quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

A FARSA DO ESPIRITISMO

Nada é mais diabólico do que que uma meia-verdade, a mentira inoculada como semente aparente da verdade. Isso é o espiritismo por essência - 'o joio no meio do trigo' (Mt 13,28) - sectarismo rasteiro que evoca doutrinamento periférico para negar de forma contundente e radical as verdades fundamentais da sã doutrina católica. Pelo simples fato de incorrer em práticas recorrentes de magia e de adivinhação, um católico deveria se abstrair por completo de qualquer vinculação com o espiritismo (incluindo acesso à literatura espírita). Mas a farsa do espiritismo é muitíssimo mais grave e ruinosa do que isso para os católicos, pois o que oferece não é apenas a simples negação de uma ou outra verdade da autêntica fé cristã, mas literalmente a supressão de todas elas:

1 - Nega o mistério, e ensina que tudo pode ser compreendido e explicado.
2 - Nega a inspiração divina da Bíblia.
3 - Nega a existência do milagre.
4 - Nega a autoridade do Magistério da Igreja.
5 - Nega a infalibilidade do Papa.
6 - Nega a instituição divina da Igreja.
7 - Nega a suficiência da Revelação.
8 - Nega o mistério da Santíssima Trindade.
9 - Nega a existência de um Deus Pessoal e distinto do mundo.
10 - Nega a liberdade de Deus.
11 - Nega a criação a partir do nada.
12 - Nega a criação da alma humana por Deus.
13 - Nega a criação do corpo humano.
14 - Nega a união substancial entre o corpo e a alma.
15 - Nega a espiritualidade da alma.
16 - Nega a unidade do gênero humano.
17 - Nega a existência dos anjos.
18 - Nega a existência dos demônios.
19 - Nega a divindade de Jesus.
20 - Nega os milagres de Cristo.
21 - Nega a humanidade de Cristo.
22 - Nega os dogmas de Nossa Senhora.
23 - Nega a nossa Redenção por Cristo.
24 - Nega o pecado original.
25 - Nega a graça divina.
26 - Nega a possibilidade do perdão dos pecados.
27 - Nega o valor da vida contemplativa e ascética.
28 - Nega toda a doutrina cristã do sobrenatural.
29 - Nega o valor dos Sacramentos.
30 - Nega a eficácia redentora do Batismo.
31 - Nega a presença real de Cristo na Eucaristia.
32 - Nega o valor da Confissão.
33 - Nega a indissolubilidade do Matrimônio.
34 - Nega a unicidade da vida terrestre.
35 - Nega o juízo particular depois da morte.
36 - Nega a existência do Purgatório.
37 - Nega a existência do Céu.
38 - Nega a existência do Inferno.
39 - Nega a ressurreição da carne.
40 - Nega o juízo final.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XLIX)

Capítulo VIII

Consolação das Almas - A Intercessão dos Anjos - Beata Emília de Vercelli - Intercessão dos Santos do Céu

Se os santos anjos são zelosos pelas almas do Purgatório em geral, é fácil compreender que tenham particular zelo pelas almas dos seus protegidos. No convento de Vercelli, onde a Beata Emilia, religiosa dominicana, era prioresa, era questão de regra nunca beber nada entre as refeições, a não ser com autorização expressa da Superiora. Tal permissão a Beata Prioresa não estava acostumada a conceder e aconselhava suas irmãs a fazer aquele pequeno sacrifício alegremente, em memória da sede ardente que nosso Salvador havia padecido por nossa salvação na Cruz; para incentivá-los a fazer esse sacrifício, ela sugeria que confiassem aquelas poucas gotas de água aos seus anjos da guarda, para que fossem preservadas até a outra vida, para com elas temperar o calor do Purgatório.

Em uma certa ocasião, uma irmã chamada Cecília Avogadra veio pedir permissão para se refrescar com um pouco de água, pois estava com sede. 'Minha filha' - disse a Prioresa - 'faça este pequeno sacrifício pelo amor de Deus e em consideração ao Purgatório'. 'Madre, este sacrifício não é pouco pois realmente estou morrendo de sede' - respondeu a boa irmã mas, embora um tanto triste, obedeceu ao conselho de sua superiora. Este duplo ato de obediência e mortificação foi precioso aos olhos de Deus e a Irmã Cecília logo recebeu a sua recompensa. Com efeito, algumas semanas depois, ela faleceu e, após três dias, apareceu resplandecente em glória à Madre Emilia. 'Ó Madre - ela disse - 'como sou grata a ti! Fui condenada a um longo Purgatório por ter me apegado demais à minha família e eis que, depois de dois dias, vi o meu anjo da guarda entrar em minha prisão, segurando na mão o copo d'água que me fizeste oferecer em sacrifício ao meu Divino Esposo; ele derramou aquela água sobre as chamas que me devoraram e que então se extinguiram imediatamente. Agora estou libertada e alço o meu voo para o Céu, onde a minha gratidão nunca te esquecerá!'.

É assim que os anjos de Deus consolam as almas do Purgatório. Pode-se perguntar aqui como os santos e bem-aventurados já coroados no Céu podem ajudá-las? Isto é certo -  diz o padre Rossignoli -  e tal é o ensinamento de todos os mestres em teologia, como Santo Agostinho e São Tomás, que os santos são muito poderosos a esse respeito por meio de súplica que fazemos a eles por impetração e não por satisfação. Em outras palavras, os santos do Céu podem interceder pelas almas penitentes e assim obter da Divina Misericórdia uma abreviação dos seus sofrimentos, mas não podem satisfazer por eles e nem pagar as suas dívidas para com a Justiça Divina, pois este é um privilégio reservado por Deus apenas à Igreja Militante.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

OS GRAUS DO SACRAMENTO DA ORDEM


O Sacramento da Ordem é um só, mas é subdividido em diferentes graus hierárquicos, que foram bastante reduzidos após as reformas litúrgicas do Concílio Vaticano II. No rito tradicional, o Sacramento da Ordem era composto por sete graus distintos, que incluíam quatro ordens iniciais chamadas menores e três outras finais chamadas maiores, todas vinculadas a simbolismos explícitos associados a uma crescente hierarquia de ação litúrgica. 

O primeiro grau era chamado Ordem do Ostiário quando o seminarista recebia a incumbência de abrir e fechar a igreja e cuidar dos vasos sagrados.

O segundo grau constituía a Ordem do Leitor; pela qual o seminarista recebia a tarefa de ler as Sagradas Escrituras durante o Ofício Divino e catequizar o povo.

O terceiro grau compreendia a Ordem do Exorcista; com esta ordem, o seminarista recebia o poder de expulsar o demônio dos corpos daqueles que estão possuídos (embora o uso desse poder estivesse sujeito a uma formação e permissão adicionais).

O quarto grau constituía a Ordem do Acólito, pela qual o seminarista poderia fazer o ofício de servir a Santa Missa.

O quinto grau compreendia a Ordem do Subdiaconato; por essa ordenação, o postulante fazia o seu voto de castidade perpétua e recebia, então, o poder de ajudar o diácono e o sacerdote no Altar. 

Pelas reformas litúrgicas do Concílio Vaticano II, o papa Paulo VI extinguiu as quatro Ordens Menores e o subdiaconato (o leitorato e o acolitato foram mantidos como ministérios e passíveis de concessão a leigos e obrigatórios aos postulantes do diaconatopresbiterado e episcopado). Com a denominação explícita de Ordem permaneceram apenas os graus de diaconato, presbiterado e episcopado na Igreja Latina. 

O sexto grau (atualmente vigente) consistia na Ordem do Diaconato, pelo qual o postulante recebe o poder de auxiliar o sacerdote no altar, de anunciar o Evangelho, fazer pregações e batismos.

O sétimo grau (atualmente vigente) compreendia a Ordem dos Sacerdotes (presbiterado para os padres e episcopado para os bispos) que outorga ao postulante o poder de consagrar o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo e o de perdoar os pecados, ou seja, de ser um sacerdote sendo um outro Cristo e continuar nesta terra a obra da redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Portanto, embora seja um único sacramento, a ordem é estabelecida em graus distintos para os bispos, os presbíteros e os diáconos do único sacerdócio de Cristo. Em cada modalidade da ordem - bispos, presbíteros ou diáconos - há um idêntico rito ou sinal que é a imposição das mãos, mas em cada um deles, pela fórmula da consagração, são invocadas graças específicas ou diferentes dons do Espírito Santo.

domingo, 29 de janeiro de 2023

EVANGELHO DO DOMINGO

  

'Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus(Sl 145)

Primeira Leitura (Sf 2,3; 3,12-13) - Segunda Leitura (1 Cor 1, 26-31)  -  Evangelho (Mt 5, 1-12a)

 29/01/2023 - Quarto Domingo do Tempo Comum

10. AS BEM AVENTURANÇAS


Neste Quarto Domingo do Tempo Comum, a Igreja celebra no Evangelho a síntese de toda a doutrina cristã e dos ensinamentos de Jesus - o Sermão da Montanha. Sobre um monte, Jesus vai proclamar as glórias excelsas do seu Reino e, diante a imensidão do Mar da Galileia prostrado à frente dos seus olhos, uma mensagem de amor e de justiça que há de ressoar pela humanidade de todos os tempos.

Bem-aventurados os pobres de espírito, os simples de coração, aqueles que anseiam as heranças eternas, desapegados dos bens e dos valores do mundo, porque deles é o reino dos Céus. Bem-aventurados os aflitos que padecem suas dores e seus sofrimentos no recolhimento da graça, para que se cumpra neles, sem regras ou limitações, a Santa Vontade de Deus, porque serão abundantemente consolados.

Bem-aventurados os mansos que se espelham no Coração de Jesus porque possuirão em plenitude a terra celeste. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, aqueles que buscam a santidade em meio às tantas dificuldades e provações desta vida passageira, sempre em direção à Terra Prometida, porque serão saciados. Bem-aventurados os misericordiosos, filhos prediletos da caridade, porque serão medidos pela Misericórdia Infinita do Senhor.

Bem-aventurados os puros de coração, aqueles que, desprezando o pecado e os vícios humanos, se fazem novas manjedouras onde possa recolher sem máculas o Sagrado Coração de Jesus. Bem-aventurados os que promovem a paz e os que são perseguidos por causa da justiça porque deles será o Reino dos Céus. E bem-aventurados os que foram injuriados e perseguidos em nome da Cruz, do Calvário, dos Evangelhos e de Jesus Cristo porque serão os santos dos santos de Deus!

sábado, 28 de janeiro de 2023

A SANTIDADE SEGUNDO GERMAINE COUSIN

A vida de Germaine Cousin* (1579 - 1601) é um mistério insondável dos desígnios divinos sobre a natureza da dor e do sofrimento nesta terra. Na percepção humana, é praticamente inconcebível a dimensão de tanto abandono e sofrimento que podem ser padecidos por uma criança inocente. E, quando descobrimos então que uma Cinderela realmente existiu, nos prostramos silenciados diante a realidade do mal.

Germana* nasceu na aldeia de Pibrac, perto de Toulouse, na França em 1579. Nasceu com a mão direita deformada e padecia de tuberculose linfonodal, uma doença caracterizada por alterações da pele e das mucosas e por tumefações ganglionares, que vai lhe impor uma saúde debilitada por toda a vida. Com a morte prematura da mãe e uma nova união do pai, viveu sob a autoridade, o desprezo e os maus-tratos de uma madrasta particularmente cruel, que a relegou a uma condição servil de trabalho escravo e a humilhações de toda ordem. Dormia sob uma escada no celeiro, fazia todo o trabalho servil na casa e ainda cuidava do rebanho de ovelhas da família sendo mantida, assim, o tempo todo, longe do convívio dos seus irmãos e irmãs. Tudo isso sob a complacência do pai que ignorou todos os seus sofrimentos. Não parece o retrato de uma personagem do reino da fantasia muito conhecida? Mas a maldade existe também em escala inimaginável no mundo real e Germana era um triste exemplo dessa realidade cruel.


E não há príncipes encantados nessa história. Germana aceitou cada minuto de uma vida de absoluta entrega a Deus pela via da santificação, moldada pela oração, humildade, caridade e sofrimento. E seus feitos foram tão espantosos quanto a sua história de vida e, no quase anonimato de uma aldeia francesa do século XVI, Deus a contemplou com milagres portentosos. Eis aqui três deles:

Ela costumava deixar o rebanho de ovelhas (para ir à missa diária) sob a guarda da Providência divina (e nunca perdeu nenhuma ovelha). Para acessar a igreja, ela tinha que transpor um pequeno riacho que cortava a aldeia. Num certo dia muito chuvoso, porém, o riacho se transformara num caudal violento, sem possibilidade de passagem, o que levara alguns camponeses a observar de perto a cena incomum. Germana nem sequer diminuiu o passo ao se aproximar da enchente e, quando tocou a água, sob a estupefação dos presentes, as águas simplesmente se separaram e ela atravessou o riacho a pé enxuto, numa simulação espantosa da abertura das águas do Jordão para a passagem da Arca da Aliança. Alcançada a margem oposta, as águas desabaram novamente ao curso tumultuado da enchente. 

Germana vivia o mandamento da caridade. Em certa ocasião, colocou alguns pedaços de pão no avental para distribuir aos pobres. Acuada no caminho pela madrasta, foi acusada de roubo à vista dos presentes na rua, sendo ordenada aos gritos para abrir o avental e apresentar publicamente a todos os produtos do seu roubo. Ao fazer isso, em vez de pães, o avental guardava flores, muitas flores, impossíveis de cultura e colheita naquela época, então o auge do inverno. A pequena pastora reproduziu em Pibrac o milagre de Santa Isabel da Hungria no século XIII! Em outra ocasião, Deus a permitiu simular um evento de Nosso Senhor, ao reproduzir o milagre da multiplicação dos pães. 


Numa certa noite de 1601, dois monges em viagem foram forçados a passar a noite em uma floresta perto de Pibrac. De repente, foram despertados por um cortejo de anjos que, envolvidos por uma luz resplandecente, movia-se em direção ao povoado. Pouco depois, o cortejo retornou da mesma forma pela floresta, trazendo agora, entre eles e em destaque, a figura de uma virgem com uma coroa de flores na cabeça. Ao chegarem ao povoado, ficaram sabendo então da história de Germana, que havia falecido no celeiro naquela noite, aos 22 anos de idade. Como no conto de fadas, a Cinderela da vida real era alçada a ser princesa nos Céus.


A partir de então, inúmeras curas milagrosas foram atribuídas a Germana e a sua fama de santidade se espalhou rapidamente, atingindo outro patamar quando o seu corpo incorrupto foi exumado, 43 anos após a sua morte, o que deu início ao processo diocesano de beatificação e canonização da humilde pastora. Foi beatificada em 1854 e, em 1867, foi declarada santa pelo papa Pio IX, que hoje veneramos como Santa Germana de Pibrac. Suas relíquias repousam na basílica erigida em sua homenagem em Pibrac. É a padroeira da Diocese de Toulouse e modelo particular de santidade para as crianças e jovens que sofrem ou sofreram maus-tratos e humilhações.

(Basílica de Santa Germana em Pibrac)

* pronuncia-se Germéne Cuzán; em português Germana de Pibrac

SANTA GERMANA DE PIBRAC, ROGAI POR NÓS!

Veja também:



sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

O PENSAMENTO VIVO DE SANTA TERESA DE LISIEUX (II)


'Jesus ... trocou a noite da minha alma em torrentes de luz. Ao revestir-me por meu amor da fraqueza e pequenez mortal, encheu-me de fortaleza e coragem; e empunhando assim as suas armas, fui caminhando de vitória em vitória, dando, por assim dizer, princípio a um caminho de gigante'.


'Um dia, no Céu, recordaremos com deleitosa saudade esses dias sombrios do exílio. Sim, os três anos do martírio do nosso pai [doença que causava paralisia e muito sofrimento ao pai da santa] parece-me que são os mais simpáticos e os mais proveitosos da nossa vida e que eu não trocaria pelos êxtases mais sublimes; por isso o meu coração, em presença de tão inestimável tesouro, exclama no auge da gratidão: Bendito sejais, meu Deus, por estes anos de graças que passamos em tanta aflição de espírito'.


'Lá disse um sábio: ‘Dai-me um ponto de apoio, que eu com uma alavanca levantarei o mundo’. O que Arquimedes não conseguiu, conseguiram-no plenamente os santos. Deu-lhes o Todo-Poderoso um ponto de apoio que é Ele mesmo, Ele só; e com a alavanca da oração, que tudo abrasa em incêndios de amor, mexeram e remexeram o mundo; e pelo mesmo processo nessa faina continuam e continuarão até a consumação dos séculos os santos da Igreja Militante'.


'Depois da minha morte, farei cair uma chuva de rosas. ... Sinto que vai principiar a minha missão, a missão que tenho de fazer amar a Deus como eu o amo... de ensinar às almas o meu caminhozinho. Quero passar o meu céu a fazer o bem na terra'
Perguntou-lhe a Madre: 'E que caminhozinho é esse que quer ensinar às almas?'
'Minha Madre, é o caminho da infância espiritual, é o caminho da confiança e do abandono completo nas mãos de Deus. Quero indicar-lhes os pequeninos expedientes, que tão bem me serviram; quero dizer-lhes que a santidade neste mundo se baseia apenas nisto: ofertar a Jesus as flores dos pequeninos sacrifícios e cativá-los a poder de carícias. Assim é que eu o cativei e, por isso, é que hei de obter dele o bom acolhimento que espero'.

(Excertos da obra 'História de uma Alma, de Santa Teresa de Lisieux)

        Ver também: