sexta-feira, 2 de março de 2018

PORQUE HOJE É A PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS


A Grande Revelação do Sagrado Coração de Jesus foi feita a Santa Margarida Maria Alacoque durante a oitava da festa de Corpus Christi de 1675...

         'Eis o Coração que tanto amou os homens, que nada poupou, até se esgotar e se consumir para lhes testemunhar seu amor. Como reconhecimento, não recebo da maior parte deles senão ingratidões, pelas suas irreverências, sacrilégios, e pela tibieza e desprezo que têm para comigo na Eucaristia. Entretanto, o que Me é mais sensível é que há corações consagrados que agem assim. Por isto te peço que a primeira sexta-feira após a oitava do Santíssimo Sacramento seja dedicada a uma festa particular para  honrar Meu Coração, comungando neste dia, e O reparando pelos insultos que recebeu durante o tempo em que foi exposto sobre os altares ... Prometo-te que Meu Coração se dilatará para derramar os influxos de Seu amor divino sobre aqueles que Lhe prestarem esta honra'.


... e as doze Promessas:
  1. A minha bênção permanecerá sobre as casas em que se achar exposta e venerada a imagem de meu Sagrado Coração.
  2. Eu darei aos devotos do meu Coração todas as graças necessárias a seu estado.
  3. Estabelecerei e conservarei a paz em suas famílias.
  4. Eu os consolarei em todas as suas aflições.
  5. Serei seu refúgio seguro na vida, e principalmente na hora da morte.
  6. Lançarei bênçãos abundantes sobre todos os seus trabalhos e empreendimentos.
  7. Os pecadores encontrarão em meu Coração fonte inesgotável de misericórdias.
  8. As almas tíbias se tornarão fervorosas pela prática dessa devoção.
  9. As almas fervorosas subirão em pouco tempo a uma alta perfeição.
  10. Darei aos sacerdotes que praticarem especialmente essa devoção o poder de tocar os corações mais empedernidos.
  11. As pessoas que propagarem esta devoção terão os seus nomes inscritos para sempre no meu Coração.
  12. A todos os que comungarem nas primeiras sextas-feiras de nove meses consecutivos, darei a graça da perseverança final e da salvação eterna.

    ATO DE DESAGRAVO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS 
    (rezai-o sempre, particularmente nas primeiras sextas-feiras de cada mês)

Dulcíssimo Jesus, cuja infinita caridade para com os homens é deles tão ingratamente correspondida com esquecimentos, friezas e desprezos, eis-nos aqui prostrados, diante do vosso altar, para vos desagravarmos, com especiais homenagens, da insensibilidade tão insensata e das nefandas injúrias com que é de toda parte alvejado o vosso dulcíssimo Coração.

Reconhecendo, porém, com a mais profunda dor, que também nós, mais de uma vez, cometemos as mesmas indignidades, para nós, em primeiro lugar, imploramos a vossa misericórdia, prontos a expiar não só as nossas próprias culpas, senão também as daqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conspurcando as promessas do batismo, renegam o jugo suave da vossa santa Lei.

De todos estes tão deploráveis crimes, Senhor, queremos nós hoje desagravar-vos, mas particularmente das licenças dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência, da violação dos dias santificados, das execrandas blasfêmias contra vós e vossos santos, dos insultos ao vosso vigário e a todo o vosso clero, do desprezo e das horrendas e sacrílegas profanações do Sacramento do divino Amor, e enfim, dos atentados e rebeldias oficiais das nações contra os direitos e o magistério da vossa Igreja.

Oh, se pudéssemos lavar com o próprio sangue tantas iniquidades! Entretanto, para reparar a honra divina ultrajada, vos oferecemos, juntamente com os merecimentos da Virgem Mãe, de todos os santos e almas piedosas, aquela infinita satisfação que vós oferecestes ao Eterno Pai sobre a cruz, e que não cessais de renovar todos os dias sobre os nossos altares.

Ajudai-nos, Senhor, com o auxílio da vossa graça, para que possamos, como é nosso firme propósito, com a viveza da fé, com a pureza dos costumes, com a fiel observância da lei e caridade evangélicas, reparar todos os pecados cometidos por nós e por nossos próximos, impedir, por todos os meios, novas injúrias à vossa divina Majestade e atrair ao vosso serviço o maior número possível de almas.

Recebei, ó Jesus de Infinito Amor, pelas mãos de Maria Santíssima Reparadora, a espontânea homenagem deste nosso desagravo, e concedei-nos a grande graça de perseverarmos constantes até a morte no fiel cumprimento dos nossos deveres e no vosso santo serviço, para que possamos chegar todos à Pátria bem-aventurada, onde vós, com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

quinta-feira, 1 de março de 2018

POEMAS PARA REZAR (XXIII)


TARDE TE AMEI

Tarde Te amei, beleza tão antiga e tão nova, tarde Te amei!
E eis que estavas dentro de mim e eu fora, e aí Te procurava e eu, sem beleza, precipitava-me nessas coisas belas que Tu fizeste.

Tu estavas comigo e eu não estava Contigo.
Retinham-me longe de Ti aquelas coisas que não seriam, se em Ti não fossem.

Chamaste, e clamaste, e rompeste a a minha surdez;
brilhaste, cintilaste, e afastaste a minha cegueira;
exalaste o Teu perfume, e eu respirei e suspiro por Ti;
saboreei-te e tenho fome e sede;
tocaste-me e inflamei-me no desejo da Tua Paz.

(Santo Agostinho)

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

HISTÓRIAS QUE OUVI CONTAR (XIX)

APRENDA A ESCREVER NA AREIA...

Dois amigos inseparáveis e de longas jornadas juntos, caminhavam certo final da tarde por uma praia já praticamente deserta. Falavam sobre tudo e principalmente pelas coisas que faziam em comum, caminhando na areia macia e, de tempos em tempos, afastando os pés de se molharem nas ondas que se quebravam e vinham arrebentar na orla da praia. O sol se pondo no horizonte emprestava ao cenário uma beleza indescritível.

Nos cenários das grandes certezas, a única certeza é que nada é sempre igual no cotidiano das nossas vidas. Ninguém sabe dizer ao certo como a discussão entre eles começou e exatamente o motivo; o fato é que de uma discordância casual, o assunto tomou ares de desavença crônica e terminou numa quase agressão física, num empurrão forte que jogou um deles no chão e um silêncio constrangedor a seguir.

No chão, ainda impactado pelo empurrão do amigo de todas as horas, o outro amigo escreveu na areia, próximo ao limite das ondas: 'hoje o meu melhor amigo me jogou no chão'. De pé, o outro observava silenciosamente o que o amigo escrevia na areia e depois lhe falou:  'Ok, desculpe-me, vamos lá, vamos superar essa bobagem e seguir em frente'. E, dando a mão ao outro, ajudou que se levantasse e ambos continuaram a andar pela praia.

Mas agora ia junto com eles um silêncio pesado, asfixiante; não havia mais nada da alegria sincera do convívio de poucos minutos atrás. Nesse momento, chegaram ao final da praia, truncada por uma extensa formação rochosa que impedia a passagem adiante. Quando pensavam em voltar, no contexto de que não existem certezas absolutas, o amigo que tinha sido empurrado no chão se atirou na água e avançou rapidamente em direção ao mar. Mas de repente, perto das rochas, por ser mais íngreme a praia e as águas mais profundas, o nosso amigo, mau nadador, se viu em grande dificuldade de nadar e com sério risco de se afogar. É justamente neste momento que o outro amigo o resgatou e, em poucos braçadas, o levou são e salvo à praia.

Recuperado do susto e do risco de quase ter perdido a vida, o amigo resgatado foi até às rochas próximas e escreveu na pedra lisa: 'hoje o meu melhor amigo me salvou a vida'. O melhor amigo observou, mais uma vez silenciosamente, a ação do amigo que resgatara das águas. Ao final, ainda um pouco exausto da aventura, perguntou ao outro: 'Lá atrás, você escreveu na areia e agora aqui fez questão de escrever na pedra. Por que?'  

Com sincera alegria, o amigo respondeu: 'Quando um amigo nos machuca, devemos escrever na areia onde os ventos do perdão se encarregam de apagar rapidamente a ofensa recebida; quando um amigo nos prova a sua amizade verdadeira com um grande feito, devemos gravar isso na pedra - na pedra da memória do coração - onde vento algum poderá apagar isso jamais'.

Por isso, aprenda sempre a escrever na areia...

(texto de autor desconhecido, reescrito e adaptado pelo autor do blog)

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

SUMA TEOLÓGICA EM FORMA DE CATECISMO (VIII)

XXIII

AÇÃO DOS ANJOS BONS NO MUNDO CORPÓREO

Serve-se Deus dos anjos bons no governo do mundo material?
Sim, Senhor, porque este mundo é inferior ao dos anjos, e, em todo governo bem ordenado, os inferiores são regidos pelos superiores (CX, 1)*.

Qual é o seu ministério?
Velar pelo exato cumprimento do plano providencial e dos decretos divinos concernentes às coisas materiais.

A que ordem pertencem os anjos administradores das coisas materiais?
À ordem das Virtudes (CX, 1, 2, 2).

Que fazem os anjos que servem na administração do mundo corporal?
Velam pela perfeita execução do plano da Providência e pelas manifestações da vontade divina, em tudo o que se passa nos diversos seres que constituem o mundo material.

Logo, Deus executa por meio dos anjos que pertencem à ordem das Virtudes quantas alterações e mudanças se efetuam no mundo corporal, inclusive os milagres?
Sim, Senhor (CX, 4).

Têm os anjos virtude ou poder suficiente para fazer milagres?
Não, Senhor. Somente Deus pode fazê-los e o anjo concorre ou com intercessão ou como causa instrumental (CX, 4, ad 1).

XXIV

AÇÃO DOS ANJOS NO HOMEM - O ANJO DA GUARDA

Podem os anjos influir no homem?
Sim, Senhor; porque são de natureza puramente espiritual, e, portanto, superior à humana (CXI).

Podem iluminar a nossa inteligência?
Sim, Senhor; dando-lhe vigor e pondo ao nosso alcance a Verdade puríssima que eles contemplam (CXI, 1).

Podem intervir diretamente na nossa vontade?

Não, Senhor; porque a volição é um movimento interior que só depende de Deus, sua causa (CXI, 2).

Logo, somente Deus pode atuar diretamente e mudar, como lhe apraz, os movimentos da vontade humana?
Só Deus o pode fazer (Ibid).

Podem os anjos excitar a imaginação e as demais faculdades sensitivas?
Sim, Senhor; porque estando intimamente ligadas ao organismo dependem do mundo corpóreo submetido à ação dos anjos (CXI, 3).

Podem impressionar os sentidos externos?
Sim, Senhor; pela mesma razão, exceto quando a excitação provém do demônio, e neste caso pode ser contrabalançada por outra de um anjo bom (CXI, 4).

Por consequência, os anjos podem dificultar e impedir a obra dos demônios?
Sim, Senhor; porque a justiça divina submeteu os demônios, como castigo do seu pecado, ao domínio dos anjos (Ibid).

Envia Deus os seus anjos a exercer algum ministério entre os homens?
Sim, Senhor; Deus se serve deles para promover o bem e para executar os seus desígnios junto dos mortais (CXII, 1).

Envia, com este fim, todos os anjos?
Não, Senhor (Ibid).

Quais são os que nunca são empregados?
Os da primeira hierarquia (CXII, 2, 3).

Por que?
Porque é privilégio desta hierarquia o de permanecer constantemente junto ao Trono de Deus (Ibid).

Que título obtêm os anjos da primeira hierarquia, em atenção a este privilégio?
O de anjos assistentes (Ibid).

Quais são, pois, os enviados?
Todos os da segunda e terceira hierarquias, porém note-se que as Dominações presidem ao cumprimento dos decretos divinos e as outras ordens, Virtudes, Potestades, Principados, Arcanjos e Anjos, são os executores (CXII, 4).

Destina Deus alguns anjos para guarda dos homens?
Sim, Senhor; porque a divina Providência decretou que o homem, ignorante no pensar, inconstante e frágil no querer, tivesse como guia protetor, na sua peregrinação até ao céu, um daqueles espíritos ditosos, confirmados para sempre no bem (CXIII, 1).

Destina Deus um anjo para a guarda de cada homem, ou um só para guardar muitos?
Destina um para cada homem, porque mais ama Deus uma alma do que todas as espécies de criaturas materiais, e, apesar disto, determinou que cada espécie tivesse um anjo custódio encarregado do seu governo (CXIII, 2).

De que ordem toma Deus os anjos da guarda?
Toma-os do último coro (CXIII, 3).

Têm todos os homens, sem exceção, anjo custódio?
Sim, Senhor; todos o têm, enquanto vivem neste mundo, em atenção aos obstáculos e perigos do caminho que têm de percorrer até chegar ao fim (CXIII, 4).

Teve-o Nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto homem?
Considerando que era pessoa divina, não convinha que o tivesse; porém, teve anjos com a nobilíssima missão de servi-Lo (Ibid).

Quando começa cada anjo custódio a exercer o seu ministério?
No instante em que o homem aparece no mundo (CXIII, 5).

Abandonam, alguma vez, os anjos custódios os homens confiados à sua guarda?
Não, Senhor; velam por eles sem interrupção até que exalem o último suspiro da sua vida (CXIII, 6).

Afligem-se à vista das tribulações e males do seu protegido?
Não, Senhor; porque, depois de fazerem o que está em suas mãos para evitá-los, reconhecem e adoram neles a grandeza insondável dos juízos de Deus (CXIII, 7).

É boa e recomendável a prática de invocarmos com frequência o nosso anjo da guarda e lhe confiarmos nossas pessoas e coisas?
É prática excelente e muito recomendável.

Quando invocamos os anjos da guarda, acodem eles, infalivelmente, em nosso socorro?
Sim, Senhor; porém com sujeição e conformidade com os decretos divinos e de modo que seja em coisa ordenada, em harmonia com a glória de Deus (CXIII, 8).

XXV

AÇÃO DOS ANJOS MAUS OU DEMÔNIOS

Podem os demônios combater e tentar os homens?
Sim, Senhor.

Por que?
Porque o seu todo é malícia e, além disso, porque Deus sabe tirar proveito das tentações em benefício dos eleitos (CXIV, 1).

É próprio dos demônios o tentar?
Sim, Senhor.

Em que sentido o dizeis?
No sentido de que os demônios só tentam aos homens com o propósito de seduzi-los e perdê-los (CXIV, 2).

Podem com este objetivo fazer milagres?
Verdadeiros milagres, não, Senhor; porém, 'alguma coisa parecida com os milagres'.

Que entendeis por estas palavras 'alguma coisa parecida com os milagres'?
Entendemos alguns fatos prodigiosos que excedem as forças dos agentes mais próximos e conhecidos, porém, não a virtude natural de todas as criaturas (CXIII, 4).

Como os distinguiremos dos milagres?
Em que se realizam sempre com fim ilícito ou meios reprováveis e não podem, por consequência, ser obra de Deus (CXIV, 4, ad 1).

referências aos artigos da obra original

('A Suma Teológica de São Tomás de Aquino em Forma de Catecismo', de R.P. Tomás Pègues, tradução de um sacerdote secular).

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

O PENSAMENTO VIVO DE CHESTERTON (III)

'Todas as religiões têm em si qualquer coisa de bom, mas o bem, a sua mesma realidade própria, a humildade e amor, e ardente gratidão a Deus, não se encontra nelas. Quanto mais profundamente as conhecemos, e até quanto maior reverência por elas sentimos, mais claramente o compreendemos. No mais profundo delas, encontra-se qualquer outra coisa que não é o puro bem; encontra-se a dúvida metafísica acerca da matéria ou a voz forte da natureza ou, no melhor dos casos, o temor da lei e da divindade. Se estas coisas se exageram, surge uma deformação que pode ir até à adoração do demônio'.

'Devemos lembrar que, seja verdadeira ou não, a filosofia materialista é com certeza mais limitante do que qualquer religião. Num sentido, naturalmente, todas as idéias inteligentes são estreitas. Não podem ser mais amplas do que elas mesmas. Um cristão só é limitado no mesmo sentido em que um ateu é limitado. Ele não pode pensar que o cristianismo é falso e continuar sendo cristão; e o ateu não pode considerar que o ateísmo é falso e continuar sendo ateu. Mas, na prática, há um sentido muito especial em que o materialismo tem mais restrições que o espiritualismo. O cristão tem perfeita liberdade para acreditar que existe uma considerável quantidade de ordem estabelecida e desenvolvimento inevitável no universo. Mas ao materialista não é permitido admitir em sua imaculada máquina a menor mancha de espiritualismo ou milagre'.

'Um santo é um medicamento por ser um antídoto. Na verdade, é também por isso que, muitas vezes, ele é um mártir: ele é confundido com um veneno por ser um antídoto. Vê-lo-emos geralmente a restaurar a sanidade do mundo exagerando uma coisa qualquer que o mundo esteja a negligenciar, e, seguramente, este elemento não será o mesmo em todas as épocas. No entanto, é por instinto que cada geração tenta encontrar o seu santo, e ele não será o que as pessoas querem, mas sim aquilo de que precisam'.

domingo, 25 de fevereiro de 2018

A TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR

Páginas do Evangelho - Segundo Domingo da Quaresma


'Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou sozinhos a um lugar à parte, sobre uma alta montanha' (Mc 9,2). Uma alta montanha, o Monte Tabor. Como testemunhas da extraordinária manifestação da glória celeste e da vida eterna em Deus, Jesus conduz os três apóstolos escolhidos para o alto, numa clara assertiva de que é por meio do profundo recolhimento interior e da elevação da alma muito acima das coisas do mundo é que podemos viver efetivamente a experiência plena da contemplação de Deus.

'E transfigurou-se diante deles. Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar' (Mc 9, 2-3). No mistério da transfiguração do Senhor, os apóstolos testemunharam antecipadamente alguma coisa dos mistérios de Deus. Algo profundamente diverso da natureza humana, pois nascido direto da glória de Deus. Algo muito limitado da Visão Beatífica, posto que deveria atender sentidos humanos: 'nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais passou pelo pensamento do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam (1 Cor 2, 9). Ainda assim, algo tão extraordinário e consolador, que perturbou completamente aqueles homens e, ao mesmo tempo, os moldou definitivamente na certeza da vitória e da ressurreição de Cristo.

'Apareceram-lhe Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus' (Mc 9, 4). A revelação da glória de Deus é atestada pela Lei e pelos Profetas, pelo Senhor da vida e da morte, pelos textos das Sagradas Escrituras. Naquele momento, se fecha a Lei e a morte (com Moisés) e se cumprem todas as profecias e se impõe a vida eterna em Deus (com Elias, que ainda vive). E, para não se ter dúvida alguma, Deus se pronuncia no Alto do Tabor em favor do Filho: 'Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!' (Mc 9, 7).

Do alto do Tabor, a ordem divina ecoa pelos tempos e pelas gerações humanas a todos nós, transfigurados na glória de Deus pelo batismo e herdeiros do Tabor eterno: 'Escutai o que ele diz!'. Como batizados, somos como os apóstolos descidos do monte e novamente envoltos pelas brumas e incredulidades do mundo. Pela transfiguração, entretanto, somos encorajados a vencer o mundo como Cristo, a superar a fragilidade de nossos sentidos, a elevarmos nosso pensamento às coisas do Alto, a manifestar em nós a glória de Deus como primícias do Céu, sob o consolo da fortaleza e da perseverança: 'Se Deus é por nós, quem será contra nós?' (Rm 8, 31b).

sábado, 24 de fevereiro de 2018

OS TRÊS FRUTOS RUINS DA CF 2018

A Campanha da Fraternidade de 2018 tem como tema 'Fraternidade e Superação da Violência'. Não há dúvida alguma da relevância do tema e da sua inserção direta no conjunto dos problemas sociais mais graves da atual realidade do Brasil. Mas, muito provavelmente, vai ter o mesmo destino das outras recentes campanhas da fraternidade no Brasil: muito barulho por nada. Por um motivo muito simples: a CNBB há décadas abriu mão de sua atuação social primária de evangelização pela aventura de praticar proselitismo político e ideologia partidária pura e simples, com resultados pífios em termos de evangelização. Um exemplo disso é que este tema permeou a CF de 2009 - 'Fraternidade e Segurança Pública' e, no entanto, de lá para cá, a escalada da violência só se fez aumentar exponencialmente e, então, pelos frutos, podemos avaliar que a árvore plantada foi ruim (Mt 7, 17).

Três aspectos específicos permitem inferir este comprometimento de resultados da CF 2018, baseados em três grandes equívocos assumidos pela CNBB, tomados como premissas no texto-base da campanha e impostos aos católicos em geral como verdades absolutas. 

O primeiro equívoco da CNBB é se alinhar tacitamente à política do desarmamento por desconhecer um conceito essencial subjacente aos temas da segurança pública e do combate à violência: o chamado princípio da subsidiariedade. A prevenção à violência deve começar pelo cidadão, que pode e deve tomar todas e quaisquer medidas em relação à sua proteção pessoal, de sua família, de sua casa, seja instalando fechaduras eletrônicas na porta da casa, câmeras de vigilância, muros altos ou adotando práticas de defesa pessoal. Somente após exauridas estas iniciativas no âmbito privado, o cidadão deve estar submetido ao controle de políticas públicas de segurança, em que o estado passaria a intervir somente onde os limites da segurança privada (principalmente por limitações financeiras) foram ultrapassados. Caso contrário, por mais policiais treinados e ainda que muito bem remunerados, a polícia seria sempre uma minoria da minoria e a violência assumiria um ônus incontrolável.

O segundo equívoco está na sustentação irresponsável de uma manutenção da maioridade penal nos termos atuais que, acobertada pela vitimização e estatutos infames, alimenta o fogo da violência com gasolina. É estarrecedor eximir de responsabilidades os 'menores de idade' como artífices da violência cotidiana quando a própria Igreja Católica defende e assume que adolescentes com 15 ou 16 anos têm plena consciência para definir e ratificar a sua fé católica pelo sacramento da Crisma. A CNBB neste caso não tem dois pesos e duas medidas; ela não tem ponderação alguma quando se inclina diante de ideologias estranhas à fé católica.

O terceiro equívoco da CF 2018 da CNBB é generalizar e subverter ao mesmo tempo o conceito de violência. O texto-base buscou ser bastante eclético neste sentido: lá se faz referência à violência urbana, à violência contra a mulher, a violência de gênero (!), a violência doméstica, a violência no trânsito, a violência das drogas... Mas a principal forma de violência não está lá no texto-base da CF 2018. É a violência incomensurável que resulta da perda e da omissão de uma verdadeira e segura orientação espiritual que deveria ser dada aos fieis católicos neste tempo especial, subjugada por uma avalanche de temas sociais nada doutrinários, que corrompem os bons costumes, imprimem a tibieza, alicerçam o indiferentismo religioso e roubam às centenas, e dezenas de vezes mais, ovelhas do rebanho de Cristo: 'É possível alguém colher uvas de um espinheiro ou figos das ervas daninhas?' (Mt 7, 16).