quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

'E O VERBO SE FEZ CARNE!'


O nascimento do Menino Jesus em Belém foi descrito detalhadamente pelos evangelistas São Mateus e São Lucas. E o que estes evangelistas nos falam sobre a origem de Jesus? São Mateus registra a longa genealogia do Salvador, começando por Abraão e terminando com Jacó, que 'gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo (Mt 1,16), e complementa que Maria, então desposada com José, 'concebeu por virtude do Espírito Santo' (Mt 1, 18). 

São Lucas não trata o nascimento de Jesus com uma genealogia, mas com a narrativa da Anunciação: 'No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria' (Lc 1, 26-27). O Anjo explica então a Maria a concepção do Salvador: 'O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso, o santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus' (Lc 1, 35).

São Marcos, por outro lado, não evoca este período da vida de Jesus, e começa o seu Evangelho com a pregação de João Batista. Por outro lado, se São João também não menciona os eventos relacionados ao nascimento do Salvador, ele inicia o seu Evangelho com o prólogo: Et Verbum caro factum est [e o Verbo se fez carne]São João, em vez de contemplar a geração terrena do Menino Jesus, convida-nos a contemplar a Trindade: 'No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus' (Jo 1,1). 

Desde toda a eternidade, o Pai que é Deus gera o Filho que é Deus. Ambos são, junto com o Espírito Santo, um único Deus. E São João traz os mistérios insondáveis à encarnação do Verbo: 'E o Verbo se fez carne e habitou entre nós' (Jo 1,14). O Verbo de Deus, segunda Pessoa da Trindade, recebe em sua encarnação a natureza humana, unida e indissociável à sua natureza divina, que Ele retém do Pai desde toda a eternidade. 

Deus encarnado nos é dado como criança como graça de redenção e de salvação da humanidade, mistério de amor que, tendo por medida a Divina Vontade, é inconcebível e sem medida pela ótica humana. Aquele olhar de Jesus e de Maria, expressão absoluta da perplexidade humana diante os infinitos mistérios de Deus, perpassa a cada Natal diante os homens de todos os tempos: estamos prestes, mais uma vez, a contemplar Deus feito Homem no meio de nós!

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

'ONDE ESTÁ O PALÁCIO REAL?'


Que terão dito os anjos vendo a divina Mãe entrar na gruta de Belém, a fim de dar à luz o Filho de Deus? Os filhos dos príncipes nascem em quartos adornados de ouro; e ao Rei do Céu prepara-se para nascer uma estrebaria fria, para cobri-lo, uns pobres paninhos; para cama, um pouco de palha e para o colocar, uma vil manjedoura? Oh, ingratidão dos homens! Oh, confusão para nosso orgulho que sempre ambiciona comodidades e honras!

I. Continuemos hoje a meditar na história do nascimento de Jesus Cristo. Vendo-se repelidos de toda parte, São José e a Bem-aventurada Virgem saem da cidade a fim de achar fora dela ao menos algum abrigo. Os pobres viandantes caminham na escuridão, errando e espreitando; afinal, deparasse-lhes ao pé dos muros de Belém uma rocha escavada em forma de gruta, que servia de estábulo para os animais. Disse então Maria: José, meu Esposo, não precisamos ir mais longe; entremos nesta gruta e deixemo-nos ficar aqui. 'Mas como?' responde São José; 'não vês, minha Esposa, que esta gruta é tão fria e úmida que a água escorre em toda parte? Não vês que não é uma morada para homens, senão uma estrebaria para animais? Como queres passar aqui a noite e dar à luz?' – 'Contudo é verdade', tornou Maria, 'que este estábulo é o paço real onde quer nascer na terra o Filho eterno de Deus'.

Ah! Que terão dito os anjos vendo a divina Mãe entrar naquela gruta para dar à luz! Os filhos dos príncipes nascem em quartos adornados de ouro; preparam-se-lhes berços incrustados com pedras preciosas, e mantilhas preciosas; e fazem-lhe cortejo os primeiros senhores do reino. E ao Rei do Céu prepara-se uma gruta fria e sem lume para nela nascer, uns pobres paninhos para cobri-lo, um pouco de palha para leito, e uma vil manjedoura para o colocar? Ubi aula, ubi thronus? [Onde está o palácio (corte real), onde está o trono?]. 'Meu Deus', assim pergunta São Bernardo, 'onde está a corte, onde está o trono real deste Rei do Céu, porquanto não vejo senão dois animais para lhe fazerem companhia, e uma manjedoura de irracionais, na qual deve ser posto'?

Ó Gruta ditosa, que tiveste a ventura de ver o Verbo divino nascido dentro de ti! Ó presépio ditoso, que tiveste a honra de receber em ti o Senhor do Céu! Ó palha ditosa, que serviste de leito àquele cujo trono é sustentado pelos serafins! Sim, fostes ditosos, ó gruta, ó presépio, ó palha; mais ditosos, porém, são os corações que, tenra e fervorosamente, amam esse amabilíssimo Senhor e que, abrasados em amor, o recebem na santa Comunhão. Oh, com que alegria e satisfação vai Jesus Cristo pousar no coração que o ama!

II. Um Deus que quer começar a sua infância num estábulo confunde o nosso orgulho e, segundo a reflexão de São Bernardo, já prega com exemplo o que mais tarde havia de pregar à viva voz: 'Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração'. Eis porque ao contemplarmos o nascimento de Jesus Cristo e ao ouvirmos falar em gruta, em manjedoura, em palha, em leite, em vagidos, estas palavras deveriam ser para nós como que chamas de amor, e como que setas que nos ferissem os corações e nos fizessem amantes da santa humildade.

É verdade, ó meu Jesus, Vós, tão desprezado por nosso amor, com o vosso exemplo fizestes os desprezos excessivamente caros e amáveis aos que Vos amam. Mas como então é possível que eu, em vez de os abraçar, como Vós os abraçastes, ao receber algum desprezo da parte dos homens, me tenha mostrado tão orgulhoso, e tenha ainda chegado a ofender-Vos, ó Majestade infinita? Pecador e orgulhoso que sou!

Ah, Senhor, já o compreendo: eu não soube aceitar com paciência as humilhações e as afrontas, porque não Vos soube amar. Se Vos tivera amor, ter-me-iam sido doces e amáveis. Mas visto que prometeis o perdão a quem se arrepende, de toda a minha alma arrependo-me de toda a minha vida desordenada, tão diferente da vossa. Quero emendar-me, e por isso Vos prometo que, para o futuro, aceitarei com paz todos os desprezos que me vierem, e que os sofrerei por vosso amor, ó meu Jesus, que por meu amor tendes sido tão desprezado. Compreendo que as humilhações são as gemas preciosas por meio das quais quereis enriquecer as almas com tesouros eternos. 

Já sou digno de outras humilhações e de outros desprezos, porque desprezei a vossa graça. Mereço ser pisado aos pés do demônio. Mas os vossos merecimentos são a minha esperança. Quero mudar de vida; não quero mais causar-Vos desgosto; daqui por diante, não quero buscar senão a vossa vontade e, por isso, Vos dou todo o meu coração. Possuí-o, e possuí-o para sempre, a fim de que eu seja sempre vosso e todo vosso. E Vós, ó Pai Eterno, que cada ano nos alegrais com a esperança de nossa Redenção, concedei-me que, com confiança, possa esperar a vinda do vosso Filho unigênito como Juiz, a quem agora recebo alegremente como Salvador. Fazei-o pelo amor do mesmo Jesus Cristo e de Maria Santíssima.

(Excertos da obra 'Meditações para todos os Dias e Festas do Ano' - Tomo I, de Santo Afonso Maria de Ligório)

segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

'VOCÊ ME DEIXOU NO PURGATÓRIO!'

Nesta vida mortal, somos tangidos pelos julgamentos humanos, eivados de sentimentalismo e escapismos morais, e com uma tendência absurda de analisar, com especial condescendência, a vida de alguma pessoa falecida que amamos ou que conhecemos muito. Temos um julgamento profundamente equivocado da misericórdia e da justiça de Deus, como se uma pudesse excluir a outra. Criatura alguma que não esteja completamente imaculada de qualquer mísero pecado pode ficar de pé diante de Deus e, assim, somente as almas purificadas e livres de quaisquer pecados podem subir diretamente ao Céu. Em outras palavras, o Purgatório é uma realidade tremenda como fronteira final de nossas vidas no caminho da santidade. 

O trecho abaixo, compilado da obra 'I nostri morti - La casa di tutti' do Pe. Giuseppe Tomaselli (1902 - 1989) é um eloquente testemunho destas verdades cristãs tão esquecidas. Antes de causar espanto e incredulidade - ou desânimo espiritual - pois não conhecemos (como o sacerdote achava conhecer) o que somente Deus sabia sobre os pecados de toda uma vida de uma velha senhora, estes fatos nos devem fazer zelosos e perseverantes na busca de uma santidade pessoal que, usando em abundância dos tesouros e indulgências da Santa Igreja, nos permita obter o perdão de todos os nossos pecados e, ao mesmo tempo, rezar em intenção dos nossos queridos irmãos falecidos, para que eles e nós possamos alcançar a glória eterna sem conhecer o Purgatório. Temos a certeza plena de que os nossos pecados (e as penas devido aos nossos pecados) foram perdoados? As nossas confissões foram boas ou más confissões? 

Neste sentido, lembrem-se de valorizar com especial devoção os tempos santos que estamos vivendo: esta semana é a semana mais santa de todas as semanas do ano. Revelações de vários santos asseguram que, mais do que em qualquer outra data, incluindo o próprio Dia de Todos os Santos, é na Noite de Natal que mais almas são libertas do Purgatório para a glória das moradas eternas! Na Noite de Natal, não esqueça das almas do Purgatório em suas orações.


'Em 3 de fevereiro de 1944, uma senhora muito idosa, com quase oitenta anos, morreu. Ela era a minha mãe. Pude contemplar o seu corpo na capela do cemitério, antes do enterro. Como sacerdote, pensei: 'Você, ó mulher, pelo que posso julgar, nunca violou gravemente um único mandamento de Deus'! E, em minha mente, revisei a vida dela.

Na realidade minha mãe foi um modelo de virtudes e devo a ela, em grande parte, a minha vocação sacerdotal. Todos os dias ia à missa, mesmo na velhice, e sua comunhão era diária. Nunca deixou de rezar o Rosário. Foi sempre caridosa ao extremo, principalmente com os mais pobres e profundamente conformada à vontade de Deus. Assim, quando diante do cadáver do meu pai exposto na nossa casa, perguntei: 'O que posso dizer a Jesus neste momento para agradá-lo?' Ela respondeu: 'Senhor, seja feita a Vossa Vontade!'

Em seu leito de morte, ela recebeu os últimos sacramentos com viva fé. Poucas horas antes de expirar, sofrendo demais, repetiu: 'Ó Jesus, gostaria de pedir-Vos que diminuísse os meus sofrimentos. Mas não quero me opor aos Vossos desejos; que se faça a Vossa Vontade!'... Foi assim que morreu aquela mulher que me trouxe ao mundo.

Baseando-me no conceito da realidade da Justiça Divina, prestando pouca atenção aos elogios que podiam fazer os conhecidos e os próprios sacerdotes, intensifiquei os sufrágios por sua alma. Ofereci a ela um grande número de Santas Missas e atos de caridade e, onde quer que pregasse, exortei os fieis a oferecerem comunhões, orações e boas obras no sufrágio da alma da minha mãe.

Pois bem, Deus permitiu que a minha mãe aparecesse para mim. Analisei a aparição e compartilhei a mesma com bons teólogos, e igualmente concluímos: 'Foi uma verdadeira aparição'! Minha mãe estava morta há dois anos e meio e, de repente, lá estava ela diante de mim, em forma humana. Ela aparentava estar muito triste e então me disse: 'Você me deixou no Purgatório!'

 - Quanto tempo você ficou no Purgatório?
 - Eu ainda estou aqui! Minha alma está rodeada de trevas e não consigo ver a Luz, que é Deus! Estou no limiar do Paraíso, perto das bem aventuranças eternas e anseio de agonia em entrar lá, mas não posso! Quantas vezes eu disse: 'Ah se meus filhos conhecessem o meu terrível tormento, como viriam em meu socorro'!
- E por que você não veio me avisar disso antes?
- Não estava em meu poder.
- Você ainda não viu o Senhor?
- Assim que morri, eu vi Deus, mas não em toda a sua luz.
- O que podemos fazer para libertá-la imediatamente?
- Eu só preciso de uma missa. Deus me permitiu vir aqui e lhe pedir isso a você.
- Assim que você entrar no Paraíso, volte aqui para me contar!
- Se o Senhor o permitir! Que Luz... Que esplendor!... e, em seguida, a visão desapareceu.

Foram celebradas então duas missas na intenção da sua alma e, um dia depois, ela reapareceu me dizendo: 'Entrei no Céu'! Diante destes fatos, me peguei dizendo a mim mesmo: 'Uma vida cristã exemplar, muitos sufrágios por sua alma... e dois anos e meio de Purgatório! Não é isso algo muito além do julgamento dos homens?'

(Excertos da obra 'I nostri morti - La casa di tutti' [Nossos Mortos - Todos em Casa] de Dom Giuseppe Tomaselli).

domingo, 20 de dezembro de 2020

EVANGELHO DO DOMINGO

 

'Ó Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor!' (Sl 88)

 20/12/2020 - Quarto Domingo do Advento

4. A ANUNCIAÇÃO

'Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!' (Lc 1, 28). A saudação do Anjo Gabriel é dirigida àquela que levou à perfeição nesta terra o amor de Deus. Cheia de graça Maria está desde a sua concepção, cheia de graça Maria passou cada momento de sua vida, cheia de graça Maria praticou cada ação ou pensamento nesta terra. Cheia de graça está Maria, portanto, diante a saudação do Anjo, como templo de santidade e da ciência infusa de todas as virtudes, dons e graças possíveis e imagináveis à natureza humana.

E Maria de todas as graças perturbou-se. As revelações do Anjo, provavelmente muito mais detalhadas que as palavras transcritas nos textos bíblicos, colocava Maria no centro de todas as profecias messiânicas que ela tanto conhecia e em nome das quais tantas orações e súplicas já teria feito a Deus. Num relance, percebeu a extraordinária manifestação daquela revelação angélica, que descortinava séculos de profecias, que inseria naquele lugar e naquele tempo a Natividade de Deus, que a tornava a co-redentora da humanidade, a bendita entre todas as mulheres, a Mãe de Deus: 'Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi' (Lc 1, 31 - 32).

E Maria de todas as graças perturbou-se. Diante do extraordinário mistério da graça e dos desígnios extremos da Providência, a Virgem de toda pureza e castidade e obra prima do Espírito Santo, se inquieta: 'Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?' (Lc 1, 34). A virgindade de Maria é o relicário de Deus. No imaculado corpo de Maria, o Espírito de Deus há de projetar a sua luz, cuja sombra faz nascer o Verbo encarnado. E o Anjo, mensageiro das coisas impossíveis e triviais para Deus, revela ainda a Maria a graça da gravidez tardia de Isabel, no 'sexto mês daquela que era considerada estéril' (Lc 1, 36).

E a Virgem de Nazaré, antes de ser a Mãe, oferece-se como serva e escrava do seu Senhor e do seu Deus: 'Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!' (Lc 1, 38). O Céu e a terra, as miríades dos anjos e dos homens de todos os tempos, hão de bendizer e louvar a glória daquele dia e a consumação daquele 'Fiat!' Sim, porque naquele momento, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus Verdadeiro de Deus Verdadeiro se fez, então, carne na carne de Maria e se fez carne a Nossa Salvação.

sábado, 19 de dezembro de 2020

ORAÇÃO: VENI CREATOR SPIRITUS

Veni, Creator Spiritus, um dos mais belos hinos da Igreja, tem autoria atribuída a Rabanus Maurus (776-856), e é cantado especialmente na Festa de Pentecostes, bem como outras festividades solenes como Confirmação, ordenações sacerdotais, dedicação de uma Igreja ou na profissão de fé de Ordens Sagradas. Uma indulgência parcial é sempre concedida aos fieis que a recitam. A indulgência plenária é concedida ao fiel se o hino for recitado com devoção e publicamente no dia 1º de janeiro ou na festa de Pentecostes.


VENI CREATOR SPIRITUS

Veni, Creator Spiritus,
mentes tuorum visita,
imple superna gratia,
quae tu creasti pectora.

Vinde, Espírito Criador,
tomai posse das almas vossas
infundi de graça celestial,
os corações que criastes.

Qui diceris Paraclitus,
altissimi donum Dei,
fons vivus, ignis, caritas,
et spiritalis unctio.

Vós que sois chamado Paráclito
o dom do Deus Altíssimo,
fonte viva, fogo, caridade,
e unção espiritual.

Tu septiformis munere,
digitus paternae dexterae,
tu rite promissum Patris,
sermone ditans guttura.

Vós, presente dos sete dons,
o dedo da mão direita de Deus,
promessa solene do Pai,
para inspirar nossas palavras. 

Accende lumen sensibus;
infunde amorem cordibus,
infirma nostri corporis
virtute firmans perpeti.

Acendei a luz dos sentidos;
derramai o amor nos corações,
a fragilidade do nosso corpo
fortalecei com virtude perene.

Hostem repellas longius,
pacemque dones protinus;
ductore sic te praevio
vitemus omne noxium.

Repeli para longe o inimigo,
dai-nos a paz sem demoras;
que, assim guiados por Vós,
possamos evitar todo o mal.

Per te sciamus da Patrem,
noscamus atque Filium;
teque utriusque Spiritum
credamus omni tempore. Amen.

Por Vós, conhecendo o Pai,
nos é revelado o Filho;
e por ambos, e no mesmo espírito,
dai-nos acreditar sempre em Vós. Amém.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

2020 ANOS DO NASCIMENTO DE CRISTO!


Como todos sabem, a.C. refere-se a 'antes de Cristo' e, portanto, é confuso ouvir os acadêmicos dizer que Cristo nasceu em 4 a.C. Isto significaria que Cristo teria nascido quatro anos antes de Cristo. No entanto, estudos cronológicos recentes e mais precisos validaram a data tradicional do nascimento de Cristo a 25 Dezembro do ano 1 a.C. 

Revendo os fundamentos, a datação de a.C. (antes de Cristo) e d.C. (depois de Cristo) provêm dos cálculos de Dionísio ExiguusExiguus significa pequeno, por isso ele é muitas vezes chamado de Dionísio, o Pequeno. Dionísio era um monge que vivia em Roma e que morreu por volta de 544 d.C.  Em Roma, Dionísio trabalhava com os melhores registos romanos e documentos da Igreja para calcular o nascimento de Cristo. Este novo cálculo dividia o tempo em antes e depois de Cristo. Dionísio não incluiu um ano zero. Assim, 31 de dezembro do ano 1 a.C. deveria passar para primeiro de janeiro do ano 1 d.C. 

Dionísio identificou a Anunciação de Gabriel à Virgem e a Encarnação de Cristo no ventre da Santíssima Virgem Maria a 25 de março do mesmo ano 1 a.C. Ele reconheceu o nascimento de Cristo a 25 de dezembro do ano 1 a.C. A circuncisão de Cristo, oito dias depois do seu nascimento, teria sido em primeiro de janeiro de 1 d.C e a sua crucifixão no ano 33 d.C. Beda, o Venerável, ratificou esse esquema de datas de Dionísio, o Pequeno, na sua Ecclesiastical History of the English People, e o resto é história. Continuamos a usar o seu sistema de datação até hoje: a.C. e d.C.

Dúvidas sobre o ano de nascimento de Cristo surgiram nos anos 1600. Os acadêmicos souberam da cronologia feita pelo historiador judeu Flávio Josefo. Josefo coloca a data da morte do Rei Herodes, o Grande, em 4 a.C. Visto que Herodes tentou matar Cristo menino, seria necessário que Cristo já tivesse nascido antes da morte de Herodes. Se Herodes morreu em 4 a.C., então Cristo teria que ter nascido antes de 4 a.C. Assim, desde o século XVII, as pessoas têm dito que Dionísio teria se enganado e que Cristo nasceu quatro anos antes de Cristo.

O que é que podemos dizer disso tudo? Bem, ou Josefo está certo ou Dionísio está certo. Não podem estar ambos certos. Até recentemente, a maior parte dos acadêmicos concordava com Josefo porque: (i) Josefo viveu no século de Cristo, (ii) Josefo era judeu e (iii) Josefo era um historiador profissional. Dionísio era apenas um monge que viveu em Roma quinhentos anos mais tarde.

No entanto, existem agora boas razões para acreditar que Josefo se enganou. Vários estudos sobre Josefo revelam que ele não era consistente ou preciso a datar variados acontecimentos-chaves da história judaica e romana. De fato, Josefo contradiz história confirmada, fatos da Bíblia e mesmo a sua própria cronologia cerca de uma centena de vezes. As suas datas não são muito precisas. O arqueólogo, jurista e historiador francês Theodore Reinarch foi um dos primeiros a documentar os muitos erros factuais e cronológicos de Josefo. A tradução de Reinarch de Josefo é constantemente interrompida por comentários tais como 'isto é um erro' ou ' em outro livro as suas personagens são diferentes' [Nanteuil, 2008].

Eis um exemplo da má cronologia de Josefo. Josefo regista na sua Guerra Judaica que Hyrcanus reinou durante trinta e três anos. No entanto, na sua obra Antiguidades dos Judeus, afirma que Hyrcanus reinou trinta e dois anos. Em uma terceira menção, em outro ponto da sua obra Antiguidades, Josefo diz que Hyrcanus reinou apenas trinta anos. Isto são três alegações contraditórias - duas no mesmo livro!

Na sua obra Guerra Judaica, Josefo regista que Aristobulus colocou o diadema na sua cabeça 471 anos depois do exílio. No entanto na sua Antiguidades, ele fala em 481 anos, uma diferença de dez anos. Atualmente, os historiadores modernos sabem que foram 490 anos e, assim, Josefo está errado em todas as contas. Podiam ser dados mais exemplos. O fato é que Josefo era desleixado com as datas, especialmente nas relativas a reis. Sobre a própria data que ele dá para o Rei Herodes, descobrimos que Josefo na verdade dá duas datas contraditórias - 4 a.C. e 7 ou 8 d.C.

Josefo escreve que Herodes capturou Jerusalém e começou a reinar na data que Dionísio chama de 37 a.C., e que Herodes viveu mais 34 anos depois disto. Ao se fazer as contas, isto significa que Herodes morreu no ano 4 ou 3 a.C. Os acadêmicos citam isto como a prova de autoridade de que Jesus nasceu antes de 4-3 a.C. Ainda assim, Josefo regista uma data diferente para a morte de Herodes em outra citação. Na sua obra Antiguidades, Josefo escreve que Herodes tinha quinze anos na data que seria 47 a.C., quando César escolheu Hyrcanus como etnarca. Em duas citações distintas, Josefo afirma que Herodes tinha setenta anos quando morreu. Portanto se Herodes tinha 15 em 47 a.C., isso significa que morreu aos 70 de idade nos anos 7 ou 8 d.C.

Temos, portanto, uma discrepância séria nas datas registradas por Josefo - um janela de mais de dez anos. Mais ainda, quem é que sabe realmente se ambos os números são precisos dados os seus erros em outras datas históricas? Por que é que isto é tão importante? Revela que não devíamos deixar Josefo ter a última palavra na cronologia de Cristo. A datação de Josefo da morte de Herodes a 4 a.C. é verdadeiramente só uma versão dos seus cálculos. Porque não usar a sua data de 7 ou 8 d.C.? É um pouco arbitrário os historiadores modernos defenderem a data de 4 a.C.

A melhor maneira de datar a morte de Herodes é concentrando-nos no testemunho de que Herodes morreu poucos meses depois de um eclipse da lua bem observado. Com modelos astronômicos atuais, sabemos com certeza que um eclipse da lua como este ocorreu em Jerusalém antes do por do sol na data de 29 de dezembro de 1 a.C. Isto significaria que Herodes morreu pouco tempo depois de 1 d.C. Isto alinha-se perfeitamente com a cronologia proposta por Dionísio, o Pequeno. Isto significa que Cristo nasceu em 25 de dezembro de 1 a.C. e que foi circuncidado em primeiro de janeiro de 1 d.C.  O nosso calendário é perfeitamente preciso!

(Taylor Marshall)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

POEMAS PARA REZAR (XXXVI)


'TE AMAREI SENHOR!'

Te amarei Senhor
sempre onde estiver e por onde eu for
e com tal zelo e tamanha força 
que eu serei tão simplesmente amor.

Te amarei Senhor
em quaisquer caminhos e em qualquer lugar 
de forma que tudo em mim o tempo todo seja
o sopro da alma em Vos querer amar.

Te amarei Senhor
sem o tempo das horas, sem as horas do tempo,
para que, ao Vos amar, eu Vos ame tanto,
que a medida do meu amor não tenha tempo.

Te amarei Senhor
pelo nada que eu sou, argila frágil e sem valor;
mas que se torna nas mãos do divino oleiro
em vaso insigne de infinito amor.

Te amarei Senhor
com um coração tão pleno de ternura e mansidão
que viver e amar sejam apenas o fluxo e o refluxo
das batidas deste meu tão vosso coração.

Te amarei Senhor
nas manhãs de sol ou no apogeu do inverno;
e, no limiar da dor, no tanger da afronta, na pegada bruta,
meu amor será eterno agora e agora e sempre eterno.

Te amarei Senhor
com alma tão cativa e recolhida em tal louvor
que, ao vos amar, sendo sombra de mim mesmo,
serei sombra do meu próprio e desmedido amor.

(Arcos de Pilares)