quinta-feira, 11 de julho de 2019
quarta-feira, 10 de julho de 2019
terça-feira, 9 de julho de 2019
SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XXXIII)
XLV
DA PACIÊNCIA, LONGANIMIDADE E CONSTÂNCIA
Qual é a característica da virtude da paciência?
Suportar as tristezas e tribulações que o decorrer da vida, a cada momento, nos proporciona e de uma maneira especial as que nos ocasiona o trato com os nossos semelhantes, com olhos postos na vida futura, objeto da caridade (CXXXVI, 1-3)*.
Identifica-se a paciência com a longanimidade e a constância?
Não, Senhor; porque, se bem que estas virtudes nos dispõem a suportar as tribulações da vida, a paciência nos sustém nas contrariedades ocasionadas pelo trato diário com os homens, a longanimidade nos sustém contra a tristeza de ver como se afasta ou desvanece um bem intensamente desejado e a constância contra o desgosto e desfalecimento que podem assaltar-nos na prática continuada do bem (CXXXVI, 5).
XLVI
DA PERSEVERANÇA — VÍCIOS OPOSTOS: MOLEZA OU DESÂNIMO E PERTINÁCIA
Tem alguma coisa de comum a perseverança com as virtudes de que acabamos de falar?
O fim da perseverança não é entrar em reação contra a tristeza, senão contra a fadiga e o desânimo que, em determinadas ocasiões, nos assaltam na prolongada prática da virtude (CXXXVII, 1, 3).
Opõe-se a ela algum vício?
Sim, senhor; o desânimo ou moleza que faz perder o ânimo e desistir das empresas diante das dificuldades e fadigas que se preveem; e a pertinácia, vício dos que se obstinam em não ceder quando seja útil e razoável (CXXXV-III, 1, 2).
XLVII
DO DOM DA FORTALEZA CORRESPONDENTE À VIRTUDE DO MESMO NOME
Existe algum dom do Espírito Santo correspondente à virtude da fortaleza?
Sim, Senhor; o dom conhecido com o mesmo nome (CXXXIX).
Em que se diferençam o dom e a virtude da fortaleza?
Ambos têm por objeto o temor e, de certo modo, a audácia; porém; ao passo que o temor e a audácia, que a virtude da fortaleza modera, dizem respeito aos perigos que o homem pode com suas forças afastar, o temor e a confiança, que o dom correspondente excita, consideram males e perigos que de maneira alguma podem evitar-se; tal é, por exemplo, a dolorosa separação que a morte impõe entre o homem e os bens da vida presente; sem dar por isso a única dádiva que poderia supri-los ou compensá-los seria a posse efetiva da vida eterna. A ação própria e exclusiva do Espírito Santo é dar a vida eterna em troca das misérias da vida temporal, apesar de todos os inconvenientes e dificuldades que se interponham, inclusive a morte. A Ele, por conseguinte, incumbe infundir no homem desejos desta troca e permuta, inspirando-lhe tal confiança que o faça desprezar os maiores perigos e, de certo modo, desafiar a morte, não para sucumbir na luta, senão para obter o triunfo definitivo sobre ela. Este é o efeito do dom de fortaleza e, se quisermos declarar qual o seu objeto próprio, poderemos dizer que é a vitória sobre a morte (CXXXIX, 1).
XLVIII
DOS PRECEITOS RELATIVOS À FORTALEZA
Existem na lei divina preceitos relacionados com a virtude da fortaleza?
Sim, senhor; e estão dados na forma mais conveniente, porque, suposto que a lei divina e especialmente a Nova, está destinada a fixar a alma em Deus, vemos que convida o homem com preceitos negativos a não temer os males terrenos e, com mandatos positivos, a combater sem trégua nem descanso o seu mortal inimigo (CXL, 1).
São tão sábios como estes os preceitos das demais virtudes relacionadas com a fortaleza?
Sim, senhor; porque, a respeito da paciência e da perseverança que têm por objeto as lutas ordinárias da vida, há preceitos positivos; porém, tratando-se da magnificência e da magnanimidade, virtudes que moderam atos perfeitos, não existem mandatos, senão conselhos (CXL, 2).
XLIX
DA TEMPERANÇA, ABSTINÊNCIA E JEJUM — VÍCIO OPOSTO: A GULA
Qual é a quarta virtude moral necessária para não nos extraviarmos no caminho de retorno a Deus?
A virtude da temperança (CXLI-CLXX).
Que entendeis por virtude da temperança?
Aquela que mantém o apetite sensitivo sujeito aos ditames da razão, para evitar que se exceda nos prazeres, especialmente do tato, nos atos necessários à conservação da vida corporal (CXLI, 1-5).
Que prazeres são estes?
Os da mesa e os do matrimônio (CXLI, 4).
Que nome recebe a virtude da temperança quando se aplica a por em ordem os prazeres da mesa?
Chama-se abstinência ou sobriedade (CXLIX).
Em que consiste a abstinência?
Em governar conforme a razão o desejo imoderado de manjares e bebidas (CXLVI, 1).
Qual é a maneira própria de praticar a virtude da abstinência?
O jejum (CXLVII).
Em que consiste?
Em suprimir parte da alimentação normal (CXLVII, , 1, 2).
Não será ilícito e prejudicial?
Pelo contrário, pode ser de grandes benefícios, porque serve para reprimir a concupiscência, de modo que o espírito se eleve com maior liberdade à contemplação das mais sublimes verdades e serve também para satisfazer pelos pecados.
Que condições há de reunir o jejum para ser salutar e meritório?
As de ser dirigido e ordenado pela prudência e discrição, não comprometendo a saúde e nem sendo obstáculo para o cumprimento das obrigações do próprio estado (CXVII, 1, ad 2).
Estão obrigados a jejuar todos os que chegam ao uso da razão?
Nem todos os homens estão obrigados ao jejum eclesiástico, porém todos são obrigados a privar-se de alimento, na medida que o exija a prática das virtudes morais (CXLVII, 3, 4).
Que entendeis por jejum eclesiástico?
O prescrito pela Igreja, em determinados dias e a partir da idade por ela marcada (CXLVII,5-8).
Em que consiste?
Em não fazer mais que uma só refeição no dia (CXLVII, 6).
É necessário fazê-la na hora fixa?
Não, Senhor; pode fazer-se no meio dia ou à noite.
Pode tomar-se alimento fora da comida?
Pode tomar-se uma quantidade módica, pela manhã, como desjejum, e outra à noite como complementar (Código, 1251).
Quem está obrigado ao jejum eclesiástico?
Todos os batizados, desde a idade de vinte e um anos até os cinquenta e nove completos (Código, 1254).
Que causas dispensam do jejum?
Motivos de saúde ou de trabalho e, em caso de dúvida, a dispensa concedida pela autoridade legítima (CXLVII, 4).
Quem pode dispensar?
Praticamente basta a dispensa do superior eclesiástico imediato.
Em que dias há obrigarão de jejuar?
No Brasil, a Santa Sé costuma conceder que sejam os seguintes: todas as sextas-feiras da quaresma e quarta-feira de cinzas, jejum com abstinência de carne; todas as quartas-feiras da quaresma, quinta-feira da semana Santa e sexta-feira das têmporas do advento, jejum sem abstinência de carne.
Em que consiste a lei eclesiástica da abstinência?
Em abster-se de carnes e caldos preparados com elas.
Em que dias obriga?
No Brasil, segundo costuma conceder a Santa Sé, só na quarta-feira de cinzas e em todas as sextas-feiras da quaresma e nas vigílias do Espírito Santo, Assunção de Nossa Senhora, de todos os Santos e do Natal.
Quem está obrigado à lei da abstinência?
Todos os fiéis que tenham completado sete anos (Código 1254).
Que vício se opõe à abstinência?
O da gula (CXLVIII).
Que entendeis por gula?
O apetite desordenado de comer e beber (CXVIII, 1).
Contém este vício várias espécies?
Sim, senhor; pode cometer-se, umas vezes, atendendo à natureza, quantidade ou qualidade dos manjares, modo de condimentá-los e, outras vezes, na maneira de consumi-los, já antecipando a hora sem necessidade, já tomando-as com excessiva avidez e glutoneria (CXLVIII, 4).
É a gula um vício capital?
Sim, senhor; visto que facilita os prazeres que com mais força solicitam e arrastam o homem (CXLVIII, 5).
Quais são as filhas da gula?
Torpeza e estupidez do entendimento, alegria injustificada, intemperança na linguagem, chocarrice e impureza (CXLVIII, 6).
Por que estes vícios repugnantes provêm especialmente da gula?
São repugnantes porque degradam e quase extinguem a razão e provêm da gula porque o entendimento, obscurecido e adormecido com os vapores dos manjares, perde o governo e abandona a direção dos nossos atos (Ibid).
* referências aos artigos da obra original
('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)
segunda-feira, 8 de julho de 2019
domingo, 7 de julho de 2019
APOSTOLADO E ORAÇÃO
Páginas do Evangelho - Décimo Quarto Domingo do Tempo Comum
Como cordeiros entre lobos, como emissários da paz entre promotores das guerras, os cristãos estão no mundo para torná-lo um mundo cristão. O apostolado começa com o bom exemplo, expande-se com o amor ao próximo, multiplica-se pela caridade. Não é preciso levar alforge ou vestimenta especial, apenas a entrega complacente à Santa Vontade de Deus. É imperioso o serviço da vocação; os frutos pertencem aos ditames da Providência.
O reino de Deus deve ser proclamado para todos, em todos os lugares, mas a Boa Nova será recebida com jubilosa gratidão num lugar ou indiferença profunda em outro; aqui vai gerar frutos de salvação, mais além será pedra de tropeço. Em outros lugares ainda, será rejeitada simplesmente e, nestes, a sentença não será velada: 'Até a poeira de vossa cidade, que se apegou aos nossos pés, sacudimos contra vós' (Lc 10, 11).
O reino de Deus deve ser proclamado para todos, em todos os lugares, mas a Boa Nova será recebida com jubilosa gratidão num lugar ou indiferença profunda em outro; aqui vai gerar frutos de salvação, mais além será pedra de tropeço. Em outros lugares ainda, será rejeitada simplesmente e, nestes, a sentença não será velada: 'Até a poeira de vossa cidade, que se apegou aos nossos pés, sacudimos contra vós' (Lc 10, 11).
Operários da grande messe do Senhor, nós, os cristãos, não podemos dispor das comodidades do mundo para vivermos a planura das alegrias efêmeras das calmarias. Não há amor sem sofrimento. Não há graça corrompida pelo respeito humano. Não há frutos de salvação em palavras amenas e solícitas. Deus nos quer valorosos combatentes da fé, pregadores perseverantes da Verdade Plena. À luz do Evangelho de Cristo, somos o sal da terra e a luz do mundo (Mt 5, 13-14). E ainda que sejamos capazes de domar a natureza e realizar prodígios, a felicidade cristã não está nos eventos temporais aqui na terra, mas na Eterna Glória daqueles que souberam combater o 'bom combate' (2Tm 4,7) e os quais Jesus nomeou como santos de Deus: 'vossos nomes estão escritos no céu' (Lc 10,20).
sábado, 6 de julho de 2019
ORAÇÃO, JEJUM E MISERICÓRDIA...
Há três coisas, irmãos, pelas quais se confirma a fé, se fortalece a devoção e se mantém a virtude: a oração, o jejum e a misericórdia. O que pede a oração, alcança-o o jejum e recebe-o a misericórdia. Oração, jejum e misericórdia: três coisas que são uma só e se vivificam mutuamente.
O jejum é a alma da oração e a misericórdia é a vida do jejum. Ninguém tente dividi-las, porque são inseparáveis. Quem pratica apenas uma das três ou não as pratica todas simultaneamente na realidade não pratica nenhuma delas. Portanto, quem ora, jejue; e quem jejua, pratique a misericórdia. Quem deseja ser atendido nas suas orações, atenda as súplicas de quem lhe pede, pois aquele que não fecha os seus ouvidos às súplicas alheias, abre os ouvidos de Deus às suas próprias súplicas.
Quem jejua, entenda bem o que é o jejum: seja sensível à fome dos outros, se quer que Deus seja sensível à sua; seja misericordioso, se espera alcançar misericórdia; compadeça-se, se pede compaixão; dê generosamente, se pretende receber. Muito mal suplica quem nega aos outros o que pede para si. Homem, sê para ti mesmo a medida da misericórdia; deste modo alcançarás misericórdia como quiseres, quanto quiseres e com a prontidão que quiseres; basta que te compadeças dos outros com generosidade e prontidão.
Façamos, portanto, destas três virtudes – oração, jejum, misericórdia – uma única força mediadora junto de Deus em nosso favor; sejam para nós uma única defesa, uma única operação sob três formas distintas. Reconquistemos pelo jejum o que perdemos por não o saber apreciar; imolemos pelo jejum as nossas almas, porque nada melhor podemos oferecer a Deus, como ensina o Profeta: sacrifício agradável a Deus é o espírito arrependido porque Deus não despreza um coração contrito e humilhado.
Homem, oferece a Deus a tua alma, oferece a oblação do jejum, para que seja uma oferenda pura, um sacrifício santo, uma vítima viva que ao mesmo tempo fica em ti e é oferecida a Deus. Quem não dá isto a Deus não tem desculpa, porque todos se podem oferecer a si mesmos.
Mas para que esta oferta seja aceita por Deus, deve ser acompanhada pela misericórdia; o jejum não dá fruto se não for regado pela misericórdia; seca o jejum se secar a misericórdia; o que a chuva é para a terra é a misericórdia para o jejum. Por muito que se cultive o coração, purifique-se a carne, exterminem-se vícios e se semeiem virtudes, nenhum fruto recolherá quem jejua se não abrir os caudais da misericórdia.
Tu que jejuas, não esqueças que fica em jejum o teu campo se jejua a tua misericórdia; pelo contrário, a liberalidade da tua misericórdia encherá de bens os teus celeiros. Portanto, ó homem, para que não venhas a perder por ter guardado para ti, distribui aos outros para que venhas a recolher; dá a ti mesmo, dando aos pobres, porque o que deixares de dar aos outros, também tu o não possuirás.
(Sermões de São Pedro Crisólogo)
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