segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

A VIDA OCULTA EM DEUS: MATERNIDADE ESPIRITUAL


Deus dá à alma interior, como sua Esposa, uma verdadeira fecundidade espiritual. Assim, existem algumas almas no mundo que estão unidas a ela e devem nutrir-se dela como uma mãe alimenta os seus filhos. Não é necessário que ela conheça todas essas almas para se encarregar delas diante de Deus. Porém, às vezes, quando Ele julgar conveniente, Deus disporá de tal modo que a mãe e o filho espiritual se conheçam. Este encontro será de uma profunda alegria para ambos, totalmente espiritual e de coração. A alma interior não pode comunicar a vida divina senão do modo como o Pai a comunica ao Filho e o Filho ao Espírito Santo. A carne não possui nenhuma influência porque não há nada aqui para ela. O que nasceu do Espírito é Espírito e assim deve permanecer.

Nas origens das famílias religiosas, há sempre uma alma que vive nos cumes perto de Deus. Os problemas geralmente caem sobre ela em grande número como as gotas de uma chuva tempestuosa ou os flocos de uma tempestade de neve. Mas o amor que ela guarda em seu coração é mais forte do que tudo. E assim, o que seria motivo para a prostrar, a eleva; o que poderia extinguir a sua chama, a impele. O obstáculo torna-se uma solução e a ruína é o começo da prosperidade. Então ela assume toda a sua fortaleza e segue em frente no seu caminho, atraindo e arrastando tudo atrás de si.

(Excertos da obra 'A Vida Oculta em Deus', de Robert de Langeac; Parte IV - Fecundidade Apostólica; tradução do autor do blog)

domingo, 25 de dezembro de 2022

FELIZ E SANTO NATAL EM CRISTO!

Desejo a todos os nossos amigos e visitantes um Santo e Feliz Natal! 

IGREJA CATÓLICA: ALMA DO NATAL
(Luís Dufaur)


CÂNTICO DE NATAL


Ó meu Menino Jesus, 
sede a minha esperança!
Que na gruta da vossa Belém 
eu possa renascer também
como uma outra criança!  

Ó meu Menino Jesus,  
sede minha santa alegria!
Que o meu presépio se faça 
banhando minha alma na graça
de uma pobre estrebaria!

Ó meu Menino Jesus, 
sede minha força e minha fé!
Que a mãe que me vela agora
seja a mesma Nossa Senhora 
da família de Nazaré!

Ó meu Menino Jesus, 
sede farol e minha luz!
Que este Natal de abraços,
se faça caminho de passos
que passam diante da Cruz! 

Ó meu Menino Jesus, 
sede a alma do meu viver!
Que este Natal me converta
em dom, partilha e oferta
para os que vão renascer!
E em dom, oferta e partilha,
onde ainda hoje não brilha
a luz do vosso nascer! 

Ó meu Menino Jesus, 
sede minha paz e todo bem!
Que eu viva a bem aventurança 
de adorar Deus feito criança
numa gruta de Belém!

(Arcos de Pilares)

ORAÇÃO: 25 DE DEZEMBRO DA DIVINA INFÂNCIA

  

A JESUS FEITO MENINO PELO NOSSO AMOR

Ó homem, vede com que amor este terno Salvador desceu do céu para vos buscar? Não ouvis os seus gritos infantis? Apenas nascido, dirige-se a vós, escuta como Ele vos chama pelos seus vagidos. Alma, alma, ó alma a quem amo, parece dizer-vos, a vós procuro; é para vós e pra obter o vosso amor, que vim do céu à terra. 

O' meu Jesus, soberano Senhor meu e Deus verdadeiro, quem vos determinou a descerdes do céu e a nascerdes numa gruta, se não o vosso amor aos homens? Quem vos arrebatou do seio do vosso eterno Pai e vos colocou numa lapa? Quem vos reduziu a deixar o vosso trono elevado acima de todos os tronos, para ficardes deitado sobre palha? Quem vos atraiu do meio dos coros dos anjos para vos colocar entre dois animais? Em santo ardor abrasais os serafins, e eis que tremeis de frio neste presépio! Aos céus e ao sol dais movimento, e eis que não vos podeis mudar de lugar sem socorro de um braço estranho! Provedes ao nutrimento dos homens e dos animais, e eis que precisais de um pouco de leite para sustentar a vossa vida. Sois a alegria do céu, e eis que vos ouço chorar e gemer! 

Dizei-me: por que todas estas misérias? É porque amais os homens. O' doce Menino, que viestes fazer sobre a terra? O que vindes aqui buscar? Ah! eu vos entendo: viestes para morrer por mim, para me livrar do inferno; viestes buscar-me, a mim, ovelha perdida, para que no futuro não me separe mais de vós, e vos ame. O' meu Jesus, meu tesouro, minha vida, meu amor, meu tudo, se não vos amo, a quem hei de querer amar? Onde posso achar um pai, um amigo, um mestre, mais amável do que vós, e que mais do que vós me queira bem? 

Amo-vos, meu Deus, amo-vos, meu único bem. Lastimo ter vivido tantos anos não somente sem vos amar mas ofendendo-vos e desprezando-vos. Perdoai-me, ó meu amadíssimo Redentor, arrependo-me de vos ter tratado assim, arrependo-me de toda a minha alma. Perdoai-me e dai-me a graça de não me separar mais de vós. Ó terna Mãe, minha advogada, suplicai ao vosso divino Filho que me perdoe e me conceda a santa perseverança até à morte!


(A Divina Infância de Jesus, celebrada a cada dia 25 do mês, por Santo Afonso Maria de Ligório)

sábado, 24 de dezembro de 2022

O NASCIMENTO DE JESUS

Maria sentiu um leve estremecimento no ventre. Estremecimento e não dor. Percebera-o nitidamente em meio ao movimento harmônico do trote do burrico pela estrada poeirenta. No recolhimento de sua oração profunda, sua mão busca tocar levemente o ventre como uma resposta imediata da Mãe ao sinal enviado pelo Filho: a longa preparação do Tempo dos Profetas há de ser realidade em breve naquele tempo da história e Deus feito homem vai nascer no mundo. É o primeiro sinal. Suave estremecimento, perceptível apenas por Maria, naquele momento da longa travessia que perpassa agora os campos abertos que levam mais adiante à Belém de todas as profecias.

José, puxando o burrico, olha para trás e se preocupa. O vento começa a soprar mais forte e mais frio e a jornada agora é mais lenta e penosa, nos declives mais acentuados da estrada que serpenteia pelo vale e pelos contrafortes de formações rochosas. E há muitas pessoas e alarido em torno deles. De tempos em tempos, são obrigados a parar e dar passagem a outros viajantes em marcha mais apressada ou para superarem com extremo cuidado os trechos mais íngremes. Quase todos os peregrinos têm o mesmo destino e o mesmo objetivo: apresentarem-se às autoridades em Belém e cumprirem as normas do novo recenseamento imposto pelas autoridades romanas. 

Em meio a um acontecimento regional e específico da história humana, está prestes a ocorrer o mais extraordinário evento da humanidade. Em meio ao burburinho e à agitação de toda aquela gente, Maria recebeu o primeiro sinal da manifestação da vinda do Messias prometido. Um murmúrio de humanidade no sagrado ventre consubstancia em definitivo o Mistério da Anunciação. Um leve estremecimento acaba de prenunciar o nascimento de Deus. 


As ruas estreitas se consomem de tanta gente. Há um cenário de mercado livre por toda a Belém daqueles dias. Eles acabaram de cumprir os registros formais do recenseamento e agora buscam ansiosamente uma pousada para o pernoite. Não é apenas o albergue principal da cidade que está com a lotação esgotada; as casas se transformaram em emaranhados de pessoas e utensílios, num entra e sai sem fim de gente ruidosa e apressada. Há o burburinho comum das crianças e o festim grotesco das ofertas gritadas e dos negócios de ocasião. No vaivém das ruas apinhadas e confusas, Maria e José buscam refúgio fora da cidade, além das casas mais ermas e mais afastadas. Aqui e ali ainda se veem acampamentos rústicos, improvisados, à guisa de refúgio de grupos mais ou menos numerosos. Além, mais além, as formações calcárias formam reintrâncias e cavernas, que muitas vezes são utilizadas como estrebarias pelos mercadores das grandes rotas até Jerusalém.

José leva o burrico na direção destas cavernas. Ele não sente no rosto o vento frio da tarde que se desvanece, nem o cansaço da longa jornada. Seu pensamento é todo, totalmente por Maria. A preocupação em encontrar um lugar digno para ela o consome por completo. A ânsia de dar descanso e refúgio a Maria tolhe todos os seus sentidos e atividades. A dimensão do mistério insondável o atordoa e o aniquila: a humanidade de José sente o peso incomensurável dos desígnios da Providência.

Passa adiante da primeira entrada, que não passa de um buraco estreito e irregular na rocha. A seguinte é pouco melhor do que isso. As demais mostram-se maiores e limpas, mas já estão todas ocupadas. As pessoas amontoam-se nos espaços exíguos em silêncio, homens na sua grande maioria, cercados por animais, feno e capim. São estrebarias que agora acomodam pessoas. José se inquieta ainda mais. Não há possibilidade aparente de privacidade para o nascimento de Jesus, não há lugar nenhum para um abrigo ainda que provisório. 

Avançado o paredão rochoso, José agora se depara com um cinturão de amendoeiras que margeiam o caminho adiante, que se abre, então, para campos e vales ao longe. Bem distante, na encosta suave do outro lado do vale, consegue divisar um pastor empurrando o seu rebanho. Nesse momento, sente os ombros dolorosamente pesados e seu andar vacilante. Seu olhar havia percorrido cada entrada rochosa e cada rosto humano em busca de recepção e de um gesto de boa vontade. E nada. Agora volve o seu olhar para Maria, como que pedindo perdão pela sua incapacidade e incerteza daquele momento. A humanidade inteira geme as suas ânsias pelo olhar desconsolado de José. 

Ao passar pela terceira gruta, Maria sentiu, como uma vibração percorrendo todo o seu corpo, o sopro do Espírito de Deus. Desde o primeiro sinal, recolhera-se, ainda com maior devoção, à oração de dar glórias ao Pai pelo que estava prestes a acontecer. Como serva da Anunciação, era agora a mesma serva como Mãe de Deus. E, nesse momento, pressentira o segundo sinal. A Divina Promessa iria dispensar a Redenção em breve à humanidade pecadora. Ao olhar para José, compreendendo a sua aflição e seu desapontamento, fitou-o com os olhos da perseverança e da fé inquebrantáveis e o brilho deste olhar emanava a própria luz de Deus.

Diante do olhar de Maria, a humanidade de José se detém e suas dúvidas se dissipam. Então, ele avança mais vinte, mais cinquenta metros, contorna as árvores e avista a gruta que emerge da continuação do maciço rochoso à esquerda. É e será sempre a visão do paraíso. Não é exatamente uma gruta, mas uma escavação que avança em profundidade na rocha e é protegida por uma murada frontal de pedras mal alinhadas, trançadas com restos de vigas de madeira, espalhados em desordenada profusão, que fecham de maneira irregular a entrada do lugar, protegendo-o dos ventos e das intempéries. Escondida, erma, isolada, bendita seja a gruta de Belém! 

Ela está suja, úmida, mal cuidada, mas não de todo desconhecida ou abandonada, porque um boi ali se encontra, com bastante feno e água. Há sujeira e palha solta em todos os lugares. Num canto, um arranjo de pedras enegrecidas indica o lugar de costume de se acender o fogo. Aliviado e feliz, José se consome nos arranjos práticos do refúgio improvisado. Ajuda Maria a entrar na gruta e se apressa a alimentá-la e a acomodá-la o melhor possível; dá feno e água ao burrico que é levado para junto do boi, monta um tablado de feno no chão, dispondo cuidadosamente os fardos; com paus e pedras, faz um arremedo de cercado em torno de Maria e o cobre com a sua manta grossa de viagem; empilha num canto os troncos e os pedaços de madeira espalhados; limpa as pedras e o chão com feixes de palhas e, com gravetos e pedaços de madeira seca, acende o fogo. A pequena luz se espalha pela escondida, erma, isolada, bendita gruta de Belém! 


O silêncio da gruta é quebrado apenas pelo crepitar das últimas chamas. O fogo aqueceu o espaço limitado e agora existe mais penumbra do que claridade. O fogo emoldura em repentes luminosos o rosto de José enquanto, pelas aberturas das muradas de pedras, o luar desenha feixes de luzes prateadas que cortam a escuridão que envolve toda a gruta. De repente, Maria põe-se de joelhos em contrita oração. Prostra-se com o rosto no chão e José percebe, apesar de toda a escuridão, o que está para acontecer. Coloca-se também de joelhos, também em fervorosa oração, louvando a Deus por ser testemunha e personagem de mistério tão extraordinário. Em muda expectativa, contempla o perfil de Maria apenas esboçado na escuridão da gruta.

A princípio, supõe ver os feixes de luar convergirem para o rosto de Maria ou auréolas de luz provenientes do fogo a envolverem completamente. Mas sabe que é muito mais que isso: uma luz, de claridade e brilho espantosos, nasce, emana e flui dela, enchendo a gruta de uma tal iridescência, que todas as coisas perdem a forma, o volume e a natureza material. Maria não se transfigura em luz, ela é a própria luz! O rosto de Maria é luz, as vestes de Maria são luz, as mãos de Maria são luz. Mas não é uma luz deste mundo, nem o brilho do cristal mais polido, nem o resplendor do diamante mais lapidado, nem a etérea luminosidade dos átomos em fissão; tudo isso seria uma mera pátina de luz. Maria torna-se um espelho do próprio Deus, da qual emana a luz do Céu!

José se transfigura neste redemoinho de luz sem ser a luz. Seus olhos puderam contemplar o terceiro e definitivo sinal da Natividade de Deus. E trêmulo, mudo, pasmado, contempla o recém-nascido acolhido entre os braços de Maria, recebendo o primeiro carinho e o primeiro beijo da Mãe Imaculada. Pressuroso e em êxtase, prepara a humilde manjedoura, o primeiro altar de Jesus na terra. O Filho do Deus Vivo já habita entre nós!

(Adaptação livre do autor do blog sobre os eventos prévios ao nascimento de Jesus)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

IMAGEM DA SEMANA


Os anjos cantaram no presépio de Belém: 'Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade' - Gloria in excelsis Deo et in terra pax hominibus bonae voluntatis. Jesus baixou à terra. O Príncipe da Paz veio estabelecer o seu reino de amor e de misericórdia. E nos dirá: 'Eu vos dou a minha paz". A paz de Deus não é como a dos homens. Os homens procuram a paz nos tratados, nos discursos, mas guardam no coração tanto ódio e tanta maldade! 

A Vossa paz, doce menino do Presépio, ó adorável Menino Jesus, é a paz inalterável e doce que penetra nas profundezas do coração. Ó doce paz do Senhor, como és boa para os que te conhecem! Mas a paz se encontra na luta contra nossa ingrata e pobre natureza, rebelde à graça. E só quem, cheio de boa vontade, abraçou a cruz de Jesus Cristo e aceitou o combate, só esse goza a verdadeira paz dos filhos de Deus. Vem daí a felicidade incomparável dos santos. Agora, mais do que nunca, o mundo tem necessidade de santos, porque o mundo tem necessidade de paz! Santos, isto é, homens de boa vontade! Precisamos de santos que preguem o amor, como São Francisco de Assis ou Santa Catarina de Sena, que assim bradava: Paz! Paz! Paz!... 

Nada triunfa no coração do homem como a paz. O ódio ao próximo é uma ofensa contra Deus. Devemos odiar o ódio. Que venha a paz sobre o mundo, ó Menino Jesus do Presépio, que venha a paz aos nossos corações!

(Excertos da obra 'Breviário da Confiança, do Pe. Ascânio Brandão)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

TEMPO E OITAVAS DO NATAL


É sempre importante destacar que o Natal não contempla apenas o dia 25 de dezembro (com início solene da sua celebração na noite do dia 24 de dezembro). Na verdade, este é apenas o primeiro dia do Tempo do Natal, que transcorre desde o dia 25 de dezembro até o domingo do Batismo do Senhor de acordo com o atual calendário litúrgico e que, junto ao Tempo do Advento, constitui o período chamado de 'Ciclo do Natal'. Os oito dias entre 25 de dezembro e 1º de janeiro são chamados 'Oitava de Natal' (cuja origens remontam as grandes festas judaicas que duravam oito dias e ao simbolismo do oitavo dia, como dia simbólico da eternidade, tempo sem fim que se segue ao período de uma semana convencional dos tempos humanos). Na Oitava de Natal, são celebradas as seguintes festas particulares:

26 de dezembro - Santo Estêvão: primeiro mártir do cristianismo, símbolo de todos que morreram em nome de Cristo.

27 de dezembro - São João Evangelista: 'o discípulo amado', símbolo de todos que seriam capazes de morrer em nome de Cristo.

28 de dezembro - Santos Inocentes: símbolo de todos que morreram por Cristo sem o saber. 

Domingo da Oitava - Sagrada Família: símbolo e modelo para todas as famílias cristãs (caso o domingo coincida com o dia 1º de janeiro, a data é transferida para o dia 30 de dezembro).

1º de janeiro - Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus. 

Esta semana é a mais santa de todas no ano, um tempo propício para se alcançar graças extraordinárias para toda Igreja e para todos os cristãos e, muito especialmente, para as benditas almas do Purgatório. Eis o tempo mais propício e mais especial para se rezar na intenção das almas de nossos entes queridos falecidos! 

O tempo de Natal é concluído com as seguintes datas principais:

6 de Janeiro – Solenidade da Epifania do Senhor ou Dia de Reis.
Domingo depois da Epifania – Festa do Batismo de Jesus Cristo.

No calendário litúrgico tradicional, o Tempo de Natal compreendia um período maior, que se estendia desde o dia 25 de dezembro até o dia 13 de janeiro, contemplando as seguintes festas principais:

25 de Dezembro – Nascimento do Menino Jesus.
28 de Dezembro – Massacre dos Santos Inocentes.
Domingo entre o Natal e a Oitava – Apresentação do Menino Jesus no Templo.
1 de Janeiro – Oitava de Natal.
Domingo entre a Oitava e a Epifania – Festa do Santíssimo Nome de Jesus (data transferida para o dia 02 de janeiro, no caso de não ocorrer um Domingo entre a Oitava do Natal e a Epifania).
6 de Janeiro – Epifania ou Dia de Reis.
Domingo depois da Epifania – Festa da Sagrada Família.
13 de Janeiro – Batismo de Jesus Cristo.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (192/194)

 

192 . SACERDOTE MÁRTIR

Santo era aquele sacerdote (cônego de Vich). Foi condenado à morte tão somente pelo 'crime' de ser sacerdote, porque os comunistas espanhóis tinham ódio mortal aos ministros de Cristo. Saiu para a morte... 

Tinha já diante dos olhos o pelotão de milicianos que o haveriam de matar. Ele está calmo: tem a paz da al. Pode-se dizer que um gozo celestial se espelha em seu semblante. Abriu a boca e disse então: 'Milicianos, três graças pedi a Deus durante a minha vida: a graça de ser sacerdote, a de morrer mártir e a de ser a minha morte a salvação de algum de meus assassinos. Consegui a primeira. Agora morro mártir de minha fé e de amor a Jesus Cristo. E, neste momento, peço-lhe que me conceda a última: que algum de vós se salve pelos méritos do sangue que vou derramar por amor de Deus.

Quando acabou de falar, um dos seus assassinos ajoelhou-se arrependido e quis ser assassinado e martirizado ao lado daquele sacerdote que até à hora da morte era tão santo e generoso.

193. TUDO PELO CÉU

São Martinho era naquele tempo um soldado. Encontrava-se com um pobre desnudo, que lhe pede uma esmola: dá-lhe a metade de sua capa... Pelos séculos dos séculos gozará desse ato de generosidade!

A. São João de Deus encontrou um pobre cheio de chagas e horrível de ver. Tomou-o sobre os seus ombros, levou-o a seu hospital e al, o curou com carinhos quase maternais. Pelos séculos dos séculos gozará desse ato de caridade!

B. Santo Isidoro, lavrador, ia para a roça. Arava a terra dura, recolhia os feixes à eira e com o calor do verão batia o trigo e dormia ao relento. Em meio de suas ocupações elevava o coração a Deus. Pelos séculos dos séculos gozará da recompensa dessas fadigas suportadas com paciência...

C. Santa Zita servia na casa de uma distinta senhora. Ia à fonte buscar água, varria a casa, acendia o lume na cozinha, aguentava as insolências de sua patroa e remendava os seus próprios e pobres vestidos. Enquanto suas mãos trabalhavam, seu coração orava. Pelos séculos dos séculos gozará a recompensa dessas humilhações dos serviços domésticos.

D. São Bento José Labre pedia esmola de porta em porta. Comia a mísera comida que lhe deitavam na pobre escudela. Levava aos ombros um saco e suas vestes eram um mosaico de mal costurados remendos. Onde dormia? Num palheiro. Onde descansava de suas longas caminhadas? À sombra de alguma árvore ou à beira dos caminhos. Onde rezava? Sua vida de peregrino era uma oração contínua. Pelos séculos dos séculos gozará de seu surrão de pobreza, do ladrar dos cães e do desprezo dos homens que passavam ao seu lado.

Qual é a vossa vida? Quais as vossas ocupações? O que importa é que penseis no céu, suspireis pelo céu e pelo céu e para o céu trabalheis, porque somente assim gozareis dos méritos de vossas obras pelos séculos dos séculos.

194. 'MÃE, TENHO DEZESSEIS ANOS!...'

Monsenhor Bougaud, um dos mais ilustres escritores franceses do século passado, fala-nos de uma senhora católica, com quem se passou o triste acontecimento que vamos transcrever. Tinha aquela senhora um filho. Nos primeiros anos educou- o cristãmente. Ensinava-lhe as rezas, levava-o à igreja, dava-lhe conselhos. Aos doze anos o menino entrou no Instituto de França.

Antes não tivesse entrado! Que se viu ali? O que ouviu naquela escola? A mãe julgava-o ainda um rapaz piedoso e honesto. Mas não era assim. Como havia de sê-lo, se em casa tivera sempre diante dos olhos os exemplos perversos do pai e no Instituto vivia no meio dos amigos mais ímpios e dissolutos? A mãe sonhava ainda; sonhava que o seu filho (com aqueles dezesseis anos que começavam a despertar no coração loucuras de libertinagem) era ainda uma alma de fé. 

Chegou um dia de grande festa religiosa. Pela manhã disse-lhe a mãe:
➖ Filho, queres ir comigo à igreja? Farás tua confissão e comungarás comigo...
Ao que o rapaz respondeu fria e secamente:
➖ Mãe, já tenho dezesseis anos!... Já não creio em Deus, nem nessas coisas.

Que golpe, que facada no coração daquela pobre mãe! Daquele tempo a esta parte são muitos os jovens como aquele, os operários e todos em geral que se multiplicam como larvas de insetos nos charcos de água podre. Só uma graça extraordinária de Deus os poderá arrancar desses charcos!

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)