— 'Terás que submeter os jovens à ação de ambos estes instrumentos'.

— 'Como? Acaso devo colocá-los sobre a bigorna e golpeá-los com o martelo?'

Então meu companheiro me esclareceu, dizendo:

— 'O martelo significa a Confissão e a bigorna, a Comunhão; é necessário fazer uso destes dois meios'.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

SOBRE OS GRAUS DE CERTEZA TEOLÓGICA


1. O mais elevado grau de assertividade é dado às verdades que são imediatamente reveladas. O assentimento de fé a elas reside na própria autoridade de Deus revelador (fides divina) e quando a Igreja garante, pela sua proclamação, que elas estão contidas na revelação, então essas verdades são também apoiadas pela autoridade do magistério infalível da Igreja (fides catholica). Quando são propostas por meio de uma definição solene do Papa ou de um Concílio Universal, então são verdades de fé definitiva (de fide definita).

2 - As verdades católicas ou doutrinas eclesiásticas sobre as quais o magistério infalível da Igreja se pronunciou definitivamente devem ser admitidas com um assentimento de fé que se apoia unicamente na autoridade da Igreja (de fide ecclesiastica). A certeza destas verdades é infalível como a dos próprios dogmas.

3. A verdade próxima da fé (fidei proxima) constitui uma doutrina quase universalmente considerada pelos teólogos como verdade revelada, mas que a Igreja ainda não declarou como tal de modo definitivo.

4. Uma sentença próxima da fé ou teologicamente certa (ad fidem pertinens vel theologice certa) é uma doutrina sobre a qual o magistério eclesiástico ainda não se pronunciou definitivamente, mas cuja verdade é garantida pela sua íntima conexão com a doutrina revelada (conclusões teológicas).

5. A doutrina comum é uma doutrina que, embora ainda esteja no campo da livre discussão, é geralmente defendida por todos os teólogos.

6. As opiniões teológicas de menor grau de certeza são as sentenças prováveis, mais prováveis, bem fundamentadas e a chamada sentença piedosa, porque tem em conta a crença piedosa dos fiéis (sententia probabilis, probabilior, bene fundata, pia). O grau mais baixo de certeza é possuído pela opinião tolerada, que se baseia apenas em fundamentos frágeis, mas que é tolerada pela Igreja.

No que diz respeito às declarações do magistério eclesiástico, é preciso ter em conta que nem todas as declarações do magistério em matéria de fé e de moral são infalíveis e, portanto, irrevogáveis. Só são infalíveis as declarações do Concílio Ecumênico que representa todo o episcopado e as declarações do Romano Pontífice quando fala ex cathedra

O magistério do Romano Pontífice na sua forma ordinária e habitual não é infalível. As decisões das congregações romanas (Congregação para a Doutrina da Fé, Comissão Bíblica) também não são infalíveis. No entanto, devem ser seguidas com assentimento interno (assensus religiosus), motivado pela obediência à autoridade do magistério eclesiástico. O chamado silêncio respeitoso não é suficiente como regra geral. Excecionalmente, a obrigação de dar assentimento interno pode cessar quando um avaliador competente, depois de ter examinado repetida e conscienciosamente todas as razões, estiver convencido de que a declaração é equivocada e pautada num erro.

(Texto originalmente publicado no blog CAOT)

domingo, 28 de janeiro de 2024

EVANGELHO DO DOMINGO

'Não fecheis o coração, ouvi hoje a voz de Deus!' (Sl 94)

Primeira Leitura (Dt 18,15-20) - Segunda Leitura (1Cor 7,32-35)  -  Evangelho (Mc 1,21-28)

 28/01/2024 - Quarto Domingo do Tempo Comum 

9. 'CALA-TE!'


Num certo dia de sábado, ainda no início do tempo de sua pregação pública, Jesus se dirige a uma sinagoga de Cafarnaum. E se põe a ensinar aos presentes, não conforme as prescrições vigentes e nem como um escriba qualquer, mas com a autoridade suprema de ser Ele próprio a Verdade falada e afirmada por todos os profetas. Aqueles homens privilegiados da história escutaram naquele sábado as primeiras palavras de uma nova doutrina, nascida do próprio coração de Deus.

Deus falava aos homens naquele sábado em Cafarnaum. E as palavras de Jesus ressoavam pela sinagoga e reverberavam, com ruídos estridentes, nos portais do inferno, transtornando os espíritos imundos. O mal, então, reage na sua cantilena miserável, pelos gritos de um possesso qualquer: 'Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus' (Mc 1, 24).

Jesus vai fazer o demônio se calar peremptoriamente: 'Cala-te e sai dele!' (Mc 1, 25). 'Cala-te!' Sim, pois não se deve dar ouvidos ao demônio em condição alguma, pois não se obtém proveito algum da sordidez do maligno; o mal apenas faz conluio com o mal e, mesmo a verdade - 'tu és o Santo de Deus' - torna-se repugnante e maliciosa nas entranhas do pai da mentira. Não existe confabulação ou argumentação possível com o mal, mas apenas a sua condenação explícita e imediata: 'Cala-te!' Jesus é imperativo ao expulsar o demônio do possesso e, assim, não lhe dar a menor chance de réplica.

Não há melhor didática que tal ensinamento diante dos inevitáveis confrontos e tentações humanas diante da avassaladora força do mal: não admitir concessão alguma à sua manifestação. Diante do mal, diante das tentações, diante das ciladas dos espíritos maus às condições humanas, este 'cala-te!' deve soar de pronto e definitivo: 'Cala-te!' Diante das lamentações frouxas, da tibieza, da preguiça, do orgulho: 'Cala-te!' Contra todas as ocasiões de pecado e de perda dos fundamentos da nossa fé: 'Cala-te!' Contra o mundo, se o mundo estiver contra a Verdade: 'Cala-te!' Seguindo os preceitos de Jesus, não nos basta apenas praticar o bem, mas também fazer calar e desaparecer de vez o mal que grita e se estertora entre as misérias do mundo.

sábado, 27 de janeiro de 2024

AS DORES DE MARIA

A beleza de Jesus é inexaurível. Como a Visão de Deus no céu, ela é sempre diversa, embora sempre a mesma; sempre apreciada como um contentamento antigo e familiar, embora sempre surpreendente e estimulante por ser, na verdade, perpetuamente nova. Ele é sempre belo, belo em todo lugar, tanto na desfiguração da Paixão, quanto no esplendor da Ressurreição, tanto nos horrores da Flagelação, quanto nos indizíveis encantos de Belém. Mas acima de todas as coisas, Nosso Senhor é belo em sua Mãe. Se o amamos, devemos amá-la. Devemos conhecê-la, para conhecê-lo. Da mesma forma que não há verdadeira devoção à sua Sagrada Humanidade, que não seja consciente de sua Divindade, também não há amor adequado ao Filho que o  separe de sua Mãe, e a coloque de lado, como um mero instrumento, a quem Deus escolheu como se escolhesse uma coisa inanimada, 'sem consideração por sua santidade e retidão moral'. Mas é nosso dever diário amar Jesus cada vez mais. 

Um ano acaba e outro começa; o antigo curso das festas se repete; as conhecidas divisões do ano cristão nos abarcam, deixam em nós a sua marca, e se sucedem. Sudecem-se os Natais, Semanas Santas, Pentecostes, e algo há em cada um deles que os fazem residir como datas em nossa mente! Passamos alguns deles sob certas circunstâncias, e outros, sob outras. Alguns, graças a Deus, se distinguem por excepcionais aberturas de coração em nossa vida interior, de tal forma a alterar ou intensificar nossa devoção e materialmente influenciar nossas secretas relações com Deus. As fundações de muitas construções, que não se levantaram sobre a terra senão depois de muito tempo, foram lançadas quase inconscientemente nesses períodos. Todavia, quaisquer que tenham sido as alterações que essas festas trouxeram, elas sempre nos encontraram ocupados com uma única e mesma tarefa: estávamos tentando amar Jesus cada vez mais. 

E por meio de todas essas mudanças, e em toda a perseverança de nossa tarefa única, a experiência infalível nos tem dito que nunca avançamos mais rapidamente no amor do Filho do que quando viajamos com sua Mãe, e que o que construímos mais solidamente em Jesus, foi construído com Maria. Não há tempo perdido em sua busca, se recorremos de imediato a Maria; pois Ele está sempre lá, sempre em casa. A obscuridade de seus mistérios torna-se luz quando os colocamos sob sua luz, que é sua luz também. Ela é o caminho mais curto a Ele. Ela tem a 'via grandiosa' a Ele. Ela é sua Ester, e rápidas e integrais são as resposta a petições que suas mãos apresentam.

Mas Maria é um mundo, que não podemos perceber totalmente de uma só vez. Devemos nos devotar a mistérios particulares. Devemos separar certas regiões desse mundo de graça, e nelas nos concentrar. Devemos explorá-las e mapeá-las com precisão, antes de passarmos a outras regiões, e então aprenderemos muito do que uma visão geral nos teria omitido, e provisionaremos nossas almas com riquezas espirituais, riquezas de conhecimento e amor, que nos levarão perpetuamente à comunhão com nosso amado Senhor. Enquanto a graça de Deus ainda insiste em nos manter vivos, e por seus próprios propósitos graciosos, nos detêm nessa gélida fadiga e nessa depressiva possibilidade do pecado, determinemo-nos pelo menos em nos ocupar apenas com Deus; pois há muito aprendemos que não há verdadeiramente outra ocupação que nos valha a pena. 

Ele tem ainda milhares de Edens, mesmo na lúgubre superfície dessa salgada estepe do mundo, onde devemos trabalhar ao som de cursos d’água, não sem colóquios com Ele nos períodos calmos do dia; podemos andar de Éden a Éden, na medida em que a força ou a fraqueza de nosso amor nos impele. No momento, tranquemo-nos no jardim das dores de Maria. É um dos Edens preferidos de Deus, e não podemos trabalhar lá senão sob a sombra de sua presença, não sem o amor a Jesus tomando maravilhosamente posse de nossas almas. Pois o amor de Jesus está no próprio ar invisível do lugar, no aroma do solo revolvido, na fragrância das flores, no farfalhar das folhas, nos cantos dos pássaros, no brilho do sol, na murmuração suave das águas que escorrem pelas pedras do lugar. Lá, por um tempo, por nosso amor a Jesus, nós nos recolheremos como num claustro, e deixemos o mundo – no qual não temos muita importância, e que é ainda menos importante para nós do que somos para ele – sem sentir nossa falta por um período.

A lei da Encarnação é a lei do sofrimento. Nosso Senhor foi o homem das dores e, pelo sofrimento, Ele redimiu o mundo. Sua Paixão não foi um mistério separado do resto de sua vida, mas apenas seu fim adequado e congruente. O Calvário não é diferente de Belém e Nazaré. Ele os excede em grau; mas não difere deles em gênero. Todos os trinta e três anos foram passados em consistente sofrimento, embora distinto em vários gêneros, e não de intensidade uniforme. Essa mesma lei do sofrimento, que pertence a Jesus, toca a todos que se lhe aproximam, e em proporção de sua santidade; envolve-os e os reclama inteiramente para si. Os Santos Inocentes foram, nos desígnios de Deus, contemporâneos de Nosso Senhor, e isto já é afinidade suficiente para lançá-los num mar de sofrimentos que levaram suas carnes a sangrarem nos braços de suas mães transtornadas, para em seguida desfrutarem eternamente de coroas e palmas: uma troca feliz e enorme fortuna, construída rapidamente e assim tão maravilhosamente assegurada! 

A mesma lei envolveu cada um dos apóstolos, sobre quem caíra a indescritível e bem-aventurada escolha do Verbo Encarnado. Foi a cruz para Pedro e seu irmão, a espada para Paulo, as pedras para Tiago, o esfolamento para Bartolomeu, e o óleo fervente e longos anos de fatigante demora para João. Mas, qualquer forma que tome exteriormente, internamente ela foi sempre sofrimento. Acompanhou-lhes em todas as terras. Pairou sobre eles em todas as vicissitudes. Andou com eles nas estradas de Roma, como se fossem seus anjos da guarda; cavalgou ao lado de suas desconfortáveis galés nas águas tempestuosas do Mediterrâneo. Eles eram apóstolos. Deviam ser como seu Senhor. Deviam entrar na nuvem, e a escuridão do eclipse devia recair sobre eles no alto de algum Calvário, de Roma à Báctria, da Espanha ao Hindustão. 

A mesma lei envolveu os mártires de todas as eras. Suas paixões foram sombras vivas da grande Paixão, e o sangue que derramaram mesclou seu fluxo com o Precioso Sangue de seu Redentor, o Rei dos Mártires. Da mesma forma, com os santos. Tenham sido eles bispos ou doutores, virgens ou senhoras, seculares ou religiosos, amor incomum e graças incomuns sempre lhes alcançavam na forma de uma provação incomum e de um sofrimento incomum. Eles também devem ser levados para o interior da nuvem, e daí emergirão com suas faces resplandecentes, porque terão visto, e visto de perto, a Face do Crucificado. É assim, em sua medida, com todos os eleitos. Eles devem pelo menos manter-se dentro das bordas da nuvem escura, ou ela deve sombreá-los em seu trânsito, talvez mais de uma vez, a fim de assegurar a salvação de suas almas, dando-lhes pelo menos uma semelhança adequada de seu Senhor. O que, então, pensar de sua Mãe, que esteve, de todos, o mais próximo d’Ele?

Não deve ser surpresa que ela sofra mais do que qualquer um, exceto Ele mesmo. A imensidade de suas dores não será nem uma aflição nem uma surpresa para nós, mas, ao contrário, a óbvia conclusão de tudo que sabemos do grandioso mistério da Encarnação. O montante de seus sofrimentos será o índice da magnificência do seu amor por ela. A profundidade de suas dores é, de todos, o melhor modo de se sondar o abismo de seu amor por Ele. Seu imenso mar de dores medirá a grandeza de sua santidade. A excelsitude de sua divina Maternidade elevará suas dores para próximo de sua graciosa Paixão. Sua impecabilidade parecerá quase circundá-la com a mesma lei de expiação vivificante. Sua união com Ele transformará sua Compaixão inseparável de Sua Paixão, mesmo que, por milhares de razões, esta seja tão manifestamente distinta daquela. 

A Mulher vestida de Sol será envolvida por muitas voltas da brilhante escuridão daquele mesmo terrível destino, que Ele concedeu, a princípio, designar e, então, aceitar como a grande lei de sua Encarnação. Devemos estar preparados a encontrar as dores de Maria além do alcance de nossa imaginação, acima da possibilidade de nossa descrição. Podemos apenas contemplá-las com instrumentos que a fé e o amor fornecem, e perceber a beleza e a estranheza de muitos fenômenos que podemos somente imperfeitamente compreender. Assim podemos, especialmente, aumentar nossa devoção à Paixão, cujas muitas e desconhecidas regiões nos são momentaneamente iluminadas pelo contato com suas dores, tal como na ocultação de Júpiter, o luminoso e manchado planeta, quando toca a porção escura da lua, ele dispersa momentaneamente uma linha de luz ao longo da borda invisível, como uma revelação, e então, ao desaparecer prova a realidade daquilo que não conseguimos ver.

Mas, antes de invocarmos a São João Evangelista para sustentar a nossa mão e descer conosco às profundezas daquele coração partido, que ele, o santo do Sagrado Coração, conhecia melhor que os todos, devemos ter uma visão geral das dores de Nossa Senhora, tal como nos familiarizamos com o esboço geral da geografia de um país antes de tentarmos dominar seus detalhes. Há sete pontos, dos quais é necessário que tenhamos informações, antes que possamos estudar os mistérios individuais de seu incomparável sofrimento. Devemos conhecer, tanto quanto está em nosso poder, a imensidade de suas dores, porque Deus as permitiu, quais foram suas origens, quais suas características, como ela pôde regozijar-se nelas, de que modo a Igreja as coloca diante de nós e qual deve ser o espírito de nossa devoção a elas. Estas são questões que precisam de respostas; e estas, ainda que imperfeitas, servirão como um tipo de introdução ao nosso assunto.

(Excertos da obra 'Aos Pés da Cruz - As Dores de Maria", do Pe. Frederick Faber)