domingo, 28 de maio de 2017

'IDE E FAZEIS DISCÍPULOS MEUS TODOS OS POVOS'

Páginas do Evangelho - Festa Litúrgica da Ascensão do Senhor



Antes de subir aos Céus, Jesus manifesta a seus discípulos (de ontem e de sempre) as bases do verdadeiro apostolado cristão, a ser levado a todos os povos e nações: 'Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! (Mt 28, 18 - 20). Ratificando as mensagens proféticas do Antigo Testamento, Nosso Senhor imprime diretamente no coração humano os sinais da fé sobrenatural e da esperança definitiva na Boa Nova do Evangelho, que nasce, se transcende e se propaga com a Igreja de Cristo na terra.

Antes de subir aos Céus, Jesus nos fez testemunhas da esperança: 'Vós sereis testemunhas de tudo isso' (Lc 24, 48). Pela ação de Pentecostes, pela efusão do Espírito Santo, pela manifestação da 'Força do Alto', os apóstolos tornar-se-iam instrumentos da graça e da conversão de muitos povos e nações. Na mesma certeza, somos continuadores dessa aliança de Deus com os homens, na missão de semear a Boa Nova do Evangelho nos terrenos áridos da humanidade pecadora para depois colher, a cem por um, os frutos da redenção nos campos eternos da glória. Como missionários da graça, 'Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos' (Ef 1, 18).

E a sua derradeira proclamação aos discípulos é a sua promessa de estar sempre junto aos homens de todos os tempos, até a consumação dos séculos: 'Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo' (Mt 28, 20). Promessa que tem, para nós, membros do seu Corpo Vivo, que é a Santa Igreja, a dimensão de uma vitória antecipada, na feliz esperança de sermos partícipes de sua glória.

E Jesus se eleva diante dos seus discípulos e sobe para os Céus. Jesus vai primeiro porque é o Caminho e para preparar para cada um de nós 'as muitas moradas da casa do Pai'. Na solenidade da Ascensão do Senhor, a Igreja comemora a glorificação final de Jesus Cristo na terra, como o Filho de Deus Vivo e, ao mesmo tempo, imprime na nossa alma o legado cristão que nos tornou, neste dia, testemunhas da esperança eterna em Cristo e herdeiros dos Céus.

sábado, 27 de maio de 2017

VERSUS: 2017 X 1517 X 1717 X 1917 X 1967


500 anos da Reforma Protestante (1517 - 2017)

Em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero publicou, nas portas da Igreja de Wittenberg, as suas 95 teses contra diversos pontos da doutrina da Igreja Católica. Esse fato é considerado como o início da Reforma Protestante, que deu origem ao protestantismo e ao grande Cisma da Igreja do Ocidente.

300 anos de fundação da Maçonaria Moderna (1717 - 2017)

Em 7 de fevereiro de 1717, Jean-Theophile Desaguliers reuniu quatro Lojas de Londres para traçar planos referentes à alteração da estrutura maçônica. Alguns meses mais tarde, em 24 de junho de 1717, foi criada a primeira grande Loja Maçônica e eleito o nobre Anthony Sayer para Grão-Mestre dos Maçons, evento que caracteriza o nascimento da Maçonaria Moderna. Nesta reorientação estrutural, a reforma maçônica eliminou quaisquer referências católicas previamente existentes no âmbito da instituição, como se constata nas diretrizes da primeira constituição maçônica aprovada após a fundação da primeira Grande Loja:

'Todo maçom é obrigado, em virtude de seu título, a obedecer a lei moral. E como compreende bem a Arte, ele jamais será nem um ateu estúpido nem um ímpio libertino. Da mesma maneira que, nos tempos passados, os maçons eram obrigados, em cada país, a professar a religião de sua pátria ou nação, qualquer que ela fosse, nos tempos atuais nos pareceu mais adequado não obrigar além dessa religião na qual todos os homens estão de acordo, deixando cada um livre para ter sua opinião própria'.

100 anos da Revolução Russa (1917 - 2017)

Em fevereiro de 1917 (março de 1917, pelo calendário ocidental), um movimento revolucionário levou à derrocada da autocracia do czar Nicolau II da Rússia, estabelecendo a implantação de uma república de natureza liberal. Em outubro de 1917 (novembro de 1917, pelo calendário ocidental), a revolução foi consolidada sob a forma de um governo socialista, com a ascensão ao poder do Partido Bolchevique, liderado por Vladimir Lênin.

Sob o comando de Lênin, a Igreja e Estado perderam seus antigos vínculos e a liberdade religiosa foi instituída, sendo então incentivadas todas as ações que promovessem a disseminação do pensamento materialista e ateísta. Várias igrejas foram depredadas, dezenas de clérigos foram presos ou executados e as datas e os eventos religiosos foram suprimidos ou considerados ilegais.

50 anos da Revolução Sexual (1967 - 2017)

Em meados dos anos 60 do século passado, explodiu a revolução sexual que teve o seu auge com o woodstock, o movimento hippie e movimentos feministas, descaracterizando e conspurcando completamente a doutrina católica com os frutos podres da anticoncepção, do aborto, da pornografia, do homossexualismo e da ideologia do gênero. 


100 anos das Aparicões de Fátima (1917 - 2017)

'Os pecados que levam mais almas para o inferno são os pecados da carne... Hão de vir umas modas que hão de ofender muito a Nosso Senhor... As pessoas que servem a Deus não devem andar com a moda. A Igreja não tem modas. Nosso Senhor é sempre o mesmo'  (mensagens particulares de Jacinta)

'Se atenderem a meus pedidos, a Rússia converter-se-á e terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja' (mensagem de Nossa Senhora na aparição de 13 de julho de 1917)

'Ai dos que perseguem a Religião de Nosso Senhor!' (mensagens particulares de Jacinta)

'Continuem a rezar o terço todos os dias em honra de Nossa Senhora do Rosário para obter a paz do mundo e o fim da guerra, porque só Ela lhes poderá valer' (mensagem de Nossa Senhora na aparição de 13 de julho de 1917)

'Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará' (mensagem de Nossa Senhora na aparição de 13 de julho de 1917)

ORAÇÃO: AUGUSTA RAINHA E SENHORA DOS ANJOS


Em 1863, uma alma, habituada a experimentar as ternuras da Santíssima Virgem, foi subitamente como que tocada por um raio da Divina Claridade. Acreditou ver os demônios disseminados pela Terra, e causando horríveis estragos. Ao mesmo tempo elevou seu pensamento à Santíssima Virgem. Esta boa Mãe lhe teria dito que de fato os demônios estavam desencadeados no mundo e que era chegada a hora de invocá-la como Rainha dos Anjos, e de lhe pedir para enviar as Legiões Santas a fim de combater e aterrorizar as potências do inferno.

‒ 'Ó minha Mãe', disse então esta alma, 'Vós que sois tão boa, não podeis enviá-Las sem que Vo-lo peçamos?'

‒ 'Não', respondeu a Santíssima Virgem, 'a oração é uma condição posta pelo próprio Deus para aquisição das graças'. 

‒ 'Pois então, minha Mãe', tornou a alma, 'quereis Vós Mesma ensinar-me como é preciso pedir-Vos?'
E esta alma acreditou receber da Santíssima Virgem a seguinte oração: 

Augusta Rainha e Senhora dos Anjos

Augusta Rainha dos Céus * e Senhora dos Anjos * Vós que desde o princípio * recebestes de Deus * o poder e a missão * de esmagar a cabeça de satanás * nós vos pedimos humildemente * enviai vossas santas legiões * para que elas * sob vosso poder e vossas ordens * persigam os espíritos infernais * combatendo-os por toda a parte * confundam a sua audácia * e os precipitem no abismo! Ó boa e terna Mãe * Vós sereis sempre * o nosso amor e a nossa esperança! * Ó Mãe de Deus * enviai os santos Anjos * para nos defender * e repelir para longe de nós * o cruel inimigo! * Santos Anjos e Arcanjos, * defendei-nos e protegei-nos! Amém.

* Tornando-se depositário maior desta oração, o Pe. Luiz Eduardo Cestac, fundador da Congregação das Servas de Maria, na cidade de Anglet (França), foi o grande divulgador dessa oração, posteriormente aprovada por diversos bispos e outorgada, em 1908, com 300 dias de indulgência pelo Papa São Pio X. Que seja rezada muitas e muitas vezes pelos cristãos, conclamando piedosamente a intercessão da Mãe de Deus e Rainha dos Anjos em favor da Santa Igreja, do sacerdócio e de toda a humanidade.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

ENQUANTO AINDA TEMOS TEMPO...

Nossa Senhora apareceu em Fátima para nos lembrar, sobretudo, da necessidade da salvação da alma. Por isso ela recomendou com insistência aos 3 pastorinhos de rezar e fazer penitência pela conversão dos pecadores: 'Muitas almas vão para o inferno porque não há quem reze e se sacrifique por elas!' 

Em Ars, um certo dia, chegou uma senhora abatida pela dor que a levava ao desespero. Poucos dias antes tinha perdido o marido tragicamente. Suicidara-se, jogando-se de cima de uma ponte, num rio. A mulher era atormentada pelo pensamento da danação do marido. Entretanto, na igreja de Ars, a pobre mulher logo se ajoelhou para rezar e chorar. Era a 1ª vez que ia a Ars. O santo Cura d'Ars, passando-lhe ao lado, sussurrou-lhe aos ouvidos: 'Ele está salvo!'. 'O quê?' - exclamou a mulher. 'Ele está salvo!' - repetiu o santo - 'Está no purgatório e precisa rezar muito por ele. Entre o parapeito da ponte e o rio teve tempo de se arrepender. Foi Nossa Senhora quem lhe obteve a graça. Lembre-se do mês de maio que fazia no quarto. Às vezes seu marido, embora não religioso, se unia à sua oração e às vezes até punha uma flor junto à imagem de Maria. Isto lhe obteve o arrependimento e o extremo perdão!'

Um dia padre Pio passava lentamente entre uma multidão de homens. Um jovem lhe gritou de longe: 'Padre, me diga uma palavra decisiva. O que devo fazer?' Padre Pio olhou-o com profundidade e lhe disse: 'Salve a tua alma!'

'As terras de um homem rico tinham tido uma boa colheita. E ele, consigo mesmo, assim pensava: como farei se não tenho mais lugar para guardar a minha colheita? Eis, disse, farei assim: demolirei os meus celeiros, construirei outros maiores, onde guardarei toda a minha colheita e os meus bens; depois direi à minha alma: ó Alma, tens uma grande reserva de bens por muitos anos; descansa, come, bebe e diverte-te! Mas Deus lhe disse: Louco! Esta mesma noite te será tirada a vida; e aquilo que preparaste pra quem será? Assim será também para quem acumula tesouros para si, mas não cuida de ter o que para Deus' (Lc 12, 16-21) 

São Bernardo dizia: 'Todo o tempo que não usamos para Deus é perdido'. A um velho eremita, um dia, perguntaram a idade. 'Tenho 50 anos', respondeu. 'Não é possível!' - respondeu o indagador - 'Tens, certamente, mais de 70'. 'É verdade' - respondeu o eremita - 'a minha idade seria na verdade 75, mas os primeiros 25 anos eu não conto, pois os passei afastado de Deus'.

Querem um bom exemplo de viver todo o tempo a serviço de Deus?  O Beato José Moscatti, grande médico napolitano, todos os dias começava a sua jornada às 5 horas da manhã, com duas horas de oração recolhida e intensa. Fazia sua meditação, participava da Santa Missa, recebia a santa comunhão e fazia um longo agradecimento. Sem estas duas horas e sobretudo sem a santa comunhão, ele dizia não ter coragem de entrar na sala médica para visitar os doentes. Logo depois das duas horas de oração, entrava nos becos de qualquer bairro da velha Nápolis, descia a qualquer gueto ou subia em qualquer porão a visitar gratuitamente doentes em condições penosas e miseráveis. Continuava a sua manhã com a escolha e com as visitas médicas em um hospital. Antes de fazer um diagnóstico, e, particularmente nos momentos de dificuldade, colocava a mão no bolso, apertava o Rosário por um momento e rezava a Nossa Senhora. Durante as visitas não era menos preocupado de recomendar aos enfermos a cura da alma, dando conselhos e avisos concretos, como aqueles de confessar-se e comungar. Ao meio dia, ao soar o sino do Ângelus, embora estando na sala médica, recitava sem falta a oração, convidando os presentes a rezarem com ele. De tarde continuava as visitas médicas em casa até o pôr do sol. Fechava seu dia com a visita ao Santíssimo Sacramento, com a recitação do Santo Rosário e as orações noturnas. Morreu durante as suas visitas médicas, amando os corpos e as almas dos enfermos. Eis um verdadeiro cristão que 'operava o bem enquanto tinha tempo' (Gl ,10).

(Excertos da obra 'Um mês com Maria' , do Pe. Stefano Maria Manelli) 

O CÉU É AQUI...

quarta-feira, 24 de maio de 2017

AS 4 SERVIDÕES DO POLITEÍSMO

1. A fraqueza da inteligência humana

Há homens cuja inteligência não lhes permite ir além das coisas corpóreas e, por isso, não acreditam na existência de alguma natureza superior aos seres corpóreos. Pensam então que os mais belos e dignos seres corpóreos devem presidir o mundo e prestam um culto divino a eles. Assim consideram os astros do céu, o sol, a lua e as estrelas. Sobre eles fala o Profeta Isaías (51, 6): 'Levantai os olhos para o céu, volvei vosso olhar à terra: os céus vão desvanecer-se como fumaça, como um vestido em farrapos ficará a terra, e seus habitantes morrerão como moscas. Mas minha salvação subsistirá sempre, e minha vitória não terá fim'. 

Muitas vezes estas razões não se manifestam por palavras, mas pelos atos. Aqueles que acreditam que os astros podem modificar a vida dos homens, que para agir devem esperar certas épocas, estão aceitando que os astros dominam os homens. Contra isto adverte a Palavra: 'Não imiteis o procedimento dos pagãos; nem temais os sinais celestes, como os temem os pagãos, porquanto os deuses desses povos são apenas vaidade' (Jr 10, 2).

2. A adulação dos homens 

Muitos desejando adular reis e senhores, tributaram-lhes a honra devida a Deus. Obedecem e se submetem a eles. Há quem os endeuse após a morte, outros até em vida. Deles fala a Escritura: 'A multidão, seduzida pelo encanto da obra, em breve tomou por deus aquele que tinham honrado como homem. E isto foi uma cilada para a humanidade: os homens, sujeitando-se à lei da desgraça e da tirania, deram à pedra e à madeira o nome incomunicável' (Sb 14,21). Também aqueles que obedecem aos reis mais que a Deus, constituem a essas pessoas como deuses. Adverte-nos também a Escritura: 'Convém mais obedecer a Deus que os homens' (At 5, 29). 

3. A afeição carnal aos filhos e parentes 

Alguns, levados por excessivo amor aos parentes, levantam-lhes estátuas após a morte e, assim, são conduzidos a prestar culto divino àquelas estátuas. Também os que amam os filhos mais que a Deus revelam pelos seus atos que acreditam em muitos deuses. São Paulo nos adverte: 'Quanto a questões tolas, genealogias, contendas e disputas relativas à lei, foge delas, porque são inúteis e vãs' (Tt 3, 9).

4. A malícia do demônio 

Este, desde o início, quis ser igual a Deus: 'Escalarei os céus e erigirei meu trono acima das estrelas. Assentar-me-ei no monte da assembléia, no extremo norte. Subirei sobre as nuvens mais altas e me tornarei igual ao Altíssimo' (Is 14, 13). Até hoje não revogou essa vontade e esforça-se para que os homens o adorem e lhe ofereçam sacrifícios. Não lhe satisfaz a oferta de animais, mas deleita-se quando lhe é prestado o culto devido a Deus. Ele mesmo falou a Cristo: 'Dar-te-ei toda terra se de joelhos me adorares' (Mt 4, 9). 

Para que sejam adorados como deuses, se disfarçam de ídolos, Sobre eles fala a Escritura: 'os deuses dos pagãos, sejam quais forem, não passam de ídolos. Mas foi o Senhor quem criou os céus' (Sl 95, 5); 'as coisas que os pagãos sacrificam, sacrificam-nas a demônios e não a Deus. E eu não quero que tenhais comunhão com os demônios' (1Cor 10, 20). Os que praticam a feitiçaria e se entregam aos sortilégios acreditam nos demônios como se eles fossem deuses, porque pedem aos demônios o que só se pode pedir a Deus, como revelações e conhecimentos sobre coisas futuras.

Como tudo isto é falso, devemos acreditar que há somente um Deus.

(Excertos da obra 'Sermão sobre o Credo', de São Tomás de Aquino)

terça-feira, 23 de maio de 2017

AS SETE COLUNAS DA IGREJA DOMÉSTICA (II)

'A Sabedoria edificou sua casa, talhou sete colunas' (Pv 9, 1)

SEGUNDA COLUNA: A ORAÇÃO EM FAMÍLIA

Em todas as famílias, isto era um hábito respeitado. Onde é que se pratica ainda hoje? A forte coluna está fendida e frequentemente já derrubada. Que espetáculo era para o céu e a terra ver outrora a mãe, de manhã muito cedo, juntar para a oração as mãos do filhinho menor! Pintores e escultores daí hauriam sempre novos motivos para sua arte. E como era tocante quando, através das janelas fechadas das casas de campo, pelas estradas da aldeia, ressoavam as vozes claras dos pequeninos, unidas em coro harmonioso às vozes de tenor e baixo dos adultos e mais velhos, na oração da noite.

Uma boa parte da vida católica do povo e da família perdeu-se juntamente com a oração em comum. Desprezaram-na levianamente, como aos valiosos cofres e móveis do tempo antigo. Peças cheias de poesia e valor! Quem sente mais esta perda do que o cura de almas e o sacerdote? Quando dantes o padre se chegava aos pequeninos, que consolo isso lhe dava! Como cálices desabrochados de flores, descerrados para o bem e para as coisas divinas, iam radiantes ao seu encontro! Eram boa terra da parábola do Evangelho, que dá fruto cento por um.

Que sucede hoje frequentemente? A palavra do sacerdote já não acha muitas vezes lugar nos corações infantis, ressoa sem eco, como se fôra proferida no vácuo. A culpa é do lar paterno. Já não é mais a doce paragem da fé. Invadiu-o espírito do mundo, que não pensa senão em causas fúteis e desatinadas, quando não pecaminosas.

Que importa a alma? Por isso pai e mãe já não rezam mais em comum com os filhos a oração da manhã e a da noite. E, entretanto é tão imensamente importante para a vida e o caráter das crianças! Quem quer o bem dos filhos, deve voltar ao hábito antigo, ao velho costume cristão: a oração em comum aos pés da cruz, principalmente de manhã e à noite. É a moldura que orla o quadro da tarefa diária. Se a moldura é bonita e boa, realça também o quadro, que só assim adquire o devido valor e impressiona sempre melhor.

A esse respeito deve-se notar uma coisa: para uma boa oração da manhã é preciso antes de tudo a boa intenção. O principal não são as palavras. Não é necessária ser tampouco uma oração de 13 ou 40 horas. Em minha opinião, pode-se dizer enérgica e sumariamente, como aquele velho granadeiro diante do leito: 'Senhor, aqui estou!' - contanto que essa prece parta do coração e seja efetivamente uma boa intenção. O pensamento: 'Tudo para glória de Deus', a intenção de servir a Deus com o trabalho diário, é decisivo. Dá ao trabalho de cada dia, com a moldura acima, ao mesmo tempo um áureo brilho e valor. Nos tempos antigos se falava de um maravilhoso bastão, que transformava em puro ouro tudo em que tocava. Histórias da carochinha!

Entretanto aqui se torna verdade, fazei a boa intenção de manhã e tudo o que fizerdes, comer e beber, o repouso e o trabalho, tudo se tornará uma oração. Tudo se faz então a serviço de Deus. Adquire direito à recompensa eterna, contanto somente que seja realizado em estado de graça. À noite seja o cerne das orações diante da imagem do Crucificado, uma verdadeira contrição por amor de Deus e o bom propósito. Isto fecha a moldura e é ao mesmo tempo o melhor meio de apagar todas as faltas e manchas do quadro e da moldura. 

Se de fato a morte nos surpreendesse realmente durante a noite, não careceríamos temê-la, pois nos encontraria em estado de graça santificante. A perfeita contrição, o pensamento 'Sinto meu querido Salvador, ter-Vos tornado duro o presépio e pesada a Vossa cruz; por preço algum mais um novo pecado grave!'; este pensamento na oração da noite nos restitui a paz espiritual perdida e põe-nos nas mãos uma chave de ouro do céu. Estaríamos salvos para a eternidade, se morrêssemos repentinamente.

Demais justamente a oração da noite em comum tem um encanto especial. O dia passou. Como o jovem viajante fatigado, que chegando à meta, atira por terra o farnel, contente de ter achado um lugarzinho de repouso, assim pais e filhos põem seus cuidados e fadigas aos pés do Crucificado, Ele, que por amor de nós carregou o peso da cruz, queria livrar-nos dessa penosa carga e animou-nos a entregar-lhe tudo: 'Lança ao Senhor todos os teus cuidados!' Ele quer carregá-los. À sombra da cruz é tão bom descansar, sobretudo quando o dia está quente ou tempestuoso.

Mas também não se deve omitir a oração antes e depois da refeição. Em parte alguma se manifesta mais a nobreza da alma espiritual, a realeza do homem sobre a matéria, sua primazia sobre as demais criaturas, que na oração antes e depois das refeições. Lá está um pobre operário sentado no caminho, sobre um monte de pedras, para o almoço. O filho traz-lhe ao posto de trabalho a singela refeição, numa marmita; antes de comer, o operário tira o gorro, faz em silêncio o sinal da santa cruz e reza como no lar, a oração para antes da refeição.

Não é como se nesse momento sagrado um diadema invisível cingisse a fronte do homem, como se toda a criatura irracional escutasse respeitosa as palavras que ele dirige por elas ao Altíssimo, em agradecimento e súplica? Acho que o pobre operário em prece revela mais realeza e soberania que o rico em seu palácio, de coroa e cetro, mas que não ora. 

Servir a Deus é reinar! Aqui esta palavra se torna pura verdade, pois a grandeza moral e a verdadeira natureza predominante do espírito sobre tudo quanto é corporal se manifestam na oração antes e depois das refeições. É um novo laço também que aí se ata entre pais e filhos. Do Pai celeste passa o olhar grato da criança para aqueles que aqui na terra lhe foram intermediários de todo o bem. Vê as mãos calosas do pai, que se juntam cheias de gratidão ao céu e sente o seu próprio dever de gratidão para com o pai e mãe...

(Excertos da obra 'As colunas de tua Casa - um Plano para a Felicidade da Família', do Vigário José Sommer, 1938, com revisão do texto pelo autor do blog)