domingo, 19 de novembro de 2023

EVANGELHO DO DOMINGO

   

'Felizes os que temem o Senhor e trilham seus caminhos!' (Sl 127)

Primeira Leitura (Pr 31,10-13.19-20.30-31) - Segunda Leitura (1Ts 5,1-6)  -  Evangelho (Mt 25,14-30)

 19/11/2023 - Trigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum

52. A PARÁBOLA DOS TALENTOS


Como herdeiros das alegrias eternas, somos administradores e não proprietários dos bens recebidos nesta vida. Tudo vem de Deus e tudo há de voltar para Deus na medida em que cada um de nós deverá prestar as devidas contas da infinitude das graças recebidas por Deus para se cumprir o seu plano de nossa salvação. Como nada nos pertence, nem nosso corpo, nem os nossos pensamentos, viver a santidade consiste em fazer em tudo e por todos a Santa Vontade de Deus, colocando todos os nossos dons e talentos a serviço do Reino.

O 'homem (que) ia viajar para o estrangeiro' (Mt 25, 14) não é outro senão Jesus que subiu ao Céu e que, chamando os seus empregados, 'lhes entregou seus bens' (ainda Mt 25, 14). Bens, portanto, que pertencem a Deus e que são distribuídos aos homens de forma diversa, por meio de um, de dois, de cinco talentos, de acordo com os desígnios da Providência e na medida certa para levar a todos ao cumprimento ideal da sua missão salvífica. Desta forma, a glória de Deus é fruto não da graça de se ter mais ou menos talentos, mas da resposta de cada um de nós, pela própria vocação, de cumprir santamente a Vontade de Deus na administração coerente dos bens recebidos em benefício próprio e dos nossos irmãos.

Mérito que tiveram os empregados que receberam cinco e dois talentos: bens que renderam outros bens, na medida do amor de ambos: 'servo bom e fiel' (Mt 25, 21.23); talentos que se multiplicaram e que se distribuíram fartamente, pela medida expressa por um rendimento em dobro: 'Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco, que lucrei' (Mt 25, 20) e 'Senhor, tu me entregaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei' (Mt 25, 22). Quem se mostra fiel na administração dos bens recebidos, será merecedor de bens ainda maiores e herdeiro das alegrias eternas: 'Vem participar da minha alegria!’ (Mt 25, 21.23).

Glória que será tirada dos servos infiéis, dos empregados maus e preguiçosos que, diante os dons e talentos recebidos, os enterram nos buracos de sua insensatez, do egoísmo e da busca desenfreada por posses e bens materiais, aviltando a graça de Deus e se consumindo nos próprios interesses e mesquinhez. Ao prestar contas de sua má administração, o servo infiel busca em vão refúgio na tentativa de culpar o patrão, mediante a concepção desvairada de um Deus injusto e severo, para apenas se condenar pelas próprias palavras e pelos pecados de negligência e omissão. E, condenado, perde até o pouco que porventura tenha feito em favor de outros e ganha a perdição eterna: 'Porque a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. Quanto a este servo inútil, jogai-o lá fora, na escuridão. Aí haverá choro e ranger de dentes!’ (Mt 25, 29 - 30).

sexta-feira, 17 de novembro de 2023

SOBRE OS MALES DOS ESCRÚPULOS

O escrúpulo, diz Santo Afonso de Ligório, não passa de um vão temor de pe­car causado por apreensões que não têm motivo algum. Por sua vez, Bergier diz que o escrú­pulo é uma pena de espírito, uma an­siedade de alma que faz que a pessoa creia ofender a Deus em todas as suas ações e nunca se quitar dos seus deveres assaz perfeitamente. Enfim, o escrúpulo, dizem os autores da ciência do confessor, é uma dúvida que não é fundada, ou que só o é muito ligei­ramente, e que perturba a consciência e a enche de inquietações. É um vão ter­ror, um receio extremado de achar pecado onde realmente não existe, nascendo daí na alma uma angústia que a torna irresoluta e inquieta.

Ora, esse temor de pecar ou de haver pecado em tudo e a toda hora, esse con­tínuo pavor que só repousa nos mais fra­cos indícios, enche entretanto o coração de angústias e de perplexidades, falseia o juízo, destrói a paz interior, gera a des­confiança e a tristeza, afasta dos sacra­mentos, altera a saúde do espírito e até mesmo a do corpo. Nada é mais nocivo, diz ainda Santo Afonso de Ligório, naquele que tende à perfeição e que se deu a Deus, do que os escrúpulos. 'Essas almas são loucas' - dizia Santa Tereza - 'pois, com os seus escrúpulos, acabarão por não mais ousar dar um passo na trilha da perfei­ção'.

Todavia, não se deve confundir a dúvida com o escrúpulo, nem o escrúpulo com a consciência timorata. Na dúvida, a alma, por prudência, julga dever ficar indecisa entre dois partidos, atendendo às razões de ambas as partes que lhe parecem con­trabalançar-se. O mesmo já não se dá com o escrúpulo. Se o temor não dominasse o escrupuloso, ele acharia bastantes luzes em si mesmo para se resolver e para jul­gar que o oposto do escrúpulo é mais pro­vável. Aliás, a dúvida propriamente dita não inquieta nem aflige o espírito, ao pas­so que o escrúpulo se torna o tormento incessante do escrupuloso. A razão desta diferença é, aliás, fácil de apreender: é que a dúvida tem um fundamento ao menos aparente, e o escrúpulo não o tem; o que faz os teólogos dizerem que nunca é lícito agir contra a consciência duvidosa, e que, ao contrário, se pode e se deve agir contra o escrúpulo, como se verá mais adiante.

Pessoas há que, confundindo o escrúpulo com a delicadeza de consciência, conside­ram-no como uma virtude, enganam-se estranhamente; porquanto, longe de ser uma virtude, ele é um defeito, e dos mais perigosos. O sábio e piedoso Gerson não receava dizer que, muitas vezes, uma consciência escrupulosa prejudica mais a alma do que uma consciência de­masiado fácil e por demais relaxada.

Também se confunde amiúde a cons­ciência timorata com a consciência escru­pulosa; a diferença é, entretanto, bem de­finida. A consciência timorata evita os menores pecados, com juízo e tranquili­dade; a escrupulosa, ao contrário, age sem fundamento, com perturbação e inquieta­ção; o que faz que esteja sempre agitada e transtornada.

Eis aqui os sinais ou sintomas pelos quais se conhecem as almas escrupulosas:

1. recear incessantemente, nas suas confissões, não ter demonstrado uma verdadeira dor; 
2. recear pecar nas menores coisas, como, por exemplo, fazer um juízo temerário, faltar à caridade ou ceder aos maus pensamen­tos; 
3. ser inconstante nas suas dúvi­das, mudar incessantemente de sentimen­to sob a mais leve aparência, julgando uma mesma ação ora lícita, ora ilícita; 
4. fartar-se frequentemente de reflexões minuciosas, e mesmo extravagantes, sobre as mais ligeiras circunstâncias das suas ações; 
5. não se ater, sobre isso, ao pa­recer do seu confessor, e mostrar muito apego ao próprio senso; consultar várias pessoas, pesar-lhes as razões, e só se ater a si mesmo; 
6. agir com ansiedade, com certa perturbação que tira a atenção e o discernimento, que embaraça a liberdade e retém a alma cativa. 

Tais são os princi­pais sintomas das consciências escrupulo­sas. Mas a quem é que pertence pronun­ciar-se em semelhante matéria? Ao con­fessor; porquanto o escrupuloso nunca acredita que o é; acredita sempre que os seus escrúpulos são verdadeiros pecados. Está na sombra, não vê a sua consciência: só o juiz espiritual é que pode vê-la; e é por isto que o penitente deve seguir-lhe os conselhos, e, se for reconhecido como escrupuloso, deixar-se tratar como aco­metido desta moléstia. Pelo contrário, se quiser decidir por si mesmo, quanto mais quiser tranquilizar-se tanto mais se perturbará e se colocará em risco de perder-se.

(Excertos da obra 'Tratado dos Escrúpulos da Consciência', Abade Grimes, 1854)

DOUTORES DA IGREJA (XXXI)

  31Santa Teresa de Ávila, Virgem (†1582)

Doutora da Espiritualidade

(1515 - 1582)

Concessão do título: 1970 - Papa Paulo VI
Celebração: 15 de outubro (Memória Obrigatória)

 Obras e Escritos 

  • Autobiografia (Livro da Vida)
  • O Caminho da Perfeição
  • Meditações sobre o Cântico dos Cânticos
  • O Castelo Interior
  • Relações (complemento da sua Autobiografia)
  • Conceitos de Amor
  • Exclamações
  • Cartas
  • Poemas

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

OS FUNDAMENTOS DA REGRA ECLESIÁSTICA: FAZER O QUE SE PREGA!

Somos todos fracos, confesso, mas o Senhor Deus nos entregou meios com os quais, se quisermos, poderemos ser fortalecidos com facilidade. Tal sacerdote desejaria possuir uma vida íntegra, que dele é exigida, ser continente e ter um comportamento angélico, como convém, mas como se não se resolve a empregar estes meios: jejuar, orar, fugir das más conversas e de nocivas e perigosas familiaridades.

Queixa-se de que, ao entrar no coro para a salmodia, ao dirigir-se para celebrar a missa, logo mil pensamentos lhe assaltam a mente e o distraem de Deus. Mas, antes de ir ao coro ou à missa, que fez na sacristia, como se preparou, que meios escolheu e empregou para fixar a atenção?

Queres que te ensine a caminhar de virtude em virtude e como seres mais atento ao ofício, ficando assim teu louvor mais aceito de Deus? Escuta o que digo. Se ao menos uma fagulha do amor divino já se acendeu em ti, não a mostres logo, não a exponhas ao vento! Mantém encoberta a lâmpada, para não se esfriar e perder o calor; isto é, foge, tanto quanto possível, das distrações; fica recolhido junto de Deus, evita as conversas vãs.

Tua missão é pregar e ensinar? Estuda e entrega-te ao necessário para bem exerceres este encargo. Faze, primeiro, por pregar com a vida e o comportamento. Não aconteça que, vendo-te dizer uma coisa e fazer outra, zombem de tuas palavras, abanando a cabeça.

Exerces a cura de almas? Não negligencies por isso o cuidado de ti mesmo, nem dês com tanta liberalidade aos outros que nada sobre para ti. Com efeito, é preciso te lembrares das almas que diriges, sem que isto te faça esquecer da tua.

Entendei, irmãos, nada mais necessário aos eclesiásticos do que a oração mental que precede, acompanha e segue todos os nossos atos: 'Salmodiarei, diz o Profeta, e entenderei' (cf Sl 100). Se administras os sacramentos, ó irmão, medita no que fazes; se celebras a missa, medita no que ofereces; se salmodias no coro, medita a quem e no que falas; se diriges as almas, medita no sangue que as lavou e, assim, tudo o que é vosso se faça na caridade (1Cor 16,14). Deste modo, as dificuldades que encontramos todos os dias, inúmeras e necessárias, serão vencidas com facilidade. Teremos, assim, a força de gerar Cristo em nós e nos outros.

(São Carlos Borromeu)

quarta-feira, 15 de novembro de 2023

TESOURO DE EXEMPLOS (266/270)

 

266. OITO HORAS POR DIA

São Alfredo Magno, rei da Inglaterra, consagrava todos os dias oito horas à oração ou à leitura de livros piedosos. Outras oito horas aos negócios do Estado e oito horas ao descanso e às demais necessidades e ocupações. Levantava-se muito cedo e ia à capela, onde, prostrado por terra, fazia a sua oração.

267. UM PROTESTANTE

Um protestante teve a curiosidade de entrar numa igreja durante a missa em um domingo e pôs-se a observar os fiéis. Ao sair disse: 'Os católicos dizem que Jesus Cristo está presente na Eucaristia; mas muitos deles não creem nisso; do contrário, procederiam com mais respeito durante a missa'.

268. EM QUE TE OCUPAS?

Queixava-se um jovem ao seu confessor, dizendo-lhe que ouvia mal a missa.
➖ Que fazes durante a missa? Em que te ocupas?
➖ Não faço outra coisa senão chorar os meus pecados.
➖ Continue assim, meu amigo; desse modo ouves muito bem a missa.

269. AQUELE É MEU PAI

O imperador da Áustria, José II, ordenara que os presidiários fossem empregados em trabalhos públicos. Alguns deles varriam a praça de Santo Estevão, em Viena. Um ministro observou que um moço bem trajado se aproximava de um daqueles varredores e beijava-lhe a mão. Um dia mandou chamar o moço e disse-lhe que aquele modo de agir não lhe convinha.

'Senhor' - disse o jovem - 'esse condenado é meu pai'. Comovido, o ministro referiu o fato ao imperador, o qual pôs o preso em liberdade, dizendo: 'Quem sabe educar seus filhos desta maneira não pode ser um malfeitor'.

270. GUARDÁ-LO-EI COMO LEMBRANÇA

Um inglês visitava a cidade de Viena. Entrou em uma loja de cabeleireiro no momento em que uma jovem oferecia sua formosa cabeleira pelo preço de dez coroas. Já se dispunha o cabeleireiro a cortá-la, quando o visitante quis saber por que a jovem ia sacrificar seus cabelos.

➖ Senhor - disse a jovem - meu pai foi negociante opulento; mas as coisas foram mal; agora ele é velho e desamparado; minha mãe está enferma e, como não encontro outra solução melhor, vejo-me obrigada a vender a minha cabeleira.
➖ A senhora não venda seus cabelos tão barato. Eu o pagarei melhor. E, entregando-lhe cem libras esterlinas, tomou a tesoura e disse:
➖ Permita-me que lhe corte um só fio do seu cabelo que guardarei como lembrança do seu amor filial.
Aquelas cem libras serviram de base para eles, em pouco tempo, reconstituírem a fortuna perdida.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)


terça-feira, 14 de novembro de 2023

O DOM DA PIEDADE

O dom do temor de Deus destina-se a curar em nós a chaga do orgulho; o dom da piedade é derramado em nossas almas pelo Espírito Santo para combater o egoísmo, que é uma das paixões más do homem decaído por causa do pecado original, e o segundo obstáculo à sua união com Deus. O coração do cristão não deve ser nem frio nem indiferente; é preciso que seja terno e devotado; do contrário não poderá se elevar à via para a qual Deus, que é amor, dignou-se chamá-lo. 

Assim o Espírito Santo produz no homem o dom da piedade, inspirando-lhe um retorno filial para seu Criador. 'Vós recebestes o Espírito de adoção' - nos diz o Apóstolo - 'e é por este Espírito que gritamos para Deus: Pai! Pai!'. Essa disposição torna a alma sensível a tudo o que toca a honra de Deus. Faz o homem alimentar em si mesmo a compunção dos seus pecados, tendo em vista a infinita Bondade que se dignou suportá-lo e perdoá-lo e o pensamento dos sofrimentos e da morte do Redentor. A alma iniciada no dom de piedade deseja constantemente a glória de Deus e quer por todos os homens aos seus pés; e os ultrajes que Ele recebe lhe são particularmente sensíveis. 

Sua alegria é ver o progresso das almas no amor e as devoções que este amor lhes inspira por Aquele que é o soberano Bem. Cheia de submissão filial para com o Pai universal que está nos céus, essa alma está pronta para todas as suas vontades. Resigna-se de coração com todas as disposições da Providência. Sua fé é simples e viva. Mantém-se amorosamente submissa à Igreja, sempre pronta a renunciar às suas próprias ideias e àquelas mais caras, se estas afastam-se de alguma forma de seu ensinamento ou de sua prática, tendo um horror instintivo da novidade e da independência. Essa devoção para com Deus que o dom de piedade inspira, unindo a alma a seu Criador pela afeição filial, a une, também, com uma afeição fraternal, a todas as criaturas, já que estas são obra do poder de Deus.

Em primeiro lugar, nas afeições do cristão animado pelo dom de piedade, estão as criaturas glorificadas, das quais, Deus goza eternamente e as quais se deleitam dEle para sempre. Ama ternamente a Santíssima Virgem Maria e é zeloso de sua honra; venera com amor os santos e os atos heroicos de virtude realizados pelos amigos de Deus; delicia-se com seus milagres, honra religiosamente suas relíquias sagradas. Mas sua afeição não é apenas pelas criaturas coroadas no céu; aquelas que ainda estão aqui embaixo ocupam um lugar importante em seu coração. O dom de piedade faz com que ele encontre nelas o próprio Jesus. Sua boa vontade para com seus irmãos é universal. Seu coração está inclinado ao perdão das injúrias, a suportar as imperfeições do outro, a desculpar as imperfeições do próximo. É compassivo para com o pobre, solícito aos pés do doente. Uma doçura afetuosa revela o fundo do seu coração e em suas relações com os irmãos da terra, o vemos sempre disposto a chorar com os que choram, a se alegrar com os que se alegram. 

Tal é, ó Divino Espírito, a disposição daqueles que cultivam o dom de piedade que derramais em suas almas. Por esse inefável benefício, neutralizais o triste egoísmo que afloraria em seus corações, livrando-os de uma frieza odiosa que torna o homem indiferente aos seus irmãos e fechais suas almas à inveja e ao ódio. Para isso, só foi preciso esta piedade filial para com o Criador; que enterneceu seus corações, fundindo-os com uma viva afeição por tudo o que sai das mãos de Deus. Fazei frutificar em nós este dom tão precioso, ó Divino Espírito! Não permitais que ele seja abafado pelo amor de nós mesmos. Jesus nos encorajou dizendo-nos que seu Pai Celeste 'faz o sol nascer sobre os bons e os maus'; não permitais, Divino Paráclito, que uma tão paternal indulgência seja um exemplo perdido para nós e dignai-vos desenvolver em nossas almas o germe de devoção, da benevolência e da compaixão que vos dignastes infundir no momento em que de nós tomastes possessão pelo santo batismo.

(Excertos da obra 'Os Dons do Espírito Santo', de Dom P. Gueranger)