quinta-feira, 23 de maio de 2019

O RESPEITO HUMANO É... EM 10 PECADOS MORTAIS!

1. O respeito humano é... a preferência do homem a Deus

O respeito humano é a ruína da ordem e da perfeição porque desvia o nosso pensamento e a nossa atenção de Deus para as criaturas. A razão e a fé dizem: Deus é o fim e o motivo de todos os nossos atos. O respeito humano diz: só devemos ter consideração pelo homem, pelos seus gostos, pelas suas opiniões, pelos seus caprichos.

2. O respeito humano é... uma fraqueza

O padre Ventura [Joaquim Ventura de Ráulica (1792-1861), padre jesuíta e depois teatino (ordem muito próxima a dos jesuítas)] afirmava energicamente: 'Ocultar os sentimentos da verdadeira fé, envergonhar-se de cumprir publicamente os preceitos, não é senão uma fraqueza, a maior de todas as fraquezas. É por isso que se encontra comumente nas almas pequenas'.

3. O respeito humano é... uma fraqueza vergonhosa

Deus nos deu um guia seguro, um juiz infalível das nossas ações: a consciência, que nos ilumina e dirige em todos os nossos passos, louva-nos ou nos censura, conforme praticamos o bem ou o mal. O escravo do respeito humano segue uma luz, obedece a uma outra regra. A sua luz e a sua regra são as opiniões e os caprichos de alguns homens.

4. O respeito humano é... uma fraqueza muito prejudicial à salvação

O respeito humano inutiliza os meios tão poderosos e eficazes de que Deus se serve para nos atrair a si. Convida-nos pela sua graça a uma vida mais regular e mais santa e nós mesmos temos bons desejos de abraçar esta vida. Porque resistimos às solicitações da graça? É o respeito humano que muitas vezes impede a ação da graça e asfixia a nossa boa vontade.

5. O respeito humano é... uma traição

Devemos edificar uns aos outros. O que tem mais luz, mais virtude, deve irradiar estes bens em volta de si. Nosso Senhor Jesus Cristo diz: 'Vós sois a luz e o sal da terra' (Mt 5,13-14). Luz que deve combater as trevas; sal que deve impedir a corrupção. Ora o respeito humano contraria e destrói esta disposição de Deus, impede que a luz irradie, apaga-a, corrompe o sal; ajuda as trevas e o mal a espalharem-se por toda a parte.

6. O respeito humano é... a abdicação da personalidade humana

Deus determinou que o homem se conduzisse pela sua consciência, esclarecida pela lei divina; é nisto que está toda a sua dignidade de homem. Ora, o homem que se deixa arrastar pelo respeito humano não pensa, não fala, não opera por si mesmo, segundo a sua consciência, torna-se escravo dos outros; pensa, fala e faz como eles. Pode conceber-se alguma coisa mais destruidora da dignidade ou personalidade humana? Não.

7. O respeito humano é... a abdicação da dignidade de cristão

Um cristão pode dizer com São Paulo: 'Eu vivo, mas verdadeiramente não sou eu já que vivo, é Jesus Cristo que vive em mim, é Jesus Cristo que pensa, fala e opera em mim'. Ora, o cristão possuído do respeito humano é um discípulo indigno, tem o nome de cristão e não se deixa conduzir por Jesus Cristo. Poderá dizer: Eu vivo, mas não sou eu que vivo, é o tal companheiro insensato, todo ele é que vive em mim. Eu abdiquei da minha alma para substituí-la por uma alma desvairada, estúpida.

8. O respeito humano é... uma escravidão vergonhosa

Se alguém quisesse fazer-nos uma observação sobre qualquer dos nossos defeitos dir-lhe-íamos: não se meta onde não é chamado. Porém, atacam as nossas virtudes e boas qualidades e temos a baixeza de nos envergonhar de as defender.

9. O respeito humano é... uma apostasia infame

Foi o respeito humano que fez morrer o Filho de Deus. Pilatos teria sido inabalável às instâncias e gritos dos judeus que pediam a morte de Jesus, por estar convencido da inocência do Salvador e da injustiça deles; mas apenas o ameaçaram com César, toda a sua firmeza não pôde vencer o temor de desagradar a César. Ó respeito humano, exclama alguém, em quantos corações tens dado a morte a Cristo, e em quantos não o tens deixado nascer! Deixamos de ser de Deus ou receamos ser dEle, pelo temor do juízo dos homens. Quem quiser ser amigo deste mundo perverso declara-se por isso mesmo inimigo de Deus.

10. O respeito humano é... causa de condenação eterna

a) Condenação dos homens

Ozanam [Frederico Ozanam (1813 - 1853), fundador das Conferências de São Vicente de Paulo], a quem um dia aconselhavam uma prudência muito tímida nas manifestações da sua fé, respondia: 'Não, eu não ganharei nada em dissimular as minhas convicções; não adquiro a confiança daqueles que me conhecem e perderei a da juventude que me considera; isto é, não obterei a estima dos maus e perderei a dos bons'. O cristão fraco, tímido, engana-se nos seus cálculos e acaba inevitavelmente por ver recusar o que tem sido objeto de todos os seus sacrifícios - o respeito dos outros. Aquele que falta aos juramentos de fidelidade a Deus não pode oferecer nenhuma garantia na confiança dos homens.

b) Condenação de Deus

No dia do Juízo, a sentença pronunciada sobre nós dependerá da maneira como tivermos compreendido o respeito humano e o respeito divino: 'Eu confessarei, diante de meu Pai, aquele que me confessar diante dos homens, diz Jesus, e envergonhar-me-ei diante de Meu Pai, daquele que se tiver envergonhado de mim diante dos homens' (Mt 10,32-33). Jesus abomina e condena o mau cristão que recusou reconhecer a sua soberania.

(Excertos da obra 'O Crucifixo, Meu Livro de Estudos', do Cônego Júlio A. Santos, 1950)

quarta-feira, 22 de maio de 2019

22 DE MAIO - SANTA RITA DE CÁSSIA


A santa, que padeceu uma vida doméstica de sofrimentos e provações, tornou-se a advogada dos desesperados e a padroeira das causas impossíveis. Filha única de pais já envelhecidos - Antonio Mancini e Amata Ferri - Margherita (que ficou Rita) nasceu no vilarejo de Roccaporena, na região de Cascia, na Úmbria (centro da Itália) em 1381. Inclinada à vida religiosa, cedeu às tratativas paternas e aos rigores da época, desposando, logo após a adolescência um homem chamado Paulo Ferdinando, com o qual teve dois filhos.

Sua vida matrimonial, entretanto, foi um período de enormes provações e humilhações em relação ao marido, sempre violento e agressivo. Depois de muitas orações pelo marido, este se converteu e passaram a formar uma igreja doméstica até que uma tragédia a desfez por completo: Paulo foi assassinado numa ato de vingança devido às suas desavenças passadas. Outra tragédia se anunciava: os dois filhos estavam decididos a vingar a morte do pai. Rita preferiu perdê-los do que eles ao Céu e ofereceu as suas vidas a Deus antes de cometerem tal crime. Com efeito, cerca de um ano após a morte do pai, ambos faleceram, arrependidos do sentimento de vingança.

Rita ficou, então, sozinha no mundo e buscou, sem sucesso, a vida religiosa, por já ter vivido uma união matrimonial por 18 anos. A opção por converter-se em uma monja agostiniana foi-lhe repetidamente negada. Entregando a sua vocação nas mãos de Deus e sobrecarregando-se em orações, alcançou a causa impossível por um milagre extraordinário. Certa feita, foi conduzida por três pessoas à capela interna do mosteiro, totalmente fechado e a altas horas da noite: São João Batista (também concebido na velhice dos pais), Santo Agostinho (fundador da ordem agostiniana) e São Nicolau de Tolentino (religioso agostiniano). Diante do relato e dos fatos sobrenaturais, Rita foi aceita na ordem, dedicando o resto da sua vida aos votos de pobreza, obediência e castidade. 

A sua extrema capacidade de servir, obedecer e aceitar mesmo o que aparentemente poderia ser improvável pode ser compreendido no milagre que transformou um ramo seco, regado periodicamente e com grande diligência pela santa, numa videira que produziu muitos e muitos frutos. Ou, quase no final de sua vida, com a roseira que, sob os seus cuidados, floriu viçosa em pleno inverno rigoroso. Por 15 anos, estigmatizada, padeceu os sofrimentos e as dores de uma ferida repugnante na testa, que expelia pus e que exalava mau odor, o que a a levou a uma vida de isolamento e de absoluto confinamento numa cela do convento.

Aos 76 anos, Santa Rita de Cascia (adaptado como Cássia) faleceu no convento, em 22 de maio de 1457, sem deixar quaisquer registros escritos, mas os exemplos heroicos de uma vida de santidade. Morta, a ferida tornou-se limpa e passou a exalar um odor perfumado. Foi beatificada em 1627, ocasião em que o seu corpo mostrou-se no mesmo estado quando da sua morte, mais de cento e cinquenta anos antes. Seu corpo atualmente repousa no Santuário de Cascia, desde 18 de maio de 1947, numa urna de prata e cristal.  Exames médicos recentes efetuados no corpo confirmaram os traços de uma ferida óssea (osteomielite) na testa. A santa das causas impossíveis foi canonizada em 24 de maio de 1900, sob o pontificado do Papa Leão XIII.

(urna de cristal com o corpo de Santa Rita de Cássia)

Santa Rita de Cássia, rogai por nós!

segunda-feira, 20 de maio de 2019

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (XXX)

XXXII

DA PIEDADE PARA COM OS PAIS E A PÁTRIA

Depois da religião, qual é a virtude mais importante entre as agregadas à Justiça?
A virtude da piedade (CI)*.

Que entendeis por virtude da piedade?
A que tem por objeto honrar e venerar aos pais e à pátria pelo grande benefício de nos terem dado a vida, conjuntamente com tudo o mais que a conserva e completa (CI, 1-3).

São estes deveres especialmente sagrados e obrigatórios ?
Depois dos deveres para com Deus, não há outros mais sagrados.

Que obrigações impõe a piedade para com os pais?
As obrigações de respeitá-los sempre, obedecer-lhes enquanto se vive debaixo da sua autoridade e socorrê-los em suas necessidades (CI, 2).

E para com a pátria?
A obrigação de reverenciar àqueles que a personificam e a representam, obedecer às suas leis e sacrificar, se necessário, a vida por ela na guerra justa.

XXXIII

DA OBSERVÂNCIA PARA COM OS SUPERIORES

Além das virtudes de religião e piedade, há alguma outra em que possa intervir também a obediência?
Sim, Senhor; a virtude de observância (CII).

Que entendeis por virtude da observância?
A que tem por objeto regular as relações dos inferiores com os superiores, feita a exceção dos casos em que os superiores sejam Deus, os pais ou as autoridades que governam em nome da pátria (CII, CIII).

Logo, é a virtude da observância a que põe ordem nas relações entre professores e discípulos, entre patrões e operários e em geral entre superiores e inferiores?
Sim, Senhor (CIII, 3).

A observância inclui a obediência? 
Somente nos casos em que o superior tenha jurisdição sobre o inferior.

Logo, há superioridades sem jurisdição?
Sim, Senhor; por exemplo, as do talento, engenho, riquezas, idade, virtude etc. (CIII, 2).

Pode exercer-se nestes casos a virtude da observância?
Sim, Senhor; visto que o seu objeto, como dissemos, é honrar e acatar todo gênero de superioridades, começando sempre pelos superiores com autoridade e jurisdição (Ibid).

É necessária a prática desta virtude nas relações sociais?
É indispensável, porque não se concebe sociedade sem membros e subordinação, e todo subordinado está no dever de praticá-la, sob pena de perturbar a harmonia e boas relações sociais.

É virtude que todos os homens podem praticar?
Sim, Senhor; pois, por elevada que seja a hierarquia de um homem, sempre tem, nessa mesma hierarquia ou em ordem distinta, algum superior (CIII, 2 ad 3).

XXXIV

DA GRATIDÃO OU RECONHECIMENTO

Qual é a primeira das virtudes agregadas à Justiça, que tem por objeto, não propriamente um débito em rigor impossível de satisfazer cabalmente, mas uma dívida moral, ainda mesmo em matéria necessária para o bem comum?
O reconhecimento ou gratidão (CVI).

Qual é o seu objeto?
A obrigação de agradecer e recompensar os benefícios particulares que tenhamos recebido (CVI, 1).

É virtude muito necessária?
Sim, Senhor, e evidencia-se a sua necessidade, considerando o odioso e repugnante vício contrário, a ingratidão (CXII).

Deve o agraciado recompensar mais do que recebe?
Deve procurar fazê-lo, para se igualar com o benfeitor (CVI, 6).

XXXV

DA VINDITA

Que conduta devemos observar com os que nos agravam e fazem mal?
Seguir o ditame de uma virtude especial chamada vindita, que aconselha não deixar impunes os agravos, quando assim o exige a obrigação de conservar e olhar por algum bem (CVIII).

XXXVI

DA VERDADE — VÍCIOS OPOSTOS: MENTIRA, SIMULAÇÃO OU HIPOCRISIA

Que outra virtude, da mesma ordem que a anterior, é necessária para o bem estar social, não em atenção aos outros, mas a nós mesmos?
A virtude da verdade (CIX).

Que entendeis por virtude da verdade?
A que nos ensina a mostrar-nos tanto nas palavras como nas ações, tais como na realidade somos (CIX, 1-4).

Quais são os vícios opostos a esta virtude?
Os da mentira, simulação ou hipocrisia (CX-CXIII).

Que entendeis por mentira?
Qualquer dito ou fato destinado a manifestar ou a afirmar uma coisa falsa (CX, 1).

É a mentira essencialmente má?
É má em tal grau que não há nenhum fim ou pretexto que possa justificá-la (CX, 1).

Logo, estamos sempre obrigados a dizer a verdade toda?
Não, Senhor; porém estamos obrigados a não dar a entender e a nunca dizer mentiras (Ibid).

Quantas classes há de mentira?
Três: jocosa, oficiosa e perniciosa (CX, 2).

Em que se distinguem?
Em que a jocosa tem por fim divertir os outros; a oficiosa ser-lhes útil e a perniciosa causar-lhes algum detrimento ou prejuízo.

Qual é a pior?
A perniciosa; e assim como as duas primeiras podem não exceder de pecados veniais, esta, por sua natureza, é sempre pecado mortal, e se algumas vezes é venial, o será em atenção à parvidade da matéria ou prejuízo causado (CX, 4).

Que entendeis por simulação ou hipocrisia?
Consiste a simulação em aparentar exteriormente o que interiormente não somos; e a hipocrisia, em simular virtudes que não temos (CXI, 1, 2).

Estamos obrigados, para não cairmos nestes vícios, a descobrir e declarar publicamente os nossos defeitos e más qualidades?
De nenhum modo; estamos, pelo contrário, obrigados a encobri-los para não perder o crédito na opinião dos outros, e para não dar-lhes mau exemplo e nem motivo de escândalo; a verdade ou sinceridade somente exigem que não tenhamos intenção de dar a conhecer feitos e qualidades, boas ou más, que realmente não possuímos (CXI, 3,4).

Obriga a virtude da verdade a alguém abster-se de toda manifestação que pode admitir diversas interpretações e a prevenir e evitar as falsas?
Não, Senhor; exceto nos casos em que a má interpretação acarretasse prejuízos que estivéssemos obrigados a evitar (CXI, 1).

Existem modos de cometer pecados de mentira, simulação e hipocrisia que constituam faltas especificamente distintas?
Sim, Senhor; pode o homem cometer faltas atribuindo a si mesmo excelências que não possui e temos o pecado da jactância, ou dando a conhecer que carece de qualidades e merecimentos que, na verdade, tem e isto constitui o pecado da falsa humildade (CXII-CXIII).

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular)

O NOVO MANDAMENTO

Páginas do Evangelho - Quinto Domingo da Páscoa


Deus, em sua infinita misericórdia, destinou ao homem, não apenas a plenitude de uma felicidade puramente natural mas, muito mais que isso, por desígnios imensuráveis à condição humana, a plenitude da eterna felicidade com Ele. E, para nos tornar co-participantes de sua glória, nos escolheu, um a um, desde toda a eternidade, como criaturas humanas privilegiadas e especiais, moldadas pelo infinito amor do divino intelecto. Glória aos homens bem-aventurados que, nascidos e criados pelo infinito amor, foram e serão redimidos pelo amor de Cristo para toda a eternidade!

Neste Quinto Domingo da Páscoa, somos chamados a vivenciar este amor de Deus em plenitude. Jesus encontra-se no Cenáculo, pouco antes de sua ida ao Horto das Oliveiras e da sua prisão e morte na cruz. E acaba de revelar aos seus discípulos amados, mais uma vez, a identidade do amor divino entre Pai e Filho, regida pelo Espírito Santo: 'Agora foi glorificado o Filho do Homem, e Deus foi glorificado nele' (Jo 13, 31). Do amor intrínseco à Santíssima Trindade, medida infinita do amor sem medidas, Jesus vai nos dar o princípio do amor humano verdadeiro e recíproco ao amor divino: 'Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros' (Jo 13, 34). 

Sim, como Cristo nos amou. Na nossa impossibilidade humana de amar como Cristo nos ama, isso significa amar sem rodeios, amar sem vanglória, amar sem zelos de gratidão, amar de forma despojada e sincera aos que nos amam e aos que não nos amam, a quem não conhecemos, a quem apenas tangenciamos por um momento na vida, a todos os homem criados pelos desígnios imensuráveis do intelecto divino, à sombra e imersos na dimensão do infinito amor de Cristo por nós.

Nesta proposição distorcida e acanhada do amor divino, o amor humano se projeta a alturas inimagináveis de santificação, e expressa a sua identificação incisiva no projeto de redenção de Cristo: 'Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros' (Jo 13, 35). Eis aí a essência do novo mandamento: amar, com igual despojamento, toda a dimensão da humanidade pecadora, a exemplo de um Deus que se entregou à morte de cruz para nos redimir da morte e mostrar que o verdadeiro amor não tem limites nem medida alguma. 

sábado, 18 de maio de 2019

ORAÇÃO: IMMACULATA MATER DEI


Immaculata Mater Dei, Regina caelorum, Mater misericordiae, advocata et refugium peccatorum, ecce ego illuminatus et incitatus gratiis, a te materna benevolentia large mihi impetratis ex thesauro divino, statuo nunc et semper dare in manus tuas cor meum Iesu consecrandum. Tibi igitur, beatissima Virgo, coram novem choris Angelorum cunctisque Sanctis illud trado, Tu autem, meo nomine, Iesu id consecra; et ex fiducia filiali, quam profiteor, certum mihi est te nunc et semper quantum poteris esse facturum, ut cor meum iugiter totum sit Iesu, imitans perfectissime Sanctos, praesertim sanctum Ioseph, Sponsum tuum purissimum. Amen.

Imaculada Mãe de Deus, Rainha do Céu, Mãe da Misericórdia, Advogada e Refúgio dos pecadores, eis que eu, iluminado e inspirado pelas graças recebidas da vossa maternal intercessão junto ao tesouro divino, quero entregar o meu coração em vossas mãos, agora e sempre, para ser consagrado a Jesus. Ó Santíssima Virgem, na presença dos nove coros dos anjos e de todos os santos, eu o entrego a vós para que, em meu nome, possais consagrá-lo a Jesus; sob a vossa confiança filial, tenho a firme certeza de que, agora e sempre, tudo havereis de fazer para que o meu coração possa pertencer inteiramente a Jesus, a exemplo da perfeição dos santos e, em particular, ao de São José, vosso castíssimo Esposo. Amém.

[Escrita por São Vicente Pallotti (1798-1850), fundador dos Palotinos]

sexta-feira, 17 de maio de 2019

COMPÊNDIO DE SÃO JOSÉ (XII)


56. Como foi a morte de José? 

Também não possuímos elementos convincentes para esclarecer a respeito de sua morte; porém, aceitando que ele tenha morrido antes de Jesus, podemos deduzir que tenha tido uma morte ao lado de Jesus e de Maria. O certo é que a morte de José possui um significado importante, tanto é verdade que esta tem um valor e um lugar na piedade dos fiéis. A sensibilidade religiosa e a razão guiaram a piedade cristã a considerar, desde os tempos mais antigos, a morte de José como 'um plácido sono entre os braços da Virgem e de Jesus'. 

57. Por que São José é considerado protetor da boa morte? 

Há um livro apócrifo denominado 'A história de São José, o carpinteiro', que teve origem em Nazaré no século II, o qual foi escrito para uso litúrgico dos judeu-cristãos. Este relata que Jesus teria contado aos discípulos reunidos sobre o monte das Oliveiras toda a vida de José, particularmente a sua morte. Este relato difundiu-se ao ponto que os coptos monofisitas egípcios instituíram a festa da comemoração de sua morte, denominada de 'trânsito', no dia 20 de julho. Com a influência deste livro e desta festa, passou-se a considerar São José o protetor da boa morte e a cena do 'Trânsito de São José' apareceu na iconografia e se difundiu rapidamente. Nasceram várias confrarias para promover esta festa, até aquela mais recente instituída pelo Papa Pio X em 1913, junto à Igreja de São José Al Trionfale, em Roma, denominada de 'pia união do trânsito de São José para a salvação dos agonizantes'. Também o Papa Bento XV no motu proprio Bonum Sane em 1920 quis que São José fosse lembrado como protetor dos moribundos, porque expirou com a assistência de Jesus e de Maria. O mesmo papa aprovou também duas missas votivas a São José, uma para os moribundos e outra para a proteção da boa morte, e também uma oração para obter a boa morte: 'Que eu morra como o glorioso São José, entre os braços de Jesus e de Maria…'. Da mesma forma, Pio X em 1909 aprovou a Ladainha de São José e, dentre as invocações estão aquelas 'esperança dos enfermos', 'padroeiro dos agonizantes' e 'terror dos demônios'. Também o Papa Pio XI, pelo Ritual Romano de 1922, colocou para o rito da unção dos enfermos a invocação: 'São José, dulcíssimo padroeiro dos agonizantes, fortaleça a tua esperança' e, da mesma forma, compôs a belíssima oração: 'A ti eu recorro, São José, padroeiro dos moribundos…'. 

58. Podemos dizer alguma coisa de José após a sua morte? 

Muitos teólogos e santos, dentre os quais alguns respeitadíssimos como São Tomás de Aquino, Clemente de Alexandria e São Bernardino de Sena, afirmaram que José estava entre os santos que, na ressurreição de Jesus, saíram dos sepulcros conforme narra o evangelista Mateus (Mt 27,52-53). É evidente que São José seria o primeiro, devido à sua grandeza como pai de Jesus e esposo de Maria, a merecer este privilégio. Outros teólogos como Cornélio Lápide e Francisco Suárez afirmam que José subiu aos céus em corpo e alma na ascensão de Jesus. O Papa Bento XIV limitou-se a afirmar que acreditava piedosamente que São José ressuscitou. A Igreja nunca se pronunciou a este respeito porque não é um artigo de fé. O próprio Bernardino de Sena afirma que: 'Podemos crer por devoção, e não por segurança temerária, que Jesus ornou o seu pai putativo com o mesmo privilégio concedido à sua santíssima Mãe, de modo que, como ela foi levada aos céus em corpo e alma, assim também no dia da ressurreição do Senhor Jesus, ressuscitou consigo o santíssimo José…'.

59. Em virtude da sua sublime paternidade, como podemos exprimir melhor a dignidade de José?

Quanto mais unido a Jesus, maior a dignidade, por isso sua dignidade só é superada por aquela de Maria e, portanto, é superior àquela dos Anjos. Jesus foi-lhe obediente e submisso, e José teve para com ele um relacionamento de pai, na educação, no afeto e na convivência. Portanto teve uma tarefa altíssima, pois cooperou no mistério da nossa redenção. O teólogo Francisco Suárez defende a dignidade de José afirmando: 'Considero que a missão de apóstolo constituiu o maior encargo entre os que existem na Igreja … Entretanto, não é improvável a opinião segundo a qual a missão de José é ainda mais perfeita, por ser de ordem superior… existem encargos ou ministérios da ordem da graça santificante e, nesse caso, considero os apóstolos em suma dignidade… porém existem ministérios que se encontram no limite da ordem da união hipostática, a qual é de per si mais perfeita… justamente nesta ordem, no meu modo de ver, está o ministério de São José, ou seja, no mais alto grau'. 

60. Qual a importância de José nos mistérios da nossa redenção? 

Antes de tudo devemos afirmar que ele participou como nenhuma outra pessoa, com exceção de Maria, no mistério na encarnação de Jesus, função esta que ele exerceu como esposo de Maria e com a sua paternidade. Sua cooperação foi, podemos dizer, indireta, enquanto esposo de Maria, mas necessária e, enquanto pai de Jesus, embora não participando diretamente, colaborou enquanto nutriu, protegeu e educou Jesus, compartilhando com ele vários anos de sua vida. Deus confiou-lhe Jesus e Maria, os tesouros mais preciosos, e por isso a sua missão foi aquela de servir a economia da salvação, ao desígnio da redenção que se iniciou com a encarnação.

('100 Questões sobre a Teologia de São José', do Pe. José Antonio Bertolin, adaptado)