sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

LUZ NAS TREVAS DA HERESIA PROTESTANTE (VII)

Terceira Objeção* do crente: relativa ao celibato de São Pedro, para demonstrar que os padres devem se casar. Pede ainda um texto da Sagrada Escritura que prove que São Pedro não tinha esposa.

Resposta do Pe. Júlio Maria de Lombaerde:

I - Argumento Negativo

Provemos, em primeiro lugar, ser provável que São Pedro não tinha mulher, quando foi chamado por Jesus Cristo, mas era viúvo. É o argumento negativo. O meu amigo crente quer um texto que prove que São Pedro não tinha mulher: por que não pede um texto que prove que São Pedro usava calça, turbante, alpercatas, manto, que comia, bebia e dormia?

Na falta deste texto, será preciso concluir, então que São Pedro andava despido e que não comia, nem dormia? Que ingenuidade! Para que serve tal texto? Então é proibido casar-se? E se eu lhe pedisse um texto que provasse que São Pedro tinha mulher, onde iria buscá-lo? Conhecendo só as palavras da Bíblia, sem compreender a significação, há de apresentar o texto de São Lucas (Lc 4,38): E a sogra de Simão estava enferma.

Isso prova que São Pedro tinha sogra. É já uma coisa: porém há tanta gente que tem sogra e não tem mais mulher; pois uma pode morrer e a outra ficar. Isso prova apenas que São Pedro tinha sido casado, antes de ser chamado por Nosso Senhor, e que talvez fosse viúvo. Meu pobre crente nem pensara até aí e, no triste afã de fabricar objeções, viu sogras e mulheres em toda parte.

Então, São Pedro, por ter sogra, tinha sido casado, era viúvo... Mas diga lá: o viúvo é ou não é gente? Há na Igreja bastante padres que já foram casados e que, depois de enviuvar, entraram na milícia eclesiástica. Há até muitos santos nestas condições. Haverá qualquer mal nisso? A Igreja Católica exige o celibato dos seus sacerdotes, para seguirem o exemplo de Jesus Cristo e dos apóstolos, que eram celibatários. Jesus Cristo não o exigiu dos seus discípulos; aconselhou-o; porém parece-me que um conselho do Salvador não é coisa desprezível e deve, ao contrário, ser de real utilidade.

II. Argumento Positivo

O argumento positivo é claro, embora não resolva completamente a questão, é que São Pedro tinha sogra; é certo. São Pedro teve mulher; é certo ainda. Na ocasião de ser chamado por Nosso Senhor ao apostolado, São Pedro não tinha mais mulher e, se a tinha ainda, deixou-a de comum acordo, conforme o conselho do Mestre: 'Todo aquele que tiver deixado, por amor de mim, casa, irmãos, pais, ou mãe, ou mulher, ou filhos, receberá a vida eterna' (Mt 19,20).

Eis um conselho do Divino Mestre, dirigido aos apóstolos, e, na pessoa deles, aos séculos vindouros. Nosso Senhor convida os apóstolos a deixarem tudo, por seu amor; até a própria mulher. Os apóstolos compreenderam o convite de Cristo, e o compreenderam tão bem que ficaram admirados, e disseram: 'logo quem pode salvar-se?' (Lc 18, 26).  São Pedro, sem hesitação, sem embaraço, como quem fala com completa certeza, dirige-se ao divino Mestre, e exclama: 'Eis que nós deixamos tudo e te seguimos' (Lc 18, 28). E o Senhor aprova e apóia esta exclamação de Pedro, respondendo: 'Na verdade vos digo, que não há quem deixe, pelo reino de Deus, casa, pais, irmãos ou mulher, que não receberá a vida eterna' (Lc 18, 29-30).

Que verdade podia ser articulada, confirmada mais positivamente do que aquela? O Salvador promete o céu a quem deixar tudo, inclusive a mulher, por seu amor! São Pedro exclama ter deixado tudo. O Mestre o confirma, e promete-lhe o céu em recompensa. É pois claro e irrefutável que São Pedro, embora tivesse sogra, não tinha, ou tinha deixado a mulher; era pois celibatário como os outros apóstolos. Se assim não fosse, São Pedro não podia ter deixado tudo, visto não ter deixado a mulher, embora fosse incluída a mulher na enumeração, feita pelo Mestre, daquilo que se pode deixar por seu amor.

Reflitam sobre isto, caros protestantes, e vejam como este esdrúxulo desafio se desfia por completo, e encontra no Evangelho uma resposta clara e irrefutável. O argumento positivo não deixará subsistir a mínima dúvida: São Pedro era viúvo ou separado da mulher e, como tal, seguiu o Divino Mestre, deixando tudo, pelo reino de Deus (Mt 19, 20).

* Esta 'objeção' foi proposta por 'um crente' como um desafio público ao Pe. Júlio Maria e que foi tornado público durante as festas marianas de 1928 em Manhumirim, o que levou às refutações imediatas do sacerdote, e mais tarde, mediante a inclusão de respostas mais abrangentes e detalhadas, na publicação da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', ora republicada em partes neste blog.

(Excertos da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', do Pe. Júlio Maria de Lombaerde)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

A PERSEVERANÇA É FRUTO DO AMOR


1. Saudação e objetivo 

Em nome de Jesus Cristo Crucificado e da amável Maria, caríssimo filho no do Jesus Cristo, eu Catarina, serva e escrava do servos de Jesus Cristo, escrevo no seu precioso sangue, desejosa de ver-te perseverante em toda virtude.

2. A perseverança é fruto do amor

Sem a perseverança não alcançarás a coroa da glória, que é dada aos verdadeiros lutadores. Tu me dirás: 'Onde posso achar a perseverança'? Responde-te. Uma pessoa só presta serviço a outra na medida do amor que lhe dedica. Não mais. Em tanto falhará em servir, quando falhar no amor. Mas também tanto amará, quando se sentir amada. Veja bem: ao sentir-se amada, a pessoa ama. É desse amor que nasce a perseverança. Portanto, à medida que abrires o olhar da tua inteligência para ver o fogo e o abismo do infinito amor de Deus por ti — amor revelado do Verbo, Filho de Deus — tu te verás obrigado a amar a Deus de todo o coração, com todo afeto, com todas as tuas forças, sem interesses, de modo puro, sem nenhuma procura de interesses pessoais. Compreenderás que Deus te ama para o teu bem, não para utilidade dele. Pois o Senhor é o nosso Deus, é a bondade suprema e eterna, que não pensa em proveito próprio. E amarás também o próximo para a sua utilidade. Construindo assim o alicerce e o amor em sua base, imediatamente começarás a praticar as virtudes. E através da iluminação divina e do amor, adquirirás a perseverança.

3. Não te esqueças da humildade

Ao compreenderes que és amado por Deus, é conveniente que medites sobre os teus pecados e tua ingratidão. Na cela do coração perceberás a gravidade de tua culpa. Valoriza, então, a pequena virtude da humildade, para não confiares nas tuas forças e não caíres na complacência de ti mesmo. Sabes que é importante conhecer os próprios pecados, sua gravidade, para poder conservar e aumentar a graça na alma? Isso se dá na mesma proporção que existe entre o alimento corporal para conservação da vida no corpo. Afasta de ti, pois, a nuvem do egoísmo para que ela não prejudique a iluminação da alma, favorecida pelo perfeito conhecimento e concretizada pelo ódio (ao pecado) e pelo amor (à virtude). Assim, no amor acharás a perseverança, cumprirás a vontade divina e o meu desejo a respeito de ti. Vontade divina e desejo meu, que consiste no ver-te crescer e perseverar até o dia da morte na práticas das verdadeiras virtudes.

4. Refugia-te na caverna do coração de Cristo

Mas cuidado de não confiares em ti mesmo. Essa confiança é semelhante a um vento sutil de orgulho, nascido do egoísmo. Imediatamente retrocederá, olhando para trás (cf Lc 9, 62). Da mesma forma como o amor de Deus te faz perseverante na virtude, o egoísmo e a procura de boa reputação te fazem cair no vicio e nele perseverar. Meu filho, foge desse sutil vento da boa reputação. Em tudo, procura esconder-te na chaga do peito do Crucificado. E uma vez aí dentro, fixa o pensamento no segredo coração de Cristo. Então acenderás a chama do teu amor. Entenderás que Jesus fez em seu corpo uma caverna, onde te esconderás dos inimigos, onde repousarás, onde acalmarás tua mente no fogo do amor. Aí acharás alimento, pois Jesus deu sua carne como comida e seu sangue como bebida. Aquela carne assada na chama do amor e aquele sangue servido no altar da Eucaristia. Dissolva-se hoje mesmo a dureza dos nossos corações. Que a nossa mente se torne mais receptiva aos ensinamentos de Cristo.

5. Pensemos no Menino Jesus

Quero que tu e os demais filhos comeceis a ser mais semelhantes a este pequeno menino, o Verbo Encarnado, que a Santa Igreja agora nos apresenta (na liturgia). Para confusão do nosso orgulho, que poderíamos imaginar de mais sublime, que um Deus que se humilha à altura do homem? Ou demais grandioso, que a suprema divindade posta ao nível da humanidade? E por qual motivo? Por amor! O amor fez Jesus residir num estábulo de animais; o amar o cobriu de ultraje, o revestiu de sofrimento; e o fez padecer fome e sede. O amor o fez correr com pronta obediência para terrível morte na cruz. O amor o fez descer à mansão dos mortos para esvaziar o limbo dos patriarcas e dar prêmio àqueles que o haviam esperado e servido por longo tempo. 

Depois da ascensão, o amor fez Cristo enviar o fogo do Espírito Santo, que nos iluminou com sagrada doutrina, caminho que nos dá a vida, nos liberta das trevas e nos concede a eterna visão de Deus. O amor fez tudo! Envergonha-se quem não tem amor a Deus, quem não dá resposta a tão imenso amor. Que triste sorte é a de quem, podendo ter o fogo, deixa-se morrer de frio; quem, tendo o alimento diante de si, deixa-se morrer de fome! Tomai, tomai vosso alimento, o doce Jesus Crucificado! Por outros caminhos, não sereis constante e perseverante. Como ficou dito, é a perseverança que recebe o prêmio. Sem ela, a alma só terá o mal, não a glória.

6. Conclusão

Foi refletindo sobre tudo isso que afirmei estar desejosa de ver-te constante e perseverante na virtude. Nada mais acrescento. Permanecer no santo amor de Deus; Jesus doce, Jesus amor.

(Das Cartas de Santa Catarina de Sena)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

ADORAÇÃO PERPÉTUA DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

ADORAÇÃO PERPÉTUA DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO 
(onde você estiver, no momento em que você desejar - acesso on line 24h por dia)

Capela da Adoração Perpétua - Paróquia de St. Agnes, Florida (EUA)
(espanhol / inglês)



(Você pode tirar o som e fazer a sua adoração em caráter pessoal)

outra possibilidade: acessar o site http://www.saojudastadeu.org.br/

Meu Deus, eu creio, adoro, espero e Vos amo. Peço-Vos perdão pelos que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam. 

Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente e ofereço-Vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.

Nós vos adoramos, Santíssimo Senhor Jesus Cristo, aqui e em todas as vossas igrejas que estão no mundo inteiro e vos bendizemos porque, pela vossa Santa Cruz, remistes o mundo.

PALAVRAS DE SALVAÇÃO


'Há uma grande diferença, também, entre o homem que confia em Deus quando tem tudo o que precisa, e aquele que confia em Deus quando nada possui. Também, uma coisa é confiar em Deus quando a vida está segura, livre de perigos, e outra quando há perigo iminente de destruição. Penso que aqueles que vivem em perigo contínuo de morte chegarão a se cansar desta vida e desejar morrer para estarem sempre com Deus no Céu, porque nossa presente condição mortal é, na verdade, somente uma morte contínua, um exílio da glória para a qual fomos criados'.

(São Francisco Xavier)

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

VISÕES E ÊXTASES DO PE. REUS DURANTE A MISSA

Johann Baptist Reus (Pottenstein/Baviera, 10/07/1868 - São Leopoldo/RS, 21/07/1947)

Sacerdote alemão, da Companhia de Jesus, que viveu praticamente toda a sua vida religiosa no Brasil. Foi honrado com os estigmas de Cristo e inúmeros êxtases e visões, particularmente durante a celebração da Santa Missa.

2 de julho de 1939

Na santa Missa, seis êxtases de amor: no Glória, na coleta, na Consagração, na Comunhão, na purificação e ao cobrir o cálice. O último foi intenso. Vi-me, de súbito, acima do altar, unido a Jesus em amistoso abraço. Ele me abraçou, e eu a Ele. Inaudito. A seguir, na Ação de Graças, eu lhe disse: 'Estou envergonhado diante de todo o Céu'. Quero, pois, pertencer totalmente ao seu Divino Coração. Que Ele disponha de mim como lhe aprouver. Tenho que escrever e desenhar isso.

Essa demonstração de amorosa amizade vale para todos os sacerdotes. É a realização das palavras: Iam nom dicam vos servos sed amicos meos – Já não vos chamo servos, mas amigos, que são repetidas, solenemente cantadas, na liturgia da ordenação sacerdotal. Após a Consagração, esteve presente também a Santíssima Mãe de Deus, por alguns momentos.

4 de julho de 1939 

Na santa Missa, dois êxtases de amor: na Consagração e na Comunhão. Desde o início, vi, sobre o altar, o amado Salvador na cruz, em tamanho natural. Durante o Pai Nosso, vi-o envolvido em esplendor. Enquanto pronunciava as palavras Domine non sum dignus – Senhor, eu não sou digno, vi como o Salvador crucificado estendia as mãos para mim, para significar a sua infinita misericórdia para com o sacerdote.

Precisamente no instante em que o sacerdote reconhece ser indigno de receber o Senhor em seu coração, Ele precisamente por este gesto, em sua amorosa bondade, acha o coração tão bem preparado que tem verdadeiro desejo de nele entrar, para comunicar-lhe a liberalidade dos frutos de sua paixão. Tive que fazer dois desenhos e anotar isso. Lamento não saber desenhar melhor. Na meditação: lágrimas.

7 de julho de 1939

Na santa Missa, dois êxtases de amor: na Consagração, após as palavras consecratórias, saíam chamas de fogo de dentro do cálice em direção da minha boca. O significado evidente é que o primeiro pensamento de Jesus, no instante de sua presença sacramental sobre o altar, é a união íntima e cordial com o dileto sacerdote, que lhe doou a vida sacramental. Logo no início da santa Missa, vi o amado Salvador sobre o altar, mostrando seu amoroso Coração, provavelmente por ser a primeira sexta-feira do mês.

14 de julho de 1939 

Durante a leitura do Evangelho da Missa de São Boaventura, vi, acima de mim, raios luminosos e, em seguida, um sol nas palavras Vos estis lux mundi – Vós sois a luz do mundo. O sacerdote é a luz do mundo por meio do anúncio da doutrina do Sagrado Coração de Jesus e por meio da sua vida, semelhante à dos Anjos no meio de um mundo depravado.

No êxtase após a Consagração, vi o amado Salvador abraçar-me com ambos os braços, desprendidos da cruz; também isso, provavelmente, vale para todos os sacerdotes. A Consagração é a morte sacrifical do Senhor. Importa que o sacerdote se ofereça a si mesmo em íntima união com o Cordeiro do sacrifício. O abraço do Divino Salvador, a atrair a si o sacerdote, é prova de ilimitado amor; ilimitado amor a oferecer-se para ser abraçado e amado por ele, e ser ofertado ao Pai Celeste. O amado Salvador, em sua grande bondade, quis dar-me certeza sobre esta visão.

Ao meio-dia, tive de súbito a mesma visão durante o exame de consciência. O amado Salvador me abraçou com seus braços, desprendidos da Cruz, e eu o abracei; e desta vez o atraí a mim, para dentro do meu coração. E ele permitiu que o fizesse. A seguir, fiz o mesmo insistente pedido ao seu Divino coração: 'Concede que Te ame sinceramente'.

16 de julho de 1939 

Ontem, vi, na Consagração, o amado Salvador na cruz, em tamanho natural, bem à minha frente. Eu temia que fosse ilusão, porque a imagem parecia sem vida. Após muito hesitar, resolvi descrever a visão como julgo tê-la visto. Mas, quando me dispus a escrever, o amado Salvador não me permitiu que escrevesse sequer uma sílaba. Foi-me fisicamente impossível acrescentar qualquer coisa às poucas palavras de ontem. Conformei-me, e quanto me lembro, pensei: 'Se a visão foi genuína, o amado Salvador a repetirá'.

E Ele o fez de modo totalmente inesperado, pois hoje, quanto me recordo, vi o amado Salvador pregado na cruz, diante de mim em tamanho natural, logo no início da Missa. Quanto pude perceber, ele pronunciava comigo as palavras da Missa. Vi-o, nitidamente, mover os lábios e, ao menos uma vez, dirigir os olhos para o alto, em oração. Isso durou por toda a Missa, embora não pudesse estar continuamente atento ao fato.

Esta visão quer mostrar o fato de que a santa Missa é a maravilhosa renovação do sacrifício da cruz, e isto desde o começo até o fim, e que o amado Salvador faz suas as palavras do sacerdote. O sacerdote goza do privilégio invejável de ser o representante visível do Divino Sacerdote. Ele, que na cruz se ofertou por nós, com infinito amor ao Pai Celeste, sobre o altar, faz o mesmo por meio do agraciado sacerdote, por Ele tão profundamente amado.

(Do diário do Pe. João Francisco Reus)

LEMAS E BRASÕES DOS ÚLTIMOS PAPAS (III)


segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

BREVIÁRIO DIGITAL - AS VISÕES DE TONDAL (II)

A experiência além da morte de uma alma medieval percorrendo o Céu, o Inferno e o Purgatório, guiada pelo seu Anjo da Guarda.

VISÕES DE TONDAL - PARTE II


A primeira visão da alma errante de Tondal (exposta nua, como explicado na postagem anterior), acompanhada pelo seu Anjo da Guarda, é diante da boca descomunalmente aberta da besta Aqueronte (termo derivado da mitologia grega, que denominaria um dos rios do inferno), em cujo interior padecem os condenados ao inferno pela ganância, sofrendo tormentos terríveis numa fornalha ardente. A bocarra da besta é mantida aberta por dois demônios gigantescos dispostos em posições contrárias; outros demônios empurram as pobres almas para dentro da fornalha e impedem que os condenados possam escapar dela. A não ser pelos trajes luminosos do Anjo, toda a cena é pincelada por Simon Marmion com cores vivas, escuras ou rubras, com demônios em forma de criaturas pavorosas, para simular o horror do inferno.


A alma de Tondal visita agora o lugar destinado à condenação eterna dos sacerdotes, religiosos e todos que se perderam pelo pecado da luxúria. As almas são engolidas e excretadas pela fera monstruosa num processo repetitivo que nunca termina; caídas num lago gélido, as almas recuperam as suas formas corporais que se engravidam de serpentes e outras criaturas horrendas que lhes comem as entranhas e emergem através do seus corpos dilacerados, que vão servir de novo como alimento da besta monstruosa. Na sua experiência além-túmulo, por ter vivido na luxúria e no hedonismo, a alma de Tondal é forçada a passar por um estágio neste abismo de tormentos, antes de ser resgatada pelo Anjo para seguir a sua peregrinação pelo inferno.


O anjo leva a alma de Tondal até a Porta do Inferno para que esta veja, em meio a uma legião de demônios, Lúcifer (em primeiro plano, deitado na fornalha ardente) esmagar, com as suas milhares de mãos, as almas dos condenados e lançá-las no meio das chamas infernais para serem calcinadas. Figuras monstruosas mantêm os portões abertos e, junto com a multidão dos outros demônios, atormentam sem fim as almas condenadas. No meio das chamas infernais, Tondal reconhece as almas de muitos de seus amigos e familiares já falecidos.



A alma de Tondal é conduzida para a beira de um despenhadeiro onde são lançadas as almas dos incrédulos e dos hereges, num abismo sulfuroso e de fedor indescritível. Por meio de longos arpões e ganchos afiados, as pobres almas são arrastadas ora às águas gélidas do lago, ora aos vapores escaldantes de enxofre que emergem do desfiladeiro. O Anjo lembra à alma de Tondal que ali não é lugar de esperança: aquelas almas estão condenadas à sucessão destes tormentos por toda a eternidade.