sexta-feira, 25 de novembro de 2022

ORAÇÃO: 25 DE NOVEMBRO DA DIVINA INFÂNCIA

 

A JESUS SUPLICANTE

Ó quão belas, perfeitas e agradáveis a Deus eram as orações do Menino Jesus. Ele orava ao seu Pai em todos os instantes, e as suas orações eram todas em nosso favor, e até para cada um de nós em particular. Todas as graças que cada um de nós recebeu do Senhor são efeito das orações de Jesus.

Ó quanto vos devo, meu doce Redentor! Se não houvéreis pedido por mim, em que desesperada posição me achara ! As vossas orações obtiveram o perdão dos meus pecados e me alcançarão também, assim o espero, a perseverança até à morte. Por terdes orado por mim vos dou graças de todo o meu coração; mas não cesseis de orar para o mesmo intento, com todas as forças vos peço, porque bem sei que, no céu, desempenhais ainda em nosso favor o ofício de advogado (I Jo 2, 1) e de intercessor (Rm 8, 34).

Continuai pois a orar, ó meu Jesus, orai, porém, mais particularmente por mim, que das vossas orações tenho maior necessidade. Confio que, em atenção aos vossos merecimentos, Deus já me perdoou; mas, como por triste experiência sei que posso cair de novo; o inferno não se cansará de me tentar para roubar-me de novo a vossa amizade. Ó meu Jesus, esperança minha, de vós espero força para resistir; nesta confiança vos peço animado. Mas não me contento com a graça de não cair mais; peço-vos também a graça de vos amar muito pelo restante da minha vida, para muito vos amar na eternidade. Ó Maria, minha terna Mãe, rogai, também vós, a Jesus por mim: vossas orações são onipotentes para com este divino Filho que vos ama tanto! Pois que tão ardentemente desejais vê-lo amado, pedi-lhe que me dê um grande amor, amor constante e eterno. 


(A Divina Infância de Jesus, celebrada a cada dia 25 do mês, por Santo Afonso Maria de Ligório)

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

TESOURO DE EXEMPLOS (185/187)


185. O SINAL DA CRUZ

Henrique IV, depois de humilhar-se em Canossa, mostrou-se de novo inimigo do papa e foi com o seu exército sitiar Roma. No segundo assalto, apesar da heroica resistência dos sitiados, incendiou todas as muralhas. Um espantoso anel de fogo rodeava a cidade, da qual não se erguiam senão gemidos dos agonizantes e pranto das mulheres aterrorizadas. 

Então no alto de uma torre, majestoso e pálido, entre o clarão e o fumo do incêndio, apareceu o Papa Gregório VII, e com gesto solene e calmo fez o sinal da cruz contra as chamas, e imediatamente o fogo se apagou como se tivesse recebido uma chuva torrencial.

Todas as vezes que nos encontrarmos em perigos e angústias, confessemos a Santíssima Trindade fazendo o sinal da cruz e grande alívio sentirá a nossa alma.

186. CREDO - EU CREIO

São Pedro de Verona, apóstolo de Jesus Cristo, era perseguido de morte pelos inimigos de sua fé. Um dia teve de atravessar uma floresta. Ia rezando o santo varão. Naquele momento arrojaram-se sobre ele os inimigos, cravaram-lhe no peito o punhal assassino e fugiram. Caindo ferido de morte, o santo mártir compreendeu que chegara a sua última hora. Queria ainda confessar a sua santa fé, mas não podia falar. Molhando o dedo no sangue que jorrava do  seu peito, escreveu sobre o pó: Credo, Domine - Senhor, eu creio.

Também eu não sei quando nem como me sobrevirá a morte, Enquanto caminho, vou rezando o credo de minha fé e dizendo: 'Creio em Deus; creio em Jesus Cristo; creio na Igreja Católica, apostólica e romana. Protesto que nesta fé quero viver e morrer. E quando morrer, quero que gravem no meu túmulo estas mesmas palavras do santo mártir: Credo, Domine - Senhor, em ti creio, em ti espero e te amo. Senhor, dá-me o céu que prometeste aos que creem, esperam e amam.

187. MIGUEL ÂNGELO

Foi, talvez, o maior dos escultores que os séculos jamais viram. A história o admira. Num dos famosos templos de Roma há um sepulcro visitado por todos os turistas do mundo. É obra de Miguel Ângelo. Ali aparece Moisés sentado no trono da autoridade, que exercia como chefe do povo de Israel. Que fronte, que olhos... que rosto... que atitude... que majestade! Só um gênio podia dar uma vida assim ao mármore e à pedra morta.

O maravilhoso artista, terminada a obra, contemplou-a e ficou extasiado diante dela. Dizem que, com o martelo que tinha na mão, deu-lhe fortes marteladas sobre o joelho, dizendo: 'Fala, Moisés, que só isso te falta: falar!' Mas a estátua continuou muda.

Repicam os sinos de nossas igrejas. Católicos, não ouvis? Das altas torres vem essa voz do céu. É a voz de Deus, do Artista Divino que vos chama à santa missa. Sois cristãos, sois a obra-prima do Altíssimo. Para serdes cristãos de verdade, levantai-vos e caminhai para a igreja, onde cumprireis o preceito da oração e da missa. Mas tantos cristãos de hoje são como estátuas petrificadas pela ignorância religiosa; são blocos de bronze e mármore, modelados pela indiferença e impiedade. Não se movem. E quando se movem, é para ir aos jogos, às praias, aos cinemas... Para a igreja: não vivem... morrem! 

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

OS DOIS TIPOS DE MARTÍRIO CRISTÃO


Há dois tipos de martírio: o primeiro consiste numa disposição do espírito; o segundo alia a essa disposição os atos da existência. Por isso, podemos ser mártires mesmo sem morrermos executados pelo gládio do carrasco. Morrer às mãos dos perseguidores é o martírio em ato, na sua forma visível; suportar as injúrias amando quem nos odeia é o martírio em espírito, na sua forma oculta.

Que haja dois tipos de martírio, um oculto, o outro público, a própria Verdade o comprova quando pergunta aos filhos de Zebedeu: 'Podeis beber o cálice que Eu hei de beber?' E à sua asserção: 'Podemos', o Senhor complementou: 'Bebereis do meu cálice'. Ora, o que pode significar para nós este cálice senão os sofrimentos da sua Paixão, da qual diz em outro lugar: 'Pai, se é possível, afasta de mim este cálice' (Mt 26,39)? Os filhos de Zebedeu, Tiago e João, não morreram ambos mártires, mas foi a ambos que o Senhor disse que haviam de beber esse cálice.

De fato, se bem que não viesse a morrer mártir, João acabou todavia por sê-lo, já que os sofrimentos que não sentiu no corpo os sentiu na alma. Devemos então concluir do seu exemplo que nós próprios podemos ser mártires sem passar pela espada, se conservarmos a paciência da alma.

(São Gregório Magno em 'Homilias sobre os Evangelhos')

terça-feira, 22 de novembro de 2022

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

'Não somente de todo o coração, mas também de toda a alma devemos amar a Jesus Cristo, Nosso Deus e Senhor. Que significa: de toda a alma? Vai dizê-lo Santo Agostinho: 'Amar a Deus de toda a alma é amá-lo com toda a vontade, sem restrições'. Amarás, certamente, de toda a alma, se sem contradição e de boa vontade fizeres não o que tu queres, nem o que aconselha o mundo, nem o que te inspira a carne, mas aquilo que reconheceres como sendo a vontade de Deus. Amarás, de fato, a Deus de toda a tua alma quando por amor de Jesus Cristo entregares de boa vontade tua vida à morte, sendo necessário. Se nisto, porém, faltares, já não amas de toda a alma. Ama, pois, ao Senhor teu Deus de toda a tua alma, isto é, faze a tua vontade sempre em conformidade com a vontade divina'.

(São Boaventura)

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

SOBRE OS DOIS PILARES DA VIDA CRISTÃ

Um dos maiores favores que Santa Teresa recebeu de Deus, e em que excedeu a todos ou quase todos os santos, foram dois segredos que o mesmo Senhor lhe revelou, ocultos a todos os homens: o primeiro, quando havia de morrer; o segundo, que se havia de salvar. Alguns santos tiveram revelação de sua morte; Santa Teresa teve-a de sua morte e de sua predestinação. Por isso digo que Santa Teresa vigiou sabendo mais que o dia e mais que a hora: soube o dia e a hora, porque soube quando havia de morrer, e soube mais que o dia e mais que a hora, porque soube também que, morrendo, se havia de salvar. E que sobre estas duas ciências, sobre a ciência e certeza de quando havia de morrer, e sobre a ciência e certeza de que se havia de salvar, vigiasse, contudo, Santa Teresa sem adormecer nem se descuidar um momento, antes fazendo uma vida tão rigorosa e tão maravilhosa, esta é a maior maravilha de toda a sua vida.

Todos os homens neste mundo vivemos com duas ignorâncias: a primeira da morte, a segunda da predestinação. Todos sabemos que havemos de morrer, mas ninguém sabe o quando. Todos sabemos que nos havemos de salvar ou condenar, mas ninguém sabe qual destas há de ser. E por que ordenou Deus que a morte fosse incerta e a predestinação duvidosa? Não pudera Deus fazer que soubéssemos todos quando havíamos de morrer, e se éramos ou não predestinados? Claro está que sim; mas ordenou com suma providência que estivéssemos sempre incertos e duvidosos da predestinação, para que a morte nos suspendesse sempre o temor com a incerteza, e a predestinação nos sustentasse a perseverança com a dúvida. 

Se os homens soubessem quanto haveriam de viver e quando haveriam de morrer, que seria dos homens? Se eu, sabendo que posso morrer hoje, me atrevo a ofender a Deus hoje, quem soubesse que havia de viver quarenta anos, como não ofenderia confiadamente a Deus ao menos os trinta e nove? Por esta causa ordenou Deus que a morte fosse incerta, e pela mesma que a predestinação fosse duvidosa. Se os homens soubessem que eram réprobos, como desesperados haviam-se de precipitar mais nas maldades; se soubessem que eram predestinados, como seguros haviam-se de descuidar na virtude; pois, para que os maus sejam menos maus, e os bons perseverem em ser bons, nem os maus saibam que são réprobos e nem os bons saibam que são predestinados. 

Não saibam os maus que são réprobos para que não se despenhem como desesperados, nem saibam os bons que são predestinados, para que se não descuidem como seguros. De maneira que estas duas ignorâncias, a ignorância da morte e a ignorância da predestinação, são as bases do temor da morte e do temor do inferno, e estes dois temores, as duas mais fortes colunas sobre que todo o edifício da vida cristã se sustenta, para que os homens não vivessem como néscios, mas obrassem como prudentes.

Porém a Santa Teresa tratou-a Deus com tal exceção, e fez da lealdade do seu amor tão diferente confiança, que em lugar destas duas ignorâncias lhe deu as duas ciências contrárias: a ciência de quando havia de morrer, e a ciência de que se havia de salvar, porque sabia que nem a ciência e certeza da hora da morte lhe havia de diminuir a vigilância, nem a ciência e segurança da salvação lhe havia de entibiar o cuidado. Saiba Teresa quando há de morrer, e saiba que se há de salvar, para que, obrando sobre estas duas ciências, saiba também o mundo quão fielmente ela ama.

(Excertos do 'Sermão de Santa Teresa', do Pe. Antônio Vieira)

domingo, 20 de novembro de 2022

EVANGELHO DO DOMINGO

'Quanta alegria e felicidade: vamos à casa do Senhor!(Sl 121)

 20/11/2022 - Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo

52. JESUS CRISTO - REI DO UNIVERSO


Jesus Cristo é o Rei do Universo. Como Filho Unigênito de Deus, Ele é o herdeiro universal de toda a criação, senhor supremo e absoluto de toda criatura e de toda a existência de qualquer criatura, no céu, na terra e abaixo da terra. A realeza de Cristo abrange, portanto, a totalidade do gênero humano, como expresso nas palavras do Papa Leão XIII: 'Seu império não abrange tão só as nações católicas ou os cristãos batizados, que juridicamente pertencem à Igreja, ainda quando dela separados por opiniões errôneas ou pelo cisma: estende-se igualmente e sem exceções aos homens todos, mesmo alheios à fé cristã, de modo que o império de Cristo Jesus abarca, em todo rigor da verdade, o gênero humano inteiro' (Encíclica Annum Sacrum, 1899).

E, neste sentido, o domínio do seu reinado é universal e sua autoridade é suprema e absoluta. Cristo é, pois, a fonte única de salvação tanto para as nações como para todos os indivíduos. 'Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do Céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual nós devamos ser salvos' (At 4, 12). O livre-arbítrio permite ao ser humano optar pela rebeldia e soberba de elevar a criatura sobre o Criador, mas os frutos de tal loucura é a condenação eterna.

'A realeza de Cristo é, entretanto, principalmente interna e de natureza espiritual. Provam-no com toda evidência as palavras da Escritura, e, em muitas circunstâncias, o proceder do próprio Salvador. Quando os judeus, e até os Apóstolos, erradamente imaginavam que o Messias libertaria seu povo para restaurar o reino de Israel, Jesus desfez o erro e dissipou a ilusória esperança. Quando, tomada de entusiasmo, a turba, que o cerca o quer proclamar rei, com a fuga furta-se o Senhor a estas honras, e oculta-se. Mais tarde, perante o governador romano, declara que seu reino 'não é deste mundo'. Neste reino, tal como no-lo descreve o Evangelho, é pela penitência que devem os homens entrar. Ninguém, com efeito, pode nele ser admitido sem a fé e o batismo; mas o batismo, conquanto seja um rito exterior, figura e realiza uma regeneração interna. Este reino opõe-se ao reino de Satanás e ao poder das trevas; de seus adeptos exige o desprendimento não só das riquezas e dos bens terrestres, como ainda a mansidão, a fome e sede da justiça, a abnegação de si mesmo, para carregar com a cruz. Foi para adquirir a Igreja que Cristo, enquanto 'Redentor', verteu o seu sangue; para isto é, que, enquanto 'Sacerdote', se ofereceu e de contínuo se oferece como vítima. Quem não vê, em consequência, que sua realeza deve ser de índole toda espiritual?' (Encíclica Quas Primas de Pio XI, 1925).

Cristo Rei se manifesta por inteiro pela sua Santa Igreja e, por meio dela, e por sua paixão, morte e ressurreição, atrai para si a humanidade inteira, libertada do pecado e da morte, que será o último adversário a ser vencido. Como herdeiros de Cristo, elevemos ao Pai a súplica de salvação emanada pelas palavras do 'bom ladrão': 'Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado' (Lc 23, 42) e, neste propósito, supliquemos, tal como ele, nos tornarmos dignos também de compartilhar com Cristo Rei a glória da sua realeza eterna.

sábado, 19 de novembro de 2022

O DOGMA DO PURGATÓRIO (XLIV)

 

Capítulo III

Consolação das Almas - Santo Estanislau de Cracóvia e a Ressurreição de Peter Miles

Este contentamento em meio ao sofrimento mais intenso não pode ser explicado senão pelas divinas consolações que o Espírito Santo infunde nas almas do Purgatório. O Espírito Divino, por meio da fé, da esperança e da caridade, dispõe estes dons à disposição dos enfermos que devem submeter-se a um tratamento muito penoso, mas cujo efeito é o de restabelecer-lhes a saúde perfeita. O doente sofre mas ama o seu sofrimento salutar. O Espírito Santo, o Consolador, dá um contentamento semelhante às almas santas. 

Temos disso um exemplo singular na pessoa de Peter Miles, que foi ressuscitado dos mortos por Santo Estanislau de Cracóvia, mas que preferiu retornar ao Purgatório a viver novamente na terra. O célebre milagre desta ressurreição aconteceu em 1070. Vejamos como tal fato é relatado na Acta Sanctorum de 7 de maio. Santo Estanislau era bispo de Cracóvia quando o duque Boleslas II governava a Polônia. Ele não deixou de lembrar a este príncipe dos seus deveres, os quais violou escandalosamente  diante de todo o seu povo.

Boleslas irritou-se com a santa liberdade do prelado e, para se vingar, incitou contra ele os herdeiros de um certo Peter Miles, que morrera três anos antes, depois de ter vendido um pedaço de terra à igreja de Cracóvia. Os herdeiros acusaram o santo de ter usurpado o terreno, sem o ter pago ao proprietário. Estanislau declarou que havia pago pelo terreno, mas como as testemunhas que deveriam tê-lo defendido foram subornadas ou intimidadas, ele foi denunciado como usurpador da propriedade alheia e condenado a fazer restituição. Então, vendo que nada tinha a esperar da justiça humana, elevou o seu coração a Deus e recebeu então uma inspiração repentina. Ele pediu um prazo de três dias, prometendo fazer Peter Miles comparecer pessoalmente, para que ele testemunhasse a compra legal e o pagamento do terreno.

O prazo foi concedido a ele em desprezo. O santo fez jejum e recolheu-se em profunda oração a  Deus para assumir a defesa da sua causa. No terceiro dia, depois de ter celebrado a Santa Missa, saiu acompanhado pelo seu clero e de muitos fiéis, ao local onde o homem havia sido sepultado. Por suas ordens, a sepultura foi aberta; e nada continha além de ossos. Ele os tocou com o seu báculo e, em nome dAquele que é a Ressurreição e a Vida, ordenou que o morto se levantasse. De repente, os ossos se reuniram, cobriram-se de carne e, à vista do povo estupefato, viu-se o morto pegar o bispo pela mão e caminhar em direção ao tribunal. Boleslas, com a sua corte e uma imensa multidão, aguardava o resultado com a mais viva expectativa. 'Eis a testemunha - disse o santo a Boleslas - 'ele vem, príncipe, para dar testemunho diante de ti; interrogue-o pois e ele te responderá'. É impossível descrever a estupefação do duque, dos seus conselheiros e de toda a multidão. Peter Miles afirmou então que havia sido pago pelo terreno; em seguida, voltando-se para os seus herdeiros, repreendeu-os por terem acusado o piedoso prelado contra todos os direitos da justiça; e então ele os exortou a fazer penitência por um pecado tão grave.

Foi assim que a iniquidade, que se acreditava já certa de sucesso, foi confundida. Agora vem a circunstância que diz mais respeito ao nosso assunto e à qual desejamos nos referir. Desejando realizar este grande milagre para a glória de Deus, Estanislau propôs ao defunto que, se desejasse viver mais alguns anos, obteria para ele este favor de Deus. O homem respondeu que não tinha tal desejo. Ele estava no Purgatório, mas preferia voltar para lá imediatamente e suportar as suas dores do que expor-se à condenação nesta vida terrestre. Ele pediu ao santo apenas que implorasse a Deus que o tempo dos seus sofrimentos fosse reduzido, para que pudesse entrar mais cedo na morada dos eleitos. Depois disso, e acompanhado pelo bispo e uma grande multidão, Peter Miles voltou ao seu túmulo, deitou-se, e seu corpo desfez-se em ossos, retomando o estado tal como encontrado previamente. Temos motivos para acreditar que o santo obteve logo a libertação da sua alma.

O que há de mais notável neste exemplo, e que mais deveria chamar a nossa atenção, é que uma alma do Purgatório, depois de ter experimentado os tormentos mais excruciantes, preferiu aquele estado de sofrimento à vida deste mundo; e a razão que se dá para essa preferência é que, nesta vida mortal, estamos expostos ao perigo de nos perdermos e incorrermos em uma condenação eterna.

Tradução da obra: 'Le Dogme du Purgatoire illustré par des Faits et des Révélations Particulières', do teólogo francês François-Xavier Schouppe, sj (1823-1904), 342 p., tradução pelo autor do blog)