quinta-feira, 31 de agosto de 2017

A CONVERSÃO QUE NÃO VAI CHEGAR NUNCA

I. Não morre como justo senão quem vive como justo

Preciosa é a morte do justo! Morre Estêvão, primeiro dos mártires, cheio do Espírito Santo; e vê os Céus abertos e Jesus sentado à direita de Deus. Morre com a alegria mais serena no espírito: 'Senhor Jesus, recebei o meu espírito'. 

Quem é que não deseja ter a morte dos justos? 'Que eu morra da morte dos justos' (Nm 23, 10), disse até aquele que depois morreu como ímpio. E, todavia dizem, e desejam incessantemente morrer como justos aqueles que porém querem viver como ímpios. Mas é vão este seu desejo: 'o desejo dos ímpios perecerá' (Sl 111, 10). Não morre como justo senão quem vive como justo. Não morre como santo senão quem vive como santo. Quem vive mal, morre mal; quem vive em pecado morre em pecado.

Sei o que me quererei opor, ó pecadores: que espereis morrer bem embora agora vivais mal, porque quereis converter-vos no momento da morte. Vãs esperanças; na morte vós não vos convertereis. Vós podeis morrer repentinamente, como em nossos dias muitos morrem. Mas eu quero que vós tenhais todo o tempo. E não obstante, vos provo que não vos convertereis. Tenhais toda a oportunidade de sacerdotes entendidos que vos ajudam; vós não vos convertereis.

II. Quem não quer converter-se agora não se converterá nem mesmo nas últimas

E por primeiro vós não vos convertereis, porque não quereis converter-vos. Parecerá talvez a vós que desde o princípio eu saia do caminho tendo de falar com tais pecadores que querem converter-se na hora da morte. Sei muito bem que vós quereis converter-vos então; mas sei ainda que vós não quereis converter-vos agora. Portanto eu deduzo: não quereis usar bem do tempo nem mesmo nos extremos.

Quem não conhece a força prodigiosa dos hábitos, radicados profundamente para inclinar e arrastar irreversivelmente a vontade aos atos convenientes a ele? Vós, resistindo agora aos convites da graça tão frequentes, aliás, contínuos, habituais o vosso coração a uma dureza, que multiplicada por alguns dias, e agravada incomensuravelmente por tantos anos, no momento da morte se encontrará ter chegado a um grau de aumento realmente monstruoso; de modo que se agora o vosso coração é duro, então será duríssimo. Como pois o quereis romper, como dobrar, como amolecer?

Não é esta simples conjectura, quando o Espírito Santo ajuntar sua sentença. É verdade irrefutável: 'O coração empedernido acabará por ser infeliz' (Eclo 3, 27). Um coração duro, como usa mal do tempo agora, assim o usará mal também. Continuará na sua obstinação, na sua dureza: 'acabará por ser infeliz'. Atingido por tantas dores, por tantas angústias, por tantas tribulações, poderá sim blasfemar; humilhar-se, compungir-se, converter-se, não. 'Acabará por ser infeliz': fará mal até o último instante.

Quantos não morreram em nossos dias como cães! Não são conjecturas estas, são fatos. Não são fatos acontecidos somente no passado; neste tempo tão depravado, veem-se acontecer quase diariamente. Batidos, afligidos, angustiados pelos males - diz a Escritura - estrebucham, retorcem-se horrivelmente mais que mares agitados; e longe de fazer penitência para dar glória a Deus, blasfemam o Altíssimo que com tanto poder os flagela. 'E blasfemaram o nome do Deus Todo-Poderoso sobre estas pragas, e não fizeram penitência para dar-lhe glória e 'E comem sua língua pelas dores'. E tornam a blasfemar o Deus do céu. 'E blasfemaram o Deus do céu pelas suas dores e feridas'. Não se convencem nem mesmo nas últimas, de arrepender-se de tanta iniquidade; 'e não fizeram penitência pelas suas obras' (Ap 16, 9-11).

III. No momento da morte não podereis converter-vos porque não estais em condições de fazê-lo.

Mas vamos! Quero a todo custo o vosso bem. Tendes não só todo o tempo e toda oportunidade, mas mais ainda, todo o desejo de converter-se, como desejais tê-lo então? Será vã a vossa vontade, porque então não podereis. Como? Oh! Deus! Você então nos desespera? Não; antes quero que previnais o perigo de desesperar-vos não deixando para aquele momento a vossa conversão, mas fazendo logo, aquilo que não podereis então.

De fato, dizei-me, por favor: se uma dor de cabeça, uma dor de dentes, que depois de alguns dias passa, vos abate e vos ocupa a mente que não podeis pensar em outra coisa, nem fazer algo senão sentir vosso desgosto e padecer; que farão as dores e os espasmos da morte? Com as forças exauridas, nada, com o corpo arruinado, se não podeis ser aptos à menos ação, como o sereis à maior cheia de enormes dificuldades que é converter-se num momento de uma vida má e acostumada durante tantos anos ao mal? Se os próprios bons, quando a doença se agrava, se encontram incapazes, e são acostumados sempre a orar, a fazer atos de contrição, de esperança, de amor; e apesar disso sentem então grande dificuldade; como não a sentirão maior e insuperáveis os pecadores, habituados sempre ao mal e sem nenhum exercício ao bem?

A fantasia agitada, escurecida, estranhamente alterada, não apresentará ao intelecto senão imagens de terror, fantasmas de confusão, visões medrosas de objetos estragados e desfigurados. A apreensão do juízo iminente e da eternidade próxima, os atrocíssimos remorsos de consciência que farão ver o pecado muito diferente daquele que parecia durante a vida; porque aqui se via quase como um cãozinho festivo que se acaricia nos braços, e lá aparecerá como uma enorme serpente ou como um dragão poderosíssimo e venenoso.

O demônio que andará à roda com grandíssima raiva para devorar, como diz São Pedro (1Pd 5, 8-9), duplicará suas tentações, apertará o cerco, se esforçará com os assaltos para fazer desesperar; farão chegar aos últimos degraus o temor, o espanto, a consternação. O temor, quando é moderado - diz São Tomás - torna os homens solícitos para consultar e agir; mas quando se torna excessivo, tolhe de fato não só a ação, mas também o pensamento (São Tomás, I - II, q. 44, a. 4 c.). Imaginai o que fará então aquele temor que é levado ao mais alto grau, isto é, à agonia.

IV. Exemplo

Ouvi da própria boca do Pontífice São Gregório Magno um fato horrível de ser ouvido, acontecido na sua época, não só, mas em Roma, debaixo dos seus olhos, no seu próprio mosteiro, poucos anos antes que ele o narrasse ao povo romano em uma homilia, e o tornasse conhecido a todo o mundo cristão registrando-o nos seus Diálogos. Assim diz o Santo: 

'Houve um certo Teodoro, jovem muito inquieto, que mais por necessidade que por vontade veio seguindo um seu irmão ao meu mosteiro. Ele afirmava com juramento, com raiva, com escárnio que por si não chegaria jamais ao hábito da santa conversação. Agora no meio daquela pestilência que logo consumiu uma grande parte da população desta cidade, atingido pelo mal ele mesmo, chegou à morte. E estando para dar o último suspiro, reuniram-se os irmãos para proteger com a oração o seu pensamento. Nas extremidades do corpo já estava morto; somente no peito ainda continuava o desejo de calor vital. Começaram, portanto, os irmãos a reforçar as preces, quando já o viam partir a qualquer momento. 

De repente começou ele a gritar aos confrades assistentes e a interromper com grandes gritos suas orações dizendo: 'ide embora, ide embora daqui. Eis que eu fui dado para ser devorado por um dragão, que não acaba de devorar-me. Já absorveu minha cabeça na sua boca. Que se faça logo, para que eu não sofra mais aquilo que se é para fazer. Se fui entregue a ele, que me devore; porque vós me fazeis sofrer demora tão amarga?'

Então os irmãos começaram a dizer-lhe: 'Irmão, o que é isto? Faça o sinal da Santa Cruz. Mas ele respondia com gritos agudos: 'Sim eu quero persignar-me, mas não posso. As escamas deste dragão me oprime, não posso, não posso'. Oh! Deus! Pecador, pecadora, que estais aqui para ouvir estas coisas e outras acontecidas, cuidai, cuidai. Que não aconteçam para vós, que tenhais que gritar por desespero: 'Não posso, não posso!' E certamente vos acontecerá não poder então, se agora, quando podeis, não quereis.

V. Aquele que não quis fazer bem quando podia, não encontrará possibilidade de fazê-lo quando quiser

Mas concedamos por último que vós, tendo todos os sentidos livres, possais também valer-vos dos auxílios que Deus possa dar-vos naqueles extremos instantes para converter-vos. O mais terrível, será se vós não o tiverdes; e se os tiverdes suficientes, não os tereis eficazes, porque Deus não vo-los fará; e por isso não vos convertereis.

Deus mesmo protesta não querer dá-los a vós. 'Eu vos chamei' - diz Ele - 'tantas vezes nesta vida e vós não me quisestes responder' (Jr 7, 13). Eu vos procuro e vos persigo amorosamente com a minha graça; e vós fugis sempre mais longe. Pois bem virá o tempo, virá a morte. 'Procurar-me-eis; naquele momento procurareis a mim; e não me encontrareis' (Jo 7 34, 36), 'morrereis no vosso pecado' (Id 8, 21). 'Levantem-se para dar-vos auxílio e defender-vos aqueles amigos que para agradá-los não duvidastes ofender-me. Levantem-se para proteger-vos aquelas criaturas em que colocastes o vosso afeto, vossas esperanças, vosso coração, tirando-o ingratamente de mim que o pedia: Levantem-se para vos socorrer (Dt 32, 38). Eu fecharei meus ouvidos aos vossos clamores; não mais me deixarei encontrar naquele dia; encherei o meu templo de fumaça pela majestade e pelo poder da minha justiça, a fim de que nenhum santo possa ir e interceder por vós até que não seja consumada a minha vingança' (Ap 15, 8).

Mas então o senhor não é misericordioso? Sim, irmãos, mas Ele é também justo. Como misericordioso vos procura, vos espera, vos promete perdão agora; como justo fugirá de vós, vos repelirá, vingar-se-á até a morte de um abuso tão longo que vós fizestes das suas misericórdias. Como misericordioso vos faz exortar agora: 'porque não se alegra com a perdição dos ímpios, nem quer a morte do pecador, mas que se converta e viva' (Ez 33, 11).

Como justo vos deixará abandonados ao vosso desespero, ou endurecidos na vossa cegueira ir até a perdição e morrer eternamente, porque se compraz da sua justiça: 'Porque o Senhor é justo e ama a justiça' (Sl 10, 18). Como antes pela sua misericórdia, alegrou-se o Senhor sobre vós fazendo-vos o bem e multiplicando sobre vós suas graças; assim pela sua justiça se alegrará em perder-vos, em destruir-vos para tirar-vos de fato da posse daquela terra feliz de alegria e de repouso eterno, em que, estando com os pés na soleira, vos confiareis em vão colocar os pés. Concluo com Santo Agostinho: 'Esta pena é justíssima com aquele que não quis fazer o bem quando podia, não encontre mais possibilidade de fazê-lo quando quiser'.

VI. Apressar a conversão

Se vã é a ilusão de morrer bem para o pecador que não quer converter-se logo enquanto está são e tem todos os meios oportunos, daí segue que vós não deveis deixar escapar da mão a ocasião favorável destes dias de graça e de reconciliação, para colocar vossa alma na amizade com Deus, e assegurar a vossa salvação. Portanto entendereis porque eu quis entristecer-vos com um arrazoado sobre a morte; porque eu olhei mais ao útil, antes à necessidade de alguns, que ao agrado, embora santo, de muitos e à minha própria inclinação. 

O que adianta, irmãos caríssimos, que vos digamos coisas bonitas se muitos de vós permaneçam em pecado mortal? E perseverem nas suas práticas? Nas suas dissoluções? Nas suas iniquidades? Vêm à igreja e à pregação pecadores, e depois voltam a pecar. Vêm às santas solenidades com pecado na alma e com ele continuam depois. Oh! Deus! E depois querem fazer uma boa morte? Engano, presunção, audácia detestável.

Ah! irmãos, acolhei esta luz que vos deram minhas palavras, e que eu por vós implore do nosso Pai que está nos céus com toda a instância do meu coração. Levantai-vos das trevas! 'Levantai-vos do sono agora que está próxima a vossa salvação' (Rm 13, 11). Não percais tempo. Chorai, parti o vosso coração endurecido com uma salutar contrição. Resolvei mudar estavelmente de vida, mas logo, neste mesmo instante. Confessai vosso pecado; mas o mais depressa! Empreendei, fugi da má morte, já próxima de vós de modo que começa a cobrir-vos com a sua sombra; assegurai-vos antes que consiga colocar sobre vós suas gélidas mãos. Pois então não tereis mais salvação; mas perecerão eternamente convosco todos os vossos bons desejos jamais conseguidos, por vossa culpa, com efeito.

(Excertos da obra 'Páginas de Vida Cristã', do Pe. Gaspar Bertoni)

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

TESTEMUNHAS DE FÁTIMA: A DATA DA REVELAÇÃO

O SEGREDO DEVE SER REVELADO EM 1960!

Cônego Galamba: 'Quando o bispo recusou-se a abrir a carta, Lúcia fê-lo prometer que seria aberta definitivamente e lida ao mundo após a sua morte ou em 1960, o que ocorresse primeiro' (A Verdade sobre o Segredo de Fátima, Pe. Joaquim Alonso, p. 46-47).

John Haffert: 'Na casa do bispo (em Leiria), à mesa, sentei-me à sua direita, com os quatro cônegos. Durante essa primeira cena, o cônego José Galamba de Oliveira dirigiu-se a mim quando o bispo saiu do quarto por um momento e me perguntou: ‘Por que não dizes ao bispo para abrir o Segredo?’ Cuidando de não mostrar minha ignorância acerca de Fátima ― que naquela época era quase completa ― simplesmente olhei para ele sem expressão. Ele continuou: ‘O bispo pode abrir o Segredo. Ele não necessita esperar até 1960’ (Dear Bishop!, John Haffer, AMI 1981, p. 3-4).

Cardeal Cerejeira: Em fevereiro de 1960, o patriarca de Lisboa relatou as instruções que o bispo de Leiria 'lhe havia dado' sobre o assunto do Terceiro Segredo: 'O bispo da Silva fechou (o envelope lacrado por Lúcia) dentro de outro envelope sobre o qual indicava que a carta teria de ser aberta em 1960 pelo mesmo bispo José Correia da Silva, caso ele ainda estivesse vivo, e em caso contrário, pelo patriarca cardeal de Lisboa' (Novidades, 24 de fevereiro de 1960, citado por La Documentation Catholique, 19 de Junho de 1960, col. 751).

Cônego Barthas: Durante a sua conversa com a Irmã Lúcia entre 17 e 18 de outubro de 1946, ele teve a oportunidade de perguntar-lhe sobre o Terceiro Segredo. Ele escreve: 'Quando nos será revelada a terceira parte do segredo?' Já em 1946, responderam-me de maneira uniforme ― Lúcia e o bispo de Leiria ― a esta pergunta, sem duvidar e sem comentário: 'Em 1960'. E quando levei a minha audácia tão longe ao ponto de perguntar sobre o porquê de ser necessário esperar até lá, a única resposta que recebi de ambos foi: 'Porque a Santíssima Virgem deseja que assim o seja'. (Barthas - Fátima, merveille du XXe siecle, p. 83, Fatima-editions, 1952).

Armstrongs: Em 14 de maio de 1953, Lúcia recebeu uma visita dos Armstrongs, que puderam fazer-lhe perguntas sobre o Terceiro Segredo. No seu relato, publicado em 1955, eles confirmaram que o Terceiro Segredo 'teria de ser aberto e divulgado em 1960' (A. O. Armstrong, Fátima, peregrinação à paz, Ed. inglesa, The World’s Work, Kingswood, Surrey, 1955).

Cardeal Ottaviani: Em 17 de maio de 1955, o cardeal Ottaviani, pró-prefeito do Santo Ofício, visitou as carmelitas de Santa Teresa em Coimbra. Ele interrogou a Irmã Lúcia sobre o Terceiro Segredo; e em sua conferência de 1967 recordou: 'A mensagem não deveria ser aberta antes de 1960. Eu perguntei à Irmã Lúcia: Por que esta data? Ela respondeu: Porque será mais claro nessa altura' (La Documentation Catholique, 19 de março de 1967, col. 542).

Padre Joaquim Alonso, arquivista oficial de Fátima: 'Outros bispos também falaram ― e com autoridade ― sobre o ano 1960 como sendo a data indicada para abrir a famosa carta. Assim que, quando então o bispo titular de Tiava e bispo auxiliar de Lisboa perguntou a Lúcia quando deveria ser aberto o Segredo, foi-lhe dada sempre a mesma resposta: em 1960' (A Verdade sobre o Segredo de Fátima, Pe. Joaquim Alonso, p. 46).

Padre Joaquim Alonso: 'Quando Dom José, o primeiro bispo de Leiria, e a Irmã Lúcia acordaram que a carta deveria ser aberta em 1960, eles quiseram obviamente dizer que o seu conteúdo deveria ser tornado público para o bem da Igreja e do mundo' (ibid., p. 54).

Bispo Venâncio: 'Eu penso que a carta não será aberta antes de 1960. A Irmã Lúcia pediu que não fosse aberta antes da sua morte, ou antes de 1960. Estamos já em 1959 e a Irmã Lúcia goza de boa saúde' (A Verdade sobre o Segredo de Fátima, Pe. Joaquim Alonso, p. 46).

Padre Fuentes: Em 26 de dezembro de 1957, o Padre Fuentes entrevistou a Irmã Lúcia, que lhe disse: 'Padre, a Santíssima Virgem está muito triste, porque ninguém faz caso da sua Mensagem, nem os bons nem os maus. Os bons continuam os seus caminhos, mas sem dar importância alguma à sua Mensagem… Não posso detalhar mais, uma vez que é ainda um segredo. Por vontade da Santíssima Virgem, só pode ser conhecido pelo Santo Padre e pelo Senhor Bispo de Fátima – mas nem um nem outro o quiseram ler, para não se deixarem influenciar. Esta é a parte da mensagem [do Terceiro Segredo] da Nossa Senhora que irá permanecer em segredo até 1960'. (A Verdade sobre o Segredo de Fátima, Pe. Joaquim Alonso, p. 103-104).

F. Stein: 'Os testemunhos que têm anunciado a revelação do Segredo para 1960 são de peso tal e tão numerosos que, em nossa opinião, mesmo que as autoridades eclesiásticas de Fátima [em 1959, os próprios estudiosos do assunto estavam ainda na ignorância de que Roma havia pedido ao bispo de Leiria que lhes enviasse o segredo] não se resolvam a publicar o segredo em 1960, eles ver-se-ão forçados a fazê-lo pelas circunstâncias'. (Mensagem de Fátima, julho - agosto, 1959).

Padre Dias Coelho: '… nós podemos servirmo-nos, como um fato inquestionável, desta afirmação do Dr. Galamba de Oliveira (em 1953) em Fátima, Altar do Mundo: A terceira parte do Segredo foi lacrada nas mãos de Sua Excelência, o bispo de Leiria, e será aberta, ou depois da morte da vidente, ou no mais tardar em 1960' (L'Homme Nouveau, no. 269, 22 de novembro de 1959).

terça-feira, 29 de agosto de 2017

29 DE AGOSTO - MARTÍRIO DE SÃO JOÃO BATISTA


Ilustre precursor da graça e mensageiro da verdade, João Batista, tocha de Cristo, torna-se evangelista da Luz Eterna.

O testemunho profético que não cessou de dar com a sua mensagem, com toda a sua vida e a sua atividade, assinala-o hoje com o seu sangue e o seu martírio.


Sempre tinha precedido o Mestre: ao nascer, anunciara a sua vinda a este mundo.

Ao batizar os penitentes do Jordão, tinha prefigurado Aquele que vinha instituir o seu batismo.


E a morte de Cristo redentor, seu Salvador, que deu a vida ao mundo, também João Batista a viveu antecipadamente, derramando o seu sangue por Ele, por amor.


Bem pode um tirano cruel metê-lo na prisão e a ferros; em Cristo, as correntes não conseguem prender aquele que um coração livre abre para o Reino.

Como poderiam a escuridão e as torturas de um cárcere sombrio dominar aquele que vê a glória de Cristo, e que recebe Dele os dons do Espírito?

Voluntariamente oferece a cabeça ao gládio do carrasco; como pode perder a cabeça aquele que tem a Cristo por seu chefe?

Hoje sente-se feliz por completar o seu papel de Precursor com a sua partida deste mundo.


Aquele de quem dera testemunho em vida, Cristo que vem e que já aqui está, hoje proclama a sua morte.

Poderia a mansão dos mortos reter esta mensagem que lhe foge?


Alegram-se os justos, os profetas e os mártires, que com ele vão ao encontro do Salvador.

Todos eles rodeiam João com amor e louvores. E com ele suplicam a Cristo que venha finalmente ter com os seus.

Ó grande Precursor do Redentor, Ele não tarda, Aquele que te libertará para sempre da morte.

Conduzido pelo teu Senhor, entra na glória com os santos!

('Hino ao Martírio de São João Batista', de São Beda, o Venerável, Doutor da Igreja, 673 - 735)

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

28 DE AGOSTO: SANTO AGOSTINHO DE HIPONA


"...Inquieto está o nosso coração enquanto não repousar em Ti."

Dia 28 de agosto é a festa de um dos grandes santos da Igreja, um dos fundadores da chamada Patrística (a fase inicial da formação da Teologia Cristã e seus dogmas). Santo Agostinho nasceu a 13 de novembro de 354, na pequena cidade de Tagaste, perto de Hipona, na Numídia (atual Argélia), filho de Patrício e Mônica (santa da Igreja Católica, cuja festa é celebrada em 27 de agosto). Da vida promíscua ao desvario da sua inclusão em seitas maniqueístas, Santo Agostinho experimentou desde a indiferença até a descrença completa nas coisas de Deus. A resposta da sua mãe, profundamente dolorosa diante a perspectiva da perda eterna da alma do filho amado, foi sempre a mesma: oração, oração, oração! E a conversão de Agostinho foi lenta e profunda: no ano de 382, em Milão, então com 32 anos de idade, o santo foi finalmente batizado, junto com um amigo e o seu filho Adeodato (que morreria pouco tempo depois) por Santo Ambrósio. E que conversão! Sobre o tapete dos pecados passados, da vida desregrada da juventude (que descreveria com imenso desgosto em sua obra máxima ‘Confissões’), nasceria um santo dedicado por inteiro à glória de Deus, pregando como sacerdote e, mais tarde, como bispo de Hipona, que a verdadeira fonte da santidade nasce, renasce e se fortalece na humildade. Combateu com tal veemência as diversas frentes de heresias do seu tempo, incluindo o arianismo e o maniqueísmo, que foi alcunhado de Escudo da Fé e Martelo dos Hereges. Santo Agostinho, Doutor da Igreja e Defensor da Graça, morreu em 28 de agosto de 430, aos 76 anos de idade.

Excertos da Obra: 'Confissões', de Santo Agostinho:

'Amo-te, Senhor, com uma consciência não vacilante, mas firme. Feriste o meu coração com a tua palavra, e eu amei-te. Mas eis que o céu, e a terra, e todas as coisas que neles existem me dizem a mim, por toda a parte, que te ame, e não cessam de o dizer a todos os homens, de tal modo que eles não têm desculpa. Tu, porém, compadecer-te-ás mais profundamente de quem te compadeceres,e concederás a tua misericórdia àquele para quem fores misericordioso: de outra forma, é para surdos que o céu e a terra entoam os teus louvores. Mas que amo eu, quando te amo? Não a beleza do corpo, nem a glória do tempo, nem esta claridade da luz, tão amável a meus olhos, não as doces melodias de todo o gênero de canções, não a fragrância das flores, e dos perfumes, e dos aromas, não o maná e o mel, não os membros agradáveis aos abraços da carne. Não é isto o que eu amo, quando amo o meu Deus, E, no entanto, amo uma certa luz, e uma certa voz, e um certo perfume, e um certo alimento, e um certo abraço, quando amo o meu Deus, luz, voz, perfume, alimento, abraço do homem interior que há em mim, onde brilha para a minha alma o que não ocupa lugar, e onde ressoa o que o tempo não rouba, e onde exala perfume o que o vento não dissipa, e onde dá sabor o que a sofreguidão não diminui, e onde se une o que o que a saciedade não separa. Isto é o que eu amo, quando amo o meu Deus'.

'Aterrorizado com os meus pecados e com o peso da minha miséria, tinha considerado e meditado no meu coração fugir para a solidão, mas tu proibiste-me e encorajaste-me, dizendo: Cristo morreu por todos, a fim de que os que vivem já não vivam para si, mas para aquele que morreu por eles. Eis, Senhor, que eu lanço em ti a minha inquietação, a fim de que viva, e considerarei as maravilhas da tua Lei. Tu conheces a minha incapacidade e a minha fragilidade: ensina-me e cura-me. O teu Unigênito, em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência, redimiu-me com o seu sangue. Não me caluniem os soberbos, porque penso no preço da minha redenção, e como, e bebo, e distribuo, e, pobre, desejo saciar-me dele entre aqueles que dele se alimentam e saciam: e louvam o Senhor aqueles que o procuram'.

domingo, 27 de agosto de 2017

'E VÓS, QUEM DIZEIS QUE EU SOU?'

Páginas do Evangelho - Vigésimo Primeiro Domingo do Tempo Comum


Num dado dia, na 'região da Cesareia de Felipe', Jesus revelou a seus discípulos, num mesmo momento, a sua própria identidade divina e o primado da Igreja. Neste tesouro das grandes revelações divinas, o apóstolo Pedro será contemplado, neste dia, por privilégios extraordinários: seu ato humano de fé perfeita será convertido por Cristo na pedra angular da qual nascerá a Santa Igreja.

Nesta ocasião, as mensagens e as pregações públicas de Jesus estavam consolidadas; os milagres e os poderes sobrenaturais do Senhor eram de conhecimento generalizado no mundo hebraico; multidões acorriam para ver e ouvir o Mestre, dominados pela falsa expectativa de encontrar um personagem mítico e um Messias dominador do mundo. Então, Jesus retira-se para um lugar isolado, afastando-se do júbilo fácil do mundo e das multidões errantes, que O tomam por João Batista, por Elias, por um dos antigos profetas. E se aproxima intimamente daqueles que haverão de ser os primeiros apóstolos da Igreja nascente, compartilhando-lhes na pergunta do juízo de fé: 'E vós, quem dizeis que eu sou?' (Mt 16, 15). A resposta de Pedro é um símbolo da confissão perfeita da sua fé: 'Tu és o Messias, o Filho do Deus Vivo' (Mt 16, 16).

Sim, Jesus Cristo é o Filho de Deus Vivo: Deus feito homem na eternidade de Deus. A missão salvífica de Jesus há de passar não por um triunfo de epopeias mundanas, mas por um tributo de Paixão, Morte e Ressurreição; não pelo manejo da espada ou por eventos feitos de glórias humanas, mas pela humildade, perseverança e um legado de Cruz. A Cruz de Cristo é o caminho da nossa salvação e da vida eterna, ontem e sempre. Por isso, a mesma pergunta se impõe a todos os homens, de todos os tempos: quem é Jesus para nós, o Filho de Deus Vivo da confissão de Pedro ou um arauto de nossas próprias incertezas, refeito sob a ótica dos interesses humanos?

Em resposta ao apóstolo fiel, Jesus vai oferecer a Pedro as primícias do papado e o primado da Igreja, como privilégio da glória, poder e realeza de Cristo: 'Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la' (Mt 16, 17 - 18). E Jesus vai declarar em seguida o poder universal e sobrenatural da Santa Igreja Católica Apostólica e Romana: 'Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra será desligado nos céus' (Mt 16, 19). Ligado ou desligado. Poder absoluto, domínio universal, primado da verdade, Cátedra de Pedro. Na terra árida de algum ermo qualquer da 'Cesareia de Felipe', erigiu-se naquele dia, pela Vontade Divina, nas sementeiras da humanidade pecadora, a Santa Igreja, a Videira Eterna.

sábado, 26 de agosto de 2017

SOBRE AS VIRTUDES MORAIS

Introdução 

Para compreender como deve ser o funcionamento do organismo espiritual, é importante saber distinguir, em relação às virtudes teologais, quais são as virtudes morais adquiridas, já descritas pelos moralistas da antiguidade pagã e que podem existir sem o estado de graça, das virtudes morais infusas, ignoradas dos moralistas pagãos e descritas no Evangelho. 

As primeiras, como seu nome indica, adquirem-se pela repetição dos atos sob a direção da razão natural mais ou menos desenvolvida. As segundas são ditas infusas, porque somente Deus pode produzi-las em nós; não são o resultado da repetição de nossos atos: recebemo-las no batismo, como partes do organismo espiritual e, se tivermos a infelicidade de perdê-las, a absolvição no-las restitui. As virtudes morais adquiridas, conhecidas dos pagãos, possuem um objeto acessível à razão natural; as virtudes morais infusas possuem um objeto essencialmente sobrenatural, proporcionado ao nosso fim sobrenatural, que seria inacessível sem a fé infusa na vida eterna, na gravidade do pecado, no valor redentor da Paixão do Salvador, no penhor da graça e dos sacramentos. 

Com relação à vida interior, falaremos primeiramente das virtudes morais adquiridas, depois das virtudes morais infusas e, enfim, das relações de umas com outras.

As virtudes morais adquiridas 

Elevemo-nos progressivamente dos graus inferiores da moralidade natural àqueles da moralidade sobrenatural. Notemos de início, com Santo Tomás, que no homem em estado de pecado mortal costumamos encontrar falsas virtudes, como a temperança no ávaro; ele a pratica não por amor do bem honesto e razoável, não para viver segundo a reta razão, mas por amor deste bem útil que é o dinheiro. Do mesmo modo, se paga suas dívidas, é antes para evitar os aborrecimentos dum processo do que por amor à justiça. Acima dessas falsas virtudes, não é impossível encontrar, mesmo no homem em estado de pecado mortal, verdadeiras virtudes morais adquiridas. Muitos praticam a sobriedade para viver razoavelmente e, pelo mesmo motivo, pagam suas dívidas e fornecem alguns bons princípios aos seus filhos. 

Mas, enquanto o homem permanece em estado de pecado mortal, as verdadeiras virtudes encontram-se em estado de disposição pouco estável (in statu dispositionis facile mobilis), não estão ainda em estado de sólida virtude (difficile mobilis). Por que? Porque enquanto o homem estiver em estado de pecado mortal, sua vontade está habitualmente desviada de Deus; em vez de amá-lO acima de tudo, o pecador se ama a si mais que a Deus, donde a grande fraqueza para realizar o bem moral, mesmo o de ordem natural. 

...

Por conseguinte, para que as verdadeiras virtudes adquiridas não estejam tão-somente em estado de disposição pouco estável, mas em estado de virtude já sólida (in status virtutis), faz-se mister que estejam conexas e, por isso, que o homem não mais esteja em estado de pecado mortal, mas que sua vontade esteja retificada quanto ao fim último. Convém que ame a Deus mais que a si ― se não um amor sentido, pelo menos um amor de estima, real e eficaz. E isso não é possível sem o estado de graça e a caridade. 

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As virtudes morais infusas 

As virtudes morais adquiridas, das quais falamos, bastam, sob a influência da caridade, para constituir o organismo espiritual das virtudes nos cristãos? É necessário que recebamos virtudes morais infusas? O catecismo do Concílio de Trento, em conformidade à Tradição e à decisão do papa Clemente V no Concílio de Viena, a propósito do batismo e seus efeitos, responde: 'A graça (santificante), que o batismo comunica, é acompanhada do glorioso cortejo de todas as virtudes que, por um dom especial de Deus, penetram na alma ao mesmo tempo que esta'. É um admirável efeito da Paixão do Salvador, que se nos aplica pelo sacramento da regeneração. 

Nisso se manifesta grandíssima conveniência, destacada bem a propósito por Santo Tomás. É mister, salienta ele, que os meios sejam proporcionados ao fim. Ora, pelas virtudes teologais infusas somos elevados e retificados quanto ao fim último sobrenatural. Convém, pois, grandemente que sejamos elevados e retificados pelas virtudes morais infusas quanto aos meios sobrenaturais capazes de nos conduzir ao fim sobrenatural. 

Às nossas necessidades, Deus não proveria menos na ordem da graça do que naquela da natureza. Se nessa última Ele nos deu a capacidade de vir a praticar as virtudes morais adquiridas, convém grandemente que, na ordem da graça, dê-nos as virtudes morais infusas. As virtudes morais adquiridas não bastam ao cristão para que ele queira como convém os meios sobrenaturais ordenados à vida eterna. Há, de fato, diz Santo Tomás, uma diferença essencial entre a temperança adquirida, já descrita pelos moralistas pagãos, e a temperança cristã, da qual fala o Evangelho. Aqui existe uma diferença análoga àquela duma oitava, entre duas notas musicais de mesmo nome, separadas por um intervalo completo. 

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Que diferença entre a modéstia filosófica descrita por Aristóteles e a humildade cristã, que pressupõe o conhecimento dos dois dogmas da criação ex nihilo e da necessidade da graça atual para o menor passo no caminho da salvação! Que distância entre a virgindade da vestal encarregada de conservar o fogo sagrado e a da virgem cristã, que consagra corpo e coração para Deus, a fim de seguir mais perfeitamente Nosso Senhor Jesus Cristo! 

Essas virtudes morais infusas são a prudência cristã, a justiça, a força, a temperança e aquelas que as acompanham, tais como a docilidade e a humildade. Elas são conexas com a caridade, no sentido de que a caridade ― que nos retifica quanto ao fim último sobrenatural ― não pode existir sem elas, sem esta múltipla retificação quanto aos meios sobrenaturais de salvação. Ademais, aquele que por um pecado mortal perde as virtudes infusas, perde a retificação infusa quanto aos meios proporcionados a esse fim. Contudo, não se segue que perca a fé e a esperança, nem as virtudes adquiridas, mas estas não lhe são mais estáveis e conexas. De fato, quem está em estado de pecado mortal não ama mais a Deus, tendendo, por egoísmo, a faltar até com seus deveres na ordem natural.

Relações entre as virtudes morais infusas e as virtudes morais adquiridas 

Conforme ao que precede, explicaremos as relações dessas virtudes e sua subordinação. Antes de mais nada, a facilidade dos atos virtuosos não é garantida do mesmo modo pelas virtudes morais infusas e pelas virtudes morais adquiridas. As infusas fornecem uma facilidade intrínseca, sem que se exclua os obstáculos extrínsecos, os quais são afastados pela repetição dos atos que engendram as virtudes adquiridas. 

Inteiramo-nos disso facilmente quando, pela absolvição, as virtudes morais infusas, unidas à graça santificante e à caridade, são recebidas por um penitente que, apesar de ter atrição de suas faltas, não possui as virtudes morais adquiridas. É o que acontece, por exemplo, no caso dos que têm o hábito de irritar-se e que vêm confessar-se, com atrição suficiente, para a Páscoa. Pela absolvição recebe, junto com a caridade, as virtudes morais infusas, dentre as quais a temperança. Contudo, não possui a temperança adquirida. A virtude infusa que ele recebe dá-lhe uma como facilidade intrínseca para exercer os atos obrigatórios de sobriedade; mas essa virtude infusa não exclui os obstáculos extrínsecos, que seriam eliminados pela repetição dos atos que engendram a temperança adquirida. Assim, o penitente deve vigiar-se cuidadosamente para evitar as ocasiões que o fariam recair em seu pecado habitual. 

Daí temos que a virtude adquirida da temperança facilita muito o exercício da virtude infusa de mesmo nome. Como isso se dá? Elas operam simultaneamente, de tal modo que a virtude adquirida está subordinada à virtude infusa, como uma disposição favorável. Da mesma forma, num outro domínio, para o artista que toca harpa ou piano, a agilidade dos dedos, adquirida pela repetição dos atos, favorece o exercício da arte musical que está, não só nos dedos, mas na inteligência do artista. Se lhe sobrevier uma paralisia, ele perde toda agilidade dos dedos, não podendo mais exercer sua arte, devido a um obstáculo extrínseco. Todavia, sua arte permanece em sua inteligência prática, tal como a vemos num músico de gênio vítima de paralisia. Normalmente, ele a possui como duas funções subordinadas que se exercem conjuntamente. O mesmo vale para a virtude adquirida e para a virtude infusa do mesmo nome.

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Notemos enfim que os autores espirituais insistem particularmente, como o Evangelho, em certas virtudes morais que têm ligação mais especial para com Deus, uma afinidade com as virtudes teologais. Ei-las: a religião ou a piedade sólida; a penitência, que presta a Deus o culto e a reparação que Lhe são devidas; a mansidão, unida à paciência; a castidade perfeita, a virgindade e a humildade, virtude fundamental que afasta o orgulho, princípio de todo pecado. A humildade, que nos rebaixa diante Deus para elevar-nos acima da pusilanimidade e do orgulho, e dispor-nos à contemplação das coisas divinas, em união com Deus. Humilibus Deus dat gratiam. É aos humildes que Deus dá Sua graça, tornando-os humildes para cumulá-los. Jesus amava dizer: 'Recebei minha doutrina, pois sou manso e humildade de coração'. Somente Ele, tão assentado em Sua verdade, podia falar em humildade sem perdê-la. 

Essas são as virtudes morais (infusas e adquiridas) que, com as virtudes teologais às quais se subordinam, constituem nosso organismo espiritual. É um conjunto de funções de grande harmonia, ainda que o pecado venial venha meter-lhe, com maior ou menor frequência, falsas notas. Todas as partes de tal organismo espiritual crescem juntas, diz Santo Tomás, como os cinco dedos da mão. É o que prova que não podemos ter uma grande caridade sem possuirmos uma profunda humildade, assim como o galho mais alto de uma árvore se eleva ao céu à medida que sua raiz aprofunda-se cada vez mais no solo. Na vida interior, é preciso garantir que nada venha perturbar a harmonia desse organismo espiritual, como ocorre, infelizmente, com aqueles que, mesmo vivendo em estado de graça, parecem mais ocupados das ciências humanas ou das relações exteriores que do crescimento na fé, na confiança e no amor de Deus. 

(Excertos da obra 'La Vie Spirituelle" do Pe. Garrigou-Lagrange)

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

BREVIÁRIO DIGITAL - ILUSTRAÇÕES DE NADAL (VI)

 Quietem agunt discipuli iubente Christo,postea nauigant trans mare

41. Evangelho (Mt 14. Mc 6. Lc 9. Jo 6): Jesus se afasta da turba para conversar e descansar com os seus discípulos 

Docet, et sanat languidos. Distribuuntur turbae, quasi per contubernia

42. Evangelho (Mt 14. Mc 6. Lc 9. Jo 6): Jesus ensina e cura os doentes e divide a multidão em grupos 

Satiat quinque millia hominum

43. Evangelho (Mt 14. Mc 6. Lc 9. Jo 6): Jesus alimenta 5000 homens

Ambulat super mare IESVS

44. Evangelho (Mt 14. Mc 6. Jo 6): Jesus caminha sobre as águas

Sanatur daemoniacus caecus & mutus

45. Evangelho (Mt 12. Mc 3. Lc 11): A cura de um endemoniado cego e surdo 

 Quaerunt signa a IESV Iudaei

46. Evangelho (Mt 12. Lc 6): Os judeus pedem um sinal a Jesus 


Sanatur Languidus

47. Evangelho (Jo 5): Uma pessoa é curada 

Sanatur hydropicus

48. Evangelho (Lc 14): A cura de um homem hidrópico 

Vocatio ad coenam magnam

49. Evangelho (Lc 14): O convite para o banquete 

Non ascendit ad festum IESVS: quaerunt eum Iudaei

50. Evangelho (Jo 7): Os judeus incitam Jesus mas Ele se recusa a ir para a Judeia