sexta-feira, 3 de março de 2023

DIÁRIO DA QUARESMA 2023 - DIA X

 

Décimo Dia

Ó Maria, Mãe do Evangelho, fugistes para o Egito, sob a proteção desvelada de José, e assim protegestes o menino Jesus. Ajudai-nos a cuidar do precioso dom da vida que recebemos de Deus. Intercedei pelas nossas famílias, protegei os recém nascidos e encorajai os pais para que cuidem com carinho de seus filhos.

Propósito do Dia: Meditar sobre a Segunda Dor de Nossa Senhora - A Fuga para o Egitoescolher uma destas práticas (que pode ser nova ou repetida de dia anterior ou adotando-se qualquer outra que julgar mais conveniente) para viver esta Quaresma no dia de  amanhã.

ORAÇÃO: NUNC DIMITTIS

Nunc Dimittis (Cântico de Simeão) é a oração recitada por Simeão quando da apresentação de Jesus pelos seus pais no Templo de Jerusalém, para cumprir o preceito específico da lei judaica. Tomando o menino Jesus nos braços, o velho Simeão - segundo a promessa do Espírito Santo de que não morreria até ver o Salvador - entoou então este cântico de louvor e adoração a Deus (Lc 2, 29-31), o qual tem sido repetido diariamente nas Completas desde o século IV.


Nunc dimittis servum tuum, Domine
Secundum verbum tuum in pace:
Quia viderunt oculi mei
salutare tuum
Quod parasti
ante faciem omnium populorum:
Lumen ad revelationem gentium,
Et gloriam plebis tuae Israel.

'Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra. Porque os meus olhos viram a vossa salvação que preparastes diante de todos os povos, como luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo de Israel' 

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS

  

DEVOÇÃO DAS NOVE PRIMEIRAS SEXTAS - FEIRAS  

quinta-feira, 2 de março de 2023

DIÁRIO DA QUARESMA 2023 - DIA IX

  

Nono Dia

Ó Maria, Mãe de Jesus, vós que entregastes ao Pai o vosso Filho e ao ouvir as palavras proféticas de Simeão, tivestes a alma ferida pela espada e assim vos unistes intimamente à Paixão do Senhor, concedei-nos acolher o grande mistério da nossa existência neste mundo, onde se entrecruzam morte e vida, tristeza e alegria, fracasso e vitória.

Propósito do Dia: Meditar sobre a Primeira Dor de Nossa Senhora - Profecia de Simeãoescolher uma destas práticas (que pode ser nova ou repetida de dia anterior ou adotando-se qualquer outra que julgar mais conveniente) para viver esta Quaresma no dia de  amanhã.

O DOGMA DO PURGATÓRIO (LI)


Capítulo X

Auxílio às Santas Almas - Santo Agostinho e Santa Mônica - O Santo Sacrifício da Missa 

Na Nova Lei temos o Santo Sacrifício da Missa, do qual os diversos sacrifícios da Lei Mosaica eram apenas pálidas referências. O Filho de Deus a instituiu, não só como digna homenagem prestada pela criatura à Divina Majestade, mas também como propiciação pelos vivos e pelos mortos; isto é, como um meio eficaz de apaziguar a Justiça de Deus, provocada pelos nossos pecados. O Santo Sacrifício da Missa foi celebrado em intenção dos falecidos desde o tempo da fundação da Igreja. 'Celebramos o aniversário do triunfo dos mártires' - escreve Tertuliano no século III - 'e, segundo a tradição de nossos pais, oferecemos o Santo Sacrifício pelos falecidos no aniversário de sua morte' (De Corona, c. 5).

'Não se pode duvidar' - escreve Santo Agostinho - 'que as orações da Igreja, o Santo Sacrifício e as esmolas distribuídas pelos defuntos aliviam essas almas santas e movem Deus a tratá-las com mais clemência do que merecem os seus pecados. É a prática universal da Igreja, uma prática que ela conserva tal como tendo recebido dos seus antepassados ​​– isto é, dos santos Apóstolos' (Serm. 34, De Verbis Apost.). 

Santa Mônica, a digna mãe de Santo Agostinho, quando estava prestes a expirar, pediu apenas uma coisa ao seu filho: que ele se lembrasse dela no altar de Deus e o santo Doutor, ao relatar essa comovente circunstância no Livro de suas Confissões, pede a todos os seus leitores que se unam a ele para recomendá-la a Deus durante o Santo Sacrifício da Missa (Liv. 9., c. 5). Desejando retornar para a África, Santa Mônica foi com Santo Agostinho até Ostia, a fim de embarcar; mas ela adoeceu e logo sentiu que seu fim estava se aproximando. 'É aqui' - disse ela ao filho - 'que você vai enterrar a sua mãe. A única coisa que peço a você é que se lembre de mim no altar do Senhor' - Ut ad altare Domini memineritis mei

Santo Agostinho continua: 'Que me perdoem as lágrimas que então derramei, pois não se deve lamentar aquela morte que foi apenas a entrada para a verdadeira vida. No entanto, considerando com os olhos da fé as misérias de nossa natureza caída, posso derramar diante de Ti, ó Senhor, outras lágrimas além das da carne, lágrimas que fluem ao pensar no perigo a que se expõe toda alma que pecou por Adão'.

'É certo que minha mãe viveu de maneira a dar glória ao Vosso Nome, pela atividade de sua fé e pela pureza de seus costumes; ainda ouso afirmar que nenhuma palavra contrária à Tua lei jamais escapou de seus lábios? Infelizmente o que será da vida mais santa se a examinares em todos os rigores da tua justiça? Por isso, ó Deus do meu coração, deixo de lado as boas obras que minha mãe tem feito para pedir-Vos apenas o perdão dos seus pecados. Ouve-me pelas chagas daquele que morreu por nós na Cruz e que, agora sentado à tua direita, é o nosso Mediador'.

'Sei que minha mãe sempre teve misericórdia, que perdoou de coração todas as ofensas e perdoou todas as dívidas que lhe eram devidas. Cancela então as dívidas dela, se durante o curso de sua longa vida houver alguma devida a Ti. Perdoa-a, ó Senhor, perdoa-a, e não entres em juízo contra ela; pois Tuas palavras são verdadeiras; Tu prometeste misericórdia aos misericordiosos'.

'Esta misericórdia, creio, já lhe mostraste, ó meu Deus; mas aceita a homenagem da minha oração. Lembre-se que, em sua passagem para a outra vida, tua serva não desejou para seu corpo nem um funeral pomposo e nem perfumes preciosos; ela não pediu uma sepultura magnífica, nem que fosse carregada para aquele sepulcro que havia mandado construir em Tagaste, sua terra natal; mas apenas para que nos lembremos dela em teu altar, cujos mistérios ela prezava'.

'Tu sabes, Senhor, que todos os dias de sua vida ela participou daqueles Divinos Mistérios que contêm a Santa Vítima cujo sangue apagou a sentença de nossa condenação. Que ela descanse então em paz com meu pai, seu esposo, com o esposo a quem ela foi fiel durante todos os dias de sua união, e nas dores de sua viuvez com aquele de quem ela se fez humilde servo, para conquistá-lo para ti. pela sua mansidão e paciência. E Tu, ó meu Deus, inspira os teus servos, que são meus irmãos, inspira todos aqueles que leem estas linhas a se lembrarem em teu altar de Mônica, tua serva e Patrício, que era o seu esposo; que todos os que ainda vivem na falsa luz deste mundo possam se lembrar piedosamente dos meus pais, que a última oração de minha mãe moribunda seja ouvida e acatada, muito além de suas expectativas'.

Esta bela passagem de Santo Agostinho nos mostra a opinião deste grande Doutor sobre o tema dos sufrágios pelos defuntos e nos mostra claramente que o maior e mais eficaz de todos os sufrágios é o Santo Sacrifício da Missa.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

quarta-feira, 1 de março de 2023

DIÁRIO DA QUARESMA 2023 - DIA VIII

 

Oitavo Dia

O pecado é uma ofensa a Deus. Pelo sacramento da Reconciliação - também chamado de Penitência ou Confissão - o cristão recebe da misericórdia de Deus o perdão dos seus pecados. O tempo da Quaresma é especialmente o tempo mais do que propício para esta reconciliação do homem com o seu Criador.

Propósito do DiaPreparar-se para uma boa Confissão durante essa Quaresma (bons modelos de exames e práticas para se fazer uma boa confissão você encontra aqui e aqui) e escolher uma destas práticas (que pode ser nova ou repetida de dia anterior ou adotando-se qualquer outra que julgar mais conveniente) para viver esta Quaresma no dia de  amanhã.

PARE DE CORRER ATRÁS DE FALSAS APARIÇÕES!

Pare de correr atrás de fantasmas... das falsas aparições! Particularmente das falsas aparições marianas, ou melhor, aquelas que parecem fazer referência à Nossa Senhora. Os cristãos têm à sua disposição todo o imenso tesouro da Revelação Pública: aquela revelada por Nosso Senhor Jesus Cristo e o Espírito Santo aos Apóstolos, ratificada nos textos bíblicos e consolidada pela Santa Tradição da Igreja. Um católico não precisa de absolutamente nada mais: todo o depósito da fé cristã e os fundamentos da salvação eterna em Deus estão completamente estabelecidos e assegurados por estas fontes da revelação divina. 

A estas duas fontes - primárias e absolutamente plenas - a Providência Divina instituiu uma terceira via do conhecimento espiritual por meio das chamadas Revelações Privadas. Que se tenha em mente, como premissa fundamental que, uma vez que a Revelação Pública propicia todas as verdades da Fé necessárias à salvação das almas, a crença ou não em qualquer revelação privada não pode ponderar neste contexto e, assim, a salvação eterna independe de um católico acreditar ou não em Revelações Privadas. Qual é a necessidade então destas revelações particulares se as mesmas não podem somar conhecimento ou doutrina alguma àquela já plenamente revelada? 

Ora, Deus sendo Deus, se Deus instituiu esta terceira via das revelações divinas, independentemente da questão do depósito da fé plenamente conhecido, é porque tais eventos são não apenas necessários, mas fundamentais para a consolidação da nossa fé cristã. E essa necessidade pode ser facilmente justificada. A humanidade tem contra si o tempo dos homens. A verdade revelada, ainda que sustentada pela Tradição da Igreja de todos os tempos, tende a ser obscurecida e enevoada pela poeira dos séculos. Quanto mais nos afastamos dos tempos da primeira Vinda do Senhor, mais empalidecidos ficam os fundamentos da doutrina de Jesus Cristo pois, ainda que sendo a Verdade eterna, os seus princípios são expostos e vividos por uma Igreja feita de homens. Assim, as Revelações Privadas - particularmente as aparições marianas - têm um papel primordial de lembrar aos homens de determinadas épocas as verdades imutáveis da Fé e a conservação dos atributos irremovíveis da sã doutrina de Deus. 

Temos, pois, que avaliar sempre a premissa fundamental: qual é a natureza e a justificativa de uma dada aparição? Em relação às aparições divinas de cunho profético, a premissa tem apenas uma dupla variante: ou, ratificando a plena doutrina cristã conhecida, pretende estabelecer um aviso ou uma recomendação expressa à humanidade pecadora em relação a um afastamento de natureza gravíssima dos homens aos desígnios da Providência ou, ratificando a plena doutrina cristã conhecida, propor aos homens de uma dada geração apelos insistentes de oração, penitência e sacrifícios, visando uma menor dissipação das graças divinas aos homens daqueles tempos e um fomento da salvação das almas, em risco gravíssimo de perdas em magnitudes extremas. É neste contexto de tesouro de graças que estão inseridas as extraordinárias manifestações marianas aprovadas formalmente pela Igreja como Lourdes, Fátima ou Guadalupe que devem, portanto, ser objeto de profundo estudo, respeito e zelo espiritual por parte dos fieis.

Esta autenticidade foi outorgada pela Igreja após análise cautelosa e parecer conclusivo e definitivo das aparições. Sem este selo de autoridade hierárquica, qualquer aparição NÃO É VÁLIDA e deve ser objeto de questionamento, uma vez que pode ser fruto de obra humana ou mesmo diabólica (certamente todas aquelas que são mais polêmicas ou sem caracterização de legitimidade formal pela Igreja mesmo após muito tempo). As aparições orquestradas por falsos videntes tendem a incorrer facilmente em falácias doutrinárias incongruentes com a autêntica fé cristã e manifestações de presunção e vanglória, sendo rapidamente descartadas pelos católicos mais zelosos e acompanhadas apenas por crentes muito ignorantes ou tão presunçosos quanto os pseudo-videntes. 

Situação muito mais grave ocorre em casos das aparições de origem diabólica. O demônio é capaz de incorporar aparências celestiais, fazer prodígios e induzir fenômenos extraordinários (mas nunca milagres) e pautar procedimentos aparentemente virtuosos, que enganam facilmente os mais incautos e os crédulos de qualquer coisa. Muitos justificam a 'verdade' das aparições pelos seus aparentes frutos espirituais conhecidos (infelizmente quase sempre presentes nestes casos). São maus católicos; em primeiro lugar, porque desconhecem que as aparições privadas não constituem o depósito da fé cristã, como explicado previamente e, em segundo lugar, porque não interpretam tais 'frutos' como meros artifícios do demônio para atrair ainda mais incautos segundo o modelo de usar um bem individual para multiplicar males muito maiores. Basta refletir sobre o seguinte ponto: o que realmente representaram estes 'frutos' no caso de aparições que posteriormente foram desaprovadas pela Igreja como falsas? 

Essa excessiva e descontrolada credulidade é fruto na verdade de uma espécie de infantilismo espiritual, em que se misturam, em proporções variadas, doses de misticismo, curiosidade, tibieza e relativismo moral. E, fragilizados na Fé, os crédulos de qualquer coisa tendem a buscar e a rebuscar, com ânsias crescentes, novas, inéditas e extraordinárias manifestações divinas a cada semana, como se Deus estivesse de prontidão para atender, com uma chuva de revelações, tal inconsciência coletiva. Inconsciência, sim, porque se alimenta de 'credulices' (credulidades que não passam de tolices) e se refestelam em chamadas sensacionalistas de sites igualmente sensacionalistas que os tem como reféns inermes. 

Cuidado, portanto, muito cuidado com as revelações de caráter particular! A mensagem do Céu é sempre direta, límpida, assertiva e condicional, uma vez que pretende sempre ser ratificada ou não pela contrapartida humana. Impõe, necessariamente, um breve período de tempo - definido e limitado - para uma adequada preparação, amadurecimento e recepção da mensagem dos Céus por parte do(s) vidente(s). Por outro lado, a aferição da autenticidade de uma aparição é trabalho de longo tempo: a Igreja demanda enorme cautela na tratativa da natureza sobrenatural dos eventos analisados (tome-se, como exemplo, em ambos os casos, as aparições de Fátima). Então, é claro que a mensagem profética não pode ser de cunho imediato, mas sempre ancorada num tempo de resposta inerente à maturação espiritual da humanidade pecadora. O Céu sabe disso mais do que ninguém e sustenta aquilo que se sustenta na terra: 'tudo o que ligares na terra será ligado nos céus' (Mt 16,19). O demônio também sabe disso e, por isso, atua sempre com base na inversão destes dois tempos: muitas mensagens por muito tempo (quase como um correio diário), sempre genéricas e repetitivas (de modo que cada um pode 'escolher', dentre muitíssimas, uma mensagem que seja mais interessante ou impactante ao seu gosto pessoal), entranhadas de revelações de curto prazo e que impõem a pronta aceitação da suposta 'aparição'.

Prudência e discernimento são as armas do espírito cristão contra a credulidade excessiva e mórbida em relação às aparições privadas. Não se deem 'pérolas aos porcos' (Mt 7,6), ou seja, não se tome, como princípio absoluto, o bem que pode proceder do mal e nem o bem aparente como corolário do próprio bem. As ações diabólicas sempre utilizam estes meios para camuflar as suas artimanhas e trapaças. Urge, portanto, parar de correr atrás destes fantasmas, pois isso só tem uma consequência: quem corre atrás de fumaça acaba no meio do fogo; o católico que corre sem rumo só tem uma certeza: a de se afastar cada vez mais da Cruz de Cristo!