domingo, 26 de maio de 2019

'A MINHA PAZ VOS DOU'

Páginas do Evangelho - Sexto Domingo da Páscoa


Neste Sexto Domingo da Páscoa, somos chamados a viver plenamente a presença de Jesus Ressuscitado em nossas vidas, como testemunhas da fé e da fidelidade às suas Santas Palavras: 'Se alguém me ama, guardará a minha palavra' (Jo 14, 23). Eis aí o legado de Jesus aos seus discípulos: a graça e a salvação são frutos do amor, que é manifestado em plenitude, no despojamento do eu e na estrita submissão à vontade do Pai: 'Desci do Céu não para fazer a minha vontade, mas sim a d’Aquele que me enviou' (Jo 6, 38) e 'Amai ao Senhor vosso Deus com todo vosso coração, com toda vossa alma e com todo vosso espírito. Este é o maior e o primeiro dos mandamentos' (Mt 22, 37-38).

A graça nasce, manifesta-se e se alimenta do nosso amor a Deus, pois 'quem não me ama, não guarda a minha palavra ' (Jo 14, 24). Mas este amor terá de ser libertado do mero sentimento arraigado às mazelas humanas para ser transformado em um amor espiritual sem medidas, desapegado dos valores mundanos. Este amor não provém dos sentimentos efêmeros, nem dos sentidos, nem das paixões desregradas, nem dos abismos volúveis das sensibilidades e das vontades humanas.

Este amor não se alimenta da paz do mundo, mas da paz que emana do próprio Coração de Deus: 'Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo.' (Jo 14, 27). Na paz de Deus, na confiança absoluta às divinas promessas, não há porque se perturbar ou se intimidar a fragilidade do pobre coração humano. A presença permanente do Cristo Ressuscitado em nossas vidas vem por meio da manifestação do Espírito Santo, o Defensor, conforme as palavras de Jesus: 'o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito' (Jo 14, 26). 

Sob a ação do Espírito Santo, o amor humano pode trilhar livremente o caminho da santificação, até o impossível, até os limites de um despojamento absoluto do próprio ser para a plena manifestação em si da glória de Deus, quando enfim, 'o meu Pai o amará, e nós (o Pai, o Filho e o Espírito Santo) viremos e faremos nele a nossa morada' (Jo 14, 23).

sábado, 25 de maio de 2019

PALAVRAS DE SALVAÇÃO

Olhai em volta, meus irmãos… porque há tantas mudanças e lutas, tantos partidos e seitas, tantos credos? Porque os homens estão insatisfeitos e inquietos. E porque estão eles inquietos, cada um com o seu salmo, a sua doutrina, a sua língua, a sua revelação, a sua interpretação? Estão inquietos porque … tudo isso ainda não os levou à presença de Cristo que é a 'alegria e delícias eternas' [cf Sl 16,11]. Se tivessem sido alimentados pelo pão da vida [Jo 6,35] e provado do favo de mel, os seus olhos ter-se-iam tornado limpos, como os de Jônatas [1Sm 14,27] e teriam reconhecido o Salvador dos homens. Mas, não se tendo apercebido destas coisas invisíveis, têm de continuar a procurar e estão à mercê de rumores longínquos… 

Triste espetáculo: o povo de Cristo errando pelas colinas 'como ovelhas sem pastor'. Em vez de procurarem nos lugares que Ele sempre frequentou e na morada que Ele estabeleceu, atêm-se em projetos humanos, seguem guias estranhos e deixam-se cativar por opiniões novas, tornando-se joguetes do acaso e do humor do momento, e vítimas da sua própria vontade. Estão cheios de ansiedade, de perplexidade, de inveja e de preocupações, e são agitados e ... tudo isso porque não procuram 'um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos' [Ef 4,5-6] para nele encontrarem 'descanso para o espírito' [Mt 11,29].

(Cardeal  Newman)

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XXXI)

XXXVII

DA AMIZADE — VÍCIOS OPOSTOS: DESPREZO E ADULAÇÃO

Existe algum outro dever moral necessário para a pacífica convivência, ainda que não seja tão necessário como a vindicta, a gratidão e a bondade?
Sim, Senhor; os deveres da amizade (CXIV, 2)*.

Que entendeis por amizade?
A virtude que nos impele a por em nossas palavras e ações exteriores quanto possa contribuir para fazer amável e prazenteiro o trato com os nossos semelhantes (CXIV, 1).

É virtude de grande estima no trato social?
É a virtude social por excelência, ao ponto de podermos chamar-lhe a flor e aroma das virtudes da justiça e da caridade.

De quantas maneiras se pode faltar a ela?
De duas: por defeito, quando não se repara nem se toma em conta o que pode agradar ou molestar ao próximo; por excesso, adulando-o ou não o contradizendo, oportunamente, quando o mereçam as suas palavras e atos (CXV, CXVI).

XXXVIII

DA LIBERALIDADE — VÍCIOS OPOSTOS: AVAREZA E PRODIGALIDADE

Qual é a última virtude conexa à virtude da justiça particular e destinada, como as anteriores, a satisfazer as obrigações morais dos homens uns para com outros?
A virtude da liberalidade (CXVII, 5).

Que entendeis por liberalidade?
Uma disposição de ânimo, em virtude da qual o homem não tem apego excessivo às coisas exteriores de utilidade comum, e está disposto sempre, com regra e medida, a desprender-se delas e especialmente do dinheiro que as representa, em bem da sociedade (CXVII, 1-4).

É virtude de grande importância?
Classificando-a pelo seu objeto, que são as riquezas, é a ínfima das virtudes, mas dignifica-se com a nobreza das outras quando contribui para que consigam os seus respectivos fins (CXVII, 6).

Que vícios se lhe opõem?
Os de avareza e prodigalidade (CXVIII, CXIX).

Que entendeis por avareza?
O amor desordenado às riquezas (CXVIII, 1-2).

É pecado grave?
Atendendo ao fim humano a que se propõe, é pecado ínfimo, porque se limita a introduzir a desordem no amor aos bens exteriores ou riquezas; porém, considerando a desproporção existente entre o espírito e os bens materiais de que se faz escravo, é o vício mais degradante e vergonhoso (CXVIII, 4,5).

É, além disso, vício muito pernicioso?
Sim, Senhor; porque é insaciável e, com o afã de amontoar riquezas, o avarento não se detém às vezes em cometer crimes e atropelos contra Deus, contra o próximo e contra si mesmo (CXVIII, 5).

É a avareza pecado capital?
Sim, Senhor; porque a abundância das riquezas, às quais todos obedecem, promete o que todos os homens desejam - a felicidade, e serve de estímulo a todas as suas ações boas e más (CXVIII, 7).

Quais são as filhas que a avareza tem?
As seguintes: avareza ou falta de misericórdia e compaixão, inquietação, violência, astúcia ou dolo, perjúrio, fraude e traição, porque o amor das riquezas leva consigo o afã de retê-las, a cobiça de aumentá-las e o emprego de meios ilícitos, como a violência, o engano, o perjúrio, a fraude e a traição, para adquiri-las (CXVIII, 8).

A prodigalidade, vício contrário à liberalidade, opõe-se também à avareza?
Sim, Senhor; porque se o avarento, por amor desmedido das riquezas, não está disposto a desprender-se delas para que frutifiquem em bem e proveito de todos, o pródigo, pelo contrário, não sabe olhar convenientemente por elas e tem propensão excessiva para dissipá-las (CXIX, 3).

Qual é destes dois vícios o mais pernicioso?
O da avareza, porque se opõe mais diretamente à liberalidade, cuja norma é: melhor é dar do que guardar.

Poderíeis fazer um resumo do número, ordem e nobreza das virtudes agregadas à justiça particular, tendendo aos seus objetos e fins?
Sim, Senhor. Ocupa o primeiro lugar a religião, que tem por objeto o culto e serviço de Deus, considerado como Criador e Soberano Dominador de todas as coisas; vem depois a piedade para com os pais e para com a pátria, em agradecimento pelo benefício de nos terem dado o ser; a seguir, a observância para com os superiores em autoridade, dignidade e excelência; em continuação, a gratidão para com os benfeitores particulares, e a vindicta contra os que nos agravaram em matéria que exija reparação; por último, a verdade, a amizade e a liberalidade para com todos os nossos semelhantes por motivo de respeito a nós mesmos.


XXXIX

DA EQUIDADE NATURAL OU EPIQUEIA

Não dissestes que existia também uma virtude anexa à Justiça geral ou legal?
Sim, Senhor; a que poderemos chamar com o nome genérico de equidade natural, conhecida também com o de epiqueia (CXX).

Qual é o seu objeto?
O de conferir à vontade o privilégio e o desejo de distribuir a Justiça em contraposição ou à margem das leis, quando a razão natural ou a luz dos primeiros princípios de caridade declaram inaplicável a lei escrita ou consuetudinária (CXX, 1).

Tem grande importância esta virtude?
Ela está à frente e, de certo modo, governa e mantém em sua própria esfera todas as que são destinadas a dirigir e consolidar as relações sociais (CXX, 2).

XL

DO DOM DE PIEDADE CORRESPONDENTE À JUSTIÇA

Qual dos dons do Espírito Santo corresponde à justiça ?
O dom de piedade (CXXI).

Em que consiste o dom de piedade?
Em certa preparação habitual da vontade que dispõe o homem para receber uma moção direta e pessoal do Espírito Santo, que o impele a tratar com Deus na ordem sobrenatural, como com um pai a quem com ternura se ama, reverencia e obedece, e com todas as criaturas racionais, como filhas de Deus e membros da grande família divina (CXXI, 1).

Logo, o dom da piedade põe o último e mais delicado toque nas relações do homem com Deus e com os seus semelhantes?
Sim, Senhor; é o complemento da virtude da Justiça e de todas as suas agregadas, e se os homens, correspondendo à moção do Espírito de Deus, o reduzissem à prática, o gênero humano se converteria em uma grande família divina, imagem fiel da que reina no céu.

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)

sexta-feira, 24 de maio de 2019

SOBRE OS SACRAMENTOS

'E como o corpo humano nos aparece dotado de energias especiais, com que provê à vida, saúde e crescimento seu e de todos os seus membros, assim o Salvador do Gênero Humano providenciou admiravelmente ao seu Corpo Místico, enriquecendo-o de sacramentos que, com uma série ininterrupta de graças, amparam o homem desde o berço até ao último suspiro e, ao mesmo tempo, proveem abundantissimamente as necessidades sociais da Igreja. 

Com efeito, pelo Batismo, os que nasceram a esta vida mortal, não só renascem da morte do pecado e são feitos membros da Igreja, senão que, assinalados com o caráter espiritual, tornam-se capazes de receber os outros dons sagrados. Com o santo Crisma infunde-se nova força nos fiéis, para conservarem e defenderem corajosamente a Santa Madre Igreja e a Fé que dela receberam. Pelo sacramento da Penitência oferece-se aos membros da Igreja caídos em pecado uma medicina salutar, que serve não só a restituir-lhes a saúde, mas a preservar os outros membros do Corpo Místico do perigo de contágio e até a dar-lhes estímulo e exemplo de virtude. E não basta. Pela Sagrada Eucaristia, alimentam-se e fortificam-se os fiéis com um mesmo alimento, e se unem entre si e com a Divina Cabeça de todo o Corpo com um vínculo inefável e divino. Finalmente, ao leito dos moribundos acode a Igreja, Mãe compassiva, e com o sacramento da Extrema Unção, se nem sempre se lhes restitui a saúde do corpo, por Deus assim o dispor, dá-lhes às almas feridas a medicina sobrenatural, abre-lhes o Céu, onde como novos cidadãos, e seus novos protetores, gozarão por toda a Eternidade da Divina Bem-Aventurança. 

Às necessidades sociais da Igreja proveu Nosso Senhor Jesus Cristo de modo especial com dois sacramentos que instituiu: com o Matrimônio, em que os cônjuges são reciprocamente ministros da graça, proveu ao aumento externo e bem ordenado da sociedade cristã, e o que é ainda mais importante, à boa e religiosa educação da prole, sem a qual o Corpo Místico correria perigo; com a Ordem dedicam-se e consagram-se ao serviço de Deus os que hão de imolar a Hóstia Eucarística, sustentar a grei dos fiéis com o Pão dos Anjos e com o alimento da Doutrina, dirigi-la com os Divinos Mandamentos e conselhos, e purificá-la com o Batismo e a Penitência, enfim fortalecê-la com todas as Graças celestes'.

(Excerto da encíclica Mystici Corporis do papa Pio XII, de 29 de junho de 1943)

quinta-feira, 23 de maio de 2019

O RESPEITO HUMANO É... EM 10 PECADOS MORTAIS!

1. O respeito humano é... a preferência do homem a Deus

O respeito humano é a ruína da ordem e da perfeição porque desvia o nosso pensamento e a nossa atenção de Deus para as criaturas. A razão e a fé dizem: Deus é o fim e o motivo de todos os nossos atos. O respeito humano diz: só devemos ter consideração pelo homem, pelos seus gostos, pelas suas opiniões, pelos seus caprichos.

2. O respeito humano é... uma fraqueza

O padre Ventura [Joaquim Ventura de Ráulica (1792-1861), padre jesuíta e depois teatino (ordem muito próxima a dos jesuítas)] afirmava energicamente: 'Ocultar os sentimentos da verdadeira fé, envergonhar-se de cumprir publicamente os preceitos, não é senão uma fraqueza, a maior de todas as fraquezas. É por isso que se encontra comumente nas almas pequenas'.

3. O respeito humano é... uma fraqueza vergonhosa

Deus nos deu um guia seguro, um juiz infalível das nossas ações: a consciência, que nos ilumina e dirige em todos os nossos passos, louva-nos ou nos censura, conforme praticamos o bem ou o mal. O escravo do respeito humano segue uma luz, obedece a uma outra regra. A sua luz e a sua regra são as opiniões e os caprichos de alguns homens.

4. O respeito humano é... uma fraqueza muito prejudicial à salvação

O respeito humano inutiliza os meios tão poderosos e eficazes de que Deus se serve para nos atrair a si. Convida-nos pela sua graça a uma vida mais regular e mais santa e nós mesmos temos bons desejos de abraçar esta vida. Porque resistimos às solicitações da graça? É o respeito humano que muitas vezes impede a ação da graça e asfixia a nossa boa vontade.

5. O respeito humano é... uma traição

Devemos edificar uns aos outros. O que tem mais luz, mais virtude, deve irradiar estes bens em volta de si. Nosso Senhor Jesus Cristo diz: 'Vós sois a luz e o sal da terra' (Mt 5,13-14). Luz que deve combater as trevas; sal que deve impedir a corrupção. Ora o respeito humano contraria e destrói esta disposição de Deus, impede que a luz irradie, apaga-a, corrompe o sal; ajuda as trevas e o mal a espalharem-se por toda a parte.

6. O respeito humano é... a abdicação da personalidade humana

Deus determinou que o homem se conduzisse pela sua consciência, esclarecida pela lei divina; é nisto que está toda a sua dignidade de homem. Ora, o homem que se deixa arrastar pelo respeito humano não pensa, não fala, não opera por si mesmo, segundo a sua consciência, torna-se escravo dos outros; pensa, fala e faz como eles. Pode conceber-se alguma coisa mais destruidora da dignidade ou personalidade humana? Não.

7. O respeito humano é... a abdicação da dignidade de cristão

Um cristão pode dizer com São Paulo: 'Eu vivo, mas verdadeiramente não sou eu já que vivo, é Jesus Cristo que vive em mim, é Jesus Cristo que pensa, fala e opera em mim'. Ora, o cristão possuído do respeito humano é um discípulo indigno, tem o nome de cristão e não se deixa conduzir por Jesus Cristo. Poderá dizer: Eu vivo, mas não sou eu que vivo, é o tal companheiro insensato, todo ele é que vive em mim. Eu abdiquei da minha alma para substituí-la por uma alma desvairada, estúpida.

8. O respeito humano é... uma escravidão vergonhosa

Se alguém quisesse fazer-nos uma observação sobre qualquer dos nossos defeitos dir-lhe-íamos: não se meta onde não é chamado. Porém, atacam as nossas virtudes e boas qualidades e temos a baixeza de nos envergonhar de as defender.

9. O respeito humano é... uma apostasia infame

Foi o respeito humano que fez morrer o Filho de Deus. Pilatos teria sido inabalável às instâncias e gritos dos judeus que pediam a morte de Jesus, por estar convencido da inocência do Salvador e da injustiça deles; mas apenas o ameaçaram com César, toda a sua firmeza não pôde vencer o temor de desagradar a César. Ó respeito humano, exclama alguém, em quantos corações tens dado a morte a Cristo, e em quantos não o tens deixado nascer! Deixamos de ser de Deus ou receamos ser dEle, pelo temor do juízo dos homens. Quem quiser ser amigo deste mundo perverso declara-se por isso mesmo inimigo de Deus.

10. O respeito humano é... causa de condenação eterna

a) Condenação dos homens

Ozanam [Frederico Ozanam (1813 - 1853), fundador das Conferências de São Vicente de Paulo], a quem um dia aconselhavam uma prudência muito tímida nas manifestações da sua fé, respondia: 'Não, eu não ganharei nada em dissimular as minhas convicções; não adquiro a confiança daqueles que me conhecem e perderei a da juventude que me considera; isto é, não obterei a estima dos maus e perderei a dos bons'. O cristão fraco, tímido, engana-se nos seus cálculos e acaba inevitavelmente por ver recusar o que tem sido objeto de todos os seus sacrifícios - o respeito dos outros. Aquele que falta aos juramentos de fidelidade a Deus não pode oferecer nenhuma garantia na confiança dos homens.

b) Condenação de Deus

No dia do Juízo, a sentença pronunciada sobre nós dependerá da maneira como tivermos compreendido o respeito humano e o respeito divino: 'Eu confessarei, diante de meu Pai, aquele que me confessar diante dos homens, diz Jesus, e envergonhar-me-ei diante de Meu Pai, daquele que se tiver envergonhado de mim diante dos homens' (Mt 10,32-33). Jesus abomina e condena o mau cristão que recusou reconhecer a sua soberania.

(Excertos da obra 'O Crucifixo, Meu Livro de Estudos', do Cônego Júlio A. Santos, 1950)

quarta-feira, 22 de maio de 2019

22 DE MAIO - SANTA RITA DE CÁSSIA


A santa, que padeceu uma vida doméstica de sofrimentos e provações, tornou-se a advogada dos desesperados e a padroeira das causas impossíveis. Filha única de pais já envelhecidos - Antonio Mancini e Amata Ferri - Margherita (que ficou Rita) nasceu no vilarejo de Roccaporena, na região de Cascia, na Úmbria (centro da Itália) em 1381. Inclinada à vida religiosa, cedeu às tratativas paternas e aos rigores da época, desposando, logo após a adolescência um homem chamado Paulo Ferdinando, com o qual teve dois filhos.

Sua vida matrimonial, entretanto, foi um período de enormes provações e humilhações em relação ao marido, sempre violento e agressivo. Depois de muitas orações pelo marido, este se converteu e passaram a formar uma igreja doméstica até que uma tragédia a desfez por completo: Paulo foi assassinado numa ato de vingança devido às suas desavenças passadas. Outra tragédia se anunciava: os dois filhos estavam decididos a vingar a morte do pai. Rita preferiu perdê-los do que eles ao Céu e ofereceu as suas vidas a Deus antes de cometerem tal crime. Com efeito, cerca de um ano após a morte do pai, ambos faleceram, arrependidos do sentimento de vingança.

Rita ficou, então, sozinha no mundo e buscou, sem sucesso, a vida religiosa, por já ter vivido uma união matrimonial por 18 anos. A opção por converter-se em uma monja agostiniana foi-lhe repetidamente negada. Entregando a sua vocação nas mãos de Deus e sobrecarregando-se em orações, alcançou a causa impossível por um milagre extraordinário. Certa feita, foi conduzida por três pessoas à capela interna do mosteiro, totalmente fechado e a altas horas da noite: São João Batista (também concebido na velhice dos pais), Santo Agostinho (fundador da ordem agostiniana) e São Nicolau de Tolentino (religioso agostiniano). Diante do relato e dos fatos sobrenaturais, Rita foi aceita na ordem, dedicando o resto da sua vida aos votos de pobreza, obediência e castidade. 

A sua extrema capacidade de servir, obedecer e aceitar mesmo o que aparentemente poderia ser improvável pode ser compreendido no milagre que transformou um ramo seco, regado periodicamente e com grande diligência pela santa, numa videira que produziu muitos e muitos frutos. Ou, quase no final de sua vida, com a roseira que, sob os seus cuidados, floriu viçosa em pleno inverno rigoroso. Por 15 anos, estigmatizada, padeceu os sofrimentos e as dores de uma ferida repugnante na testa, que expelia pus e que exalava mau odor, o que a a levou a uma vida de isolamento e de absoluto confinamento numa cela do convento.

Aos 76 anos, Santa Rita de Cascia (adaptado como Cássia) faleceu no convento, em 22 de maio de 1457, sem deixar quaisquer registros escritos, mas os exemplos heroicos de uma vida de santidade. Morta, a ferida tornou-se limpa e passou a exalar um odor perfumado. Foi beatificada em 1627, ocasião em que o seu corpo mostrou-se no mesmo estado quando da sua morte, mais de cento e cinquenta anos antes. Seu corpo atualmente repousa no Santuário de Cascia, desde 18 de maio de 1947, numa urna de prata e cristal.  Exames médicos recentes efetuados no corpo confirmaram os traços de uma ferida óssea (osteomielite) na testa. A santa das causas impossíveis foi canonizada em 24 de maio de 1900, sob o pontificado do Papa Leão XIII.

(urna de cristal com o corpo de Santa Rita de Cássia)

Santa Rita de Cássia, rogai por nós!