terça-feira, 20 de julho de 2021

DUAS IGREJAS E DUAS LÚCIAS DE FÁTIMA?

Dentre os extraordinários fatos e revelações que caracterizam as mensagens de Nossa Senhora em Fátima, um dos mais perturbadores e absurdos é a personagem da Irmã Lúcia após 1957 - 1960. São duas Lúcias tão diversas quanto a realidade e a versão divulgada do Terceiro Segredo. Na história dos primeiros 40 anos dos eventos (1917 - 1957) - um período aproximado - temos conhecimento de uma Lúcia tipificada pela introversão e penitência de claustro, sob confinamento forçado ou não, mas fazendo, com as profundas limitações de suas próprias forças e condições, o que Nossa Senhora lhe dera por missão, na sua Segunda Aparição - a difusão no mundo da devoção ao Imaculado Coração de Maria:

– Queria pedir-Lhe para nos levar para o Céu.
– Sim; a Jacinta e o Francisco levo-os em breve. Mas tu ficas cá mais algum tempo. Jesus quer servir-se de ti para me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração.
– Fico cá sozinha? – perguntei, com pena.
– Não, filha. E tu sofres muito? Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus.

Essa Lúcia - a Lúcia das aparições - tinha antecipado o seu 'sim' aos desígnios da graça já na Primeira Aparição:

- Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e de súplica pela conversão dos pecadores?
Sim, queremos.
Ide, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.

Assim, a missão de Lúcia foi estabelecida pela via do ostracismo e do sofrimento, longe da realidade do mundo: – 'Ide, pois, ter muito que sofrer'. Lúcia não ganharia o Céu de imediato e nem teria mais o mundo. Neste escondimento e anonimato, entretanto, nunca esteve realmente sozinha, pois Nossa Senhora sempre a amparou – O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus. Com uma vida inteiramente dedicada à oração, penitências e sacrifícios, Lúcia cumpriu a sua missão, não como fonte irradiadora da luz divina, mas como espelho débil e generoso de que se valeu Nossa Senhora para nele refletir os portentosos desígnios da Providência divina.

A Irmã Lúcia revelou expressamente que o Terceiro Segredo de Fátima deveria ser revelado em 1960 ou até um pouco antes, em caso da sua morte. E por que 1960? Porque este ano representa uma data referencial para o cerne da revelação mariana: uma crise de fé universal, tão crítica e tão tremenda que seria capaz de abalar os fundamentos da Igreja - uma aurora de uma apostasia universal e a destruição quase completa dos fundamentos da Santa Igreja Católica. Assim, o ano de 1960 era de especial e fundamental relevância para o bem da Igreja e do mundo no sentido de uma plena compreensão (e consequente tomada de posição) contra fatos, circunstâncias ou eventos que tenderiam a ser particularmente graves e deletérios para a Santa Igreja e para toda a humanidade nas décadas seguintes. 

Esta revelação, entretanto, poderia também ocorrer um pouco antes de 1960, em caso da morte da vidente, como ela própria havia assinalado. A Irmã Lúcia, amparada por Nossa Senhora durante toda a sua missão na terra, teria ciência clara de que cumprira a missão a ela destinada e esta, uma vez concluída (Fátima já seria uma realidade para o mundo inteiro nesta época), 'o algum tempo' que lhe restava nesta vida estaria prestes a se concluir também. Neste sentido, 1960 era o tempo do Terceiro Segredo e um limite de tempo prescrito pelos Céus para a missão da Irmã Lúcia e, por essa razão, é bastante razoável admitir que a verdadeira Irmã Lúcia tenha falecido alguns meses ou anos um pouco antes de 1960. 

Desta forma, o domínio do tempo das revelações de Nossa Senhora em Fátima estaria circunscrito aproximadamente ao ano de 1960, com duas determinações precisas e enfáticas de Nossa Senhora: a primeira - dirigida e cumprida por Lúcia - consistia na sua missão de divulgar ao mundo a devoção ao seu Imaculado Coração e a segunda - dirigida e não cumprida pelos papas da Igreja - consistia na devoção explícita da Rússia ao Imaculado Coração de Maria e o anúncio do Terceiro Segredo ao mundo católico e à toda a humanidade. De alguma forma, naquele período singular da história da humanidade e por razões diversas, Lúcia e o papado - na concepção plena dos papas como sucessores de Pedro e irmanados na observância rigorosa da doutrina católica fundamentada pelos Evangelhos e pela tradição bimilenar da Igreja, morreram juntos.  

E, ressurgiram também juntos, com uma nova Lúcia e um novo papado - e, consequentemente, uma nova Igreja - pelo Concílio Vaticano II, concílio ecumênico convocado pelo Papa João XXIII em 25 de dezembro de 1961, inaugurado em 11 de outubro de 1962 e concluído pelo seu sucessor, o Papa Paulo VI, em 8 de dezembro de 1965. Um concílio que não teve como objeto estabelecer nenhum dogma, denunciar quaisquer erros doutrinários ou condenar quaisquer heresias, mas que simplesmente formalizou um novo rito litúrgico da chamada Missa Nova e promoveu uma verdadeira revolução nos pilares da fé autêntica da Igreja de Cristo. 

A distinção é óbvia nos tempos da Igreja pré e pós-conciliar. Os maus frutos desta árvore má são abundantes e estão espalhados por todos os lados nestes tristes tempos de apostasia universal. Mas muitos - uma maioria moldada pela tibieza, pelo indiferentismo e pelo ecumenismo mais diabólico - simplesmente não vê o que não quer ver. Mas o que o espírito humano se apraz em legitimar como unidade das duas Igrejas, a tecnologia avançada não deixa dúvidas entre uma Lúcia verdadeira e uma Lúcia falsa, utilizando simplesmente a técnica do envelhecimento (ou rejuvenescimento) de rostos ou das suas mudanças físicas em termos da adição, remoção ou alteração de formatos ou de elementos fisionômicos (comumente na forma de mudanças em termos de cortes de cabelo ou inclusão/exclusão de barba, óculos, próteses dentárias, etc). 

A sequência de fotografias abaixo apresenta comparações entre a Lúcia Jovem (pré-1960), a Lúcia Jovem artificialmente envelhecida e a Lúcia Idosa (pós-1960), utilizando as técnicas citadas. A sequência seguinte apresenta os rostos das duas Lúcias num sorriso mais aberto. Mas a distinção maior entre essas duas personagens está no 'état d'esprit' (sequência inferior das fotos): a Lúcia mais jovem é contida, recatada, quase solene; enquanto a Lúcia mais idosa é afável, cordial, quase relaxada. Surpreendentemente duas Lúcias, que se assemelham talvez pelos hábitos religiosos que vestem.




Duas Lúcias é uma teoria da conspiração? Ou o resultado de uma conspiração monstruosa e de consequências avassaladoras para a Igreja? Se a primeira serviu-se do escondimento e da pequenez, a segunda serviu de suporte muito adequado para encontros e eventos públicos da Igreja pós-conciliar. A hipótese de duas Lúcias tem outros elementos de abordagem, mas nos basta aqui fazê-la por apenas mais um viés complementar.

Durante uma entrevista com a Irmã Lúcia entre 17 e 18 de outubro de 1946, o Cônego Barthas perguntou à vidente: 'Quando nos será revelada a terceira parte do segredo?' A resposta foi incisiva: 'Em 1960'. Na sequência, o cônego escreveu: 'E quando levei a minha audácia tão longe ao ponto de perguntar sobre o porquê de ser necessário esperar até lá, a única resposta que recebi foi: 'Porque a Santíssima Virgem deseja que assim o seja' (Barthas, Fátima, Merveille du XXe siecle, pág. 83, Fatima-editions, 1952). Essa acepção foi explicitamente exposta, em termos diretos pela própria caligrafia da Irmã Lúcia, na forma de um encaminhamento postado sobre um envelope pardo que conteria o texto original da revelação, como apresentado pelo Cardeal Bertone em vídeo público, quando do anúncio do terceiro segredo de Fátima pelo Vaticano, no ano de 2000: 'Por ordem expressa de Nossa Senhora, este envelope só pode ser aberto em 1960...'

Nos termos mais completos do Segredo revelado publicamente ('A Mensagem de Fátima', texto disponível no site do Vaticano), consta um interrogatório realizado com a vidente pelo próprio Cardeal Bertone, que incluiu a sequinte questão: 'Por que o limite de 1960? Foi Nossa Senhora que indicou aquela data?', cuja resposta da vidente de Fátima foi perturbadoramente estranha: 'Não foi Nossa Senhora; fui eu mesma que meti essa data porque, segundo intuição minha, antes de 1960 não se perceberia, compreender-se-ia somente depois. Agora pode-se compreender melhor. Eu escrevi o que vi, não compete a mim a interpretação, mas ao papa'.

A resposta dessa 'Lúcia' contradiz frontalmente a afirmação de Lúcia. Além de confrontar o que se afirmara antes, a resposta dada é totalmente estranha e descabida. A data de 1960 - um elemento de singularidade histórica para a vida da Igreja e para a civilização cristã - teria sido fruto da intuição da vidente e não de uma mensagem profética de Nossa Senhora? Baseado em quais fatos e evidências? A vidente tornava-se então, mais que meramente intuitiva, uma profetisa dos Céus? Não tem sentido algum. Para, logo em seguida, afirmar que não competia a ela, mas ao papa, a interpretação dos fatos! Como se intuir não fosse uma interpretação além dos fatos... Definitivamente, há algo errado com essa Lúcia de Fátima! Definitivamente, estamos diante de Lúcias que são diferentes, que agem de maneiras diferentes, que falam coisas diferentes...

segunda-feira, 19 de julho de 2021

A CRUZ QUE SE LEVA É LENHO DE SANTIDADE (II)

 

Não está de acordo com a natureza do homem levar a cruz, amar a cruz, castigar o corpo e reduzi-lo à escravidão, fugir das honras e sofrer, de bom grado, as injúrias, desprezar-se a si mesmo e desejar ser desprezado, suportar as coisas mais adversas e danosas e não desejar nenhuma prosperidade neste mundo.

Se olhas para ti vês logo que só com as tuas forças não serás capaz de nenhuma destas coisas; mas, se confiares em Deus, receberás do Céu a força necessária, e o mundo e a carne ficarão sujeitos ao teu domínio. Mais ainda, não temerás sequer o inimigo infernal, se estiveres armado com o escudo da fé e marcado com o sinal da Cruz de Cristo.

Resolve-te, pois, como bom e fiel servo de Cristo, a levar, virilmente, a Cruz do teu Senhor, que se deixou crucificar por teu amor. Prepara-te para enfrentar nesta miserável vida muitas adversidades e muitas angústias; eis o que te espera por onde quer que fores, eis o que encontrarás em qualquer lugar onde te encontrares.

... E, na verdade, se houvesse um método melhor e mais útil para a salvação dos homens que o sofrimento, certamente Cristo no-lo teria ensinado pela palavra e pelo exemplo. Pois, manifestamente, exorta os seus discípulos e todos os que o querem seguir a que levem a sua cruz, dizendo: 'Se alguém me quer seguir, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me' (Mt 16,24). Portanto, consideradas e examinadas todas as coisas, devemos concluir: 'Importa passar por muitas tribulações para entrar no reino de Deus' (At 14,21).

(Da Imitação de Cristo)

domingo, 18 de julho de 2021

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'O Senhor é o pastor que me conduz; felicidade e todo bem hão de seguir-me!' (Sl 22)

 18/07/2021 - Décimo Sexto Domingo do Tempo Comum

34. A DUALIDADE DA GRAÇA 

O Evangelho deste domingo reflete as dimensões opostas da vida cristã em comunidade e em isolamento, feitas das santas alegrias do convívio social ou moldadas pelas graças do recolhimento absoluto, tangidas pelo frenesi de multidões em marcha ou pelo silêncio contemplativo dos claustros mais inacessíveis. Como nos são diversos os desígnios do Senhor! Quão diversos são os caminhos e os meios que imprimem a santidade no coração e na alma daqueles que buscam sinceramente a Deus!

Os Apóstolos haviam sido enviados por Jesus em missão, 'dois a dois' (Mc 6,7), com a recomendação expressa de levarem muito pouca coisa: 'nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura' e nem 'duas túnicas' (Mc 6,8 - 9) e providos pela graça do dom da cura e do 'poder sobre os espíritos impuros' (Mc 6,7). E estes homens, pescadores sem erudição, sem alforge e sem preparos retóricos, cumpriram com coragem heróica e humildade santa os ditames proclamados pelo Mestre: levar a Boa Nova a todos os povos e a todas as nações! E, na santa alegria da primeira missão apostólica cumprida, retornam agora ao convívio do Senhor e, cheios de júbilo, 'contaram tudo o que haviam feito e ensinado' (Mc 6,30).

No convívio do Senhor! Na santa alegria do convívio do Senhor e dos demais Apóstolos, as primícias da Igreja são matizadas naqueles tempos pioneiros da evangelização universal. Uma comunidade viva, moldada pelos princípios das sólidas virtudes da humildade, do despojamento, da fraternidade e da partilha. Uma comunidade que crescia, que exigia novas pregações, que demandava zelo e tempo... Jesus, então, chama os seus discípulos: 'Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco' (Mc 6, 31). No meio da multidão, Jesus os exorta a viver a outra dimensão da realidade cristã, moldada pelo anonimato, pelo silêncio e pela solidão com Deus.

Nesse encontro pessoal com Deus, Jesus nos ensina a buscar a barca, os montes ou o deserto. Sim, na busca de uma maior intimidade com as coisas sobrenaturais, impõe-se afastar do burburinho e da agitação do mundo, para se mergulhar a alma no repouso físico e na contemplação do espírito. Eis, assim, a síntese da perfeição cristã, que associa ação e contemplação, convívio fraterno e recolhimento interior! E, como um círculo de perfeição, refaz-se em seguida a dualidade da graça: as multidões acercam-se uma vez mais do Mestre e este, movido pela compaixão, cerne da verdadeira devoção cristã, recomeça a sua pregação divina 'porque eram como ovelhas sem pastor' (Mc 30, 34).

sábado, 17 de julho de 2021

TESOURO DE EXEMPLOS (85/87)


85. A VIDA LENDÁRIA DE SÃO DIMAS

Contam antigas lendas que a Sagrada Família, ao fugir para o Egito, quis refugiar-se, para passar a noite, numa cova que, por desgraça, era uma guarida de ladrões. O capitão dos bandidos sentiu-se comovido ao ver a venerável bondade de São José, a pureza e formosura da Santíssima Virgem e o olhar todo celeste do Menino Jesus. Acolheu-os, deu-lhes de comer e, na manhã seguinte, ofereceu-lhes pão para a viagem e, a Maria, uma bacia de água para banhar o Menino. 

O capitão tinha um filhinho, aproximadamente da idade de Jesus, que se achava coberto de lepra. Nossa Senhora, correspondendo às finezas daquele homem rude e duro, mas que algo de bom tinha no coração, aconselhou-o a lavar o filhinho na água em que banhara o Menino Jesus. Assim o fez o bandoleiro e, no mesmo instante, seu filhinho ficou curado da lepra. O capitão lembrou muitas vezes ao filho a quem devia a saúde e a vida, dizendo: 'Foi o milagre de um Menino de tua idade, que seria, quem sabe, o Messias anunciado pelos profetas'.

Crescendo, seguiu aquele menino o exemplo do pai, tornando-se ladrão. Preso e condenado à morte, ao subir ao Calvário, ia pensando em Jesus, seu companheiro de suplício, que era tão santo e paciente, que, sem dúvida, havia de ser o Messias, aquele mesmo menino que o livrara da lepra. As lendas dizem que o bom ladrão se chamava Dimas e o mau, Gestas. Ambos foram condenados a morrer junto com Jesus e no mesmo suplício.

Atrás de Jesus subiram ao Calvário, levando suas cruzes. Junto com Ele, foram levantados nas respectivas cruzes. Viram como os soldados repartiam entre si as vestes do Salvador; mas, como a túnica era de uma só peça, tiraram a sorte a ver quem a levaria. Ouviram as palavras de Cristo: 'Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem'. Jesus era objeto de todos os insultos. A multidão, curiosa e soez, passava por diante dEle, e, movendo a cabeça em sinal de desprezo, diziam: 'Vamos! Tu que destróis o templo de Deus e em três dias o reedificas, salva-te a ti mesmo. Se és o Filho de Deus, desce da cruz...'

Todos blasfemavam e insultavam a Jesus. Mas a graça operou um milagre: um dos ladrões, Dimas, considerando as virtudes sobre-humanas de Jesus, acreditou ser Ele o Messias prometido e amou de todo o coração a Bondade infinita. Dirigindo-se a Gestas, o outro crucificado, repreendeu-o, dizendo: 'Como não temes a Deus, estando como estás no mesmo suplício? É justo, na verdade, que soframos por nossos crimes, mas Jesus, que mal Ele fez?'

E, cheio de esperança e com grande arrependimento, disse a Jesus: 'Senhor, quando chegares ao teu reino, lembra-te de mim'. Jesus, olhando Dimas com infinita misericórdia, respondeu: 'Em verdade te digo que hoje mesmo estarás comigo no paraíso'. Naquela mesma noite, a alma de Jesus visitou o limbo dos justos e concedeu ao Bom Ladrão a vista de Deus e a felicidade eterna. Sua festa litúrgica é celebrada no dia 25 de março.

86. UM PREGADOR QUE SACUDIA O AUDITÓRIO

Nascido em meados do século XIV, na formosa Valença, São Vicente Ferrer, já na infância, deu claros indícios de extraordinária missão que Deus lhe reservara. Gostava de ouvir sermões, para, depois, reunidos com os seus colegas, repetir-lhes com grande ardor os trechos mais impressionantes.

Apareceram, no pescoço de um seu amiguinho de cinco anos, umas chagas malignas. Vicente foi visitá-lo e, para mortificar-se e aliviar o doente, lambeu-lhe as chagas, que, imediatamente, desapareceram. Este foi o primeiro milagre que operou. Aos dezoito anos, entrou para a Ordem Dominicana, tornando-se professor famoso em várias universidades. Mas o fruto obtido por seus sermões fê-lo abandonar a cátedra e dedicar-se exclusivamente à pregação.

Percorreu, como pregador, grande parte da Europa, não faltando em nenhuma de suas missões o famoso sermão sobre o fim do mundo e o Juízo universal. Certa vez, ao pregá-lo numa praça diante de milhares de ouvintes, quando pronunciou com voz terrível aquelas palavras dos anjos: 'Levantai-vos, ó mortos, vinde ao Juízo!', todo auditório caiu por terra, como morto; e, todos, ao se erguerem, estavam pálidos e a tremer, como se surgissem dos sepulcros.

Outra vez, pregando o mesmo sermão, disse ser ele o anjo, do qual São João diz, no Apocalipse, que cruzará pelos ares, clamando: 'Temei a Deus e honrai-o, porque está chegando a hora do Juízo'. Escandalizaram-se alguns, ao ouvirem tais palavras; mas o santo, para provar-lhes que tinha razão, mandou que trouxessem uma defunta que era levada ao cemitério. Vários homens saíram e, realmente, encontraram o cortejo fúnebre e trouxeram à praça o caixão. Puseram-no, por ordem do santo, no meio do povo. O pregador mandou que a defunta se levantasse e convidou-a a reconhecer que era ele o anjo do Apocalipse, enviado por Deus para lembrar aos homens o fim do mundo. Ela confirmou a palavra do santo, diante daquela imensa multidão admirada.

Dirigindo-se à ressuscitada, perguntou São Vicente: 'Queres viver ou morrer de novo?' - 'Quero viver para fazer mais pelo céu'. E aquela mulher foi, por muitos anos, um atestado vivo do poder de São Vicente. Seus sermões convertiam cidades inteiras e enchiam os seminários e os conventos. Seguiam-no milhares de penitentes, indo os homens à direita, as mulheres à esquerda e, no meio, os sacerdotes, rezando todos o rosário e cantando hinos religiosos. Era de ver o fervor com que todos faziam penitência, disciplinando-se e implorando o perdão de seus pecados. São Vicente morreu como santo em 1419 e sua festa litúrgica é celebrada no dia 5 de abril.

87. SANTA CASSILDA

Era princesa moura, filha do rei Toledo, e nasceu em fins do século décimo. Seu boníssimo coração estremecia diante das misérias e sofrimentos que suportavam os escravos cristãos, aprisionados pelo rei em suas campanhas guerreiras. A princesa visitava as masmorras e socorria os prisioneiros com dádivas e palavras consoladoras. Eles, em troca, instruíam-na pouco a pouco na doutrina cristã.

Atraída pela beleza de nossa religião, tão heroica e ao mesmo tempo tão misericordiosa, Cassilda pedia a Nossa Senhora, da qual lhe haviam falado os cativos, que se compadecesse dela e lhe mostrasse o caminho para receber o batismo e viver seguindo a fé cristã. A Virgem atendeu às suas súplicas. Cassilda começou a sentir-se doente de mal estranho que lhe consumia os ossos, e contra o qual se mostravam impotentes os melhores médicos.

Um cativo cristão contou-lhe que, perto de Burgos, havia uma fonte, chamada de São Vicente, cujas águas curariam a sua doença. A princesa referiu ao pai o que ouvira do cativo e pediu-lhe licença para experimentar aquele remédio. Seu pai opôs-se, a princípio, por achar-se a fonte em terra de cristãos; mas, diante dos progressos da enfermidade, terminou por aceder. Acompanhada de um séquito deslumbrante, chegou Cassilda a Burgos, onde foi cortesmente recebida pelo rei Fernando I da Castela e hospedada com todas as honras. Dirigiu-se logo à prodigiosa fonte e, quando se banhou em suas águas, recobrou a saúde corporal. Atribuindo-a à intercessão de Nossa Senhora, acabou de instruir-se na doutrina cristã e, pouco depois, as águas do batismo deram-lhe a saúde da alma.

O rei, seu pai, alarmado com a demora e com as notícias que recebia, enviou-lhe mensageiros com a ordem de regressar imediatamente. Santa Cassilda mandou dizer-lhe que já era princesa do céu e que, por seu reino temporal, não queria perder o reino eterno. Mandou construir uma humilde cela perto da fonte milagrosa e da igreja, onde recebera o batismo, e ali passou a vida, dando exemplo de todas as virtudes, especialmente de caridade e penitência. Sua festa é celebrada no dia 9 de abril e suas preciosas relíquias são veneradas, atualmente, parte na catedral de Burgos e parte na catedral de Toledo.

(Excertos da obra 'Tesouro de Exemplos', do Pe. Francisco Alves, 1958; com adaptações)

ver PÁGINA: TESOURO DE EXEMPLOS

sexta-feira, 16 de julho de 2021

GLÓRIAS DE MARIA: MÃE E FORMOSURA DO CARMELO

 


No dia 16 de julho de 1251, São Simão Stock suplicava a intercessão de Nossa Senhora para resolver problemas da Ordem Carmelita quando teve uma visão da Virgem que, trazendo o Escapulário nas mãos, lhe disse as seguintes palavras:

"Filho diletíssimo, recebe o Escapulário da tua Ordem, sinal especial de minha amizade fraterna, privilégio para ti e todos os carmelitas. Aqueles que morrerem com este Escapulário não padecerão o fogo do Inferno. É sinal de salvação, amparo e proteção nos perigos, e aliança de paz para sempre". 


Imposição e Uso do Escapulário

- Qualquer padre pode fazer a bênção e imposição do Escapulário à pessoa.

2 - A bênção e a imposição valem para toda a vida e, portanto, basta receber o Escapulário uma única vez.

- Quando o Escapulário se desgastar, basta substituí-lo por um novo.

- Mesmo quando alguém tiver a infelicidade de deixar de usá-lo durante algum tempo, pode simplesmente retomar o seu uso, não sendo necessária outra bênção.

5 - Uma vez recebido, o Escapulário deve ser usado em todas as ocasiões (inclusive ao dormir), preferencialmente no pescoço.

6 - Em casos de necessidade de retirada do Escapulário, como no caso de doenças e/ou internações em hospitais, a promessa de Nossa Senhora se mantém, como se a pessoa o estivesse usando.

7 - Mesmo um leigo pode fazer a imposição do Escapulário a uma pessoa em risco de morte, bastando recitar uma oração a Nossa Senhora e colocar na pessoa um escapulário já bento por algum sacerdote.

8 - O Escapulário pode ser substituído por uma medalha que tenha, de um lado, o Sagrado Coração de Jesus e, do outro, uma imagem de Nossa Senhora (por autorização do Papa São Pio X).
Oração a Nossa Senhora do Carmo
     Ó Virgem do Carmo e mãe amorosa de todos os fiéis, mas especialmente dos que vestem vosso sagrado Escapulário, em cujo número tenho a dita de ser incluído, intercedei por mim ante o trono do Altíssimo. 

          Obtende-me que, depois de uma vida verdadeiramente cristã, expire revestido deste santo hábito e, livrando-me do fogo do inferno, conforme prometestes, mereça sair quanto antes, por vossa intercessão poderosa, das chamas do Purgatório.

        Ó Virgem dulcíssima, dissestes que o Escapulário é a defesa nos perigos, sinal do vosso entranhado amor e laço de aliança sempiterna entre Vós e os vossos filhos. Fazei, pois, Mãe amorosíssima, que ele me una perpetuamente a Vós e livre para sempre minha alma do pecado. 

       Em prova do meu reconhecimento e fidelidade, ofereço-me todo a Vós, consagrando-Vos neste dia os meus olhos, meus ouvidos, minha boca, meu coração e todo o meu ser. E porque Vos pertenço inteiramente, guardai-me e defendei-me como filho e servidor vosso. Amém.

PARA VIVER A DIVINA MISERICÓRDIA UM DIA POR SEMANA¹⁰

  

Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós,
eu confio em Vós!

'Fala ao mundo da Minha Misericórdia, que toda a humanidade conheça a Minha insondável misericórdia. Este é o sinal para os últimos tempos; depois dele virá o dia da justiça. Enquanto é tempo, recorram à fonte da Minha Misericórdia'

Intenção do Dia - Décima Semana

rezar pelas almas do Purgatório

Que as benditas almas do Purgatório / encontrem refrigério e graça / no Sangue e Água derramados / do Coração da infinita misericórdia de Jesus

quinta-feira, 15 de julho de 2021

A MEDIDA DO RIGOR DA JUSTIÇA DIVINA


Inocêncio III foi o papa da Igreja no período de 1198 até 1216, quando faleceu repentinamente. Eleito pontífice aos 37 anos, desenvolveu um dos mais longos pontificados (18 anos) e, entre as suas muitas e decisivas contribuições à Igreja, destacam-se a iniciativa de convocação do IV Concílio de Latrão, no qual foi definida dogmaticamente a doutrina da transubstanciação e o firme combate às heresias e às tentativas de invasão das hordas muçulmanas na Europa. São Francisco de Assis recebeu diretamente deste papa a permissão para fundar a sua Ordem dos Frades Menores.

Logo após a sua morte, este papa apresentou-se diante de Santa Lutgarda de Aywieres, uma das grandes místicas do século XIII, reconhecida pelas suas visões, profecias e diversos milagres, que incluíram até a levitação. A ela, o papa Inocêncio III revelou estar no Purgatório, ao qual descreveu como 'terrível', para a purgação de três pecados específicos cometidos em sua vida. Revelou ainda que que tal aparição consistia em um favor especial de Nossa Senhora, que o permitiu pedir, à mística belga, orações em sua intenção para a abreviação da sua pena e dos seus sofrimentos que, segundo ele, poderiam demandar um tempo 'equivalente a séculos'.

Assim, um papa, renomado e aclamado como um dos grandes pontífices da Igreja, revelou ser refém do Purgatório após a sua morte e que poderia padecer daqueles tormentos terríveis por um tempo da ordem de séculos, para expiação de três faltas específicas cometidas em vida. Desse fato - e quantos não o corroboram da mesma forma - resultam duas grandes lições:

(i) as almas do Purgatório não possuem méritos próprios para abreviar ou livrar-se das penas da purificação e, assim, dependem, em escala absoluta, da nossa intercessão neste mundo, para oferecer orações e penitências em suas intenções. 

(ii) os tempos de purgação são regulados pela justiça divina e não pelas interpretações humanas; quem morre, mesmo que seja uma pessoa reconhecidamente de grande bem e notória santidade, precisa de muitas orações e penitências de nossa parte. Não sabemos se qualquer pessoa falecida já está em Deus ou 'foi descansar' depois de um longo sofrimento nesta vida: em quaisquer circunstâncias, as almas dos falecidos precisam de nossas orações, orações e orações, não apenas nos dias seguintes à sua morte, mas todos os dias, ao longo de semanas, anos e mais anos, porque, definitivamente, não conhecemos com exatidão a magnitude da justiça divina.

A medida do rigor da justiça divina pode ser apreendida ao se relembrar um fato específico e quase casual das mensagens de Nossa Senhora em Fátima. Este fato ocorreu já na primeira aparição e a sua revelação deveu-se a uma resposta de Nossa Senhora a uma pergunta de Lúcia. Recapitulemos o diálogo entre a Mãe de Deus e a pastorinha de Fátima:

  - A Maria das Neves já está no céu?

   - Sim, está.

   - E a Amélia?

   - Estará no Purgatório até o fim do mundo.