sábado, 10 de dezembro de 2016

ORAÇÃO: CONDITOR ALME SIDERUM

Hino latino para ser cantado nas Vésperas do Advento, cuja origem remonta ao século VII, de autoria desconhecida. O hino apresenta inúmeras variantes, em função das substanciais alterações introduzidas no mesmo, particularmente durante a revisão do Breviário Romano de 1632, imposta pelo papa Urbano VIII. Abaixo apresenta-se a transcrição original do hino. Por outro lado, o hino Creator Alme Siderum foi escrito tendo este como fonte de inspiração, não sendo, portanto, uma variante do original. 


Conditor alme siderum,
aeterna lux credentium,
Christe, redemptor omnium,
exaudi preces supplicum.

Criador do Universo 
e eterna luz dos homens,
Jesus, Redentor do mundo,
ouvi as súplicas dos Vossos servos.

Qui condolens interitu
mortis perire saeculum,
salvasti mundum languidum,
donans reis remedium. 

Por vossa intercessão, compadecido,
do mundo em risco de morte eterna
o salvastes das ruínas, 
curando as feridas do pecado.

Vergente mundi vespere,
uti sponsus de thalamo,
egressus honestissima
Virginis matris clausula. 

No mundo imerso na noite do pecado, 
como noivo do sacrário,
viestes de imaculado santuário, 
do seio virginal de Maria.

Cuius forti potentiae
genu curvantur omnia;
caelestia, terrestria
nutu fatentur subdita. 

Sob o poder do Vosso Santo Nome
todo joelho se dobre;
no céu, na terra,
se prostre toda criatura.

Te deprecamur, hagie,
venture iudex saeculi,
conserva nos in tempore
hostis a telo perfidi. 

A Vós, suplicamos com fé, 
juiz dos tempos sem fim,
conservai-nos nesta vida
livres do assédio dos nossos inimigos.

Laus, honor, virtus, gloria
Deo Patri cum Filio
Sancto simul Paraclito
In saeculorum saecula. Amen.

Poder, honra, louvor e glória 
A Deus Pai e a Deus Filho
assim como ao Santo Paráclito,
pelos séculos dos séculos. Amém.

(tradução do autor do blog)

COROA DO ADVENTO


É uma coroa de ramos verdes e flores, normalmente montada sobre um suporte arredondado, em aro de arames ou madeira, sobre a qual são inseridas quatro velas (uma tradição nomeia estas quatro velas como vela da Profecia, vela de Belém, vela dos Pastores e vela dos Anjos), que significam as quatro semanas de preparação para o Natal, ou seja, o Advento.  As velas são acesas à medida que avançam os quatro domingos de Advento. Assim, no início da primeira semana de Advento, acende-se a primeira vela. No segundo Domingo, duas e assim sucessivamente até que, nas vésperas do Natal e no quarto domingo, todas as velas estão acesas  [pode-se colocar uma quinta vela, branca e montada no centro do arranjo, na Noite de Natal: para expressar que a chegada do Natal é ainda mais importante que o próprio Advento; outra alternativa é depositar uma imagem do Menino Jesus dentro da própria coroa de Advento].

É o símbolo cristão por excelência que nos lembra, em meio a tantas manifestações fantasiosas e comerciais, que o Natal  é Luz - a Luz do Cristo que Vem para tornar novas todas as coisas e dissipar as trevas de um mundo de pecado. A coroa simboliza a  dignidade e  a realeza que Cristo, a salvação da humanidade e a plenitude dos tempos. A sua forma circular indica a perfeição, plenitude a que devemos aspirar em nossas vidas de cristãos. O círculo não tem princípio, nem fim, sendo sinal do amor de Deus que é eterno, sem princípio e nem fim e também símbolo da aliança do nosso amor a Deus e ao nosso próximo que também não pode ter fim. Os ramos verdes significam o poder de Cristo sobre a vida e a natureza, dons de Deus. Deus nos oferece a sua graça, o seu perdão misericordioso e a glória da vida eterna no final de nossa vida. Verde é a cor da vida e da esperança, simbolismo da aproximação gradual que o Advento nos convida à preparação da vinda de Cristo Jesus, Luz e Vida para todos. 

A coroa de Advento pode ser acesa durante as celebrações litúrgicas, durante o canto de entrada, logo no início da celebração após breve introdução, antes do ato penitencial, antes das leituras ou mesmo após a homilia. Em família ou num grupo de catequese, a prática da Coroa do Advento deve ser acompanhada por um simples e piedoso momento de oração. Pode começar por uma estrofe de um canto de Advento, seguida de uma leitura de uma passagem bíblica própria do tempo do Advento, antes ou mesmo depois de se acender a vela. A oração pode ser concluída por alguma meditação complementar, pela reza de um Pai Nosso, Ave-Maria e Glória ou por uma outra estrofe do canto de Advento.

FOTO DA SEMANA

Gaudete in Domino semper: iterum dico, gaudete. Dominus enim prope est – 'Alegrai-vos sempre no Senhor: repito, alegrai-vos. O senhor está próximo' (Fl 4,4)



sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

LUZ NAS TREVAS DA HERESIA PROTESTANTE (IV)

Primeira Objeção* do crente: 'Apresente um texto da escritura provando que devemos orar à Virgem Maria'

Resposta do Pe. Júlio Maria de Lombaerde:

Como bom protestante, o tal crente começa naturalmente pelo ódio à Santíssima Virgem. Esta primeira objeção é uma prova de má fé e do erro dos protestantes. Elucidamos bem esta doutrina, pois é como o ponto de mira das objeções protestantes. Em si, tal objeção é simplesmente ridícula. Há certas coisas que não se provam, porque constituem um princípio de vida, de desenvolvimento ou de organização natural. Os princípios do bom senso não precisam de provas, senão a consciência individual e universal. E estamos aqui diante de um tal princípio.

I. Prova do bom senso

O bom senso nos diz, o coração nos prova, e a experiência universal confirma que uma mãe tem sempre perto de seu filho um crédito todo particular. 'Tu honrarás a tua mãe todos os dias de tua vida', disse o santo homem Tobias (Tob 4,3), repetindo a lei divina dada por Deus: 'Honra teu pai e tua mãe' (Ex 20, 12). É um laço sagrado, imortal, que liga o filho aos pais durante a vida e se perpetua a eternidade, pois no céu como na terra o filho será sempre o filho de seus pais.

Este princípio aplica-se à Santíssima Virgem, com mais razão ainda do que a outras criaturas, pois é dela, e só dela, por operação do Espírito Santo, que o filho de Deus recebeu a sua humanidade. Ecce Virgo Concipiet (Is 7, 14) - Ele nasceu de uma Virgem.

Deve-se concluir pois que hoje ainda na glória do céu, Maria, sendo a Mãe do Filho de Deus, Maria de quem nasceu Jesus, que se chama Cristo (Mt 1,16), conserva com seu divino Filho relações de maternidade, e em conseqüência tem direito às honras a que ela tinha direito e recebia aqui na terra. Isabel prostrou-se diante da Virgem, com amor e veneração, exclamando admirada: 'Donde me vem a dita que a mãe do meu Senhor venha ter comigo?' (Lc 1, 43). Hoje o mundo deve continuar a mesma veneração e o mesmo brado de amor, para honrar a Mãe de Jesus, que continua sempre a ser mãe do Senhor.

* * *

Por que este rancor, este ódio, contra a pura Mãe de Jesus? Será um meio de agradar ao Filho, insultar sua santa Mãe? Pobre protestante, diga-me: se insultassem a sua mãe com o intuito de agradar-lhe, que é que responderia o amigo? Diria, de certo: 'Quem insulta a minha mãe, insulta a mim, e quem a honra, honra a mim!' E o amigo diria muito bem; mostraria que é bom filho, e que, como tal, considera inseparavelmente unidos o respeito ao filho e à mãe – a honra da mãe e do filho.

Mas, então, Jesus não será bom filho? Ele não exigirá, Ele, Deus, aquilo que nós, homens, exigimos tão imperiosamente? É ele, Deus, que pôs no fundo de nossa alma este respeito, este brio, este zelo pela honra de nossa mãe, e ele, vindo a este mundo, ele, o autor da lei, não a cumpriria, não daria exemplo? Ele seria menos digno, menos brioso, do que nós? Não está vendo que é um absurdo!

Neste caso, Jesus Cristo seria menos virtuoso, menos homem, que o último dos homens, que o mais celerado, o qual, após ter perdido toda honra social, e todo brio, conserva ainda o respeito à sua mãe! Que insulto ao próprio Deus! Eis aonde o leva o seu ódio à Igreja Católica, pobre protestante! A Igreja Católica honra e invoca a santa e pura Mãe de Jesus, como sendo Mãe do Redentor, e como tal, sendo-lhe unida por inquebrantáveis laços de intimidade, de dignidade, de amor, que fazem dela a mais santa, a mais bela e a mais poderosa de todas as criaturas, exaltadas e glorificadas por Deus.

Não é isto o que anuncia o anjo Gabriel, proclamando-a escolhida entre as criaturas, repleta de todas as graças, e unida a Deus com uma intimidade única? 'Ave, cheia de graça! O Senhor é convosco! Bendita sois vós entre as mulheres' (Lc 1,28). Medite bem isto, meu caro protestante. Reflita sobre cada uma dessas expressões divinas, e verá que, iniciando as suas caducas e grotescas objeções com insultos à Mãe de Jesus, está refutando de antemão a própria doutrina protestante, que cai necessariamente, perante o bom senso, a lógica e a sagrada escritura, que nos ensinam o contrário.

II. O que é orar

Devemos orar à Virgem Maria, isto é bem provado pela sagrada escritura, como vou mostrar-lhe aqui irrefutavelmente, porém, antes, é preciso bem determinar o que é orar, pois os protestantes não o entendem ou fingem não entendê-lo. Orar, como sendo a expressão do culto, quer dizer, prestar homenagem, louvar, exaltar, suplicar, embora nem toda homenagem e toda exaltação seja uma oração.

No triste afã de fabricar objeções, os protestantes pretendem que orar é uma adoração, porque, dizem eles, vem de adorar. É ignorância ou perversidade. Orar e adorar são dois termos radicalmente distintos. Podem manchar e desmanchar, mas não existe entre estes dois termos nenhuma relação de significação. Adoramos a Deus; e oramos a Deus e aos santos, sem adorá-los.

O culto, que prestamos à Mãe de Deus, é o culto de honra e de invocação, que a teologia traduz por hiperdulia, ou suma veneração, completamente distinto do culto de adoração, prestado só a Deus, e o simples culto de veneração (dulia), prestado aos outros santos. Dirigindo-se a Deus, os católicos dizem em suas preces: Tende piedade de nós! Dirigindo-se a Mãe de Deus, eles dizem: Rogai por nós! Dirigindo-se aos santos, dizem: 'Intercedei por nós!' Três palavras que exprimem a diferença do culto prestado a estas três categorias. Diga, amigo protestante, não é isto lógico, razoável, legítimo? Faça calar um instante o seu obcecado ódio à Igreja Católica e pondere o seguinte raciocínio.

III. O que é honrar e invocar

Como já disse, o culto da Santíssima Virgem consta de dois atos: a honra e a invocação. Ora, haverá coisa mais justa que honrar aquela que foi honrada pelos próprios anjos, pelo próprio Deus? Ela é a Mãe de Deus, e por este título ocupa lugar glorioso e único na criação. Ela foi na terra a criatura mais santa e é no céu a mais poderosa de todos os eleitos.

Além disso, ela é a nossa Mãe, conforme a palavra do Apóstolo, que chama Cristo o primogênito entre muitos irmãos (Rm 7,29). Somos irmãos espirituais de Jesus Cristo; Jesus é o filho da Santíssima Virgem; somos, pois, filhos espirituais da Santíssima Virgem, que é verdadeiramente a nossa Mãe. Ecce Mater tua - 'Eis a tua Mãe' (Jo 19, 26). Sendo a nossa Mãe, a Santíssima Virgem têm o direito a uma honra e a um culto acima das honras e do culto que tributamos às outras criaturas.

Honramos e exaltamos os grandes homens da terra, os heróis, os gênios, os beneméritos da humanidade; e não honraríamos, nem exaltaríamos aquela a quem devemos o Redentor, o Filho de Deus, numa palavra: a salvação! O bom senso se revoltaria contra a asserção negativa! E não somente honramos os benfeitores da humanidade; nós fazemos os seus retratos, erigimos-lhes estátuas e monumentos; e não o faríamos para a mais bela, a mais santa e mais benfazeja das criaturas, que é a Virgem Mãe de Deus? O coração humano se revoltaria contra a asserção negativa! 

Tiremos a conclusão: é, pois, lícito, é lógico é necessário honrar a Santíssima Virgem. Honrá-la não é o bastante. É preciso invocá-la, pois a invocação é uma parte constitutiva do culto. As honras prestadas exaltam a grandeza e a virtude. A invocação exalta o poder e a bondade. Maria Santíssima é grande pela sua qualidade de Mãe de Deus e pelas exímias virtudes que a adornam. Ela é poderosa e bondosa como a mãe dos homens; poderosa para poder ajudá-los; bondosa para querer fazê-lo.

Ora, nós, aqui na terra, somos pobres pecadores, somos necessitados e fracos; precisamos de auxílio, de forças e de generosidade. A quem pedi-los? Aos homens? Os homens sabem apenas dar esmola material; só Deus pode sustentar e fortificar a alma. É dele, pois, que devemos receber a esmola espiritual. E esta esmola é transmitida aos homens, pelas mãos da Santíssima Virgem. 'Ela é cheia de graça' (Lc 1, 28) para poder transmitir aos homens a graça, como o canal transmite aos campos, ressequidos pelo sol, as águas do oceano.

Tal um canal repleto, que recebe as águas e as transmite aos campos, assim a Virgem Maria recebe de Deus as graças divinas para comunicá-las aos homens. Maria, diz São Bernardo, está colocada entre Jesus Cristo e os homens para ser o canal que esse divino Salvador derrama sobre a humanidade. Deus escolheu Maria, diz ainda o mesmo doutor, para ser o canal das graças, e ele quer que as alcancemos todas pela sua intercessão (Sermo de Aquaeductu). Maria Santíssima pode, pois, ajudar-nos, porque é Mãe de Deus. Ela quer ajudar-nos, porque é nossa Mãe. Ela nos ajuda, porque é o ofício de que o próprio Deus a encarregou.

É, pois natural, lógico e lícito invocá-la. Se o não fosse, Deus não deveria tê-la feito tão grande, tão poderosa e tão bondosa; senão estas prerrogativas ficariam como sepultadas nela, sem ter por onde e sobre que exercer-se. E Deus nada faz inutilmente. Devemos, pois, concluir, pela aproximação da vontade de Deus, do poder e bondade de Maria Santíssima, e de outro lado, das nossas necessidades, que devemos invocar a Mãe de Deus, do mesmo modo que o pobre e necessitado deve invocar ao rico, para manifestar-lhe as suas precisões e obter dele o auxílio necessário.

Eis o que o bom senso e a razão nos ensinam acerca do culto de Maria Santíssima que nos mostram a liceidade e a necessidade de honrar e de invocar a santa e imaculada Mãe de Jesus. Resta-me provar que tal prática está em pleno acordo com a bíblia. É o que farei irrefutavelmente com os textos da Sagrada Escritura.

IV. Prova bíblica

Vamos agora à prova positiva... às provas da bíblia. O protestante que sempre anda com a bíblia, devia ter encontrado muitos e decisivos passos que provam claramente o que acabamos de dizer. Infelizmente, como justo castigo do seu orgulho, eles são, como diz o Evangelho, de olhos obcecados e coração endurecido, de modo que' não enxergam com os olhos e não entendem no coração' (Jo 12,40).

Tome a sua bíblia, caro protestante, e medite bem cada uma das provas que vou citar aqui. Para completa compreensão, e para não deixar a mínima dúvida, nem a menor saída da verdade, vou provar-lhe quatro coisas pelos textos da bíblia que resumem e como que esgotam o assunto:

(i) Que podemos orar aos santos;
(ii) Que devemos orar aos santos;
(iii) Que Deus escuta as orações dos santos;
(iv) Que Deus recomenda de recorrer às orações dos santos.

Eis quatro coisas formidáveis, meu caro crente, que vão muito além do seu pedido. Não somente citarei um texto da bíblia, mas citarei dezenas de textos, para mostrar-lhe que orar à Virgem Maria é bom, é permitido, é aconselhado, é recomendado por Deus mesmo.

A conclusão de cada uma destas provas será a seguinte (convém indicá-la logo, para poupar-lhe raciocínios e delongas): Se Deus escuta as preces dos santos, é sinal de que tais preces lhe agradam; se ele recomenda de recorrer às orações dos santos, é sinal de que ele quer que os homens orem aos santos. E se Deus escuta aos santos e recomenda de recorrer a eles por serem seus amigos, com mais razão ele escuta a Santíssima Virgem e recomenda de recorrer a ela, por ser sua Mãe. Provar que se pode e deve orar aos santos, é provar, pois, que se pode e que se deve orar à Virgem Maria, a mais santa dos santos, a rainha dos santos.

V. Podemos orar aos santos

Objetam os sábios protestantes que as almas santas, uma vez perto de Deus, no céu, não podem interceder para os homens por causa da mudança de esfera espiritual. Ignorância dos princípios que regem a ordem sobrenatural. Tais princípios afirmam que há três ordens para o homem: A ordem natural (da natureza); a ordem espiritual (da graça); a ordem da visão beatífica (da glória).

Cada uma destas ordens, a começar pela ordem natural, aperfeiçoa, a natureza; a glória aperfeiçoa a graça. Nada há destruído, mas aperfeiçoado. Se o justo na terra pode interceder junto de Deus, na ordem espiritual, ele o pode mais ainda na ordem da visão beatífica. Quer isto dizer que os santos da terra, sendo intercessores perto de Deus, o serão muito mais quando estiverem no céu. São três ordens distintas, mas ligadas pelo mesmo laço divino. A natureza serve apenas de base à graça. A graça serve de base a glória.

Deus criou o homem na natureza pura; elevou-o, por privilégio gratuito, à ordem da graça – para coroá-lo um dia na ordem da glória. É sempre o homem... mas homem elevado a uma ordem superior, sem perder a essência da ordem inferior. Provar pois que podemos orar aos santos da terra, é provar que podemos orar aos santos do céu.

Com estes princípios, ser-nos-á fácil compreender o valor das provas bíblicas. Lê-se no Gênesis que Deus disse a Abimelec: 'Agora, pois, restitui a mulher a seu marido (Abraão) porque é profeta e rogará por ti, para que vivas' (Gn 20,7). Mas, amigo protestante, se é proibido orar aos santos, como é que Deus diz: rogue por ele, e lhe alcance a vida? Crê o senhor na bíblia ou não crê?

No livro dos reis lemos: 'O povo disse a Samuel: Roga ao Senhor, teu Deus, pelos seus servos, para que não morramos' (1 Rs 12, 19). Outra prova de que os profetas costumavam rezar pelo povo, e que Deus atendia a tais preces. No terceiro livro dos reis lemos ainda: 'Faze oração ao Senhor, teu Deus, roga por mim e o homem de Deus fez oração ao Senhor e foi atendido' (3 Rs 13,6). Outra prova de que podemos recorrer aos santos, para que eles intercedam por nós junto de Deus.

No livro de Judite, encontramos um passo luminoso que resolve a questão e dissipa todas as dúvidas: 'Escute a súplica de Ozias e dos anciãos a Judite: Agora, pois, ora por nós, porque tu és uma mulher santa e temente a Deus' (Jt 8,29). Que quer dizer isso? Prova que uma pessoa santa e temente a Deus pode ser invocada e pode interceder por nós perto de Deus. Que coisa mais clara e positiva? E podia multiplicar tais passos, porém, para quem não crê na bíblia, parece-me inútil. 'A palavra de Deus não muda' (1 Pd 1,25).

Repita Deus cinquenta vezes a mesma verdade ou diga uma só vez, o seu valor fica o mesmo. Que provam, pois, este e muitos outros passos da bíblia, senão que é bom e permitido orar aos santos, que os justos podem orar por seus irmãos? Ora, se os santos da terra, sendo rogados pelos irmãos, alcançam-lhes o que podem, será possível que estes santos, depois de terem entrado no céu, tenham perdido este poder de intercessão? É impossível, pois no céu as almas justas estão com Deus: são seus amigos íntimos.

Se é permitido orar a um justo da terra, para que nos alcance favores de Deus, com mais razão deve ser permitido orar à criatura mais justa e mais santa que há no céu: a Virgem Maria. A conclusão é clara e irrefutável: A bíblia mostra que é permitido orar aos justos da terra; com mais razão é permitido orar aos justos do céu. Ora, Maria Santíssima é a mais justa de todos os justos do céu. É pois, permitido orar à Virgem Maria.

VI. Devemos orar aos santos

Vamos adiante, meu caro protestante. A primeira prova devia ser decisiva para qualquer homem sincero e de boa fé; continuemos, porém, e depois de ter provado que podemos, provemos que devemos orar aos santos, e entre eles à Virgem Maria.

Abramos o livro de Jó, escutemos o que Deus disse aos amigos do santo: 'Tomai sete touros e ide a meu servo Jó; o meu servo Jó orará por vós e admitirei propício a sua face' (Jó 42,8). Que bomba, amigo protestante, já refletiu sobre este passo? Deus manda recorrer ao servo Jó, e promete escutar a prece que Jó há de fazer em favor dos seus amigos. Não somente permite, mas ordena positivamente recorrer ao santo homem Jó.

E quantos passos deste gênero se podiam citar do Antigo Testamento; mas vamos às provas mais positivas ainda: as próprias palavras do Cristo: 'Orai pelos que vos perseguem e caluniem' (Mt 5,44). São Tiago, por sua vez, nos ensina: 'Orai uns pelos outros, para serdes salvos, porque a oração do justo, sendo fervorosa, pode muito' (Tg 5, 16). São Paulo não é menos explícito: 'Não cessamos de orar por vós, diz ele, e de pedir que sejais cheios de reconhecimento da sua santa vontade' (Col 1, 3-9).

Eis passos muito claros, que provam que devemos orar aos santos, não somente a Deus, porque a oração dos justos pode muito para os outros. Pode haver dúvida sobre esta ordem de Deus? Parece-me que não! Como é, pois, meu caro protestante, que tens a ousadia de dizer que é proibido orar aos santos? O amigo está em plena contradição com a sua bíblia, com a palavra, com a ordem expressa de Deus.

De fato, Deus dá ordem de recorrer a Jó, para que ele ore pelos delinquentes. Jesus Cristo nos faz orar uns pelos outros (Mt 5, 44). São Tiago nos ordena de orar uns pelos outros (Tg 5,16). São Paulo diz que ora pelos colossenses (Col 1,3). Tudo isso prova que Deus aceita as orações dos justos que vivem ainda neste mundo, e não somente que aceitas as orações mas que quer estas orações de uns pelos outros. É uma verdadeira ordem.

E se objetassem que podemos e até devemos às vezes orar aos justos da terra e não aos justos do céu, a resposta estaria no Evangelho. No evangelho de São Mateus (Mt 20, 30), Jesus Cristo ensina que os santos são como os anjos de Deus no céu. Ora, os anjos intercedem por nós, como vemos indicado na Sagrada Escritura. É Zacarias quem no-lo afirma dizendo que 'o anjo intercedeu por Jerusalém, ao Senhor dos exércitos' (Zc 1, 12-13)

Jesus Cristo declara que haverá júbilo entre os anjos, de Deus 'por um pecador que faz penitência' (Lc 15, 10), o que prova que eles se interessam pelos homens. De novo, amigo protestante, que prova tudo isso? Prova evidentemente que os justos, os santos e os anjos do céu se interessam pelos homens, intercedem pelos homens, e devem ser invocados, louvados, orados pelos homens. E se isso é verdade dos santos e anjos, com quanto mais razão é verdade da rainha dos santos e dos anjos, da Santíssima Virgem Maria.

VII. Deus escuta os santos

Vamos mais adiante, amigo protestante, e vejamos agora como Deus escuta a prece dirigida aos seus justos ou santos. Não é menos interessante recolher uns passos da Sagrada Escritura a este respeito. Comecemos com Jeremias, onde lemos este trecho expressivo: E o Senhor disse-me: 'Ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de mim, a minha alma não se inclinaria para este povo; tira-os da minha face e retirem-se' (Jr 15, 1-).

Tal texto prova, claramente, duas verdades: (i) Que os justos e santos, mesmo depois de mortos – como no tempo de Jeremias estavam Moisés e Samuel. – podem interceder pelos homens, perante Deus. (ii) Que não obstante essa intercessão, a culpa humana pode ser tão grave, que não logrem aplacar o Senhor.

Imaginemos que um magnata da terra nos dissesse: Estou tão indignado contra fulano, que não lhe perdoaria, ainda que meus filhos me pedissem... Não seria lógico depreender que, junto deste pai, os filhos tinham valimento como intercessores? Pois bem, a mesma verdade depreende-se do passo bíblico, que nos mostra o valimento de Moisés e Samuel, no céu, perto de Deus.

Para invalidar este passo, os sábios protestantes dizem que neste tempo os justos não tinham entrado no céu, mas estavam no Limbo. É nova ignorância do princípio, senão do fato. A Igreja Católica pela comunhão dos santos, abrange a terra, o céu, e o purgatório e, antes da vindo do Salvador, o céu estava fechado, e os justos iam para o limbo, onde esperavam a vinda do Messias, o qual, no dia da sua morte, devia abrir-lhes a porta do céu.

Os justos eram, pois, santos; ora, a santidade não depende do lugar onde o santo reside, mas do estado de sua alma, de modo que os patriarcas, no limbo, podiam interceder pelos homens, como o podem no céu, e como o podem as próprias almas do purgatório. Há muitos outros trechos bíblicos de igual valor comprobatório. Eis um outro que não figura na bíblia protestante truncada, pois acharam bom cortar o livro dos Macabeus, por conterem muitos passos que os condenam.

Aí vemos como Judas Macabeu viu em sonho o grão sacerdote Onias, já morto, que orava por sua nação, e que, designando o profeta Jeremias, lhe disse: 'Este é o amador dos seus irmãos e do povo de Israel; este é Jeremias, profeta de Deus, que ora muito pelo povo e pela santa cidade' (2 Mc 15,12-14). Não é bem concludente este passo, mostrando um santo orando pelos homens da terra? E se os santos oram por nós, seria proibido orarmos aos santos? Que lógica estranha seria esta!

Eis, pois, provado mais uma vez que podemos e devemos orar aos santos, e como Deus escuta e atende ao pedido de seus servos. E eles orando por nós, nós temos o dever de implorá-los, de invocá-los, para que eles nos ajudem e nos amparem com a sua valiosa proteção. E se devemos orar aos santos, devemos orar, sobretudo, à santa dos santos, à Virgem Mãe de Deus.

* Esta 'objeção' foi proposta por 'um crente' como um desafio público ao Pe. Júlio Maria e que foi tornado público durante as festas marianas de 1928 em Manhumirim, o que levou às refutações imediatas do sacerdote, e mais tarde, mediante a inclusão de respostas mais abrangentes e detalhadas, na publicação da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', ora republicada em partes neste blog.

(Excertos da obra 'Luz nas Trevas - Respostas Irrefutáveis às Objeções Protestantes', do Pe. Júlio Maria de Lombaerde)

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

GLÓRIAS DE MARIA: IMACULADA CONCEIÇÃO


'Declaramos, pronunciamos e definimos que a doutrina de que a Bem-aventurada Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio de Deus Onipotente, em atenção aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de culpa original; essa doutrina foi revelada por Deus, e deve ser, portanto, firme e constantemente crida por todos os fiéis'.

(Beato Papa Pio IX, na proclamação do dogma da Imaculada Conceição, em 08 de dezembro de 1854)

Nossa Senhora, criatura superior a tudo quanto já foi criado, e inferior somente à humanidade santíssima de Nosso Senhor Jesus Cristo, recebeu de Deus o privilégio incomparável da Imaculada Conceição. Desta forma, Maria foi preservada de qualquer pecado desde que foi concebida, porque recebeu naquele instante o Espírito Santo de Deus. O 'sim' de sua entrega incondicional à vontade de Deus não teria sido possível se, mesmo livre de qualquer  pecado durante toda a sua vida, Maria tivesse, a exemplo de toda a humanidade, a mancha do pecado original. Deus, ao cumular Maria de tantas graças extraordinárias, não permitiu que ela estivesse separada dele em nenhum segundo de sua existência e, assim, Maria não conheceu o pecado desde a sua concepção.

A Santa Igreja ensina que Maria Santíssima foi preservada do pecado original, em previsão aos futuros méritos da Vida, Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo que, assim, a pré-redimiu desde o primeiro instante da sua existência. Sendo concebida sem pecado original, Maria ficou também preservada de qualquer tendência para o mal decorrente do pecado original. Não é crível que Deus Pai onipotente, podendo criar um ser em perfeita santidade e na plenitude de inocência, não fizesse uso de seu poder a favor da Mãe de seu Divino Filho. Como explicitou, de forma definitiva, o beato franciscano João Duns Scoto (1265-1308), em sua exposição quando da defesa da Imaculada Conceição na Universidade de Paris: 'Potuit, decuit, ergo fecit' (Deus podia fazê-lo, convinha que o fizesse, logo o fez).

O fundamento deste privilégio mariano está na absoluta oposição existente entre Deus e o pecado. Ao homem concebido no pecado, contrapõe-se Maria, concebida sem pecado. A confirmação do dogma, a partir de manifestações que remontam os primeiros Padres da Igreja, foi ratificada muitas vezes pela própria Mãe de Deus, em várias aparições:

'Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!' foi a mensagem que Nossa Senhora pediu que fosse inscrita na Medalha Milagrosa,  mediante recomendação expressa a Santa Catarina Labouré em 1830 (24 anos antes da promulgação formal do dogma pela Igreja).

'Eu sou a Imaculada Conceição!' assim Nossa Senhora se apresenta à pequena vidente Bernadette Soubirous em Lourdes, no dia 25 de março de 1858 (apenas 4 anos depois da promulgação formal do dogma pela Igreja).

'Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará!mensagem de Nossa Senhora em Fátima sobre a devoção ao seu Coração Imaculado.

Excertos da Bula INEFFABILIS DEUS de Pio IX
                       Pio IX
1. Misericórdia e verdade são os caminhos do Deus inefável; onipotente é sua vontade, e sua sabedoria se estende poderosamente de uma extremidade a outra, dispondo todas as coisas com suavidade (Sb 8, 1). Desde os dias da eternidade previu Deus a mais dolorosa ruína de todo o humano gênero, que resultaria do pecado de Adão. Por isso, num mistério escondido nos séculos, determinou Ele completar a primeira obra de sua bondade, num mistério ainda mais esconso, pela Encarnação do Verbo, para que o homem, induzido ao pecado pela ardilosa perversidade do demônio, não perecesse, contrariamente ao seu desígnio cheio de clemência; e assim, o que estava em iminência de ser frustrado no primeiro Adão fosse restituído, com maior felicidade, no Segundo Adão.
Escolha da Santíssima Mãe

2. Em vista disso, desde todos os tempos, escolheu Deus e predestinou uma mãe para o seu Unigênito Filho, na qual se encarnaria e viria ao mundo, quando a abençoada plenitude dos tempos houvesse chegado. E a ela dispensou Deus mais amor que a todas as outras criaturas, e nela somente achava agrado, com a mais afetuosa complacência. Por isso a cumulou, de maneira tão admirável, da abundância dos bens celestes do tesouro de sua divindade, mais que a todos os outros espíritos angélicos e todos os santos, de tal forma que ficaria absolutamente isenta de toda e qualquer mancha de pecado, podendo, assim, toda bela e perfeita, ostentar uma inocência e santidade tão abundantes, quais outras não se conhecem abaixo de Deus, e que pessoa alguma, além de Deus, jamais alcançaria, nem em espírito.

Com efeito, era conveniente que tão venerável Mãe brilhasse sempre aureolada do esplendor da mais perfeita santidade, e que fosse de todo isenta até da própria mácula do pecado original, alcançando, assim, o mais completo triunfo sobre a antiga Serpente (Gn 3, 15). E tudo isto por ser ela a criatura a quem Deus Pai quis dar seu Filho Único, o qual gerou de seu próprio coração, igual a Si e a quem Ele ama como a Si mesmo. Deu-Lho, de forma que Ele é, por natureza, um e o mesmo Filho de Deus Pai e da Virgem. Ela é, também, o ser que o próprio Filho escolheu e fez real e verdadeiramente sua Mãe. Ela é, enfim, a criatura de quem o Espírito Santo quis que o Filho, do qual procede, fosse concebido e nascido por obra sua. [...]
Pedidos para a Definição

33. Aqui a razão por que, desde os tempos remotos, os bispos da Igreja, eclesiásticos, ordens religiosas e até imperadores e reis dirigiram fervorosos memoriais à Sé Apostólica, em prol da definição da Imaculada Conceição da Virgem Mãe de Deus como dogma da fé católica. Mesmo em nossos dias, reiteraram-se estas petições. Foram elas dirigidas, de modo especial, à atenção de Nosso antecessor Gregório XVI, de saudosa memória, e a Nós mesmo, não só por bispos, mas também pelo clero secular, comunidades religiosas, por legisladores de nações e pelos fiéis. [...]
O Consistório

39. Após estes acontecimentos, desejando proceder de modo conveniente e reto, a exemplo de Nossos antecessores anunciamos e celebramos um Consistório, no qual Nos dirigimos a Nossos Irmãos, os Cardeais da Santa Igreja Romana. Foi para Nós a maior alegria espiritual ao ouvi-los suplicarem promulgássemos a definição do dogma da Conceição Imaculada da Virgem Mãe de Deus.

40. Por isso, tendo plena confiança no Senhor de que já chegou o tempo oportuno para a definição da Imaculada Conceição da Virgem Maria, Mãe de Deus, que as Divinas Escrituras, a veneranda Tradição, o desejo incessante da Igreja, o singular consentimento dos Bispos católicos e dos fiéis, e os atos e constituições assinalados dos Nossos antecessores ilustram e proclamam; havendo considerado diligentemente todos os acontecimentos e tendo dirigido a Deus solícitas e sinceras preces, Nós  julgamos não devermos fazer tardar por mais tempo a ratificação e definição, por Nossa autoridade suprema, da Imaculada Conceição da Virgem, satisfazendo, assim, os mais santos desejos do Orbe Católico e de Nossa própria devoção para com a Santíssima Virgem; e honrando, na Virgem, sempre mais o seu Filho Unigênito, Jesus Cristo, Senhor Nosso, visto que toda honra e louvor votados à Mãe revertem para o Filho.
A Definição Infalível

41. Pelo que, em oração e jejum, não cessamos de oferecer a Deus Pai, por seu Filho, Nossas preces particulares e as de todos os filhos da Igreja, para que se dignasse dirigir e fortalecer Nossa inteligência com a força do Espírito Santo. Imploramos, ainda, a ajuda de toda a milícia celeste e, com verdadeiros anelos do coração, invocamos o Paráclito. Portanto, por sua inspiração, para honra da Santa e Indivisa Trindade, para glória e adorno da Virgem Mãe de Deus, para exaltação da Fé Católica e para a propagação da Religião Católica, com a autoridade de Jesus Cristo, Senhor Nosso, dos Bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e Nossa, declaramos, promulgamos e definimos que a Bem-aventurada Virgem Maria, no primeiro instante de sua Conceição, foi preservada de toda mancha de pecado original, por singular graça e privilégio do Deus Onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador dos homens, e que esta doutrina está contida na Revelação Divina, devendo, por conseguinte, ser crida firme e inabalavelmente por todos os fiéis.

42. Em conseqüência, se alguém ousar – o que Deus não permita – pensar contrariamente ao que definimos, saiba e esteja ciente de que ipso facto  incidiu em anátema, de que naufragou na fé e apostatou da unidade da Igreja; além disso, por sua própria causa incorre nas penalidades estabelecidas por lei, caso se atreva a manifestar, por palavras ou por escrito, ou por  outros quaisquer meios externos, sua opinião íntima.
Frutos da Imaculada Medianeira

43. Nossa língua transborda de alegria e nosso coração rejubila. Rendemos e não cessaremos de render os mais humildes e sinceros agradecimentos a Cristo Jesus, Senhor Nosso, por Nos ter concedido, embora indigno, por singular favor seu, decretar e oferecer esta honra, glória e louvor à Santíssima Mãe. Ela, toda pura e imaculada, esmagou a cabeça envenenada do mais cruel dragão, trazendo ao mundo a salvação; Ela é a glória dos Profetas e dos Apóstolos, a honra dos Mártires, a coroa e delícia dos Santos; o refúgio mais seguro, o mais valioso amparo de quantos se acham em perigos. Com o seu Unigênito Filho, Ela é a mais poderosa Mediadora e Consoladora no mundo universo. Ela é a suma glória e ornamento, a fortaleza inexpugnável da Santa Igreja. Pois Ela destruiu todas as heresias e livrou os povos e nações fiéis de todas as calamidades gravíssimas. Também a Nós livrou-Nos de tantos perigos que nos assediavam. Temos, pois, confiança e esperança absolutas e totais de que a Bem-aventurada Virgem, por seu patrocínio valiosíssimo, fará com que todas as dificuldades sejam removidas e todos os erros dissipados, a fim de que Nossa Santa Madre Igreja Católica possa florescer, sempre mais, entre todas as nações e povos e possa espalhar seu reino “de mar a mar, do rio até aos confins da terra” (Sl 71, 8), e desfrute de perfeita paz, tranqüilidade e liberalidade. Ela obterá, também, perdão aos pecadores, saúde aos doentes, alento aos fracos, consolo aos aflitos, amparo aos que estão em perigo. Ela há de apagar a cegueira espiritual dos que erram, para que possam voltar às sendas da verdade e da justiça, e para que haja um só rebanho e um só pastor.

44. Que todos os filhos da Igreja Católica, tão caros ao Nosso coração, ouçam estas Nossas palavras. Continuem, com um zelo ainda mais ardente de piedade, de religião e amor, a cultuar, invocar e orar à Bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, concebida sem pecado original. Recorram com inteira confiança a esta Mãe dulcíssima de clemência e de graça nos perigos, dificuldades, necessidades, dúvidas e temores. Pois, sob sua égide, seu patrocínio, sua proteção, não há receios e nem desesperanças. Porque, enquanto Nos dedica uma afeição verdadeiramente maternal e zela pela obra de Nossa salvação, Ela se mostra solícita para com todo o gênero humano. E, desde que foi designada por Deus para ser a Rainha do Céu e da Terra e exaltada acima de todos os coros angélicos e de todos os Santos, Ela assentada à direita de seu Unigênito Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor, apresenta nossos rogos da maneira mais eficiente, e alcança o que pede, pois sempre é atendida.[...]
Publicação da Definição

45. Para que, finalmente, esta Nossa definição da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem Maria seja conhecida de toda a Igreja, desejamos que esta Nossa Carta Apostólica se torne um memorial perpétuo; ordenamos, também, que os transcritos e publicações que vierem a ser feitos e postos à venda ou ao público, contenham a mesma autenticidade do original. Tais traslados e cópias, contudo, devem ser subscritos por um notário e autenticados pela censura de uma pessoa da ordem eclesiástica. Por isso, que ninguém infrinja este documento de Nossa declaração, promulgação e definição, nem se oponha ou contradite temerária e atrevidamente. Se alguém se der a liberdade de intentar tal, saiba que incorrrerá na cólera do Deus Onipotente e dos Bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo.

Dada em Roma, junto de São Pedro, aos 8 do mês de Dezembro do ano de 1854 da Encarnação de Nosso Senhor, 9º ano de Nosso Pontificado.




    Pio IX, PAPA

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

DA EXPLICAÇÃO DO MAGNIFICAT (IX)


Acolheu a Israel, seu servo, lembrando da sua misericórdia
O Deus onipotente fez duas criaturas no princípio do mundo, o anjo e o homem: o anjo no céu, o homem na terra. Ambos foram tão ingratos que se revoltaram contra o seu Criador: o anjo pela soberba, e o homem, pela desobediência ao mandamento de seu Deus. O pecado do anjo, sendo um pecado de soberba, foi tão grande diante de Deus que sua divina justiça O obrigou a expulsá-lo do paraíso e lançá-lo no inferno.

Mas a sua misericórdia, vendo que o homem caíra no pecado pela tentação e sedução de Satanás, teve compaixão dele e tomou a resolução de retirá-lo do estado miserável a que se achava reduzido, e até se comprometeu a isso pela promessa que lhe fez. E todos os gravíssimos e inúmeros pecados cometidos depois dessa promessa, pelos judeus, pelos gentios e por todos os homens, não foram capazes de impedir-lhe a execução; mas retardaram-na de muitos séculos, durante os quais toda a raça de Adão, condenada e reprovada por Deus, achava-se mergulhada em um abismo de trevas e num redemoinho de males infinitos e inexplicáveis, sendo-lhe impossível sair por si mesma.

Mas, finalmente, o Filho de Deus se lembrou de suas misericórdias: 'recordou-se de Sua misericórdia e da promessa que fizera a Adão, a Abraão', a Davi e a outros Profetas de retirar o gênero humano desse abismo de males. Ele mesmo desce do céu ao seio virginal da divina Maria, onde une à sua divina Pessoa a natureza tão miserável que abandonara, faz-se homem para salvar todos os homens que quiserem pertencer ao número dos verdadeiros israelitas, isto é, que quiserem crer nEle e amá-Lo.

Eis o que a Bem-aventurada Virgem nos anuncia pelas palavras: acolheu a Israel, seu servo, lembrando da sua misericórdia. É a conclusão de seu divino cântico; uma recapitulação dos inefáveis mistérios nele encerrados; é o fim da Lei e dos Profetas; a realização das sombras; a consumação das figuras. É o mesmo se ela dissesse: eis o efeito da predição dos Profetas; eis o que as sombras assinalaram; eis o que os Patriarcas esperaram; eis o que me faz cantar do mais profundo de meu coração: proclama a minha alma a grandeza do Senhor. Eis o grande motivo das minhas alegrias e dos meus sofrimentos: exulta meu espírito em Deus meu Salvador. Eis o que fará com que todas as nações me proclamem bem-aventurada. Eis o que exaltará os humildes e confundirá os soberbos: acolheu a Israel seu servo.

(Da Explicação do Magnificat, de São João Eudes)

domingo, 4 de dezembro de 2016

'CONVERTEI-VOS, PORQUE O REINO DE DEUS ESTÁ PRÓXIMO!

Páginas do Evangelho - Segundo Domingo do Advento

Neste domingo, segundo domingo do Advento, quem nos fala (e nos mostra o caminho a tomar) são dois profetas: Isaías e João Batista. Isaías é o profeta messiânico por excelência, o precursor dos evangelistas. É Isaías quem declara que Jesus será da estirpe de Davi, é Isaías quem profetiza o nascimento de Cristo através de uma virgem, são de Isaías as profecias sobre a Paixão e Morte do Senhor, sobre a Santa Igreja de Deus e sobre a pregação de João Batista: 'Esta é a voz daquele que grita no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas' (Mt 3, 3).

E eis que surge o maior de todos os profetas, aclamado pelo próprio Cristo como 'o maior dentre os nascidos de mulher' (Mt 11,11), precursor do Salvador do mundo, pregando no deserto da Judeia: 'Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo' (Mt 3,2). Eis o primado de João Batista: Jesus vem, a sua Vinda é iminente; alegrai-vos todos porque o céu vai tocar a terra e fazer novas todas as coisas. A voz que clamava no deserto, símbolo dos terrenos estéreis e calcinados das almas tíbias e vazias dos homens daquele tempo, vinha moldar com o espírito de conversão os corações daqueles homens duros e insensatos para receber o Cristo da Redenção, que estava prestes a chegar: ''Eu vos batizo com água para a conversão, mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu nem sou digno de carregar suas sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo' (Mt 3,11).

E o deserto de hoje é ainda mais árido, muitíssimo mais árido do que nos tempos do Profeta João Batista. O deserto tornou-se uma terra de desolação e infortúnio, na qual o pecado é espalhado como adubo e as blasfêmias contra Deus são os arados. Façamos ecoar pelos pântanos e areiais de nova vida costumeira o refrão profético: 'Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo'. Como iconoclastas de nossas própria ruínas, desfaçamos os templos da barbárie, do escândalo, das heresias, das blasfêmias e de tantos pecados contra a glória de Deus, de Cristo e da Santa Igreja! 

Somos a Igreja de Cristo que não se pode sustentar sobre as areias do deserto das almas tíbias, nem sobre as argilas frouxas do ateísmo e da indiferença religiosa. João Batista é tão atual quando da época de sua profecia e sua mensagem ressoa pelos séculos para ser ouvida e vivida pelos soldados de Cristo: tornemos o imenso deserto da nossa humanidade pervertida em terreno fértil para semear com abundância as vinhas do Senhor que está para chegar de novo. Assim seja!